Tempo de Páscoa
VII Semana
Evangelho: Jo 21, 20-25.
20
Pedro, tendo-Se voltado, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava,
aquele mesmo que na ceia estivera reclinado sobre o Seu peito e Lhe perguntara:
«Senhor, quem é que Te vai entregar?». 21 Pedro, vendo-o, disse a Jesus:
«Senhor, e deste, que será?» 22 Jesus disse-lhe: «Se quero que ele fique até
que Eu venha, que tens com isso? Tu, segue-Me». 23 Correu então entre os irmãos
que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: «Não
morrerá», mas: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso?».
24 Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e
sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Muitas outras coisas fez Jesus.
Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os
livros que seria preciso escrever.
Comentário:
Muitos sentem,
por vezes, uma sensação que Deus favorece, por assim dizer, mais uns que outros
o que, a ser verdade, deitaria por terra a afirmação que Deus quer a todos os
seus filhos por igual. E chegam a afirmar que não se percebe porque Deus
favorecerá ou não, faz uma escolha segundo critérios que, aos seus olhos
humanos, não se justifica em absoluto.
Bom… que
conste o seguinte: Por justiça, e Deus é a Justiça, Deus não pode querer
diferentemente aos seus filhos. Os homens sim, amam a Deus de diferentes modos.
Parece que,
quando tudo corre bem, aparentemente, se ama a Deus com melhor disposição, o
que já não acontece quando se enfrentam problemas ou dificuldades. Ou seja, o
seu amor a Deus não é incondicional como todo o amor deve ser.
Mas, também,
há a considerar o seguinte: não é natural que a correspondência ao amor não
seja proporcional? Isto é, quanto mais se ama mais se é amado?
Que, esses, se
deixem pois dessas preocupações e olhem mais para dentro de si mesmos. Aí
encontraram as respostas para as suas dúvidas.
(AMA, comentário sobre Jo
21, 20-25, 2013.05.18)
CONSTITUIÇÃO
PASTORAL
GAUDIUM ET SPES
SOBRE
A IGREJA NO MUNDO ACTUAL
CAPÍTULO
III
A
ACTIVIDADE HUMANA NO MUNDO
Problema do sentido da
actividade humana
33. Sempre o homem
procurou, com o seu trabalho e engenho, desenvolver mais a própria vida; hoje,
porém, sobretudo graças à ciência e à técnica, estendeu o seu domínio à
natureza inteira, e continuamente o aumenta; e a família humana, sobretudo
devido ao aumento de múltiplos meios de comunicação entre as nações, vai-se
descobrindo e organizando progressivamente como uma só comunidade espalhada
pelo mundo inteiro. Acontece assim que, muitos bens que, noutro tempo, o homem
esperava, sobretudo das forças superiores, os alcança hoje por seus próprios
meios.
Muitas são as questões que
se levantam entre os homens, perante este imenso empreendimento, que já atingiu
o inteiro género humano. Qual o sentido e valor desta actividade? Como se devem
usar estes bens? Para que fim tendem os esforços dos indivíduos e das
sociedades? Guarda do depósito da palavra divina, onde se vão buscar os
princípios da ordem religiosa e moral, a Igreja, embora nem sempre tenha uma
resposta já pronta para cada uma destas perguntas, deseja, no entanto, juntar a
luz da revelação à competência de todos os homens, para que assim receba luz o
caminho recentemente empreendido pela humanidade.
Valor da actividade humana
34. Uma coisa é certa para
os crentes: a actividade humana individual e colectiva, aquele imenso esforço
com que os homens, no decurso dos séculos, tentaram melhorar as condições de
vida, corresponde à vontade de Deus. Pois o homem, criado à imagem de Deus,
recebeu o mandamento de dominar a terra com tudo o que ela contém e governar o
mundo na justiça e na santidade 1 e, reconhecendo Deus como Criador
universal, orientar-se a si e ao universo para Ele; de maneira que, estando
todas as coisas sujeitas ao homem, seja glorificado em toda a terra o nome de
Deus 2.
Isto aplica-se também às
actividades de todos os dias. Assim, os homens e as mulheres que, ao ganhar o
sustento para si e suas famílias, de tal modo exercem a própria actividade que
prestam conveniente serviço à sociedade, com razão podem considerar que prolongam
com o seu trabalho a obra do Criador, ajudam os seus irmãos e dão uma
contribuição pessoal para a realização dos desígnios de Deus na história 3.
Longe de pensar que as
obras do engenho e poder humano se opõem ao poder de Deus, ou de considerar a
criatura racional como rival do Criador, os cristãos devem, pelo contrário,
estar convencidos de que as vitórias do género humano manifestam a grandeza de
Deus e são fruto do seu desígnio inefável. Mas, quanto mais aumenta o poder dos
homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária. Vê-se,
portanto, que a mensagem cristã não afasta os homens da tarefa de construir o
mundo, nem os leva a desatender o bem dos seus semelhantes, mas que, antes, os
obriga ainda mais a realizar essas actividades 4.
Ordenação da actividade
humana
35. A actividade humana,
do mesmo modo que procede do homem, assim para ele se ordena. De facto, quando
age, o homem não transforma apenas as coisas e a sociedade, mas realiza-se a si
mesmo. Aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e
eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do
que os bens externos que se possam conseguir. O homem vale mais por aquilo que
é do que por aquilo que tem 5. Do mesmo modo, tudo o que o homem faz
para conseguir mais justiça, mais fraternidade, uma organização mais humana das
relações sociais, vale mais do que os progressos técnicos. Pois tais progressos
podem proporcionar a base material para a promoção humana, mas, por si sós, são
incapazes de a realizar.
A norma da actividade
humana é pois a seguinte: segundo o plano e vontade de Deus, ser conforme com o
verdadeiro bem da humanidade e tornar possível ao homem, individualmente
considerado ou em sociedade, cultivar e realizar a sua vocação integral.
Justa autonomia das
realidades terrestres
36. No entanto, muitos dos
nossos contemporâneos parecem temer que a íntima ligação entre a actividade
humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos homens, das
sociedades ou das ciências. Se por autonomia das realidades terrenas se entende
que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que
o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente
legítimo exigir tal autonomia. Para além de ser uma exigência dos homens do
nosso tempo, trata-se de algo inteiramente de acordo com a vontade do Criador.
Pois, em virtude do próprio facto da criação, todas as coisas possuem
consistência, verdade, bondade e leis próprias, que o homem deve respeitar,
reconhecendo os métodos peculiares de cada ciência e arte. Por esta razão, a
investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um
modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será
realmente oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm origem no
mesmo Deus 6. Antes, quem se esforça com humildade e constância por
perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência,
como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o
que são. Seja permitido, por isso, deplorar certas atitudes de espírito que não
faltaram entre os mesmos cristãos, por não reconhecerem suficientemente a
legítima autonomia da ciência e que, pelas disputas e controvérsias a que deram
origem, levaram muitos espíritos a pensar que a fé e a ciência eram
incompatíveis 7.
Se, porém, com as palavras
«autonomia das realidades temporais» se entende que as criaturas não dependem
de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que
acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertos. Pois, sem o
Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de qualquer religião,
sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas.
Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece.
A actividade humana
viciada pelo pecado
37. A Sagrada Escritura,
confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o
progresso humano, tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande
tentação: perturbada a ordem de valores e misturado o bem com o mal, os homens
e os grupos consideram apenas o que é seu, esquecendo o dos outros. Deixa assim
o mundo de ser um lugar de verdadeira fraternidade, enquanto o acrescido dos
homens ameaça já destruir o próprio género humano.
Um duro combate contra os
poderes das trevas atravessa, com efeito toda a história humana; começou no
princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor 8, durará até ao
último dia. Inserido nesta luta, o homem deve combater constantemente, se quer
ser fiel ao bem; e só com grandes esforços e a ajuda da graça de Deus
conseguirá realizar a sua própria unidade.
Por isso, a Igreja de
Cristo, confiando no desígnio do Criador, ao mesmo tempo que reconhece que o
progresso humano pode servir para a verdadeira felicidade dos homens, não pode
deixar de repetir aquela palavra do Apóstolo: «não vos conformeis com este
mundo» (Rom. 12, 2), isto é, com aquele espírito de vaidade e malícia que transforma
a actividade humana, destinada ao serviço de Deus e do homem, em instrumento de
pecado.
E se alguém quer saber de
que maneira se pode superar esta situação miserável, os cristãos professam que
todas as actividades humanas, constantemente ameaçadas pela soberba e
amor-próprio desordenado, devem ser purificadas e levadas à perfeição pela cruz
e ressurreição de Cristo. Porque, remido por Cristo e tornado nova criatura no
Espírito Santo, o homem pode e deve amar até as coisas criadas por Deus. Pois
recebeu-as de Deus e considera-as e respeita-as como vindas da mão do Senhor.
Dando por elas graças ao benfeitor e usando e aproveitando as criaturas em
pobreza e liberdade de espírito, é introduzido no verdadeiro senhorio do mundo,
como quem nada tem e tudo possui 9. «Todas as coisas são vossas; mas
vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor. 3, 22-23).
A actividade humana
aperfeiçoada na Encarnação e no mistério pascal
38. O Verbo de Deus, pelo
qual todas as coisas foram feitas, fazendo-se homem e vivendo na terra dos
homens 10, entrou como homem perfeito na história do mundo,
assumindo-a e recapitulando-a 11. Ele revela-nos que «Deus é amor»
(1 Jo. 4, 8) e ensina-nos ao mesmo tempo que a lei fundamental da perfeição
humana e, portanto, da transformação do mundo, é o novo mandamento do amor. Dá,
assim, aos que acreditam no amor de Deus, a certeza de que o caminho do amor
está aberto para todos e que o esforço por estabelecer a universal fraternidade
não é vão. Adverte, ao mesmo tempo, que este amor não se deve exercitar apenas
nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas circunstâncias ordinárias da vida.
Suportando a morte por todos nós pecadores 12, ensina-nos com o seu
exemplo que também devemos levar a cruz que a carne e o mundo fazem pesar sobre
os ombros daqueles que buscam a paz e a justiça. Constituído Senhor pela sua
ressurreição, Cristo, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra 13,
actua já pela força do Espírito Santo nos corações dos homens; não suscita
neles apenas o desejo da vida futura, mas, por isso mesmo, anima, purifica e
fortalece também aquelas generosas aspirações que levam a humanidade a tentar
tornar a vida mais humana e a submeter para esse fim toda a terra. Sem dúvida,
os dons do Espírito são diversos: enquanto chama alguns a darem claro
testemunho do desejo da pátria celeste e a conservarem-no vivo no seio da
família humana, chama outros a dedicarem-se ao serviço terreno dos homens,
preparando com esta sua actividade como que a matéria do reino dos céus.
Liberta, porém, a todos, para que, deixando o amor próprio e empregando em
favor da vida humana todas as energias terrenas, se lancem para o futuro, em
que a humanidade se tornará oblação agradável a Deus 14.
O penhor desta esperança e
o viático para este caminho deixou-os o Senhor aos seus naquele sacramento da
fé, em que os elementos naturais, cultivados pelo homem, se convertem no Corpo
e Sangue gloriosos, na ceia da comunhão fraterna e na prelibação do banquete
celeste.
A nova terra e o novo céu
39. Ignoramos o tempo em
que a terra e a humanidade atingirão a sua plenitude 15, e também
não sabemos que transformação sofrerá o universo. Porque a figura deste mundo,
deformada pelo pecado, passa certamente 16, mas Deus ensina-nos que
se prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reina a justiça 17
e cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam
no coração dos homens 18. Então, vencida a morte, os filhos de Deus
ressuscitarão em Cristo e aquilo que foi semeado na fraqueza e corrupção, revestir-se-á
de incorruptibilidade 19; permanecendo a caridade e as suas obras 20,
todas as criaturas que Deus criou para o homem serão libertadas da escravidão
da vaidade 21.
É certo que é-nos lembrado
que de nada serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se a si mesmo se vem a
perder 22. A expectativa da nova terra não deve, porém, enfraquecer,
mas antes activar a solicitude em ordem a desenvolver esta terra, onde cresce o
corpo da nova família humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração
do mundo futuro. Por conseguinte, embora o progresso terreno se deva
cuidadosamente distinguir do crescimento do reino de Cristo, todavia, na medida
em que pode contribuir para a melhor organização da sociedade humana, interessa
muito ao reino de Deus 23.
Todos estes valores da
dignidade humana, da comunhão fraterna e da liberdade, fruto da natureza e do
nosso trabalho, depois de os termos difundido na terra, no Espírito do Senhor e
segundo o seu mandamento, voltaremos de novo a encontrá-los, mas então purificados
de qualquer mancha, iluminados e transfigurados, quando Cristo entregar ao Pai
o reino eterno e universal: «reino de verdade e de vida, reino de santidade e
de graça, reino de justiça, de amor e de paz» 24. Sobre a terra, o
reino já está misteriosamente presente; quando o Senhor vier, atingirá a
perfeição.
_________________________________
Notas:
Capítulo
III
1.
Cfr. Gén. 1, 26-27; 9, 2-3.
2.
Cfr. Salm. 8,7 e 10.
3.
Cfr. João XXIII, Enc. Pacem in terris: AAS 55 (1963), p. 297.
4.
Cfr. Mensagem enviada à humanidade pelos Padres Conciliares no início do
Concílio Vaticano II, outubro 1962: AAS 54 (1962), p. 822-823.
5.
Cfr. Paulo VI, Alocução ao Corpo diplomático, 7 janeiro 1965: AAS 57 (1965), p.
232.
6.
Cfr. Conc. Vat. I, Const. dogma De fide cath., cap. III: Denz. 1785-1786
(3004-3005).
7.
Cfr. Pio Paschini, Vita e opere di Galileo Galilei, 2 vol. Academia Pontifícia
de Ciências, cidade do Vaticano, 1964.
8.
Cfr. Mt. 24,13; 13, 24-30 e 36-43.
9.
Cfr. 2 Cor. 6,10.
10.
Cfr, Jo. 1,3 e 14.
11.
Cfr. Ef. 1,10.
12.
Cfr. Jo. 3, 14-16; Rom. 5, 8-10.
13.
Cfr. Act. 2,36; Mt. 28,18.
14.
Cfr. Rom. 15,16.
15.
Cfr. Act. 1,7.
16.
Cfr. 1 Cor. 7,31; S. Ireneu, Adversus Haereses, V, 36: PG VII, 1222.
17.
Cfr. 2 Cor. 5,2; 2 Ped. 3,13.
18.
Cfr. 1 Cor. 2,9; Apoc. 21, 4-5.
19.
Cfr. 1 Cor. 15,42 e 53.
20.
Cfr. 1 Cor. 13,8; 3,14.
21.
Cfr. Rom. 8, 19-21.
22.
Cfr. Lc. 9,25.
23.
Cfr. Pio XI, Enc. Quadragesimo anno: AAS 23 (1931), p. 207.
24.
Missal romano, Prefácio da festa de Cristo Rei.
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