Art. 2 — Se o aumento dos
hábitos se faz por adição.
(IIª-IIªe,
q. 24, a. 5, De Virtut., q. 1, a. 11, q. 5, a. 3).
O
segundo discute-se assim. — Parece que o aumento dos hábitos se dá por adição.
1.
— Pois, o nome de aumento, como já se disse 1, foi transferido das
quantidades corpóreas para as formas. Ora, naquelas não há aumento sem adição,
e por isso, conforme já se disse, o aumento é um aditamento feito à grandeza
preexistente 2. Logo, também nos hábitos o aumento só se dá pela
adição.
2.
Demais — O hábito não aumenta senão por meio de um agente. Ora, todo agente
produz algum efeito no sujeito paciente, assim, o agente que aquece produz o
calor no corpo aquecido. Logo, não pode haver aumento sem haver adição.
3.
Demais — Assim como o que não é branco é potencial em relação ao branco, assim,
o menos branco também o é em relação ao mais branco. Mas, o que não é branco só
vem a sê-lo pela superveniência da brancura. Logo, o menos branco não se torna
mais branco senão por alguma outra brancura superveniente.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo: O corpo quente torna-se mais quente sem que um
novo calor se lhe acrescente à matéria, pois de contrário esse corpo não
estaria quente quando o estava menos 3. Logo, pela mesma razão,
também não existe nenhuma adição nas outras formas susceptíveis de aumento.
A solução desta questão depende do que já dissemos antes. Pois, como já
estabelecemos 4, nas formas susceptíveis de intenção e de remissão,
o aumento e a diminuição provêm, de um modo, não da forma em si mesma
considerada, mas das diversas participações do sujeito. Donde, tal aumento dos
hábitos e das outras formas não se realiza pela adição de uma forma a outra,
mas porque o sujeito participa mais ou menos perfeitamente de uma e mesma
forma. E assim como o agente em acto é que torna um corpo actualmente quente,
quase começando, então a participar da forma, e não que esta comece, em si
mesma, a existir, como já se provou 5, assim também, pela acção
intensa do agente um corpo se torna mais quente, como participando mais
perfeitamente da forma, e não como se algo a esta se acrescentasse.
Donde,
se pela adição se entendesse um aumento da forma, deste último modo, isto só
poderia dar-se por parte da forma mesma, ou por parte do sujeito. No primeiro
caso, como já dissemos 6, tal adição, ou subtração, variaria a
espécie, como varia a espécie da cor, quando de pálida vem a ser branca. O
segundo caso não se poderia dar senão porque o sujeito recebeu uma forma que
antes não tinha, assim, se dissermos que o frio aumenta num homem que,
primeiro, o sentia numa parte do corpo, e depois veio a senti-lo em várias, ou
então porque se acrescenta outro sujeito participante da mesma forma, como se
acrescentasse o quente ao que já o era, e o branco ao que já era branco. Ora,
de ambos estes modos dizemos que o corpo se tornou, não mais quente ou branco,
mas maior.
Mas,
como certos acidentes aumentam por si mesmos, conforme já dissemos 7,
em alguns deles o aumento pode dar-se por adição. Assim, o movimento aumenta
porque algo se lhe acrescenta, ou quanto ao tempo em que se realiza, ou pela
distância que percorre, e contudo, a espécie permanece a mesma, por causa da
unidade do termo. E também um mesmo movimento pode aumentar na sua intensidade,
em relação à participação do sujeito, podendo realizar-se mais ou menos
expedita ou prontamente. — Semelhantemente, a ciência pode, em si mesma,
aumentar por adição: assim, quando aprendemos várias conclusões da geometria, o
nosso hábito dessa ciência aumenta especificamente. Também a ciência de um
sujeito, que dela participa, pode aumentar de intensidade, tal se dá quando um
homem considera certas conclusões mais expedita e claramente que outro.
Quanto
aos hábitos corpóreos porém não pode dar-se grande aumento por adição porque
consideramos completamente são ou belo o animal que o for em todas as suas
partes. E é pela mutação das qualidades simples, não susceptíveis de aumento,
senão segundo a intenção, quanto ao sujeito participante, que os hábitos podem
chegar o uma compleição mais perfeita.
Mas
abaixo trataremos desta questão relativamente às virtudes 8.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A grandeza corpórea também é susceptível de
duplo aumento. Um, por adição de um sujeito a outro, tal é o caso do aumento
dos seres vivos. Outro, só por intensidade, sem nenhuma adição, como se dá com
os corpos rarefeitos, segundo já se disse 9.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A causa que aumenta o hábito produz sempre um efeito no sujeito,
não porém uma nova forma. Leva porém o sujeito a participar mais perfeitamente
da forma preexistente, ou a ter mais ampla extensão.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O que ainda não é branco e que portanto ainda não tem essa forma,
é, em relação a ela, potencial, e por isso o agente causa, no sujeito, uma nova
forma. O que porém é menos quente ou branco não é potencial em relação à forma,
pois a tem atualizada, mas o é em relação ao modo perfeito de participação, o
que consegue pela acção do agente.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. Q. 52, a. 1.
2. I De generatione (lect.
XIII).
3. IV Physic. (lect. XIV).
4. Q. 52, a. 1.
5. VII Metaph. (lect. VIII).
6. Q. 52, a. 1.
7. Q. 52, a. 1.
8. Q. 66 a. 1.
9. IV Phys., lect. X,
XIV.
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