Art. 2 — Se certos hábitos
podem ser causados por algum acto.
(De Malo, q. 11.
a. 2 ad 4, 6, De Virtut., q. 1. a. 9).
O
segundo discute-se assim. — Parece que um hábito não pode ser causado por
nenhum acto.
1.
— Pois, o hábito é uma qualidade, como já se disse 1. Ora, toda
qualidade é causada num sujeito, enquanto este é susceptível de receber alguma
coisa. Ora, como o agente, por isso mesmo que é, não é receptivo, mas antes,
produtor, conclui-se que nenhum hábito pode nele ser gerado pelos seus próprios
actos.
2.
Demais — Aquilo em que alguma qualidade é causada move-se para essa qualidade,
como se vê claramente no que é aquecido ou resfriado. Ora, o que produz um acto
causador da qualidade, move, como claramente o deixa ver aquilo que aquece ou
resfria. Se portanto o hábito fosse causado num ser por um acto próprio deste,
resultaria que o mesmo ser seria motor e movido, ou, agente e paciente, o que é
impossível, como já se disse 2.
3.
Demais — Um efeito não pode ser mais nobre que a sua causa. Ora, o hábito é
mais nobre que o acto que o precede, o que se evidencia por torná-lo mais
nobre. Logo, o hábito não pode ser causado por um acto precedente.
Mas,
em contrário, o Filósofo ensina que os hábitos das virtudes e dos vícios são
causados pelos actos 3.
O agente inclui às vezes só o princípio activo do seu acto, assim, no fogo há
apenas o princípio activo do aquecimento. E, nenhum hábito de tal agente pode
ser causado pelo acto próprio do mesmo. Donde vem que os seres naturais não
podem acostumar-se ou desacostumar-se em relação a nada, como já se disse 4.
Certos
agentes, porém, incluem um princípio activo e passivo dos seus actos, como se
vê claramente nos actos humanos. Pois os actos da potência apetitiva procedem
dela, enquanto movida pela potência apreensiva representativa do objecto, e
ulteriormente, a potência intelectiva, quando raciocina sobre as conclusões,
implica, como princípio activo, uma proposição evidente. Donde, por meio de
tais actos, certos hábitos podem ser causados nos agentes, não certamente
quanto ao primeiro princípio activo, mas quanto ao princípio do acto que põe o
móvel em movimento. Pois, tudo o que recebe de fora a paixão e o movimento,
recebe a sua disposição do acto do agente. E por isso os actos multiplicados
geram uma certa qualidade na potência passiva e movida denominada hábito,
assim, os hábitos das virtudes morais são causados nas potências apetitivas,
enquanto movidas pela razão, e os hábitos das ciências são causados no
intelecto enquanto movido pelas proposições primeiras.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O agente como tal nada recebe, mas quando age
movido por outro, recebe algo do motor, e assim é causado o hábito.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Nada, em si mesmo, pode ser simultaneamente motor e movido, mas
nada impede possa um ser mover-se por si mesmo, em pontos de vista diversos,
como já se provou 5.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O acto que precede o hábito, enquanto proveniente de um princípio
activo, origina-se de um princípio mais nobre que o acto gerado. Assim a razão,
em si mesma, é princípio mais nobre que o hábito da virtude moral da potência
apetitiva, gerado por actos costumeiros, e o intelecto dos princípios é
princípio mais nobre que a ciência das conclusões.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. Q. 49, a. 1.
2. VII Phys. (lect. I).
3. II Ethic. (lect. 1).
4. II Ethic. (lect. I).
5. VIII Phys. (lect. VIII,
X).
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