Evangelho: Mt 22, 1-14
1 Jesus, tomando a palavra, voltou a falar-lhes em parábolas ,2
dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um rei, que preparou o banquete de
bodas para seu filho. 3 Mandou os seus servos chamar os convidados
para as bodas, mas eles não quiseram ir. 4 Enviou de novo outros
servos, dizendo: “Dizei aos convidados: Eis que preparei o meu banquete, os
meus touros e animais cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às
núpcias”. 5 Mas eles desprezaram o convite e foram-se, um para a sua
casa de campo e outro para o seu negócio. 6 Outros lançaram mão dos
servos que ele enviara, ultrajaram-nos e mataram-nos. 7 «O rei,
tendo ouvido isto, irou-se e, enviando os seus exércitos, exterminou aqueles
homicidas, e incendiou-lhes a cidade. 8 Então disse aos servos: “As
bodas, com efeito, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. 9
Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e a quantos encontrardes convidai-os
para as núpcias”. 10 Tendo saído os seus servos pelos caminhos, reuniram
todos os que encontraram, maus e bons; e a sala das bodas ficou cheia de
convidados. 11 «Entrando depois o rei para ver os que estavam à
mesa, viu lá um homem que não estava vestido com o traje nupcial. 12
E disse-lhe: “Amigo, como entraste aqui, não tendo o traje nupcial?”. Ele,
porém, emudeceu. 13 Então o rei disse aos seus servos: “Atai-o de
pés e mãos e lançai-o nas trevas lá de fora, aí haverá choro e ranger de
dentes. 14 Porque são muitos os chamados mas poucos os escolhidos”».
Comentário:
Talvez que estes sejam os pecados que mais magoam o
Coração de Jesus, Ele que se deixou ficar humildissimamente sob as espécies do
pão tratado de forma tão soez e desprezível.
Tenhamos consciência destas gravíssimas faltas e
desagravemos o Senhor na Eucaristia e, simultaneamente, peçamos por todos esses
que não sabem - ou não querem saber - da reverência, amor e profundo respeito
devidos à Santíssima Eucaristia.
(ama, Meditação, Mt 22,
1-14, 2011.10.09)
Leitura espiritual
Magistério
cardeal joseph ratzinger
Algumas perguntas pessoais
…/13
Comunismo.
Os
sistemas comunistas fracassaram por causa do seu falso dogmatismo económico.
Mas passa-se por alto com demasiada complacência o facto de que naufragaram
principalmente pelo seu desprezo dos direitos humanos, pela sua subordinação da
moral às exigências do sistema e às suas promessas de futuro.
A
verdadeira catástrofe que provocaram não é de natureza económica; consiste no ressecamento
das almas, na destruição da consciência moral. Vejo isto como um problema
essencial do momento presente [...]: ninguém põe em dúvida o naufrágio económico
[do comunismo], e por isso os ex-comunistas, sem duvidar um só momento, fizeram-se
liberais em economia. Mas a problemática moral e religiosa, o problema de fundo,
permanece quase que totalmente posto de lado.
A
problemática deixada atrás de si pelo marxismo continua a existir hoje: a
dissolução das certezas primordiais do homem sobre Deus, sobre si mesmo e sobre
o universo. Esta dissolução da consciência dos valores morais intangíveis é o
nosso problema neste exacto momento [i].
Teologia da libertação e
teologia da reconciliação.
Em
anos passados, a Congregação para a Doutrina da Fé [...] teve de ocupar-se
longamente dos problemas suscitados pela chamada teologia da libertação. Em
resposta a ela, falou-se de uma teologia da reconciliação.
Vejo
o fundamento [dessa teologia da reconciliação] no texto, tão importante, da segunda
Epistola aos Coríntios, de São Paulo, no capítulo quinto, em que se faz um resumo
da mensagem cristã; de acordo com esse texto, "nós, os Apóstolos, somos mensageiros
de Deus e em nome de Deus pedimos para ser reconciliados com Deus, em Cristo"
(cfr. 2 Cor 5, 11-21).
Por
conseguinte, a Redenção, o Evangelho, é reconciliação com Deus. E temos que dizer
que a alienação do homem consiste na sua carência de conciliação consigo mesmo,
na sua divisão interior; e que é impossível a sua conciliação consigo mesmo se não
estiver em paz com Deus, já que Deus é mais íntimo ao homem do que ele próprio.
É
por isso que apenas o ser humano reconciliado consigo mesmo pode estar em paz
com os outros. Isto depende em todo o momento de uma paz fundamental,
proveniente de se estar reconciliado com Deus. Só quem está em conciliação
consigo mesmo supera a alienação e, como consequência, atinge a libertação.
Neste
sentido, a reconciliação profunda com o ser e, por conseguinte, com Deus e consigo
mesmo, é o fundamento de toda a liberdade e de toda a capacidade de reconciliação,
de que se possa viver em paz e encontrar uma justa ordem de relações [...].
Penso,
na realidade, que as ideias equivocadas de liberdade e toda a tendência a auto-gerar
um novo tipo de ser é produto de uma profunda falta de conciliação do homem
consigo próprio, com o ser em si mesmo, e por isso leva à identificação com um ser
contrário à realidade de Deus, que é negada porque não se encontra a paz com
Ele.
Parece-me,
por outro lado, que aqui se descobre o fundamento de um novo conceito positivo
de liberdade e de paz, a partir do qual poderia elaborar-se toda uma teologia
da liberdade e da paz, embebida na riqueza da Cristologia e da autêntica
Eclesiologia [ii].
New Age.
A
reedição de religiões e cultos pré-cristãos, que hoje se procura fazer com frequência,
tem muitas explicações. Se não existe a verdade comum, vigente precisamente
porque é verdadeira, o cristianismo passa a ser somente algo importado de fora,
um imperialismo espiritual que se deve sacudir com não menos força que o político.
Se os sacramentos não proporcionam o contacto com o Deus vivo de todos os homens,
então não são mais que rituais vazios que não nos dizem nada nem nos dão nada,
e, quando muito, nos permitiriam perceber o mistério que reina em todas as religiões.
[...]
Mas,
sobretudo, se a "sóbria embriaguez" do mistério cristão não consegue
embriagar-nos de Deus, então é preciso recorrer à embriaguez real de êxtases
forçados, cuja paixão nos arrebata e nos converte - ao menos por uns instantes
- em "deuses", e nos permite perceber por alguns momentos o prazer do
infinito e esquecer a miséria do finito [iii].
Ecologia e cristianismo.
Parece-me
claro que, de facto, é o homem que ameaça retirar o sopro vital à natureza. E
que a poluição do ambiente exterior que observamos é o espelho e o resultado da
poluição do ambiente interior, à qual não prestamos suficiente atenção. Julgo
que é também o que falta aos movimentos ecológicos.
Combatem
com uma paixão compreensível e justificada a poluição do ambiente; mas a poluição
espiritual que o homem provoca em si mesmo continua a ser tratada como um dos
direitos da liberdade. Há aqui uma incoerência. Queremos afastar a poluição mensurável,
mas não tomamos em consideração a poluição espiritual do homem e a figura da Criação
que nele se encontra [...]; muito pelo contrário, defendemos tudo o que a
arbitrariedade humana produz, com base num conceito completamente falso de liberdade.
Enquanto
sustentarmos essa caricatura de liberdade, quer dizer, a liberdade de uma destruição
espiritual interior, continuarão inexoravelmente os seus efeitos exteriores.
Julgo
que devemos refletir sobre isto. Não é apenas a natureza, que tem as suas
regras e as suas formas de vida, que temos de respeitar, se quisermos viver
dela e nela, mas também o homem, que é interiormente uma criatura e está
sujeito à ordem da Criação: não pode fazer de si mesmo tudo o que quiser, como
lhe apetecer. Para que o homem possa viver a partir do interior, tem de
aprender a reconhecer-se como criatura e tem de tomar consciência de que nele
deve existir, por assim dizer, a pureza interior devida ao facto de ser criatura:
a ecologia espiritual. Se este elemento fundamental da ecologia não for
compreendido, tudo o mais se desenvolverá num sentido negativo.
A
Epístola aos Romanos diz isso muito claramente no capítulo oitavo. Diz que
Adão, ou seja, o homem interiormente poluído, trata a criação como um escravo,
a espezinha; a criação geme sob ele, por causa dele, através dele. E hoje
ouvimos o gemido da criação como nunca antes o tínhamos ouvido. São Paulo
acrescenta que a criação espera a manifestação dos filhos de Deus e que
respirará aliviada quando surgirem pessoas nas quais transpareça a luz de Deus.
Só então a criação poderá voltar a respirar [iv].
Questões morais em
discussão
Matrimónio e família.
O
matrimónio monogâmico constituiu o princípio ordenador fundamental das relações
entre homem e mulher, bem como a célula da formação comunitária do Estado a
partir da fé bíblica. Tanto a Europa Ocidental como a Oriental moldaram a sua
História e a sua concepção do homem a partir de noções de fidelidade e comunhão
muito bem definidas. [...]
A
Declaração dos Direitos Fundamentais fala do direito ao matrimónio, mas não
prevê nenhuma proteção jurídica e moral específica para ele nem o define com
mais precisão. No entanto, todos sabemos quão ameaçados estão o matrimónio e a
família. Por um lado, pela corrosão da sua indissolubilidade através de formas
cada vez mais fáceis de divórcio; por outro, pela nova prática, cada vez mais comum,
da convivência entre homem e mulher sem a forma jurídica do matrimónio.
Há
ainda, em clara contraposição a isso, as exigências dos casais homossexuais,
que, paradoxalmente, reivindicam uma forma jurídica mais ou menos igual à do
matrimónio.
Tal
tendência representa o abandono de toda a história moral da humanidade, que sempre
soube que o matrimónio, apesar das suas variadas formas jurídicas, é a convivência
entre homem e mulher, aberta aos filhos e, portanto, à família. Não se trata de
discriminação, mas daquilo que o ser humano é como homem e como mulher, e de como
se configura juridicamente a relação mútua entre um homem e uma mulher. Se por
um lado essa relação se afasta cada vez mais da sua forma jurídica, e se por
outro a união homossexual é vista cada vez mais como igual ao matrimónio,
encontramo-nos diante de uma dissolução da imagem do ser humano cujas
consequências podem ser extremamente graves [v].
Aborto.
Nem
todas as matérias morais têm o mesmo peso que o aborto e a eutanásia.
Por
exemplo, se um católico discordasse do Santo Padre quanto à pena de morte ou à guerra,
não seria considerado indigno de apresentar-se para receber a Sagrada Comunhão.
Embora
a Igreja exorte as autoridades civis a buscar a paz, e não a guerra, e a
exercer a prudência e misericórdia ao castigar os criminosos, ainda seria
lícito recorrer à pena capital ou pegar em armas para repelir um agressor. Pode
haver uma legítima diversidade de opinião entre os católicos a respeito da
guerra e da pena de morte, mas não a respeito do aborto e da eutanásia.
Quando
é manifesta a cooperação formal de uma pessoa com o grave pecado do aborto ou
da eutanásia (por exemplo, no caso de um político católico, fazer campanha e
votar sistematicamente a favor de leis que os legalizem), o pároco deve
procurar essa pessoa, explicar-lhe os ensinamentos da Igreja a esse respeito e
informá-la de que não deve apresentar-se para receber a Sagrada Comunhão
enquanto não sair dessa situação objectiva de pecado, advertindo-a de que, caso
contrário, a Eucaristia lhe será negada [vi].
Medo da maternidade.
Há
um medo da maternidade que se apodera de grande parte dos nossos
contemporâneos.
Esse
medo sinaliza algo mais profundo: o outro [o filho] converte-se num adversário
que se apossa de uma parte da minha vida, numa ameaça para o meu ser, para o
meu livre desenvolvimento. Hoje não há uma filosofia do amor, mas apenas uma
filosofia do egoísmo. [...] A possibilidade de enriquecer-me na entrega, de
reencontrar-me a partir do outro e através do meu ser para o outro, é rejeitada
como uma visão idealista.
É
exatamente aqui que o homem se engana.
Desaconselha-se
o amor. Em última análise, desaconselha-se ser homem [vii].
Controle da natalidade.
Há
um estranho desinteresse pelo futuro. As crianças, que são o futuro, são vistas
como uma ameaça para o presente; pensa-se que elas tiram algo da nossa vida.
Não são mais consideradas uma esperança, mas um limite ao presente. É inevitável
a comparação com o Império Romano decadente, que, embora ainda funcionasse como
uma grande moldura histórica, já vivia, na prática, pelas acções daqueles que o
iam liquidar, pois já não tinha energia vital em si mesmo [viii].
Homossexuais.
A homossexualidade é um
tema relacionado com o amor entre duas pessoas e não apenas com a sexualidade.
O que a Igreja pode fazer para compreender esse fenómeno?
Eu
diria que duas coisas.
Em
primeiro lugar, devemos ter um grande respeito por essas pessoas, que também
sofrem e querem viver de um modo digno.
Por
outro lado, compreender que a criação de uma forma jurídica mais ou menos
semelhante ao matrimónio na verdade não as ajudaria.
Portanto, o senhor
considera negativa a medida adotada pelo governo da Espanha? [a equiparação das
uniões homossexuais com o matrimónio].
Sim,
porque destrói a família e a sociedade.
O
Direito cria a moral ou uma forma de moral, já que a população habitualmente
julga que o que o Direito afirma é moralmente lícito. E se considerarmos essa
união mais ou menos equivalente ao matrimónio, construiremos uma sociedade que
já não reconhece o que é particular à família nem o seu caráter fundamental,
isto é, o seu caráter de algo próprio do homem e da mulher, que tem o objetivo
de dar continuidade - e não apenas no sentido biológico – à humanidade. Por
isso, a medida adotada na Espanha não traz verdadeiro benefício aos homossexuais,
uma vez que destrói os elementos fundamentais de uma ordem de direito.
A Igreja já se viu
derrotada algumas vezes pelo facto de dizer "não" [,..]. Não seria
possível, pelo menos, um pacto de solidariedade, reconhecido e protegido pela
lei, entre dois homossexuais?
Institucionalizar
um acordo desse tipo - quer o legislador queira, quer não - pareceria, aos
olhos da opinião pública, como que uma nova forma de matrimónio, que passaria inevitavelmente
a assumir um valor relativo. Em contrapartida, não se pode esquecer que as decisões
para as quais tende hoje uma Europa por assim dizer decadente, separam-nos de
todas as grandes culturas da humanidade, que sempre reconheceram o significado
específico da sexualidade: que o homem e a mulher foram criados para serem,
unidos, a garantia do futuro da humanidade. Garantia não apenas física, mas também
moral [ix].
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)
[ii] Entrevista a Jaime
Antúnez Aldunate
[iii] Conferência no
encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a
doutrina da fé, Guadalajara (México), nov 1996
[iv] O sal da terra,
págs. 183-184
[v] Europa, Politik unâ
Religion, conferência em Berlim a 28.11.2000, publ.em Neue Revue, Jan-Fev 2001
[vi]
Carta
aos bispos dos Estados Unidos, Julho de 2004
[vii] Avvennire, set 2000
[viii] Europa, Politik und
Religion
[ix]
El
laicismo está poniendo eu peligro la libertad religiosa
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