Tempo de Páscoa
VI Semana
Evangelho: Jo 16,20-23.
20
Em verdade, em verdade vos digo que haveis de chorar e gemer, e o mundo se
há-de alegrar; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se
em alegria. 21 A mulher, quando dá à luz, está em sofrimento, porque chegou a
sua hora, mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da sua aflição,
pela alegria que sente de ter nascido um homem para o mundo. 22 Vós, pois,
também estais agora tristes, mas hei-de ver-vos de novo e o vosso coração se
alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria. 23 Naquele dia, não Me
interrogareis sobre nada. «Em verdade, em verdade vos digo que, se pedirdes a
Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele vo-la dará.
Comentário:
Manter
a alegria é, por vezes, difícil. Não são só as dificuldades da vida, as
vicissitudes, os problemas. Não!
A
nossa condição humana, fraca e débil, arrasta-nos para o pecado e, quando
cedemos à tentação – e são muitas – instala-se uma tristeza interior fruto do
fracasso.
Porém,
devemos ter em conta que é isso exactamente o que o tentador pretende:
retirar-nos a alegria de filhos de Deus.
Cair,
fracassar… pode ser grave ou, até, muito grave, mas a tristeza daí proveniente
não deve demorar, não podemos consentir que se instale.
Temos
o remédio – infalível – para tal: pedir perdão, confessar o erro, retomar a
VIDA.
Esta
‘farmácia’ chama-se confessionário. É lá que encontraremos o que precisamos, o
remédio infalível!
(ama, comentário sobre Jo 16, 20-23,
2013.05.10)
CARTA ENCÍCLICA
MATER ET MAGISTRA
DE SUA SANTIDADE JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS,
BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR, EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA, BEM
COMO A TODO O CLERO E FIÉIS DO ORBE CATÓLICO
SOBRE A RECENTE EVOLUÇÃO
DA QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA DOUTRINA CRISTÃ
TERCEIRA
PARTE
NOVOS ASPECTOS DA QUESTÃO
SOCIAL
EXIGÊNCIAS DE JUSTIÇA NAS
RELAÇÕES ENTRE PAÍSES DE DIFERENTE PROGRESSO ECONÓMICO
O problema da época
moderna
INCREMENTOS DEMOGRÁFICOS E
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
COLABORAÇÃO EM PLANO
MUNDIAL
Dimensões
mundiais dos problemas humanos importantes
199.
Os progressos científicos e técnicos multiplicam e reforçam, em todos os sectores
da convivência, as relações entre os países, tornando a sua interdependência
cada vez mais profunda e vital.
200.
Por conseguinte, pode dizer-se que os problemas humanos de alguma importância –
qualquer que seja o seu conteúdo, científico, técnico, económico, social,
político ou cultural, apresentam hoje dimensões supranacionais e muitas vezes
mundiais.
201.
Assim, as comunidades políticas, separadamente e com as próprias forças, não
têm já possibilidade de resolver adequadamente os seus maiores problemas dentro
de si mesmas, ainda que se trate de nações que sobressaem pelo elevado grau e
difusão da cultura, pelo número e actividade dos cidadãos, pela eficácia dos
sistemas económicos, e pela extensão e riqueza dos territórios. Todas se
condicionam mutuamente e pode, mesmo, afirmar-se que cada uma atinge o próprio
desenvolvimento, contribuindo para o desenvolvimento das outras. Por isso é que
se impõem o entendimento e a colaboração mútuos.
Desconfiança
recíproca
202.
Assim se pode entender como, entre os indivíduos e os povos, vai ganhando cada
vez mais terreno a persuasão da necessidade urgente daquele entendimento e
colaboração. Ao mesmo tempo, porém, parece que os homens, particularmente os
que têm maiores responsabilidades, se mostram incapazes de realizar tanto um
como a outra. A raiz dessa incapacidade não se busque em razões científicas,
técnicas ou económicas, mas na falta de confiança mútua. Os homens, e por
consequência os Estados, temem-se uns aos outros. Cada um teme que o vizinho
alimente intenções de domínio e espreite o momento de levar a efeito tais
propósitos. Por isso, organiza a própria defesa, quer dizer, arma-se, enquanto
vai declarando que o faz, mais para dissuadir o agressor hipotético de algum
ataque efectivo, do que para agredir.
203.
E deste modo, empregam-se imensas energias humanas e meios gigantescos para
fins não-construtivos, ao mesmo tempo que se insinua e robustece, entre
indivíduos e povos, um sentimento de mal-estar e de opressão, que debilita o
espírito de iniciativa, impedindo empreendimentos de maior envergadura.
Desconhecimento
da ordem moral
204.
A falta de confiança mútua explica-se com o facto de os homens, sobretudo os
mais responsáveis, se inspirarem, no desenvolvimento da sua actividade, em
concepções da vida diferentes ou radicalmente contrárias entre si. Algumas,
infelizmente, não reconhecem a existência da ordem moral: ordem transcendente,
universal e absoluta, de igual valor para todos. Deste modo impossibilitam-se o
contacto e o entendimento pleno e confiado, à luz de uma mesma lei de justiça,
admitida e observada por todos.
205.
Verdade é que os termos "justiça" e "exigências da justiça"
continuam a andar na boca de todos. Mas têm significados diversos ou opostos
para uns e para outros. E é por isso que os apelos, repetidos e apaixonados, à
justiça e às exigências da justiça, longe de oferecerem possibilidades de contacto
ou de entendimento, aumentam a confusão, agravam as diferenças, e tornam mais
acesas as contendas. Daí, espalhar-se a persuasão de que não há outro meio para
fazer valer os direitos próprios e conseguir os próprios interesses, que não
seja o recurso à violência, fonte de males gravíssimos.
Deus,
verdadeiro fundamento da ordem moral
206.
A confiança recíproca entre os homens e os Estados só pode nascer e
consolidar-se através do reconhecimento e do respeito pela ordem moral.
207.
A ordem moral não pode existir sem Deus: separada dele, desintegra-se. O homem,
pois, não é formado só de matéria, mas é também um ser espiritual, dotado de
inteligência e liberdade. Exige, portanto, uma ordem moral e religiosa, que,
mais do que todos e quaisquer valores materiais, influi na direcção e nas
soluções que deve dar aos problemas da vida individual e comunitária, dentro
das comunidades nacionais e nas relações entre estas.
208.
Foi dito que, na era dos triunfos da ciência e da técnica, os homens podem
construir a sua civilização, prescindindo de Deus. A verdade é que mesmo os
progressos científicos e técnicos apresentam problemas humanos de dimensões
mundiais, apenas solúveis à luz de uma sincera e activa fé em Deus, princípio e
fim do homem e do mundo.
209.
Veremos estas verdades confirmadas se repararmos que, até os ilimitados
horizontes abertos pela investigação científica contribuem para que se revigore
nos espíritos a persuasão de que as ciências e a matemática, se podem descobrir
os fenómenos, estão longe de abranger, e, menos ainda, de penetrar
completamente os aspectos mais profundos da realidade. E a trágica experiência
de gigantescas forças, que, postas ao serviço da técnica, tanto podem
utilizar-se para construir como para destruir, põe em evidência a importância
suprema dos valores do espírito e mostra que o progresso científico e técnico
há-de conservar o seu carácter essencial de meio para a civilização.
210.
O sentimento de progressiva insatisfação, que se difunde nos países de alto
nível de vida, desfaz a ilusão do sonhado paraíso terrestre. E, ao mesmo tempo,
vão os homens tomando consciência cada vez mais clara dos direitos invioláveis
e universais da pessoa, e vai-se tornando mais viva a aspiração a estreitar
relações mais justas e mais humanas. Todos estes motivos contribuem para que a
humanidade se dê mais plena conta das suas limitações e se volte para os
valores do espírito. O que não pode deixar de ser feliz presságio de sinceros
acordos e fecundas colaborações.
QUARTA
PARTE
A RENOVAÇÃO DAS RELAÇÕES
DE CONVIVÊNCIA NA VERDADE,
NA JUSTIÇA E NO AMOR
Ideologias
defeituosas e erróneas
211.
Depois de tantos progressos científicos e técnicos, e mesmo em virtude deles,
subsiste ainda o problema de se renovarem relações de convivência em equilíbrio
mais humano, tanto no interior de cada país, como no plano internacional.
212.
Com este fim, elaboraram-se e difundiram-se diversas ideologias na época
moderna. Algumas já se dissiparam, como névoa ao contato do sol; outras
sofreram e sofrem revisões substanciais; outras ainda, enfraqueceram bastante,
e vão perdendo cada vez mais o seu poder de fascinação no espírito dos homens.
A razão de tal declínio está em que estas ideologias consideram apenas alguns
aspectos do homem, e, frequentemente, os menos profundos, pois não tomam em
conta as imperfeições humanas inevitáveis, como a doença e o sofrimento, que
não podem ser eliminados nem sequer pelos sistemas económicos e sociais mais
avançados. Além disso, há a profunda e inextinguível exigência religiosa, que
se nota sempre e em toda a parte, mesmo quando é conculcada pela violência ou
habilmente sufocada.
213.O
erro mais radical na época moderna é considerar-se a exigência religiosa do
espírito humano como expressão do sentimento ou da fantasia, ou então como
produto de uma circunstância histórica, que se há de eliminar como elemento
anacrônico e obstáculo ao progresso humano. Ora, é precisamente nesta exigência
que os seres humanos se revelam tais como são verdadeiramente: criados por Deus
e para Deus, como exclama Santo Agostinho: "Foi para ti, Senhor, que nos
fizeste; e o nosso coração está insatisfeito, até que descanse em ti". [37]
214.
Portanto, qualquer que seja o progresso técnico e económico, não haverá no
mundo justiça nem paz, enquanto os homens não tornarem a sentir a dignidade de
criaturas e de filhos de Deus, primeira e última razão de ser de toda a
criação. O homem, separado de Deus, torna-se desumano consigo mesmo e com os
seus semelhantes, porque as relações bem ordenadas entre homens pressupõem
relações bem ordenadas da consciência pessoal com Deus, fonte de verdade, de
justiça e de amor.
215.
É certo que a perseguição desencadeada há decénios em muitos países, mesmo de
civilização cristã antiga, contra tantos irmãos e filhos nossos, os quais, exactamente
por essa razão, nos são queridos de modo especial, põe cada vez mais em
evidência a nobre superioridade dos perseguidos e a refinada barbárie dos
perseguidores; o que, se não produz ainda frutos visíveis de arrependimento,
leva já muita gente a reflectir.
216.
Fica sempre de pé a verdade de que o aspecto mais sinistramente típico da época
moderna consiste na tentativa absurda de se querer construir uma ordem temporal
sólida e fecunda prescindindo de Deus, fundamento único sobre o qual ela poderá
subsistir; e querer proclamar a grandeza do homem, secando a fonte donde ela brota
e se alimenta, e isto através da repressão, e, se fosse possível, da extinção
das aspirações íntimas do homem, no sentido de Deus. Todavia, a experiência quotidiana,
no meio dos desenganos mais amargos e não raras vezes através do testemunho do
sangue, continua a mostrar a verdade do que arma o livro inspirado: "Se
Iahweh não constrói a casa, em vão labutam os seus construtores" (Sl 126,1).
Perene
actualidade da doutrina social na Igreja
217.A
Igreja apresenta e proclama uma concepção sempre actual da convivência humana.
218.
Como se conclui do que dissemos até agora, o princípio fundamental desta
concepção consiste em, cada um dos seres humanos, ser e dever ser o fundamento,
o fim e o sujeito de todas as instituições em que se expressa e realiza a vida
social: cada um dos seres humanos considerado na realidade daquilo que é e que
deve ser, segundo a sua natureza intrinsecamente social, e no plano divino da
sua elevação à ordem sobrenatural.
219.
Deste princípio básico, que defende a dignidade sagrada da pessoa, o magistério
da Igreja, com a colaboração de sacerdotes e leigos competentes, formulou,
especialmente neste último século, uma doutrina social. Esta indica com clareza
o caminho seguro que leva ao restabelecimento das relações de convivência
social segundo critérios universais correspondentes à natureza, aos diversos
âmbitos de ordem temporal, e às características da sociedade contemporânea, e
precisamente por isto, aceitáveis por todos.
220.
Mas hoje, é mais do que nunca indispensável que esta doutrina seja conhecida,
assimilada e aplicada à realidade nas formas e na medida que as situações
diversas permitem ou reclamam. Tarefa árdua, mas nobilíssima, para cuja
realização convidamos instantemente não só os nossos irmãos e filhos espalhados
pelo mundo inteiro, mas todos os homens de boa vontade.
Instrução
221.
De novo afirmamos, e acima de tudo, que a doutrina social cristã é parte
integrante da concepção cristã da vida.
222.
Embora saibamos, com prazer, que esta doutrina já de há muito é proposta em
vários institutos, insistimos na intensificação de tal ensino, por meio de
cursos ordinários e em forma sistemática, em todos os seminários e em todas as
escolas católicas de qualquer grau que sejam. Inclua-se também nos programas de
instrução religiosa das paróquias e das associações do apostolado dos leigos;
propague-se através dos meios modernos de difusão: imprensa diária e periódica,
obras de vulgarização e de carácter científico, rádio e televisão.
223.
Para a sua difusão muito podem contribuir os nossos filhos do laicado, com o
desejo de aprenderem a doutrina, com o zelo em a fazerem compreender aos outros
e com a prática da mesma, impregnando dela as próprias actividades de ordem
temporal.
224.
Não esqueçam que a verdade e a eficácia da doutrina social católica se
manifestam, sobretudo, na orientação segura que oferecem à solução dos
problemas concretos. Desta maneira, conseguir-se-á chamar para ela a atenção
dos que a desconhecem, ou mesmo a combatem por a desconhecerem; e talvez se
consiga até que no espírito de alguns se faça luz.
____________________________________________
Notas:
[36]
Carta Encíclica Summi Pontificatus: AAS, 31 (1939), pp 428-429.
[37]
Confissões 1, 1.
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