Capítulo
5:
O primeiro fruto que se há-de colher da consideração da segunda Palavra dita
por Cristo na Cruz. 2
O ladrão não é o único que
experimentara a liberalidade do Cristo. Os apóstolos, que tudo abandonaram — seja
um barco, um ofício de coletor de impostos ou um lar — para servir ao Cristo,
foram feitos por Ele “príncipes de toda a terra" 2, submetendo-lhes
demônios, serpes e toda casta de enfermidades. Se algum homem deu por esmola
alimento ou vestimenta aos pobres em nome de Cristo, escutará estas palavras
consoladoras no Dia do Juízo: “Tive fome, e me deste de comer... estava
desnudo, e me vestiste" 3, receba tua recompensa, e entra na posse do meu
Reino Eterno. Enfim, para não nos demorarmos em muitas outras promessas de
recompensa, poderia o homem crer na quase inacreditável liberalidade do Cristo,
se não fosse o mesmo Deus quem prometesse que “todo o que deixar a casa, ou os
irmãos ou irmãs, ou o pai ou a mãe, ou os filhos, ou os campos, por causa do
meu nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna"? 4
São Jerónimo e os outros
santos doutores interpretam o texto acima citado desta maneira: se um homem,
pelo amor do Cristo, abandona tudo nesta vida presente, receberá uma dupla
recompensa em adição à vida de valor incomparavelmente maior que a pequenez da
que se deixara. Em primeiro lugar, receberá um gozo ou dom espiritual nessa
vida, cem vezes mais precioso que o objeto temporal que pelo Cristo desprezara;
um homem espiritual escolheria antes conservar esse dom à substituí-lo por cem
casas ou campos, ou outras coisas semelhantes. Em segundo lugar — como se Deus
Todo-poderoso considerasse tal recompensa como de pequeno ou nenhum valor — o
feliz comerciante que troca bens terrenos por celestiais receberá no outro
mundo a vida eterna, palavra esta que contém um oceano de todo o bem.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
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Notas:
2. Sal 45,17.
3. Mt 25,35.36.
4. Mt 19, 29.1. Lc 6,38.
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