Tempo de Páscoa
VII Semana
Evangelho: Jo 16, 29-33
29 Os Seus
discípulos disseram-Lhe: «Eis que agora falas claramente e não usas nenhuma
parábola. 30 Agora conhecemos que sabes tudo e que não é necessário que alguém
Te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus». 31 Jesus respondeu-lhes:
«Credes agora?». 32 «Eis que vem a hora, e já chegou, em que sereis espalhados
cada um para seu lado e em que Me deixareis só; mas Eu não estou só, porque o
Pai está comigo. 33 Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis
de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo».
Comentário:
Parece haver uma contradição nas
palavras de Jesus? Atrevo-me a tanto porque sou um pobre homem que ao
deparar-se com um Jesus Cristo vencedor encontra nele a paz!
Mas… quando me lembro que Ele também
disse que o reino dos Céus se conquista com a violência compreendo que esta
violência é o esforço pessoal por ultrapassar os obstáculos que o mundo levanta
aos que desejam seguir Jesus e conquistar o Reino.
Estar ao lado – sempre – do Vencedor do
mundo é a melhor opção que se pode tomar.
(ama,
comentário sobre Jo 16, 29-33, 2014.04.03)
CONSTITUIÇÃO
PASTORAL
GAUDIUM ET SPES
SOBRE
A IGREJA NO MUNDO ACTUAL
PROÉMIO 1
Íntima união da Igreja com
toda a família humana
1. As alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma
verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua
comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo
Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a
mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja
sente-se real e intimamente ligada ao género humano e à sua história.
A quem se dirige o
Concílio: todos os homens
2. Por isso, o Concílio
Vaticano II, tendo investigado mais profundamente o mistério da Igreja, não
hesita agora em dirigir a sua palavra, não já apenas aos filhos da Igreja e a
quantos invocam o nome de Cristo, mas a todos os homens. Deseja expor-lhes o
seu modo de conceber a presença e actividade da Igreja no mundo de hoje.
Tem, portanto, diante dos
olhos o mundo dos homens, ou seja a inteira família humana, com todas as
realidades no meio das quais vive; esse mundo que é teatro da história da
humanidade, marcado pelo seu engenho, pelas suas derrotas e vitórias; mundo,
que os cristãos acreditam ser criado e conservado pelo amor do Criador; caído,
sem dúvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado pela cruz e ressurreição
de Cristo, vencedor do poder do maligno; mundo, finalmente, destinado, segundo
o desígnio de Deus, a ser transformado e alcançar a própria realização.
Para iluminar a
problemática humana e salvar o homem
3. Nos nossos dias, a
humanidade, cheia de admiração ante as próprias descobertas e poder, debate,
porém, muitas vezes, com angústia, as questões relativas à evolução actual do
mundo, ao lugar e missão do homem no universo, ao significado do seu esforço
individual e colectivo, enfim, ao último destino das criaturas e do homem.
Por isso, o Concílio,
testemunhando e expondo a fé do Povo de Deus por Cristo congregado, não pode
manifestar mais eloquentemente a sua solidariedade, respeito e amor para com a
inteira família humana, na qual está inserido, do que estabelecendo com ela
diálogo sobre esses vários problemas, aportando a luz do Evangelho e pondo à
disposição do género humano as energias salvadoras que a Igreja, conduzida pelo
Espírito Santo, recebe do seu Fundador. Trata-se, com efeito, de salvar a
pessoa do homem e de restaurar a sociedade humana. Por isso, o homem será o
fulcro de toda a nossa exposição: o homem na sua unidade e integridade: corpo e
alma, coração e consciência, inteligência e vontade.
Eis a razão por que este
sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando que nele
está depositado um germe divino, oferece ao género humano a sincera cooperação
da Igreja, a fim de instaurar a fraternidade universal que a esta vocação corresponde.
Nenhuma ambição terrena move a Igreja, mas unicamente este objectivo:
continuar, sob a direcção do Espírito Consolador, a obra de Cristo que veio ao
mundo para dar testemunho da verdade 2, para salvar e não para
julgar, para servir e não para ser servido 3.
INTRODUÇÃO
A
CONDIÇÃO DO HOMEM NO MUNDO ACTUAL
Esperanças
e temores
4. Para levar a cabo esta
missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e
interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo
adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da
vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário
conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações,
e o seu carácter tantas vezes dramático. Algumas das principais características
do mundo actual podem delinear-se do seguinte modo.
A humanidade vive hoje uma
fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se
estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela inteligência e
actividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus
juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e
agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já
falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também
na vida religiosa.
Como acontece em qualquer
crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas
dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem
sempre é capaz de o pôr ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no
interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio
respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social,
hesita quanto à direcção que a esta deve imprimir.
Nunca o género humano teve
ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio
económico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é
atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos.
Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que
surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo que o
mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos
seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por
forças antagónicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos,
sociais, económicos, «raciais» e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma
guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias
palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos
muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com
todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um
progresso espiritual proporcionado.
Marcados por
circunstâncias tão complexas, muitos dos nossos contemporâneos são incapazes de
discernir os valores verdadeiramente permanentes e de os harmonizar com os
novamente descobertos. Daí que, agitados entre a esperança e a angústia,
sentem-se oprimidos pela inquietação, quando se interrogam acerca da evolução
actual dos acontecimentos. Mas esta desafia o homem, força-o até a uma
resposta.
Evolução e domínio da
técnica e da ciência
5. A actual perturbação
dos espíritos e a mudança das condições de vida, estão ligadas a uma
transformação mais ampla, a qual tende a dar o predomínio, na formação do
espírito, às ciências matemáticas e naturais, e, no plano da acção, às
técnicas, fruto dessas ciências. Esta mentalidade científica modela a cultura e
os modos de pensar duma maneira diferente do que no passado. A técnica
progrediu tanto que transforma a face da terra e tenta já dominar o espaço.
Também sobre o tempo
estende a inteligência humana o seu domínio: quanto ao passado, graças ao
conhecimento histórico; relativamente ao futuro, com a perspectiva e a
planificação. Os progressos das ciências biológicas, psicológicas e sociais não
só ajudam o homem a conhecer-se melhor, mas ainda lhe permitem exercer, por
meios técnicos, uma influência directa na vida das sociedades. Ao mesmo tempo,
a humanidade preocupa-se cada vez mais com prever e ordenar o seu aumento
demográfico.
O próprio movimento da
história torna-se tão rápido, que os indivíduos dificilmente o podem seguir. O
destino da comunidade humana torna-se um só, e não já dividido entre histórias
independentes. A humanidade passa, assim, duma concepção predominantemente
estática da ordem das coisas para um outra, preferentemente dinâmica e
evolutiva; daqui nasce uma nova e imensa problemática, a qual está a exigir
novas análises e novas sínteses.
Mudanças na ordem social
6. Pelo mesmo facto,
verificam-se cada dia maiores transformações nas comunidades locais
tradicionais, como são famílias patriarcais, os clãs, as tribos, aldeias e
outros diferentes grupos, e nas relações da convivência social.
Difunde-se
progressivamente a sociedade de tipo industrial, levando algumas nações à
opulência económica e transformando radicalmente as concepções e as condições
de vida social vigentes desde há séculos. Aumentam também a preferência e a
busca da vida urbana, quer pelo aumento das cidades e do número de seus
habitantes, quer pela difusão do género de vida urbana entre os camponeses.
Novos e mais perfeitos
meios de comunicação social permitem o conhecimento dos acontecimentos e a
rápida e vasta difusão dos modos de pensar e de sentir; o que, por sua vez, dá
origem a numerosas repercussões.
Nem se deve minimizar o
facto de muitos homens, levados por diversos motivos a emigrar, mudarem com
isso o próprio modo de viver.
Multiplicam-se assim sem
cessar as relações do homem com os seus semelhantes, ao mesmo tempo que a
própria socialização introduz novas ligações, sem no entanto favorecer em todos
os casos uma conveniente maturação das pessoas e relações verdadeiramente pessoais
(«personalização»).
É verdade que tal evolução
aparece mais claramente nas nações que beneficiam já das vantagens do progresso
económico e técnico, mas nota-se também entre os povos ainda em vias de
desenvolvimento, que desejam alcançar para os seus países os benefícios da
industrialização e da urbanização. Esses povos, sobretudo os que estão ligados
a tradições mais antigas, sentem ao mesmo tempo a exigência dum exercício cada
vez mais pessoal da liberdade.
Transformações
psicológicas, morais e religiosas
7. A transformação de
mentalidade e de estruturas põe muitas vezes em questão os valores admitidos,
sobretudo no caso dos jovens. Tornam-se frequentemente impacientes e mesmo, com
a inquietação, rebeldes; conscientes da própria importância na vida social,
aspiram a participar nela o mais depressa possível. Por este motivo, os pais e
educadores encontram não raro crescentes dificuldades no desempenho da sua
missão.
Por sua vez, as
instituições, as leis e a maneira de pensar e de sentir herdadas do passado nem
sempre parecem adaptadas à situação actual; e daqui provém uma grave perturbação
no comportamento e até nas próprias normas de acção.
Por fim, as novas
circunstâncias afectam a própria vida religiosa. Por um lado, um sentido
crítico mais apurado purifica-a duma concepção mágica do mundo e de certas
sobrevivências supersticiosas, e exige cada dia mais a adesão a uma fé pessoal
e operante; desta maneira, muitos chegam a um mais vivo sentido de Deus. Mas,
por outro lado, grandes massas afastam-se práticamente da religião. Ao
contrário do que sucedia em tempos passados, negar Deus ou a religião, ou prescindir
deles já não é um facto individual e insólito: hoje, com efeito, isso é muitas
vezes apresentado como exigência do progresso científico ou dum novo tipo de
humanismo. Em muitas regiões, tudo isto não é apenas afirmado no meio
filosófico, mas invade em larga escala a literatura, a arte, a interpretação
das ciências do homem e da história e até as próprias leis civis; o que provoca
a desorientação de muitos.
_________________________________________
Notas:
1. A Constituição pastoral «A Igreja
no mundo actual», formada por duas partes, constitui um todo unitário. E
chamada «pastoral», porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende
expor as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. Assim, nem à
primeira parte falta a intenção pastoral, nem à segunda a doutrinal. Na
primeira parte, a Igreja expõe a sua própria doutrina acerca do homem, do mundo
no qual o homem está integrado e da sua relação para com eles. Na segunda,
considera mais expressamente vários aspectos da vida e da sociedade
contemporâneas, e sobretudo as questões e os problemas que, nesses domínios,
padecem hoje de maior urgência. Daqui resulta que, nesta segunda parte, a matéria,
tratada à luz dos princípios doutrinais, não compreende apenas elementos imutáveis,
mas também transitórios. A Constituição deve, pois, ser interpretada segundo as
normas teológicas gerais, tendo em conta, especialmente na segunda parte, as
circunstâncias mutáveis com que estão intrinsecamente ligados os assuntos em
questão.
2. Cfr. Jo. 18,37.
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