Art.
4 — Se um anjo bom ou mau pode pecar venialmente.
(De
Malo, q. 7, a. 9).
O quarto discute-se assim. — Parece
que um anjo bom ou mau pode pecar venialmente.
1. — Pois, o homem tem de comum com o
anjo a parte superior da alma, chamada inteligência, conforme e Gregório: O
homem intelige, como os anjos. Ora, pela parte superior da alma o homem pode
pecar venialmente. Logo, também o anjo
2. Demais. — Quem pode o mais pode o
menos. Ora, o anjo podia amar o bem criado, mais que a Deus; e isso fê-lo,
pecando mortalmente. Logo, também podia amar o bem criado, desordenadamente,
embora menos que a Deus, pecando venialmente.
3. Demais. — Os anjos maus podem
cometer alguns pecados, genericamente veniais provocando o riso dos homens, e
fazendo leviandades semelhantes. Ora, como se disse (a. 3), a circunstância
pessoal não torna mortal o pecado venial, a menos de uma proibição especial
sobreveniente, o que não se dá no caso vertente. Logo, o anjo pode pecar
venialmente.
Mas, em contrário, maior era a
perfeição do anjo que a do homem, no estado primitivo. Ora, neste estado, o
homem não podia pecar venialmente. Logo, com maior razão nem o anjo.
Como já dissemos na Primeira
parte (q. 58, a. 3; q. 79, a. 8), o intelecto do anjo não é discursivo, de modo
a proceder dos princípios para as conclusões, inteligindo aqueles e estas,
separadamente, como nós. Donde, sempre que consideram as conclusões,
necessariamente as consideram como incluídas nos princípios. Ora, na ordem do
nosso desejo, como já muitas vezes dissemos (q. 8, a. 2; q. 10, a. 1; q. 72, a.
5), os fins são como que os princípios, e os meios, as conclusões. Donde, a
mente angélica não escolhe os meios, senão enquanto compreendidos na ordem do
fim. Por isso e por natureza, não pode haver nos anjos desordem relativa aos
meios, sem haver simultaneamente a relativa ao fim, o que se dá pelo pecado
mortal. Ora, os bons anjos não buscam os meios senão em ordem ao fim devido,
que é Deus; e por isso, todos os seus actos são actos de caridade, e portanto,
não pode haver neles pecado venial. Ao contrário, os anjos maus a nada se movem
senão em ordem ao fim do pecado da própria soberba. Por isso, em tudo o que
fazem por vontade própria pecam mortalmente. Mas o mesmo não se dá com o desejo
do bem natural, que neles existe, como demonstramos na Primeira Parte (q. 63,
a. 4; q. 64, a. 2 ad 5).
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O homem tem algo de comum com os anjos a mente ou intelecto; mas difere deles
no modo de inteligir, como dissemos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O anjo não podia
amar a criatura menos que a Deus, senão simultaneamente referindo-a a Deus como
ao último fim; ou a algum fim desordenado, pela razão já dada.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Todos esses
pecados considerados como veniais os demónios provocam-nos para atrair os
homens à sua familiaridade, e assim fazê-los cair em pecado mortal. Por isso,
sempre que provocam a tais pecados pecam mortalmente, por causa da intenção
final.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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