14/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 28

Questão 75: Das causas dos pecados em geral.

Art. 4 ― Se o pecado é causa do pecado.

(II Sent., dist. XXXVI, a. 1; dist. XLII, q. 2, a 1, 3; De Malo, q. 8, a 1; Ad Roman., cap 1, lect. VII)

O quarto discute-se assim. ― Parece que o pecado não é causa do pecado.

1. ― Pois, há quatro géneros de causas, das quais nenhuma pode levar a ser o pecado causa do pecado. Assim, o fim implica essencialmente o bem, e este não pode existir no pecado, mau por essência. Pela mesma razão, pecado também não pode ser a causa eficiente, pois o mal não é causa agente, mas, é fraco e impotente, como diz Dionísio 1. Por fim, a causa material e a formal exercem as suas influências só nos corpos naturais, logo, o pecado não pode ter causa material nem formal.

2. Demais. ― É próprio da causa perfeita agir semelhantemente a si mesma, como diz Aristóteles 2. Ora, o pecado é por essência imperfeito. Logo, não pode ser causa do pecado.

3. Demais. ― Se um pecado for causa de outro, este será, pela mesma razão, causa de outro, e assim ao infinito, o que é inadmissível. Logo, o pecado não é causa do pecado.

Mas, em contrário, Gregório diz: O pecado que não é delido logo pela penitência é pecado e causa do pecado 3.

O pecado, como acto, tendo causa, um será causa de outro, do mesmo modo por que pode um acto humano ser causa de outro. Logo, um pecado pode ser causa de outro relativamente aos quatro géneros de causas. ― Primeiro, ao modo da causa eficiente ou motora, por si ou por acidente. Por acidente, no sentido de considerarmos motor acidental o que remove um impedimento. Pois quando, por um acto pecaminoso, perdemos a graça, a caridade, a verecúndia ou seja o que for, que afasta do pecado, caímos por isso em outro pecado, e assim o primeiro é causa acidental do segundo. É causa por si como quando um acto pecaminoso nos dispõe a praticar mais facilmente outro acto semelhante, pois, os actos são os causadores das disposições e dos hábitos, que inclinam a outros actos semelhantes. ― Quanto ao género da causa material, um pecado é causa de outro, ao qual prepara a matéria, assim, a avareza prepara a matéria ao litígio, e este quase sempre, é provocado pelas riquezas acumuladas. ― No concernente ao género da causa final, um pecado é causa de outro, enquanto, por causa do fim de um pecado, cometemos outro, assim, quem praticasse a simonia tendo por fim a ambição, ou a fornicação por causa do furto. ― E como, na ordem moral, o fim dá a forma, como já se disse (q. 1, a. 2 ; q. 18, a. 6 ; q. 72, a. 3), daqui se segue que um pecado é causa formal de outro. Pois, no acto da fornicação praticado em vista do furto, aquela é o elemento material, e este o formal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O pecado, sendo desordenado, é essencialmente um mal, mas como determinado acto, encerra algum bem, ao menos como fim aparente. E assim, enquanto acto, pode ser causa final e efectiva de outro pecado, embora não, enquanto desordenado. Quanto à matéria, o pecado a tem não como a de que procede (ex qua), mas, como aquela sobre a qual recai (circa quam). E a forma ele a tem, como fim. Portanto, segundo os quatro géneros de causas, o pecado pode ser considerado causa do pecado, como ficou dito.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Pela sua desordem, o pecado é imperfeito, por imperfeição moral, mas como acto, pode ter a perfeição de natureza. E a esta luz, pode ser causa do pecado.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nem toda causa do pecado é pecado. Donde, não é necessário proceder-se ao infinito, mas, podemos chegar a um pecado, cuja causa não é outro pecado.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. IV cap. De div. nom. (lect. XXI, XXII).
2. IV Meteor. (lect. IV).
3. Super Ezech., hom. XI.




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