08/12/2013

Leitura espiritual para 08 Dez

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.

Evangelho: Mt 6, 25-37; 7, 1-11

25 «Portanto vos digo: Não vos preocupeis, nem com a vossa vida, acerca do que haveis de comer, nem com o vosso corpo, acerca do que haveis de vestir. Porventura não vale mais a vida que o alimento, e o corpo mais que o vestido? 26 Olhai para as aves do céu que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisões nos celeiros, e, contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais do que elas? 27 Qual de vós, por mais que se afadigue, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? 28 «E porque vos inquietais com o vestido? Considerai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam. 29 Digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 30 Se, pois, Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 31 Não vos aflijais, pois, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? 32 Os gentios é que procuram com excessivo cuidado todas estas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 33 Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. 34 Não vos preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos.
 7 1 «Não julgueis, para que não sejais julgados; 2 pois, segundo o juízo com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. 3 Porque olhas tu para a palha que está no olho de teu irmão, e não notas a trave no teu olho? 4 Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar-te do olho uma palha, tendo tu uma trave no teu? 5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás para tirar a palha do olho de teu irmão. 6 «Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que eles as calquem com os seus pés, e que, voltando-se contra vós, vos despedacem. 7 «Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque todo aquele que pede, recebe, e quem busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á. 9 Qual de vós dará uma pedra a seu filho, quando este lhe pede pão? 10 Ou se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? 11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará coisas boas aos que lhas pedirem.




CAMINHO DE PERFEIÇÃO
CAPÍTULO 21.
Diz o muito que importa começar com grande determinação a ter oração e não fazer caro dos inconvenientes que o demónio sugere.

1. Não vos espanteis, filhas, das muitas coisas a que é preciso olhar para começar esta viagem divina, que é caminho real para o Céu. Ganha-se, indo por ele, um grande tesouro; não é, pois, demasiado que custe muito, a nosso parecer. Tempo virá em que se entenda como tudo é nada para tão grande preço.

2. Agora, voltando aos que querem ir por ele sem parar até ao fim, que é chegar a beber desta água de vida, como devem começar, digo que importa muito, e tudo, ter uma grande e muito determinada determinação de não parar até chegar a ela, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra no caminho, ou não se tenha ânimo para os trabalhos que nele há, quer se afunde o mundo, como muitas vezes acontece ouvir-se dizer: «nisto há perigos», «fulano perdeu-se por aqui»; «o outro se enganou»; «aquele outro que rezava muito, caiu»; «causam dano à virtude»; «não é para mulheres, pois podem-lhes advir ilusões»; «melhor será que fiem»; «não necessitam dessas delicadezas»; «basta o Pater Noster e Ave-maria»...

3. Isto também eu digo, irmãs; e se basta! Ê sempre grande bem fundar a vossa oração sobre orações ditas por uma tal boca como a do Senhor. Nisto têm razão que, se a nossa fraqueza não estivesse tão fraca e a nossa devoção tão tíbia, não seriam precisos outros concertos de orações nem seriam precisos outros livros. E assim (pois, como digo, falo com almas que não podem recolher-se noutros mistérios e lhes parece necessário usar de artifício e há alguns espíritos tão engenhosos que nada os contenta), pareceu-me bem ir agora fundando por aqui uns princípios e meios e fins de oração, sem me deter, no entanto, em coisas subidas. E assim não vos poderão tirar livros, e, se fordes atentas, tendo humildade, não tereis necessidade de mais nada.

4. Sempre fui afeiçoada às palavras do Evangelho e mais me têm recolhido do que livros muito bem escritos, em especial, se o autor não era muito aprovado, não tinha vontade de os ler. Apoiada, pois, neste Senhor e Mestre da Sabedoria, talvez me ensine alguma consideração que vos contente.
Não digo que vá fazer o comentário destas orações divinas (pois não me atreveria e muitas há já escritas; e, ainda que não as. houvesse, seria disparate, mas somente considerações sobre as palavras do Pai Nosso. Porque algumas vezes parece que, com muitos livros, se perde a devoção àquilo a que tanto nos vai de a ter, pois é claro que todo o mestre, quando ensina uma coisa, toma amor ao discípulo e gosta de que este se contente com o que ele lhe ensina e ajuda-o muito a que aprenda, e assim fará connosco este Mestre celestial.

5. Por isso, não façais nenhum caso dos medos que vos meterem, nem dos perigos que vos pintarem. Engraçada coisa que quisesse eu, sem perigos, ir por um caminho onde há tantos ladrões, e ganhar um grande tesouro! Bonito vai o mundo para que vo-lo deixem tomarem paz, mas por um maravedi de interesse, ficam sem dormir muitas noites e desassossegam-vos corpo e alma! Pois, se procurando ganhá-lo - ou rouba-lo, como diz o Senhor que o arrebatam os esforçados e se por caminho real e por caminho seguro por onde foi o nosso Rei e por onde foram todos os Seus escolhidos e santos, vos dizem que há tantos perigos e vos metem tantos terrores, os que vão só por seu parecer e sem caminho à busca deste bem, que perigos não correrão eles?

6. Ó minhas filhas! e muitos mais, sem comparação, só que não os entendem até dar de cara com o verdadeiro perigo, quando não há quem lhes dê a mão, e de todo perdem a água, sem beberem pouca nem muita, nem do charco nem do arroio.
Pois já vedes; sem uma gota desta água, como se passará por caminho onde há tantos com quem pelejar? Está claro que, quando menos pensarem, morrerão de sede; porque, quer queiramos, quer não, filhas minhas, todos caminhamos para esta fonte, posto que de diferentes modos. Enfim, crede-me a mim; não vá alguém enganar-vos, mostrando outro caminho que não seja o da oração. Não falo agora em se há-de ser mental ou vocal para todos; para vós digo que, de uma e de outra, tendes necessidade. Este é o ofício dos religiosos. A quem vos disser que isto é um perigo, a esse tende-o pelo verdadeiro perigo e fugi dele. E não vos esqueçais, que porventura tereis necessidade deste conselho. Perigo será não ter humildade nem as outras virtudes; mas caminho de oração ser caminho de perigo, nunca Deus tal permita. Parece que o demónio inventou pôr estes medos, e assim tem sido manhoso em fazer cair alguns que tinham oração, ao que parece.

8. E vede que cegueira a do mundo, pois não vêem os muitos milhares que têm caído em heresias e em grandes males sem terem oração, senão distracção; e, se entre a multidão destes, o demónio, para melhor fazer o seu negócio, tem feito cair alguns que tinham oração, logo faz com que ponham em outros tanto temor para as coisas de virtude. Estes, que recorrem a este amparo para se livrar,' acautelem-se, pois fogem do bem para se livrarem do mal. Nunca vi tão má invenção; bem parece do demónio. Ó Senhor meu! defendei a vossa causa; vede que entendem ao revés as Vossas palavras. Não permitais semelhantes fraquezas em Vossos servos.

9. Há, a par disto, um grande bem: achareis sempre alguns que vos ajudem, porque isto tem o verdadeiro servo de Deus a quem Sua Majestade esclareceu acerca do verdadeiro caminho: com estes temores, cresce-lhe mais o desejo de não parar. Entende claramente onde o demónio vai dar o golpe, furta-lhe o corpo e quebra-lhe a cabeça. E ele sente mais isto do que o contentam quantos prazeres os outros lhe dão. Quando em tempos de alvoroço, numa cizânia que o demónio semeou - ele parece levar todos meio cegos atrás de si, porque os engana sob a cor do bom zelo -, Deus suscita alguém que lhes abra os olhos e diga que vejam que lhes pôs uma névoa para não verem o caminho. Que grandeza a de Deus, que mais pode por vezes um só homem ou dois que digam a verdade do que muitos juntos! tornam pouco a pouco a descobrir o caminho, dá-lhes Deus ânimo. Se dizem que há perigo na oração, procura dar a entender quanto é boa a oração, quando não é por palavras, com obras; se dizem que não é bem comungar amiúde, fazem-no então com mais frequência. E assim, quando haja um ou dois que siga sem temor o melhor, logo o Senhor torna, pouco a pouco, a ganhar o perdido.

10. E assim, irmãs, deixai-vos destes medos; nunca façais caso em coisas semelhantes da opinião do público. Olhai que não estamos em tempo de acreditarem todos, senão naqueles que virdes que vão conformes à vida de Cristo. Procurai ter a consciência limpa, humildade, desprezo de todas as coisas do mundo e crer firmemente o que ensina a Santa Madre Igreja, e ficai certas que ides por bom caminho.
Deixai-vos - como disse - de temores onde não há que temer. Se alguém vo-los meter, mostrai-lhe com humildade o caminho. Dizei que tendes Regra que vos manda orar sem cessar, - pois assim no-lo manda - e que a tendes de guardar. Se vos disserem que é vocalmente, perguntai se o entendimento e o coração hão-de estar no que dizeis. Se vos disserem que sim, - e não poderão dizer outra coisa -, vede como confessam que estais obrigadas a ter oração mental, e até contemplação, se Deus vo-la der ali.

CAPÍTULO 22.
Declara o que é oração mental.

1. Sabeis, filhas, que não está a diferença, para ser ou não ser oração mental, em ter a boca fechada; se, estando a falar, estou perfeitamente a entender e a ver que falo com Deus, pondo nisto mais advertência do que às palavras que digo, juntas estão aqui oração mental e vocal. Salvo se vos dizem que podeis estar falando com Deus, a rezar o Pai Nosso e pensando no mundo: aqui me calo. Mas se quereis estar, como é de razão que se esteja, falando com tão grande Senhor, é bem que estejais olhando com quem e quem sois, sequer ao menos para falar com cortesia. Porque, como podeis chamar a el-rei «alteza», sem saber as cerimónias que se têm para falar a um grande, se não conheceis bem o estado que tem e o estado que vós tendes? Porque, conforme a isto e conforme ao uso, há-de ser o acatamento. Que até isto é mister que também saibais, se não quiserdes ser despedidas como simplórias e não conseguireis nada.
Pois, que é isto, Senhor meu? Que é isto, meu Imperador? Como se pode sofrer isto? Sois Rei, Deus meu, para sempre, e não é emprestado o reino que tendes. Quando se diz no Credo: «Vosso Reino não terá fim», isto dá-me quase sempre particular consolação. Louvo-Vos, Senhor, e bendigo-Vos para sempre; enfim, o Vosso reino durará para sempre. Nunca permitais, Senhor, que se tenha por bom que, quem for a falar convosco, o faça só com a boca.

2. Que é isto, cristãos, os que dizeis que não é preciso oração mental, entendeis-vos a vós mesmos? Certo é que penso não vos entendeis e assim quereis que todos nós desatinemos; nem sabeis o que é oração mental, nem como se há-de rezar a vocal, nem mesmo o que é contemplação, porque, se o soubésseis, não condenaríeis por um lado o que louvais por outro.

3. Eu hei-de juntar, sempre que me lembrar, a oração mental à vocal, para que não vos assustem, filhas. Sei no que vêm a parar estes temores, porque passei alguns trabalhos neste caso, e assim não quereria que ninguém vos trouxesse desassossegadas, pois é coisa de causar dano andar com medo neste caminho, Importa muito entender que ides bem, porque, em se dizendo a algum caminhante que vai errado e que perdeu o caminho, fazem-no andar de um lado para o outro e, enquanto anda buscando por onde há-de ir, cansa-se e gasta o tempo e chega mais tarde.
Quem poderá dizer que é mal, se começamos a rezar as Horas ou o rosário, que se comece por pensar com quem se vai falar e quem é aquele que fala, para ver como se deve tratar? Pois eu vos digo, irmãs; se o muito que há a fazer para entender estes dois pontos se fizesse bem, antes de começardes a oração vocal que ides rezar, ocupareis assaz tempo na mental. Sim, não nos devemos aproximar para falar a um príncipe com o mesmo descuido que a um lavrador ou como a uma pobre como nós, pois, como quer que seja que nos falem, está bem.

4. E assim, já que por humildade deste Rei, se eu por grosseira não Lhe sei falar, Ele nem por isso deixa de me ouvir, nem de me chegar a Si, nem me lançam fora Seus guardas; porque bem sabem os anjos que ali estão a índole do seu Rei, que gosta mais desta rudeza dum pastorzinho humilde pois vê que, se mais soubera mais diria, que dos mui sábios e letrados por elegantes arrazoados que façam, se não vão acompanhados de humildade, não é razão que, por Ele ser bom, sejamos nós descomedidos. Sequer ao menos para Lhe agradecer o que Ele sofre da vizinhança, consentindo a uma como eu ao pé de Si, é bem que procuremos conhecer a Sua limpeza e quem é. É verdade que, logo em chegando, se conhece, não como a senhores de cá que, em nos dizendo quem foi seu pai e os contos que tem de renda e o título, nada mais há a saber. Porque cá nesta terra não se têm em conta as pessoas para lhes dar honras, por muito que as mereçam, mas sim suas fazendas.

5. Oh! miserável mundo! Louvai muito a Deus, filhas, por terdes deixado coisa tão ruim, onde não fazem caso do que eles têm em si, mas do que têm seus rendeiros e vassalos; e se estes faltam, logo lhes faltam com as honras. Coisa engraçada esta para folgardes quando tiverdes todas de tomar alguma recreação, que é bom passatempo entender quão cegamente passam o tempo os do mundo.
6. Ó Imperador nosso, sumo Poder, suma Bondade, a mesma Sabedoria, sem princípio, sem fim, sem haver limite em Vossas obras! São infinitas, sem se poderem compreender, um pélago sem fundo de maravilhas, uma formosura que contém em si todas as formosuras, a mesma Fortaleza! Oh! valha-me Deus! quem tivesse aqui junta toda a eloquência e sabedoria dos mortais para bem saber - como aqui se pode saber, que tudo é não saber nada, para este caso - dar a entender algumas das muitas coisas que podemos considerar para conhecerem algo quem é este Senhor e Bem nosso.

7. Sim, aproximai-vos pensando e entendendo, ao chegar, com quem ides falar ou com quem estais falando. Em mil vidas das nossas não acabaremos de entender como merece ser tratado este Senhor, diante de quem tremem os anjos. Em tudo manda, tudo pode; Seu querer é operar. Pois, razão será, filhas, que procuremos deleitar-nos nestas grandezas que tem o nosso Esposo e entendamos com quem estamos casadas e que vida havemos de ter. Oh! valha-me Deus! Pois aqui, quando alguém se casa, primeiro quer saber com quem, quem é e o que tem. Nós, já desposadas, antes das bodas não pensaremos em nosso esposo, que nos há-de levar para Sua casa? Pois se aqui não se impedem estes pensamentos às que estão desposadas com os homens, porque nos hão-de impedir que procuremos entender quem é este Homem, e quem é Seu Pai, e qual a terra para onde me vai levar e quais são os bens que me promete dar, qual a Sua condição, como melhor poderei contentar, em que Lhe darei prazer, e estudar como hei-de tornar a minha condição conforme à Sua? Se a uma mulher, para ser bem casada, não a avisam de outra coisa senão que procure fazer assim, e isto ainda mesmo que seu marido seja de mui baixa condição.

8. Pois, Esposo meu, em tudo hão-de fazer menos caso de Vós que dos homens? Se isto não lhes parece bem, que Vos deixem às Vossas esposas, que hão-de fazer vida convosco. E em verdade é vida boa! Se um esposo é tão ciumento que não quer que sua esposa fale com ninguém, linda coisa seria se ela não pensasse em lhe dar esse prazer e a razão que tem para o suportar e de não querer tratar com mais ninguém, pois tem nele tudo o que pode desejar. Isto, filhas, o entender estas verdades, é oração mental. Se quereis ir entendendo isto e rezando vocalmente, pois seja muito em boa hora. Não estejais falando com Deus e pensando em outras coisas, que isto faz que não se entenda que coisa é oração mental. Creio que está dado a entender. Praza ao Senhor o saibamos pôr em prática, ámen.


santa teresa de jesus

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