A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A.
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
23 Davam-Lhe a beber vinho misturado com mirra, mas Ele não o tomou. 24
Tendo-O crucificado, dividiram os Seus vestidos, lançando sortes sobre eles,
para ver que parte cada um levaria. 25 Era a hora tércia quando O
crucificaram. 26 A causa da Sua condenação estava escrita nesta
inscrição: «O Rei dos Judeus» .27
Com Ele crucificaram dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda. 28
Omitido pela Neo-Vulgata. 29 Os que passavam blasfemavam, abanando a
cabeça e dizendo: «Ah! Tu, que destróis o templo de Deus e o reedificas em três
dias, 30 salva-Te a Ti mesmo descendo da cruz». 31 Do
mesmo modo, escarnecendo-O os príncipes dos sacerdotes e os escribas, diziam
entre si: «Salvou os outros, e não Se pode salvar a Si mesmo. 32 O
Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz para que vejamos e acreditemos».
Também os que tinham sido crucificados com Ele O insultavam. 33
Chegando a hora sexta, toda a terra se cobriu de trevas até à hora nona. 34
E, à hora nona, exclamou Jesus em alta voz: «Eli, Eli, lemá sabachtani?». Que
quer dizer: «Meu Deus, Meu Deus, porque me desamparaste?». 35
Ouvindo isto, alguns dos presentes diziam: «Eis que chama por Elias». 36
Correndo um e ensopando uma esponja em vinagre e atando-a a uma cana, dava-Lhe
de beber, dizendo: «Deixai, vejamos se Elias vem tirá-l'O». 37 Mas
Jesus, dando um grande brado, expirou.38 O véu do templo rasgou-se
em duas partes, de alto a baixo. 39 O centurião, que estava em
frente d'Ele, vendo que Jesus expirara dando este brado, disse: «Verdadeiramente
este homem era Filho de Deus». 40 Encontravam-se ali também algumas
mulheres olhando de longe, entre as quais estava Maria Madalena, Maria, mãe de
Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, 41 as quais já O seguiam e
serviam quando Ele estava na Galileia, e muitas outras que, juntamente com Ele,
tinham subido a Jerusalém. 42 Ao cair da tarde, pois era a
Preparação, isto é, a véspera do sábado, 43 chegou José de
Arimateia, membro ilustre do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus.
Apresentou-se corajosamente a Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. 44
Pilatos admirou-se que já estivesse morto; mandando chamar o centurião,
perguntou-lhe se já estava morto. 45 Informado pelo centurião, deu o
corpo a José. 46 José, tendo comprado um lençol e tirando-O da cruz,
envolveu-O no lençol, depositou-O num sepulcro, que estava aberto na rocha, e
rolou uma pedra para diante da entrada do sepulcro. 47 Entretanto
Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam observando onde era depositado.
JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
3. Cristo ofereceu-se a si mesmo pelos nossos
pecados
a) Cristo voluntariamente aceitou e sofreu a Paixão
Assim o afirma explicitamente a Escritura:
«entregou-se
a si mesmo» por nós (Ef 5,2; cf. Gal 2,20; Heb 9,14). E Jesus explica essa
liberdade e poder: «O Pai ama-me, porque eu dou a minha vida e a tomo de novo.
Ninguém ma tira mas sou eu que a dou por mim mesmo. Tenho o poder de dá-la e o
poder de voltar a tomá-la» (Jo 10,17-18).
Jesus, ao aceitar no seu coração humano o
amor do Pai para com os homens, «amou-os até ao extremo» (Jo 13,1), até dar a
vida por eles.
Aceitou
livremente a sua Paixão e a sua Morte por amor a seu Pai e aos homens que o Pai
quer salvar.
Daí a
liberdade soberana que demonstra quando se encaminha resolutamente para
Jerusalém, sabendo que ali ia morrer, ou quando sai ao encontro dos que o vão
prender (cf. Jo 18,4-6).
Cristo, não só como Deus mas também como
homem podia impedir a sua morte de muitas formas: fazendo com que os seus
inimigos não pudessem levá-la a cabo (cf. Mt 26,53); e também fazendo que não o
ferissem as acções dos perseguidores.
Mas não
quis impedir essas acções nem os seus efeitos naturais:
«Como
ovelha que está muda ante os que a tosquiam, tampouco ele abriu a boca, como
ovelha que levam ao matadouro» (Is 53,7)
Por isso dizemos com verdade que se
entregou livre e voluntariamente à Paixão, por nosso amor.
Mas essa
entrega não significa de modo algum que se matasse a si mesmo, mas que não
impediu, podendo, a acção dos que o justiçaram.
b) Cristo padeceu e morreu por obediência
O Filho de Deus «baixou do céu não para
fazer a sua vontade mas a do Pai que o enviou» (Jo 6,38). «Desde o primeiro
instante da sua encarnação o Filho aceita o desígnio divino da salvação na sua
missão redentora: ‘Meu alimento é fazer a vontade do que me enviou e levar a
cabo a sua obra’ (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus ‘pelos pecados do mundo inteiro’
(1 Jo 2,2) é a expressão da sua comunicação de amor com o Pai (…) O mundo há-de
saber que amo o Pai e que obro segundo o que o Pai me ordenou’ (Jo 14.,31)»[1].
«Cristo, pois, em cumprimento da vontade do
Pai (…) efectuou a redenção com a sua obediência»[2].
E como a
Escritura resume:
«Humilhou-se
a si mesmo fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz» (Flp 2,8).
Trata-se de uma obediência vivida por amor:
Cristo
oferece-se à Paixão e Morte com plena liberdade e ao mesmo tempo identificando-se
totalmente com a vontade divina acerca da nossa redenção.
Não há
oposição alguma entre liberdade e obediência, mas sim uma correspondência
perfeita:
o
verdadeiro amor a Deus demonstra-se cumprindo livremente a sua vontade.
4. Os padecimentos de Cristo na sua Paixão
Os quatro Evangelhos narram-nos passo a
passo a dolorosa história da Paixão do Senhor: desde a agonia no horto de
Getsemani, seguindo pelo iníquo processo religioso ante as autoridades judias,
passando pelo injusto processo civil ante Pilatos com todas as suas
vicissitudes – com a flagelação, a coroação de espinhos e a condenação à morte
-, e chegando á «via crucis» com a
terrível crucifixão, agonia e morte do Senhor na cruz.
Jesus padeceu por parte dos judeus e dos
gentios; por parte das autoridades, da multidão e, do que é mais penoso, por
parte dos seus íntimos: de Judas que o entregou, Pedro que o negou, e os seus
que o abandonaram.
Padeceu interiormente na sua alma até
entrar em agonia pela tristeza e o temor ante a morte certa.
Teve uma
imensa pena pelos pecados de todo o género humano, assim como pela ruína do seu
povo, pela queda Judas e pelo escândalo dos seus discípulos.
Sofreu
também moralmente pelas humilhações, injustiças, troças e insultos... de todos
os que o perseguiam.
E padeceu tremendamente no seu corpo pelas
terríveis feridas da flagelação, a coroação de espinhos, a dolorosíssima
crucifixão com todos os sofrimentos físicos que comportava e a horrível agonia
na cruz até à morte.
Isaías já tinha profetizado os padecimentos
do Servo de Yahwé, que parecia «desprezível e desprezado de homens, varão de
dores e sabedor de dolências (...) Tivemo-lo por açoitado, ferido de Deus e
humilhado. Ele foi ferido pelas nossas rebeldias, moído pelas nossas culpas» (Is
53,3-5).
5. O valor salvífico que a Paixão de Cristo tem
para nos comunicar os seus frutos.
A fé diz-nos que toda a obra de Cristo,
especialmente a sua Paixão e Morte, alcança-nos o perdão dos pecados.
E agora
perguntamo-nos que valor tem a Paixão de Cristo para nos libertar do pecado?
De que
modo o consegue?
Recordemos que a obra redentora é um
mistério divino que supera todas as categorias humanas e não se pode encerrar
em nenhuma delas.
Por isso,
a Tradição da Igreja a apresentou sob diversos aspectos, como modos diferentes
– complementares – de nos alcançar a salvação.
Vejamos
os principais.
a) Carácter meritório da Paixão de Cristo
Noção
de mérito.
«Mérito»
é uma noção do âmbito da justiça humana, e é o direito a um prémio ou retribuição
por uma obra realizada.
Mas com
relação a Deus devemos atender à analogia da linguagem, pois o homem
propriamente não tem nenhum direito ante Deus.
Se o
homem pode «merecer» algo ante Deus é porque Ele prévia e livremente
estabeleceu retribuir algumas acções nossas nascidas do amor, e só em relação a
esse ordenamento as nossas obras podem ser dignas do prémio prometido.
Além do
mais, Deus concede graciosamente ao homem, aquilo com que o pode merecer.
Ele
premeia ou coroa em nós os seus próprios dons, como diz Santo Agostinho.
A
Paixão de Cristo merece-nos a salvação.
«Por sua
sacratíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação», ensina o
concílio de Trento[3].
Ainda que
a palavra «mérito» não se encontre na Escritura, o seu conteúdo sim está
expresso de outras formas: p. ex. Jesus adquiriu-nos a salvação como fruto do
seu sacrifício (cf. Ef 5,2).
Com
efeito, Cristo merece porque as suas obras, nascidas do seu amor e liberdade,
são dignas ante Deus para alcançar o fim a que estavam destinadas: a nossa
salvação.
Portanto,
todas as suas acções são meritórias e
obtêm de Deus Pai a nossa salvação.
Mas
Cristo na sua Paixão – voluntariamente aceite – mereceu além do mais de modo particular:
como prémio da tremenda e injusta humilhação que aceitou para nos redimir (cf.
Flp 2,8-9; Lc 14 ,11).
Na sua Paixão mereceu a vida sobrenatural
para todos os homens; mereceu para todos a graça que tira o pecado, pois
ofereceu-se por nós como nossa Cabeça.
b) Carácter satisfatório da Paixão e Morte de
Cristo
Noção
de satisfação.
A
satisfação é outra noção que procede do âmbito jurídico e que consiste na
reparação de uma falta ou ofensa mediante a entrega de alguma compensação
proporcionada.
Mas
também aqui, com relação a Deus, temos de atender à analogia da linguagem, e
empregamo-la para significar a acção que Deus requer do homem para cancelar o
seu pecado.
E, em
concreto, que tem de fazer o homem para ser perdoado?
Para
falar apropriadamente, e não de modo figurado, digamos que a satisfação que
Deus solicita do pecador não consiste em que ele não sofra um castigo (como
sustentava Lutero), nem que lhe ofereça uma compensação adequada por um mal que
tivesse acusado (como dizia Santo Anselmo)[4],
senão que se arrependa de ter-se afastado de Deus e o mostre com obras de
penitência, assumindo voluntariamente as penalidades que são consequência do
pecado.
Com efeito, as obras de penitência servem
para reparar a desordem que existe no coração do homem, pois supõem a renúncia
a si mesmo e submissão a Deus, disposições que rectificam a desordem do pecado.
Assim
pois, para satisfazer requer-se «a modo de matéria» levar as penas temporais
que derivam do pecado, e «por princípio e fonte da eficácia satisfatória», a
caridade penitente[5]
A Paixão de Cristo satisfaz pelos pecados do mundo.
Pela sua
sacratíssima Paixão no madeiro da cruz (…) satisfez a Deus Pai por nós», ensina
a propósito o concílio de Trento[6].
Cristo
satisfaz porque, sendo Santo e sem pecado, como cabeça do género humano, por a
mor e por obediência a seu Pai aceita a morte, pena do pecado comum, com i fim
de reparar os pecados de todos os homens.
A Paixão
de Cristo é uma satisfação vicária:
de um
para todos (cf. 2 Cor 5,14), «do justo para os injustos» 1 Pd 3,18).
O Filho
de Deus, santo e Justo, mas feito solidário connosco, pecadores, por amor,
representando-nos a todos e levando as penalidades do nosso pecado, como vítima
do pecado, intercede por nós para cancelar a nossa falta[7].
c) Carácter sacrificial da Paixão e Morte de Cristo
Noção de sacrifício.
Sacrifício
é o oferecimento feito a Deus de algo próprio, sinal da entrega interior a Deus
e da renúncia a si mesmo, para reconciliar-nos com Ele.
No
sacrifício há um elemento interior e outro exterior:
«Todo o
sacrifício visível é sacramento do sacrifício invisível, quer dizer, sinal
sagrado»[8]
O valor
do sacrifício exterior, da oblação e imolação da vítima, está em ser sinal do sacrifício interior ou espiritual, da
entrega da alma a Deus por amor, que constitui o elemento principal do
sacrifício:
«O
sacrifício a Deus é um espírito contrito» (Sal 51/50,18-19)[9].
O valor
redentor de um sacrifício radica em que compreende a razão de mérito, enquanto
é um acto voluntário que procede da caridade, e da satisfação, e enquanto é a
entrega a Deus de algo nosso a que renunciamos em sinal de arrependimento[10].
A Paixão de Cristo é um sacrifício.
Os
racionalistas negam que a Paixão e Morte de Cristo fosse um sacrifício; para
eles constituiu um simples justiçamento.
Segundo
eles, Cristo nunca teria tido a intenção de se oferecer para reparar os pecados
do mundo.
O valor
da Morte de Cristo estaria somente na exemplaridade da sua «não-violência» com
que enfrenta a perseguição, ou o seu abandono na divina Providência.
Todavia,
a Escritura ensina-nos abertamente que a Paixão e Morte de Cristo constituíram
um verdadeiro sacrifício:
«Entregou-se
por nós em oblação e hóstia de suave olor» (Ef 5,2); como «vítima
propiciatória» ou como «sacrifício de propiciação» (Rom 3,25; Jo 2,2).
E Jesus
na última ceia apresenta a sua Morte como o sacrifício da Nova Aliança selada
com o seu sangue.
A
propósito o Magistério da Igreja ensina universalmente que nosso Senhor Jesus
Cristo nos redimiu pelo sacrifício da cruz.
A Paixão
é um sacrifício porque, nela, Cristo oferece-se voluntariamente a seu Pai para
reconciliar os homens com Deus.[11].
Certamente
o sacrifício interior de Jesus foi real e perfeito desde a Encarnação (cf. Heb
10,5-10), mas o sacrifício exterior da sua vida só se consumou na sua Paixão e
Morte.
(cont.)
[1]
CCE, 606.
[2]
LG, 3.
[4]
Veja-se o dito no capítulo VII sobre o sentido teológico das expressões
analógicas.
[6]
CONC. TREBTO, DS, 1529.
[7]
Este é o sentido das expressões metafóricas de São Paulo que, por vezes, são
mal interpretadas (como é o caso de Lutero e de outros): «a quem não conheceu
pecado, Deus o fez pecado por nós» (2 Cor 5,21); «redimiu-nos da maldição da Lei fazendo-se por nós maldição»
(Gal 3,13). Cf. CCE, 602-603.
[8]
SANTO AGOSTINHO, De civitate dei, 10.
[9]
Cf. CCE, 2009-2100.
[10] Cf. S. Th.
III,22,4, obie. 2 e Ad 2. O Catecismo da Igreja Católica
expõe a Paixão de Cristo centrando-se na noção bíblica de sacrifício, mas
assinala que o seu valor salvífico está em relação com o mérito e a satisfação
que encerra (cf. CCE, 615-617).
[11] Por
parte dos que crucificaram Cristo a Paixão não foi nenhum sacrifício, mas sim
iniquidade; mas por parte de Cristo, que padecia livremente e por amor, foi um
acto supremo de entrega, um verdadeiro sacrifício.
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