Art. 5 ― Se os pecados
carnais implicam menor culpa que os espirituais.
(IIa
IIae, q. 154, a.3; IV Sent., dist. XXXIII, q. 1, a. 3, qa 2, ad 3; De Verit.,
q. 25, a. 6 ad 2; In Isaiam, cap. I)
O
quinto discute-se assim. ― Parece que os pecados carnais implicam menor culpa
que os espirituais.
2.
Demais. ― Como diz Agostinho, o diabo compraz-se sobretudo com o pecado de
luxúria e de idolatria 1. Ora, ele mais se compraz com a culpa
maior. Logo, sendo a luxúria pecado carnal, resulta que os pecados carnais
implicam maior culpa.
3.
Demais. ― O Filósofo prova que a concupiscência do incontinente é mais torpe
que a sua ira 2. Ora, a ira é pecado espiritual, segundo Gregório 3,
ao passo que a concupiscência se inclui nos pecados carnais. Logo, o pecado
carnal é mais grave que o espiritual.
Mas,
em contrário, diz Gregório, que os pecados carnais encerram menor culpa e maior
infâmia 4.
Os pecados espirituais implicam maior culpa que os carnais. Mas isto não quer
dizer que qualquer pecado espiritual implique maior culpa que qualquer carnal,
senão que, considerada só a diferença entre a espiritualidade e a carnalidade,
os espirituais são, em igualdades de condições, mais graves que os carnais. Do
que se pode dar tríplice razão. ― A primeira é tirada do sujeito. Pois, ao
passo que os pecados espirituais pertencem ao espírito, ao qual é próprio tanto
o converter-se para Deus como o afastar-se dele, os pecados carnais consumam-se
no deleite do apetite carnal, ao qual é principalmente próprio converter-se ao
bem corpóreo. E portanto, o pecado carnal, como tal, a que é própria sobretudo
a conversão, adere também mais profundamente, ao passo que ao pecado espiritual
é próprio sobretudo a aversão, fundamento da culpa. Donde, esta o pecado
espiritual, em si mesmo, a tem maior. ― A segunda razão pode ser tirada do
sujeito contra quem pecamos. Pois, o pecado carnal, como tal, recai sobre o
nosso próprio corpo, menos digno de amor, na ordem da caridade, que Deus e o
próximo, contra quem pecamos pelos pecados espirituais. Logo, estes, em si
mesmos, implicam maior culpa. ― A terceira razão pode ser tirada do motivo.
Pois, quanto mais grave é a tendência para pecar, tanto menos pecamos, como
mais abaixo diremos (a. seq.). Ora, os pecados carnais procedem de uma
tendência mais veemente, que é a concupiscência própria da carne, inata em nós.
Logo, os pecados espirituais, em si mesmos, implicam maior culpa.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O adultério não somente implica o pecado de
luxúria mas também o de injustiça. E por este lado, pode reduzir-se à avareza,
como diz a Glosa sobre Escritura (Ef 5, 5): todo fornicário ou imundo, ou
avaro. Donde, o adultério é mais grave que o furto, por nos ser mais cara a
esposa do que qualquer coisa possuída.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Diz-se que o diabo se compraz sobretudo com o pecado da luxúria,
porque esta implica a máxima aderência, a que o homem só dificilmente pode
furtar-se. Pois, no dizer do Filósofo, é insaciável o apetite do prazer 5.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Para o Filósofo, o incontinente por concupiscência é mais torpe
do que o incontinente pela ira, porque participa menos da razão. E por isso,
também diz que os pecados de intemperança são os mais dignos de exprobração 6,
por recaírem sobre os prazeres que nos são comuns com os brutos, e que, de
certo modo, nos igualam a eles. Donde vem, no dizer de Gregório, a maior
infâmia desses pecados.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1.
Super Levitic. (De civ. Dei, lib. II, cap. IV, XXVI).
2. VII Ethic. (lect. VI).
3. XXXI Moral. (cap. XLV).
4. XXXIII Moral. (cap. XII).
5. III Ethic. (lect. XXII).
6. III Ethic. (lect. XIX, XX).
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