Até à Ilustração, crentes e não crentes estavam convencidos de que
o que podíamos conhecer sobre Jesus estava contido nos evangelhos. No entanto,
por serem relatos escritos com uma perspectiva de fé, alguns historiadores do
século XIX questionaram a objectividade dos seus conteúdos. Para estes
estudiosos, os relatos evangélicos eram pouco credíveis porque não continham o
que Jesus fez e disse, mas aquilo em que acreditavam os seguidores de Jesus, uns
anos depois da sua morte. Como consequência disto, durante as décadas seguintes
e até meados do século XX levantou-se o problema da veracidade dos evangelhos e
chegou a afirmar-se que de Jesus “não podemos saber quase nada” [1]
Actualmente, com o desenvolvimento da ciência histórica, os
avanços arqueológicos, e um maior e melhor conhecimento das fontes antigas,
pode-se afirmar com palavras de um conhecido especialista do mundo judeu do
século I d.C. – a quem não se pode classificar propriamente de conservador –
que “podemos saber muito de Jesus” [2]
Este mesmo autor, por exemplo, assinala “oito factos inquestionáveis”,
do ponto de vista histórico, sobre a vida de Jesus e sobre as origens cristãs:
1) Jesus foi baptizado por João Baptista;
2) Era um galileu que pregou e fez curas;
3) Chamou discípulos e disse que eram doze;
4) Limitou a sua actividade a Israel;
5) Manteve uma controvérsia sobre o papel do templo;
6) Foi crucificado fora de Jerusalém pelas autoridades romanas;
7) Após a morte de Jesus, os seus seguidores continuaram a formar
um movimento identificável;
8) Pelo menos alguns judeus perseguiram alguns grupos do novo
movimento [3]e,
provavelmente, esta perseguição durou no mínimo até perto do fim do ministério
de Paulo.[4]
Sobre esta base mínima em que os historiadores estão de acordo,
podem determinar-se como fidedignos, do ponto de vista histórico, os outros dados
contidos nos evangelhos. A aplicação dos critérios de historicidade sobre estes
dados permite estabelecer o grau de coerência e probabilidade das afirmações
evangélicas, e que, o que se contém nesses relatos, é substancialmente certo.
Por último, convém recordar que o que sabemos de Jesus é fiável e credível
porque os testemunhos são dignos de credibilidade e porque a tradição é crítica
consigo mesma. Além disso, o que a tradição nos transmite resiste à análise da
crítica histórica. É certo que das muitas cosas que se nos transmitiram só algumas
podem ser demonstráveis pelos métodos empregados pelos historiadores. No
entanto, isto não significa que as não demonstráveis por estes métodos não
aconteceram, mas que só podemos ter dados sobre a sua maior ou menor
probabilidade. E não esqueçamos, por outro lado, que a probabilidade não é
determinante. Há acontecimentos muito pouco prováveis que sucederam
historicamente. O que sem dúvida é verdade é que os dados evangélicos são razoáveis
e coerentes com os dados demonstráveis.
Seja como for, é a tradição da Igreja, em que estes escritos nasceram,
a que nos dá garantias da sua fiabilidade e a que nos diz como interpretá-los.
© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de
Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por francisco varo.
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