A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A.
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
30 Tendo partido dali, atravessaram a Galileia; e Jesus não queria que
se soubesse. 31 Ia instruindo os Seus discípulos e dizia-lhes: «O
Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens e Lhe darão a morte, mas
ressuscitará ao terceiro dia depois da Sua morte». 32 Mas eles não
compreendiam estas palavras e temiam interrogá-l'O. 33 Nisto chegaram
a Cafarnaum. Quando estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «De que discutíeis
pelo caminho?». 34 Eles, porém, calaram-se, porque no caminho tinham
discutido entre si qual deles era o maior. 35 Então, sentando-Se,
chamou os doze e disse-lhes: «Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de
todos e o servo de todos». 36 Em seguida, tomando uma criança, pô-la
no meio deles e, depois de a abraçar, disse-lhes:37 «Todo aquele que
receber uma destas crianças em Meu nome, a Mim recebe, e todo aquele que Me
receber a Mim, não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou». 38
João disse-lhe: «Mestre, vimos um homem, que não anda connosco, expulsar os
demónios em Teu nome e nós lho proibimos porque não nos segue». 39
Jesus, porém, respondeu: «Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um
milagre em Meu nome e que possa logo dizer mal de Mim. 40 Porque
quem não é contra nós, está connosco. 41 «Quem vos der um copo de
água, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua
recompensa. 42 «Quem escandalizar um destes pequeninos que crêem em
Mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó que um asno faz girar, e que o
lançassem ao mar. 43 Se a tua mão é para ti ocasião de pecado,
corta-a; melhor te é entrar na vida eterna mutilado, do que, tendo as duas
mãos, ir para a Geena, para o fogo inextinguível. 44 Omitido pela
Neo-Vulgata. 45 Se o teu pé é para ti ocasião de pecado, corta-o;
melhor te é entrar na vida eterna coxo, do que, tendo os dois pés, ser lançado
na Geena. 46 Omitido pela Neo-Vulgata. 47 Se o teu olho é
para ti ocasião de pecado, lança-o fora; melhor te é entrar no reino de Deus
sem um olho do que, tendo dois, ser lançado na Geena, 48 “onde o seu
verme não morre e o seu fogo não se apaga”. 49 Todo o homem será
salgado no fogo. 50 O sal é uma coisa boa; porém, se se tornar
insípido, com que haveis de lhe dar o sabor? Tende sal em vós, e tende paz uns
com os outros».
JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
4. O nome de «Filho de Deus» na Sagrada Escritura
a) O título de «Filho de Deus»
O Antigo Testamento dá o título de «Filho
de Deus» aos anjos (cf. Dt 32,8), ao povo eleito (cf. 4,22) e aos seus reis
(cf. Sam 7,14). Significa então uma filiação adoptiva, umas relações de uma
intimidade particular entre Deus e a sua criatura. Por isso, quando se chama
«Filho de Deus» ao Messias (cf. Sal 2,7) os judeus entendiam que o designava
como um simples homem singularmente bendito por Deus[1]
De modo semelhante, os seguidores do
racionalismo dizem que Cristo de pode chamar «filho de Deus» nesse sentido
geral, pois n’Ele se desenvolveu de forma singular a consciência da Filiação
Divina e se deixou conduzir exemplarmente pelo Espírito divino; quer dizer,
viveu a Filiação Divina com especial intensidade, mas não é filho de Deus em
sentido próprio e ontológico. Todavia tal não é assim. Vejamo-lo.
b) Jesus é o Filho único de Deus, da mesma natureza
do Pai
É suficiente o dito sobre a pré-existência
de Jesus, sobre a sua igualdade com o Pai, etc., para ver que Jesus quando se
declara Filho de Deus significava que era verdadeiro Deus nascido do Pai. Assim
o entendiam os que o escutavam: «Por isto os judeus procuravam com mais afinco
matá-lo, pois (…) dizia que Deus era eu Pai, fazendo-se igual a Deus» (Jo 5, 17-25)
e por isso o condenaram por blasfemo (cf. Mt 26,63-65). Vejamos agora alguns
exemplos de Novo Testamento nos quais a expressão «Filho de Deus» manifesta de
modo claro o carácter novo e transcendente da sua Filiação Divina.
Jesus
distingue sempre a sua filiação ao Pai da filiação dos demais homens com
respeito a Deus.
Quando
fala com os discípulos não diz jamais «nosso Pai» mas sim «vosso Pai» ou «meu
Pai», excepto para lhes ordenar «vós,
pois, orai assim: pai-nosso» (Mt 6,9); e sublinhou esta distinção: «Meu Pai e
vosso Pai» (Jo 20,17).
E na
parábola dos vinhateiros homicidas, referindo-se claríssimamente a si próprio e
à morte que o esperava, compara-se com o filho único do dono da vinha, que se
distingue dos servos enviados anteriormente pelo dono (cf. Mt 21,33-46)[2].
Jesus é o
Filho único de Deus, o Unigénito do Pai.
Ele é o
«próprio filho» do Pai (Rom 8,3.32), o Filho único de Deus, o Unigénito do Pai
(cf. Jo 3,16,18).
Jesus é o
Filho que tem uma identidade de natureza com o Pai:
«Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem
ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar»
(Mt 11,25-30).
Esta
identidade de conhecimento infinito entre o Pai e o Filho implica uma
identidade de natureza: Jesus é o Filho que tem a mesma natureza de Deus Pai;
Ele não é filho adoptivo de Deus, mas o Filho de Deus por natureza.
Capítulo IV
O MISTÉRIO DA UNIDADE PESSOAL DE JESUS CRISTO
Até agora temos visto que Jesus é
verdadeiro Deus, engendrado pelo Pai antes do tempo; e que é verdadeiro homem,
engendrado por sua Mãe Maria no tempo; consubstancial ao Pai segundo a
divindade e consubstancial connosco segundo a humanidade. Perfeito Deus e
perfeito homem.
Agora temos que ver como se unem o divino e
o humano em Nosso Senhor. Também aqui estudaremos os principais problemas
históricos que se colocaram, e depois daremos algumas explicações para
clarificar os conceitos e podermos entender um pouco melhor este profundíssimo
mistério que ultrapassa sempre toda a capacidade humana.
1. A união das duas naturezas na única pessoa de
Jesus Cristo
a) A unidade em Cristo
A heresia
nestoriana e o concílio de Éfeso
O
nestorianismo.
Nestório,
patriarca de Constantinopla (séculos IV-V), pregou que o título de Theotokos (Mãe de Deus) não era
aplicável a Santa Maria. Via em Cristo uma pessoa humana juntamente com a
pessoa divina do Filho de Deus, como duas pessoas distintas; a Virgem seria a
Mãe dessa pessoa humana, de Cristo, mas não do Filho de Deus.
Nestório sustenta que a união en tre as naturezas divina e
a humana de Cristo não é segundo a hypóstasis (segundo a pessoa), mas só uma
união moral entre dois sujeitos (como um casal). Por esta união o Verbo
comunicaria à pessoa humana de Jesus a sua dignidade, ao mesmo tempo que também
existiria entre eles uma identidade de vontade e de acção: o Verbo inabitaria
em Cristo e obraria milagres por meio dele. Por isso não admite que se atribuam
ao Verbo as acções e paixões que segundo ele são da pessoa humana de Jesus: não
se poderia dizer que o Filho de Deus nasceu de Maria, nem que morreu, etc.
Nestório foi refutado sobretudo por São
Cirilo de Alexandria, e condenado no concílio de Éfeso.
O
concílio de Éfeso (ano 431).
Face à
heresia nestoriana, este concílio declarou que a humanidade de Cristo não tem
mais sujeito que a pessoa divina do Filho de Deus, que assumiu essa natureza
humana e a fez sua desde a sua concepção. Por isso Maria é com toda a verdade
«Mãe de Deus», não porque o Verbo de Deus tenha tomado dela a sua natureza
divina, mas porque dela (…) nasceu o Verbo segundo a carne[3].
Este concílio põe a força dos seus
ensinamentos na união das duas naturezas de Jesus Cristo num único sujeito
pessoal, na união segundo a hypóstasis:
trata-se de uma união incompreensível mas que é real e ontológica. O Verbo na
verdade tornou sua a natureza humana, de tal forma que lhe pertence realmente,
não só moralmente. O Verbo é o único sujeito de todos os actos divinos e humano
de Cristo, como ensina o símbolo de Niceia (o Filho de Deus eterno, pelo qual
se fizeram todas as coisas, encarnou de Maria Virgem, foi crucificado, foi
sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, etc.).
A
doutrina da maternidade divina de Santa Maria é o reflexo desta doutrina
cristológica.
b) A dualidade de natureza. A heresia monofisista e
o concílio de Calcedónia
O
monofisismo.
Eutiques
superior de um mosteiro de Constantinopla (século V), afirmou que Cristo tem
uma só natureza composta de duas naturezas distintas. Antes da Encarnação
poder-se-ia falar de duas naturezas distintas, a divina e a humana; mas depois
da Encarnação em Cristo só há uma[4].
Cristo procederia ex duabus naturis,
mas de facto não estaria subsistindo in
duabus naturis: teria uma só natureza composta pelas duas, ainda que na
realidade, a humanidade teria sido absorvida na infinita pessoa do Filho de
Deus.
O Papa São Leão Magno e o concílio de
Calcedónia condenaram esta doutrina.
O
concílio de Calcedónia (451).
O quarto
concílio ecuménico ensinou, contra o monofisismo, que «há que confessar a um só
e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na divindade, e perfeito na
humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem (…) Há-de
reconhecer-se a um só e o mesmo Cristo Senhor, Filho único do Pai, em duas
naturezas (in duabus naturis), sem
confusão, sem troca, sem divisão, sem separação. A diferença de naturezas de
nenhum modo fica suprimida pela sua união, antes ficam a salvo as propriedades
de cada uma das naturezas e confluem num só sujeito e em só pessoa»[5].
As duas naturezas unem-se em Cristo sem
confusão e sem troca ou transmutação entre elas: Deus é transcendente,
permanece imutável e não se converte em criatura, a passo que o humano
permanece humano e não se transforma em Deus. Jesus Cristo não é uma mistura
intermédia de ambos os modos de ser: não existe uma natureza composta pela
divina e a humana. Não se apagou de modo algum a infinita diferença e distância
entre o Criador e a criatura. E, além disso, as duas naturezas em Cristo
unem-se sem divisão e sem separação, como uma união profundíssima e misteriosa,
na pessoa do Verbo.
A chave do ensinamento do concílio de
Calcedónia está na distinção entre pessoa e natureza: em Cristo duas são as
naturezas e uma é a pessoa. Esta distinção não nasce da filosofia helénica mas
sim, pelo contrário, nasce da fé e transcende por completo o pensamento grego.
Além disso, estes termos não são tomados num sentido tecnicamente filosófico,
antes se usam no amplo significado corrente que distingue entre o que é um (sua natureza ou modo de ser
que é comum a outros: por ex. um ser humano), e quem um é (a sua pessoa que é individual: p. ex. Pedro).
Os teólogos posteriores explicarão também
que se tornaria impossível a união da divindade e da humanidade numa única
natureza misturada de ambas, pois a divindade é imutável e absolutamente
simples, e não pode deixar de ser o que era e começar a ser outra coisa, nem
pode ser parte de uma natureza composta. Além disso, tal união iria contra a
fé, pois Cristo já não seria Deus, e tampouco seria verdadeiro homem, mas outra
coisa[6]
2. Algumas explicações sobre o mistério da unidade
ontológica de Cristo
Vimos que a Tradição e o Magistério da
Igreja chamam a Jesus Cristo pessoa ou hypóstasis, e empregam, em troca, o
termo natureza para designar a sua divindade e a sua humanidade. E é evidente
que falaram da unidade de Cristo em chave ontológica, com termos de significado
objectivo e real. Procuremos conhecer um pouco mais o significado destes termos.
a) Explicação de algumas noções relativas ao dogma
Pessoa e
hypóstasis. Uma «hypóstasis» o indivíduo é ma substância
individual completa, subsistente em si mesma, independente no seu ser de outros
indivíduos. Chama-se também «pessoa» quando se trata dos indivíduos mais dignos
nos quais se verifica de modo mais perfeito a noção de subsistir (ser por si
mesmo): este é o caso dos seres racionais que são donos dos seus actos; p. ex.
este homem, Pedro.
Boécio definiu a pessoa como rationalis naturae individua substancia (substância
individual de natureza racional), assinalando assim que é uma realidade
completa no seu ser (substancia),
individual e diferente no que respeita aos outros (individua), e que se caracteriza por ser racional ou intelectual (rationalis naturae).
A pessoa
é pois um indivíduo, íntegro e independente no seu ser, que se possui a si
mesmo pelo conhecimento e a liberdade. Quando afirmamos que é individual e
independente no seu ser não queremos dizer que seja um ser fechado em si mesmo,
pois a pessoa só se realiza perfeitamente na abertura e na relação com os
outros.
Natureza.
«Natureza»
significa a essência específica, quer dizer, aquilo que especifica e define o
que uma coisa é; p. ex. a natureza de Pedro é ser homem, a sua humanidade, ser
da espécie humana. Também significa o princípio interno pelo qual esse sujeito
actua do modo que lhe é próprio, quer dizer, a essência enquanto é o princípio
das operações; p. ex. a natureza de Pedro é a sua condição humana com as suas
faculdades próprias pelas quais actua como homem.
(cont.)
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