Em seguida devemos tratar da causa do
pecado, enquanto um é causa de outro. E, nesta questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se a cobiça é a raiz de todos
os pecados.
Art. 2 — Se a soberba é o início de
todos os pecados.
Art. 3 — Se além da soberba e da
avareza, há outros pecados especiais chamados capitais.
Art. 4 — Se devemos admitir sete
vícios capitais, a saber: a vanglória, a inveja, a ira, a avareza, a tristeza,
a gula e a luxúria.
Art.
1 — Se a cobiça é a raiz de todos os pecados.
(Art.
seq.; IIª-IIae, q 119, a.2. ad 1; II Sent., dist., V, q. q. 1. a. 3, ad 1;
dist. XXII, q. 1, a. 1, ad 7; dist. XLII, q. 2, a. 1 ; a. 3, ad 1; De Malo, q.
8, a. 1, ad 1; I ad Tim., cap. VI, lect. II).
O primeiro discute-se assim. — Parece
que a cobiça não é a raiz de todos os pecados.
1. — Pois, a cobiça, que é o desejo
imoderado das riquezas, opõe-se à virtude da liberalidade. Ora, esta não é a
raiz de todas as virtudes. Logo, a cobiça não o é de todos os vícios.
2. Demais. — O desejo dos meios
procede do desejo do fim. Ora, as riquezas são desejadas pela cobiça só por
serem úteis a algum, como diz Aristóteles. Logo, a cobiça não é a raiz de todos
os pecados, mas radica-se numa origem anterior.
3. Demais. — A avareza, considerada
como cobiça, nasce frequentemente de outros pecados; assim, quando se deseja o
dinheiro por causa da ambição, ou para satisfazer a gula. Logo, não é a raiz de
todos os pecados.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo (1
Tm 6, 10): a raiz de todos os males é a avareza.
Alguns tomam a cobiça em
tríplice acepção. Primeiro, como o desejo desordenado das riquezas, sendo
então, um pecado especial. Segundo, como implicando o desejo desordenado de qualquer
bem temporal e, então constitui o género de todos os pecados, pois, todos
implicam a tendência desordenada para os bens transitórios, como já se disse
(q. 72, a. 2). Terceiro, como significando uma certa inclinação da natureza
corrupta para desejar desordenadamente bens corruptíveis. E, então diz-se que a
cobiça é a raiz de todos os pecados, por semelhança com a raiz da árvore, que
tira da terra o alimento. Do mesmo modo, todos os pecados nascem do amor das
coisas temporais.
Ora, não obstante verdadeiras, essas
distinções parecem não se incluírem na intenção do Apóstolo, que considerou a
cobiça como a raiz de todos os pecados. Pois, ele dirige-se manifestamente
contra aqueles que, querendo fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do
diabo, porque a raiz de todos os males é a avareza. Donde é manifesto que se
refere à cobiça como desejo desordenado das riquezas. E, a esta luz, devemos
ter que a cobiça, como pecado especial, é considerada raiz de todos os pecados,
por semelhança com a raiz da árvore, à qual dá o alimento. Pois, segundo vemos
por meio das riquezas o homem adquire a faculdade de cometer qualquer pecado e
de satisfazer o desejo de qualquer deles. Porque o dinheiro o ajuda a possuir
quaisquer bens temporais, conforme a Escritura (Ecle 10, 19): todas as coisas
obedecem o dinheiro. Donde é claro que a cobiça das riquezas é a raiz de todos
os pecados.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A virtude e o pecado não têm a mesma origem. Pois, este nasce do desejo dos
bens mutáveis; e por isso se considera como raiz de todos os pecados o desejo
daqueles bens temporais que ajudam a conseguir todos os outros. Ao passo que a
virtude nasce do desejo do bem imutável e, por isso, a caridade, que é o amor
de Deus, é considerada a raiz das virtudes, conforme a Escritura (Ef 3, 17):
arraigados e fundados na caridade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Considera-se o
desejo das riquezas como raiz dos pecados, não, certamente, por elas serem
buscadas por si mesmas, como fim último; mas por serem muito procuradas como
úteis para todos os fins temporais. E sendo o bem universal mais desejável que
qualquer bem particular, move mais o apetite, do que quaisquer bens particulares,
que, simultaneamente com muitos outros, podem ser possuídos por meio do
dinheiro.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A ordem natural
não implica na realização inevitável dos factos, senão o que se dá na maior
parte das vezes, porque a natureza das coisas corruptíveis pode ser impedida de
agir sempre do mesmo modo. Assim também, na ordem moral, consideramos o que é
mais frequente, e não o que se deva realizar sempre, porque a vontade não obra
necessariamente. Donde, considerar-se a avareza raiz de todos os males não
significa que, às vezes, algum outro mal não seja a sua raiz, mas que, no mais
das vezes, dela nascem os outros, pela razão já exposta.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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