Art. 4 ― Se a gravidade
dos pecados difere da dignidade das virtudes a que se opõem, de modo que à
maior virtude se oponha maior pecado.
(IIa IIae, q. 20,
a. 3; De Malo, q. 2, a. 10)
O
quarto discute-se assim. ― Parece que a gravidade dos pecados não difere pela
dignidade das virtudes a que se opõem, de modo que à maior virtude se oponha o
maior pecado.
2.
Demais. ― Aristóteles diz, que a virtude versa sobre o difícil e o bem 1,
donde se conclui que a virtude maior versa sobre maior dificuldade. Ora,
falharmos no mais difícil é menor pecado que falharmos no menos difícil. Logo,
à maior virtude opõe-se o menor pecado.
3.
Demais. ― A caridade é maior virtude que a fé e a esperança, como diz a
Escritura (1 Cor 13, 13). Ora, o ódio, oposto à caridade, é menor pecado que a
infidelidade ou o desespero, opostos à fé e à esperança. Logo, à maior virtude opõe-se
o menor pecado.
Mas,
em contrário, o Filósofo diz, que o péssimo é o contrário do óptimo 2.
Ora, na ordem moral, o óptimo é a máxima virtude, e o péssimo, o mais grave
pecado. Logo, este se opõe àquela.
Um pecado opõe-se a uma virtude de dois modos. ― Principal e directamente, e
tal dá-se em relação ao mesmo objecto, pois os contrários têm-no idêntico. E
assim, necessariamente à maior virtude opõe-se o pecado mais grave. Pois, no
objecto funda-se tanto a maior gravidade do pecado, como a maior dignidade da
virtude, porque um e outro se especificam pelo objecto, como do sobredito
claramente resulta (q. 60, a. 5; q. 72, a. 1). Donde e necessariamente, a maior
virtude é contrariada de modo directo pelo maior pecado, como o que dele dista
no máximo grau, no mesmo género.
De
outro modo, podemos considerar a oposição entre a virtude e o pecado, no
atinente à extensão da virtude que o coíbe. Pois, quanto maior for a virtude,
tanto mais nos afastará do pecado contrário, de maneira que o coibirá não só a
ele, mas ainda, o que a ele induz. E assim, é manifesto que quanto maior for
uma virtude, tanto menores serão os pecados por ela coibidos, do mesmo modo
que, quanto melhor for a saúde, tanto menores moléstias excluirá. E portanto, à
maior virtude se opõe o menor pecado, quanto ao efeito.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A objecção colhe no referente à oposição
fundada na coibição do pecado, pois, assim também a justiça abundante coíbe
menores pecados.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A maior virtude, versando sobre um bem mais difícil, é contrariada
directamente por um pecado cujo objecto é mal mais difícil. Pois, de lado a
lado, descobrimos uma certa eminência, por mostrar-se a vontade mais inclinada
ao bem ou ao mal, não se deixando vencer pela dificuldade.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A caridade não é um amor qualquer, mas o de Deus. Donde, qualquer
ódio não se lhe opõe directamente, senão só o ódio de Deus, o gravíssimo dos
pecados.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1. II Ethic. (lect. III).
2. VIII Ethic. (lect.
X).
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