Celebravam o dies natalis, o dia da sua entrada na pátria definitiva
(por ex., Martírio de Policarpo, 18, 3), como participação na salvação operada
por Jesus, ao vencer a morte com a sua paixão gloriosa. Recordam com precisão o
dia da glorificação de Jesus, o 14/15 de Nisan, mas não a data do seu
nascimento, de que nada nos dizem os dados evangélicos.
Até ao século III não temos notícias sobre a data do nascimento de
Jesus. Os primeiros testemunhos dos Padres e escritores eclesiásticos assinalam
diversas datas. O primeiro testemunho indirecto de que o nascimento de Cristo
fosse a 25 de Dezembro oferece-o Sexto Júlio Africano no ano 221. A primeira
referência directa à sua celebração é a do calendário litúrgico filocaliano do
ano 354 [2].
A partir do século IV os testemunhos deste dia como data do nascimento
de Cristo são comuns na tradição ocidental, enquanto na tradição oriental
prevalece a data de 6 de Janeiro.
Uma explicação bastante difundida é a de que os cristãos optaram
por esse dia porque, a partir do ano 274, se passou a celebrar em Roma a 25 de Dezembro
o dies
natalis Soli invicti,
o dia do nascimento do Sol invicto, a vitória
da luz sobre a noite mais longa do ano. Esta explicação apoia-se no facto da
liturgia do Nascimento e os Padres da época estabelecerem um paralelismo entre
o nascimento de Jesus Cristo e expressões bíblicas como «sol de justiça» [3] e
«luz do mundo» [4]. No entanto, não há provas
de que fosse assim e parece difícil imaginar que os cristãos daquela época quisessem
adaptar festas pagãs ao calendário litúrgico, especialmente porque até há bem
pouco tempo tinham sofrido a perseguição. É possível, não obstante, que com o
correr do tempo, a festa cristã fosse absorvendo a pagã.
Outra explicação mais plausível faz depender a data do nascimento
de Jesus da data da sua encarnação, que por sua vez se relacionava com a data da
sua morte. Num tratado anónimo sobre solstícios e equinócios afirma-se que
“Nosso Senhor foi concebido a 8 das calendas de Abril no mês de Março (25 de
Março), que é o dia da paixão do Senhor e o da sua concepção, pois foi
concebido no mesmo dia em que morreu” [5].
Na tradição oriental, apoiando-se noutro calendário, a paixão e a encarnação do
Senhor celebram-se a 6 de Abril, data que coincide com a celebração do
Nascimento a 6 de Janeiro.
A relação entre paixão e encarnação é uma ideia que está em consonância
com a mentalidade antiga e medieval, que admirava a perfeição do universo como um
todo, onde as grandes intervenções de Deus estavam vinculadas entre si.
Trata-se de uma concepção que também encontra as suas raízes no judaísmo, onde
criação e salvação se relacionavam com o mês de Nisan. A arte cristã reflectiu
esta mesma ideia ao longo da história ao pintar, na Anunciação da Virgem, o
Menino Jesus descendo do céu com uma cruz. Assim, é possível que os cristãos
vinculassem a redenção operada por Cristo com a sua concepção, e esta
determinasse a data do nascimento. “O mais decisivo foi a relação existente
entre a criação e a cruz, entre a criação e a concepção de Cristo” [6].
© www.opusdei.org - Textos
elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra,
dirigida por Francisco Varo.
[2] MGH, IX, I, 13-196): VIII kal. Ian natus Christus in Betleem Iudeae (“ a 25
de Dezembro nasceu Cristo em Belém da Judeia”).
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.