Art. 3 ― Se a gravidade
dos pecados varia com os objectos deles.
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que a gravidade dos pecados não varia com
os seus objectos.
2.
Demais. ― A gravidade do pecado está na intensidade da sua malícia. Ora, ele
não tira esta da conversão para o seu objecto próprio, que é algum bem
desejável, mas, antes, do afastamento desse objecto. Logo, a gravidade do
pecado não varia conforme os seus diversos objectos.
3.
Demais. ― Pecados com objectos diversos são de géneros diferentes. Ora, coisas
de diversos géneros não são suscetíveis de comparação entre si, como
Aristóteles prova 1. Logo, um pecado não é mais grave que outro pela
diversidade dos objectos.
Mas,
em contrário. ― Os pecados especificam-se pelos seus objectos, como do sobredito
resulta (q. 62, a. 1). Ora, uns são especificamente mais graves que outros,
assim, o homicídio, mais que o furto. Logo, a gravidade deles varia com os seus
objectos.
Como do sobredito (a. 5) claramente resulta, a gravidade dos pecados difere
do mesmo modo que uma doença é mais grave que outra. Pois, assim como o bem da
saúde consiste num certo equilíbrio dos humores, por conveniência com a
natureza do animal, assim o bem da virtude está num certo equilíbrio dos actos
humanos, por conveniência com a regra da razão. Ora, é manifesto que uma doença
é tanto mais grave, quanto mais se afasta desse devido equilíbrio dos humores,
comensurado pelo primeiro princípio. Assim, a doença do coração, ou de qualquer
outro órgão que tenha quase tanta importância como ele, é mais perigosa, por
ser o coração o princípio da vida. Donde e necessariamente, tanto mais grave
será o pecado quanto mais a sua desordem ferir algum princípio primeiro, na
ordem da razão.
Ora,
a razão ordena-nos todos os actos em dependência do fim. E portanto, quanto
mais elevado for o fim de que um acto humano pecaminoso se desvia, tanto mais
grave será o pecado. Ora, os objectos dos actos são os seus fins, como do
sobredito claramente se colhe (q. 72, a. 3 ad 2). Logo, da diversidade dos objectos
depende a diversa gravidade do pecado. Mas, ao passo que, claramente, as coisas
exteriores ordenam-se para o homem como para o fim, este se ordena ulterior e
finalmente para Deus. Donde, o pecado que recai sobre a própria substância do homem,
como o homicídio, é mais grave do que outro cujo objecto são as coisas
exteriores, como o furto, mas ainda é mais grave o cometido directamente contra
Deus, como a infidelidade, a blasfémia e outros. E na ordem desses pecados,
cada um é mais ou menos grave segundo recai sobre o mais ou menos principal. E
como os pecados se especificam pelos seus objectos, a diferença de gravidade
nestes fundada é a primária e a principal, sendo quase consequente à espécie.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Embora o objecto seja a matéria em que
termina o acto, exerce contudo a função de fim, por recair sobre ele a intenção
do agente, como já dissemos acima (ibid). Ao passo que a forma do acto moral
depende do fim, como resulta claramente do sobredito (q. 71, a. 3).
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Da mesma conversão indébita para algum bem mutável resulta o
afastamento do bem imutável, o que completa a essência do mal. E portanto
importa que, da diversidade do que respeita à conversão resulta a diversa
gravidade da malícia dos pecados.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Todos os objectos dos actos humanos se ordenam uns para os
outros. E portanto todos convêm, de certo modo, num mesmo género, como
ordenados para o fim último. Logo, nada impede que todos os pecados sejam suscetíveis
de comparação entre si.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1.
VII Physic. (lect. VII).
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