17/02/2014

Leitura espiritual para Fev 17

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. 
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 13, 14-37

14 «Quando, pois, virdes a abominação da desolação posta onde não devia estar -leitor, atende bem!- então os que estiverem na Judeia fujam para os montes, 15 quem estiver sobre o telhado, não desça nem entre para levar coisa alguma da sua casa; 16 e quem se encontrar no campo, não volte atrás a buscar o seu manto. 17 Ai das mulheres grávidas e das que tiverem crianças de peito naqueles dias! 18 Rogai, pois, que não suceda isto no Inverno. 19 Porque, naqueles dias, haverá tribulações, como não houve desde o principio do mundo que Deus criou, até agora, nem haverá mais. 20 E se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma pessoa se salvaria; mas Ele os abreviou, em atenção aos eleitos que escolheu. 21 «Então se alguém vos disser: “Eis aqui está o Cristo, ei-l'O acolá”, não deis crédito. 22 Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, e farão milagres e prodígios para enganarem, se fosse possível, até os escolhidos. 23 Estai, pois, de sobreaviso, eis que Eu vos predisse tudo. 24 Naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecer-se-á e a lua não dará a sua claridade, 25 e as estrelas cairão do céu e as potestades que estão nos céus serão abaladas. 26 Então verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. 27 E enviará logo os Seus anjos e juntará os Seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até à extremidade do céu. 28 Ouvi uma comparação tirada da figueira: Quando os seus ramos estão já tenros e as folhas brotam, sabeis que está perto o Verão; 29 assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está perto, às portas. 30 Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que se cumpram toda estas coisas. 31 Passarão o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão-de passar. 32 «A respeito, porém, desse dia ou dessa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. 33 Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o momento. 34 Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante. 35 Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; 36 para que, vindo de repente, não vos encontre a dormir. 37 O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!»



JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

Iniciação à Cristologia

4. Algumas interpretações históricas incompletas ou erróneas sobre a redenção

    Uma breve revista de algumas das principais teorias incompletas ou erróneas sobre a redenção servir-nos-á para clarificar alguns conceitos e entender melhor este mistério.

a) Os direitos do demónio

    Nalguns escritos cristãos dos primeiros séculos, deu-se a teoria sobre a redenção que se conhece como «os direitos do demónio»[1].

Segundo esta explicação, ao cometer o pecado de origem, o homem ter-se-ia feito voluntariamente escravo do demónio. O sangue de Jesus seria o «resgate», ou preço, pago ao demónio para livrar o homem da sua escravidão.

    Esta teoria foi combatida por São Gregório de Nacianzo, e desde então foi unanimemente rejeitada. Com efeito, é uma teoria errónea em que se interpreta a «redenção» de modo muito literal, segundo os usos humanos (como uma «re-compra», para conseguir a libertação do homem – o demónio -), e que é alheia à unidade de toda a Escritura: p. ex. quanto ao poder do demónio, que parece ter direitos absolutos sobre nós.

b) A interpretação jurídica de Santo Anselmo de Cantorbey

    Santo Anselmo de Cantorbey (século XI-XII) via a Deus como Senhor soberano, cuja honra é ofendida pelo pecado.

Ante esta ofensa, a ordem da justiça divina exije com todo o rigor uma reparação voluntária adequada (satisfação) ou melhor um castigo.

Ora bem, a dívida era tão grande, infinita por ser Deus o ofendido, que não devendo pagá-la senão o homem, e não podendo pagá-la senão Deus, tinha que ser homem e Deus quem satisfizesse a honra divina ferida.
Para isso, o próprio Deus provê a restauração da ordem quebrada dando-nos o seu Filho para que, feito homem, possa oferecer essa satisfação de valor infinito, e assim liberte a humanidade da pena devida pelo pecado.

    É uma interpretação válida em diversos aspectos e que influiu muito na teologia posterior, mas é demasiado jurídica, com uma concepção muito humana de Deus, do pecado como ofensa inferida a Deus, da sua reparação como compensação que deve receber do homem, e duma justiça divina que obriga a Deus a exigir os seus direitos.

c) A redenção como ensinamento por via do exemplo, em Pedro Abelardo

    Pedro Abelardo (século XII) é talvez o principal expoente duma explicação da obra de Cristo por via do exemplo[2].
Para ele a redenção é o resultado de uma revelação do amor de Deus, manifestado sobretudo na Paixão d Cristo; esse amor suscita a nossa resposta de amor, incita-nos a seguir o seu exemplo, e assim podemos obter a justificação.

    É uma interpretação insuficiente pois deixa sem explicar como Jesus Cristo repara o pecado do mundo e comunica a graça que renova o pecador.

d) A redenção como substituição penal, segundo os reformadores protestantes

    Os primeiros reformadores protestantes retomaram a teoria anselmiana da satisfação sem distinguir, como ele tinha feito, entre as alternativas de satisfação ou castigo.

Para Lutero, a satisfação tem Lugar precisamente mediante um castigo. Cristo cai debaixo da ira de Deus, porque, segundo a sua interpretação de São Paulo cf. Gal 3,13), tomou sobre si não só as consequências do pecado mas também o próprio pecado: Cristo fez-se pecador.

    A morte é castigo infligido por Deus Pai a seu Filho em nosso lugar (Calvino acrescenta que Jesus não só morreu como pecado, como também baixou a inferno e sofreu as penas dos condenados).
E porque Cristo pagou plenamente a dívida devida a Deus, nós ficamos dispensados de todo o castigo.

Assim pois, Cristo redime-nos por meio de uma «substituição penal»: toma o nosso lugar e é castigado por Deus em nosso lugar[3].

    Esta teoria e errónea, e apresenta Deus não cm Pai que nos ama mas como um soberano vingativo e, além do mais, injusto pois condena o inocente em lugar do culpado.

e) Explicações autonomistas e naturalistas nascidas do subjectivismo moderno

    No século XX deram-se outras teorias nascidas duma postura subjectivista.
Nelas, Cristo é o mestre, o guia ético e o exemplo de vida; mas o seu influxo no homem é só moral, de modo que a salvação não nos vem d’Ele, antes é o homem quem se redime a si mesmo autonomamente, seguindo Cristo.

Assim, a sua Morte é vista simplesmente como o símbolo supremo do esforço da humanidade em livrar-se do mal.

    Dentro dessa coerente houve quem tivesse pensado que Cristo seria o modelo de luta contra as estruturas sociais injustas. São as «teologias da libertação», entre as que se encontram algumas inspiradas no marxismo.

Essas teorias reduzem a origem do mal a uma má distribuição da riqueza, e cifram a libertação da humanidade na reforma política e social.
Todavia, o mal não pode ser derrotado plenamente por essas reformas exteriores, uma vez que têm a sua fonte no coração do homem:

são os corações os que têm que ser transformados primeiramente com a vida do alto.

5. Síntese teológica do mistério da salvação

a) A salvação é dom de Deus Pai, que concilia o seu amor misericordioso y a sua justiça, mediante a redenção levada a cabo por Cristo Jesus

    A salvação do homem nasce do amor misericordioso de Deus.

Deus quis livremente que o homem se implicasse na salvação, que fizesse algo por seu lado, como é justo.
Segundo este plano divino, o homem, para se libertar do pecado cometido tem que arrepender-se dele e reparar a desordem que esta introduziu: esta é a «satisfação» requerida.

    Todavia, ninguém pode, em si mesmo, reparar o pecado, pois para tal é necessária a graça divina, que o homem não tem por si mesmo. E, ainda contando com a ajuda gratuita de Deus, nenhum homem poderia satisfazer por toda a linhagem humana: ninguém pode reparar a desordem existente no interior de todos eles; a penitência de Adão ou a de outro homem, ainda que fosse muito santo, não repararia o pecado mais que neles próprios, e não em todos e cada um dos seres humanos[4].

    Por isso, o próprio Deus, movido pelo seu amor e seguindo a sua justiça, enviou o seu filho ao mundo e nos deu como Salvador para que como nossa Cabeça satisfizesse por todos.

    A redenção levada a cabo por Cristo concilia admiravelmente a misericórdia e a justiça divinas.

Como diz São Paulo, «todos são justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que está em Cristo Jesus» (Rom 3,24): quer dizer, neste mistério tudo é gratuidade, mas nele se inclui também uma redenção que Cristo realiza.

    Se Deus tivesse estabelecido uma Nova Aliança com o género humano sem que o homem pusesse algo por seu lado, não teria actuado injustamente mas sim à margem da justiça, guiando-se só pela sua misericórdia.
Ao invés, como se torna mais digno para os homens conseguir a libertação como algo ganho por si Deus deu-nos o seu Filho para que satisfizesse e merecesse por nós.
Desta forma brilha mais a sua misericórdia quando vai unida à sua justiça, pois liberta-nos gratuitamente e, ao mesmo tempo, fá-lo do modo mais conveniente e digno para nós[5].

    Assim pois, pode dizer-se que a raiz e o coração do mistério redentor é constituído por esta admirável conciliação entre a misericórdia e justiça divinas[6]:

a salvação é um mistério do amor misericordioso de Deus que compreende também a satisfação e o mérito de Cristo por nós.

«Nisto consiste o amor (...) em que Ele nos amou e nos enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados» (1 Jo 4,10; cf. 4,19).

b) A salvação é obra do Filho de Deus feito homem e cabeça do género humano: aspecto ascendente e descendente das acções de Cristo

    O Filho de Deus veio ao mundo para nos salvar; e feito homem, levou a cabo a obra da nossa redenção:

Ele é o Redentor do homem.

Ainda que mais adiante estudemos a obra de Cristo, assinalaremos agora as suas coordenadas gerais:

    Aspecto ascendente da obra de Cristo.

Jesus, representando os homens diante de Deus, como novo Adão e Cabeça da humanidade, sela uma nova relação de Aliança entre Deus e os homens, e obtém de seu Pai a salvação para nós.

    Cristo veio ao mundo para nos merecer a justificação e satisfazer o pecado de todos.
Nesta faceta de Jesus, com a sua actuação humana livre, é causa da nossa salvação enquanto alcança que Deus Pai nos conceda o perdão e nos salve.

    Aspecto descendente da obra de Cristo.

Por outro lado, Cristo, enviado pelo Pai, comunica aos homens os dons divinos da salvação: revela-nos a Deus e comunica-nos a vida sobrenatural, pois para isso veio ao mundo (cf. Jo 10,1).

    Ele é a Cabeça ou o princípio da vida sobrenatural para toda a linhagem humana, de modo semelhante a como Adão foi o seu princípio enquanto à vida natural.
Nesta faceta Ele próprio é a causa eficiente e directa da nossa salvação, sendo a sua humanidade e os seus actos humanos o instrumento para comunicar a todos os homens a graça que tira o pecado e os torna partícipes da vida divina.

    União do aspecto descendente e ascendente da obra de Cristo.

A Escritura afirma que «n’Ele (Cristo) se fez realidade o sim.

Porque quantas promessas há de Deus, n’Ele têm o seu sim; por isso também dizemos por sua mediação o Amén a Deus, para sua glória» (2 Cor 1,19-20; cf. Ap. 3.14). Jesus Cristo – enviado pelo Pai – é o «sim» Deus, do seu amor fiel para nos salvar, apesar do pecado do homem.
E, por outro lado, Jesus é o «Amén» dos homens, quem assente acorda em nome deles a aliança que Deus propõe:

Ele une os aspectos descendente e ascendente da mediação.

    Também temos de considerar que existe uma ordem na dispensa da economia salvífica:
primeiro Cristo devia satisfazer o pecado da humanidade e merecer a sua glorificação juntamente com a nossa salvação (aspecto ascendente).
E uma vez exaltado como Senhor sobre todas as coisas `direita do Pai, dispensa-nos os bens que nos ganhou com o seu sangue e concede-nos o dom do Espírito Santo (cf. Jo 7,38-39); 16,7) (aspecto descendente).

Esses dois aspectos estão estreitamente unidos no desígnio divino, segundo o qual o dom da graça é fruto do sacrifício de Cristo:

«Se o grão de trigo não morre ao cair na terra, fica infecundo, mas se morre produz muito fruto.» (Jo 12,24).

(continua)




[1] Santo Ireneu, Orígenes e São Gregório de Nisa.
[2] Posteriormente os protestantes liberais do século XIX, e outros, seguiram esta mesma teoria.
[3] Por vezes a oratória popular protestante, inclusive a católica, interpreta erróneamente em sentido literal e penal a passagem de Isaías, que é metafórico: «Ele foi ferido pelas nossas rebeldias, moído pelas nossas culpas. Ele suportou o castigo que a paz nos trás, e com as suas feridas fomos curados (Is 53,4-5).
[4] Cf. CCE, 616.
[5] Cf. S. Th. III, 46,1, ad 3; III,46,2 ad 3.
[6] Cf. PIO XII, Enc. Haurietis aquas, AAS 48 (1956), p. 321-322.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.