Tempo Comum X Semana
Evangelho: Mt 5, 1-12
1 Vendo Jesus aquelas multidões, subiu a um monte e, tendo-Se sentado,
aproximaram-se d'Ele os discípulos. 2 E pôs-Se a falar e ensinava-os,
dizendo: 3 «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
Reino dos Céus. 4 «Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados. 5 «Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6
«Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7
«Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9
«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10
«Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é
o Reino dos Céus. 11 «Bem-aventurados sereis, quando vos insultarem,
vos perseguirem, e disserem falsamente toda a espécie de mal contra vós por
causa de Mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa
recompensa nos céus, pois também assim perseguiram os profetas que viveram
antes de vós.
Comentário:
«Bem-aventurados os que sofrem
perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
São
estes, os heróis da cristandade, os santos da Igreja.
Regada
com o sangue de milhares de vítimas do ódio a Cristo, a Igreja tem fundamentos
inabaláveis que manterão todo edifício incólume até ao final dos tempos.
Ontem,
como hoje e, seguramente no futuro, sempre haverá destes 'perseguidos por amor
da justiça' de que o Senhor fala.
E
que justiça é essa?
Pois
o próprio Nosso Senhor que é a JUSTIÇA.
Quantas
graças temos de dar por esses tantos que enfrentam toda a espécie de
perseguições, violência e, não poucas vezes, a própria morte, em defesa, honra
e testemunho no Deus Único e Verdadeiro.
Um
dia haveremos de os ver a todos na glória celeste, brilhando com o fulgor
próprio da Suprema Luz.
(ama, comentário sobre Mt 5, 1-12, 2012.11.01)
CONSTITUIÇÃO
PASTORAL
GAUDIUM ET SPES
SOBRE
A IGREJA NO MUNDO ACTUAL
CAPÍTULO
IV
A
FUNÇÃO DA IGREJA NO MUNDO ACTUAL
Ajuda que a Igreja recebe
do mundo
44. Assim como é do interesse
do mundo que ele reconheça a Igreja como realidade social da história e seu
fermento, assim também a Igreja não ignora quanto recebeu da história e
evolução do género humano.
A experiência dos séculos
passados, os progressos científicos, os tesoiros encerrados nas várias formas
de cultura humana, os quais manifestam mais plenamente a natureza do homem e
abrem novos caminhos para a verdade, aproveitam igualmente à Igreja. Ela
aprendeu, desde os começos da sua história, a formular a mensagem de Cristo por
meio dos conceitos e línguas dos diversos povos, e procurou ilustrá-la com o
saber filosófico. Tudo isto com o fim de adaptar o Evangelho à capacidade de
compreensão de todos e às exigências dos sábios. Esta maneira adaptada de
pregar a palavra revelada deve permanecer a lei de toda a evangelização. Deste
modo, com efeito, suscita-se em cada nação a possibilidade de exprimir a
mensagem de Cristo segundo a sua maneira própria, ao mesmo tempo que se fomenta
um intercâmbio vivo entre a Igreja e as diversas culturas dos diferentes povos 22.
Para aumentar este intercâmbio, necessita especialmente a Igreja - sobretudo
hoje, em que tudo muda tão rapidamente e os modos de pensar variam tanto - da
ajuda daqueles que, vivendo no mundo, conhecem bem o espírito e conteúdo das
várias instituições e disciplinas, sejam eles crentes ou não. É dever de todo o
Povo de Deus e sobretudo dos pastores e teólogos, com a ajuda do Espírito
Santo, saber ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso
tempo, e julgá-las à luz da palavra de Deus, de modo que a verdade revelada
possa ser cada vez mais intimamente percebida, melhor compreendida e
apresentada de um modo conveniente.
Como a Igreja tem uma
estrutura social visível, sinal da sua unidade em Cristo, pode também ser
enriquecida, e de facto o é, com a evolução da vida social. Não porque falte
algo na constituição que Cristo lhe deu, mas para mais profundamente a conhecer
e melhor a exprimir e para a adaptar mais convenientemente aos nossos tempos.
Ela verifica com gratidão que, tanto no seu conjunto como em cada um dos seus
filhos, recebe variadas ajudas dos homens de toda a classe e condição. Na
realidade, todos os que, de acordo com a vontade de Deus, promovem a comunidade
humana no plano familiar, cultural, da vida económica e social e também
política, seja nacional ou internacional, prestam não pequena ajuda à
comunidade eclesial, na medida em que esta depende das realidades exteriores.
Mais ainda, a Igreja
reconhece que muito aproveitou e pode aproveitar da própria oposição daqueles
que a hostilizam e perseguem 23.
Jesus Cristo Alfa e Omega
45. Ao ajudar o mundo e
recebendo dele ao mesmo tempo muitas coisas, o único fim da Igreja é o advento
do reino de Deus e o estabelecimento da salvação de todo o género humano. E
todo o bem que o Povo de Deus pode prestar à família dos homens durante o tempo
da sua peregrinação deriva do facto que a Igreja é o «sacramento universal da
salvação» 24, manifestando e actuando simultâneamente o mistério do
amor de Deus pelos homens.
Com efeito, o próprio
Verbo de Deus, por quem tudo foi feito, fez-se homem, para, homem perfeito, a
todos salvar e tudo recapitular. O Senhor é o fim da história humana, o ponto
para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do género
humano, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações 25.
Foi Ele que o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou à sua direita,
estabelecendo-o juiz dos vivos e dos mortos. Vivificados e reunidos no seu
Espírito, caminhamos em direcção à consumação da história humana, a qual
corresponde plenamente ao seu desígnio de amor: «recapitular todas as coisas em
Cristo, tanto as do céu como as da terra» (Ef. 1,10).
O próprio Senhor o diz:
«Eis que venho em breve, trazendo comigo a minha recompensa, para dar a cada um
segundo as suas obras. Eu sou o alfa e o ómega, o primeiro e o último, o começo
e o fim» (Apoc. 22, 12-13).
II
PARTE
ALGUNS
PROBLEMAS MAIS URGENTES
Atitude do Concílio
perante esses problemas
46. Depois de ter exposto
a dignidade da pessoa humana, bem como a missão individual e social que está
chamada a realizar no mundo, o Concílio dirige agora a atenção de todos, à luz
do Evangelho e da experiência humana, para algumas necessidades mais urgentes
do nosso tempo, que profundamente afectam a humanidade.
Entre as muitas questões
que hoje a todos preocupam, importa relevar particularmente as seguintes: o
matrimónio e a família, a cultura humana, a vida económico-social e política, a
comunidade internacional e a paz. Sobre cada uma delas devem resplandecer os
princípios e as luzes que provêm de Cristo e que dirigirão os cristãos e iluminarão
todos os homens na busca da solução para tantos e tão complexos problemas.
CAPÍTULO
I
A
PROMOÇÃO DA DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO E DA FAMÍLIA
O matrimónio e a família
no mundo actual
47. O bem-estar da pessoa
e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável
situação da comunidade conjugal e familiar. Por esse motivo, os cristãos,
juntamente com todos os que têm em grande apreço esta comunidade, alegram-se
sinceramente com os vários factores que fazem aumentar entre os homens a estima
desta comunidade de amor e o respeito pela vida e que auxiliam os cônjuges e os
pais na sua sublime missão. Esperam daí ainda melhores resultados e esforçam-se
por os ampliar.
Porém, a dignidade desta
instituição não resplandece em toda a parte com igual brilho. Encontra-se
obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo chamado amor livre
e outras deformações. Além disso, o amor conjugal é muitas vezes profanado pelo
egoísmo, amor do prazer e por práticas ilícitas contra a geração. E as actuais
condições económicas, socio-psicológicas e civis introduzem ainda na família
não pequenas perturbações. Finalmente, em certas partes do globo, verificam-se,
com inquietação, os problemas postos pelo aumento demográfico. Com tudo isto,
angustiam-se as consciências. Mas o vigor e a solidez da instituição
matrimonial e familiar também nisto se manifestam: as profundas transformações
da sociedade contemporânea, apesar das dificuldades a que dão origem, muito frequentemente
revelam de diversos modos a verdadeira natureza de tal instituição.
Por tal motivo, o
Concílio, esclarecendo alguns pontos da doutrina da Igreja, deseja ilustrar e
robustecer os cristãos e todos os homens que se esforçam por proteger e
fomentar a nativa dignidade do estado matrimonial e o seu alto e sagrado valor.
A santidade do matrimónio
e da família
48. A íntima comunidade da
vida e do amor conjugal, fundada pelo Criador e dotada de leis próprias, é
instituída por meio da aliança matrimonial, eu seja pelo irrevogável
consentimento pessoal. Deste modo, por meio do acto humano com o qual os
cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao outro, nasce uma instituição também
à face da sociedade, confirmada pela lei divina. Em vista do bem tanto dos
esposos e da prole como da sociedade, este sagrado vínculo não está ao arbítrio
da vontade humana. O próprio Deus é o autor do matrimónio, o qual possui
diversos bens e fins, 1 todos eles da máxima importância, quer para
a propagação do género humano, quer para o proveito pessoal e sorte eterna de
cada um dos membros da família, quer mesmo, finalmente, para a dignidade,
estabilidade, paz e prosperidade de toda a família humana. Por sua própria
índole, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados para a
procriação e educação da prole, que constituem como que a sua coroa. O homem e
a mulher, que, pela aliança conjugal «já não são dois, mas uma só carne» (Mt.
19, 6), prestam-se recíproca ajuda e serviço com a íntima união das suas
pessoas e actividades, tomam consciência da própria unidade e cada vez mais a
realizam. Esta união íntima, já que é o dom recíproco de duas pessoas, exige,
do mesmo modo que o bem dos filhos, a inteira fidelidade dos cônjuges e a indissolubilidade
da sua união 2.
Cristo Senhor abençoou
copiosamente este amor de múltiplos aspectos, nascido da fonte divina da
caridade e constituído à imagem da sua própria união com a Igreja. E assim como
outrora Deus veio ao encontro do seu povo com uma aliança de amor e fidelidade 3,
assim agora o Salvador dos homens e esposo da Igreja 4 vem ao
encontro dos esposos cristãos com o sacramento do matrimónio. E permanece com
eles, para que, assim como Ele amou a Igreja e se entregou por ela 5,
de igual modo os cônjuges, dando-se um ao outro, se amem com perpétua
fidelidade. O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino, e dirigido e
enriquecido pela força redentora de Cristo e pela acção salvadora da Igreja, para
que, assim, os esposos caminhem eficazmente para Deus e sejam ajudados e
fortalecidos na sua missão sublime de pai e mãe 6. Por este motivo,
os esposos cristãos são fortalecidos e como que consagrados em ordem aos
deveres do seu estado por meio de um sacramento especial 7;
cumprindo, graças à força deste, a própria missão conjugal e familiar,
penetrados do espírito de Cristo que impregna toda a sua vida de fé, esperança
e caridade, avançam sempre mais na própria perfeição e mútua santificação e
cooperam assim juntos para a glorificação de Deus.
Precedidos assim pelo
exemplo e oração familiar dos pais, tanto os filhos como todos os que vivem no
círculo familiar encontrarão mais facilmente o caminho da existência humana, da
salvação e da santidade. Quanto aos esposos, revestidos com a dignidade e o
encargo da paternidade e maternidade, cumprirão diligentemente o seu dever de
educação, sobretudo religiosa, que a eles cabe em primeiro lugar. Os filhos,
como membros vivos dá família, contribuem a seu modo para a santificação dos
pais. Corresponderão, com a sua gratidão, piedade filial e confiança aos
benefícios recebidos dos pais e assisti-los-ão, como bons filhos, nas
dificuldades e na solidão da velhice. A viuvez, corajosamente assumida na
sequência da vocação conjugal, por todos deve ser respeitada 8. Cada
família comunicará generosamente com as outras as próprias riquezas
espirituais. Por isso, a família cristã, nascida de um matrimónio que é imagem
e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja 9,
manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza
da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa
fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus
membros.
______________________________________
Notas:
22.
Cfr. Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. II, n. 13: AAS 57 (1965), p.
17.
23.
Cfr. Justino, Dialogus cum Tryphone, cap. 110: PG 6, 729 (ed. Otto), 1897, p.
391-393: «...sed quanto magis talia nobis infliguntur, tanto plures alii
fideles et pii per nomen Jesu fiunt». Cfr. Tertuliano, Apologeticus, cap. 50,
13: PL 1,534; Cchr, ser. lat., I, p. 171: «Etiam plures efficimur, quotiens
metimur a vobis: semen est sanguis christianorum», Cfr. Const. dogm. De Ecclesia,
Lumen gentium, cap. VII, n. 48: AAS 57 (1965), p. 53.
24.
Cfr. Const. dogm. Lumen Gentium c 2 n. 15: AAS 57 (1965), p. 21.
25.
Cfr. Paulo VI, Alocução, 3 fev. 1965: L'Osservatore Romano, 4 fev. 1965.
II
PARTE
Capítulo
I
1.
Cfr. S. Agostinho, De bono coniugali: PL 40, 375-376 e 394. S. Tomás, Summa
Theol., Suppl. Quaest. 49 art. 3 ad 1; Decretum pro Armenis: Denz.-Schön. 702
(1327) ; Pio XI, Ene. Casti Connubii: AAS 22 (1930), p. 543-555, Denz.-Schön.
2227-2238.
2
Cfr. Pio XI, Enc. Casti Connubii: AAS 22 (1930), p. 546-547; Denz.-Schön.
(3703-3714).
3.
Cfr. Os. 2; Jer. 3, 6-13; Ez. 16 e 23; Is. 54.
4.
Cfr. Mt. 9,15; Mc. 2, 19-20; Lc. 5, 34-35; Jo. 3,29; 2 Cor. 11,2; Ef. 5,27;
Apoc. 19, 7-8; 21,2 e 9.
5.
Cfr. Ef. 5,25.
6.
Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecelesia, Lumen gentium: AAS 57 (1965), p.
15-16; 40-41; 47.
7.
Pio XI, Enc. Casti Connubii: AAS 22 (1930), p. 583.
8.
Cfr. 1 Tim. 5, 3.
9.
Cfr. Ef. 5, 32.
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