12/11/2013

Tratado dos hábitos 12


Questão 51: Da causa dos hábitos quanto à geração deles.
Art. 2 — Se certos hábitos podem ser causados por algum acto.

(De Malo, q. 11. a. 2 ad 4, 6, De Virtut., q. 1. a. 9).

O segundo discute-se assim. — Parece que um hábito não pode ser causado por nenhum acto.

1. — Pois, o hábito é uma qualidade, como já se disse 1. Ora, toda qualidade é causada num sujeito, enquanto este é susceptível de receber alguma coisa. Ora, como o agente, por isso mesmo que é, não é receptivo, mas antes, produtor, conclui-se que nenhum hábito pode nele ser gerado pelos seus próprios actos.

2. Demais — Aquilo em que alguma qualidade é causada move-se para essa qualidade, como se vê claramente no que é aquecido ou resfriado. Ora, o que produz um acto causador da qualidade, move, como claramente o deixa ver aquilo que aquece ou resfria. Se portanto o hábito fosse causado num ser por um acto próprio deste, resultaria que o mesmo ser seria motor e movido, ou, agente e paciente, o que é impossível, como já se disse 2.

3. Demais — Um efeito não pode ser mais nobre que a sua causa. Ora, o hábito é mais nobre que o acto que o precede, o que se evidencia por torná-lo mais nobre. Logo, o hábito não pode ser causado por um acto precedente.

Mas, em contrário, o Filósofo ensina que os hábitos das virtudes e dos vícios são causados pelos actos 3.

O agente inclui às vezes só o princípio activo do seu acto, assim, no fogo há apenas o princípio activo do aquecimento. E, nenhum hábito de tal agente pode ser causado pelo acto próprio do mesmo. Donde vem que os seres naturais não podem acostumar-se ou desacostumar-se em relação a nada, como já se disse 4.

Certos agentes, porém, incluem um princípio activo e passivo dos seus actos, como se vê claramente nos actos humanos. Pois os actos da potência apetitiva procedem dela, enquanto movida pela potência apreensiva representativa do objecto, e ulteriormente, a potência intelectiva, quando raciocina sobre as conclusões, implica, como princípio activo, uma proposição evidente. Donde, por meio de tais actos, certos hábitos podem ser causados nos agentes, não certamente quanto ao primeiro princípio activo, mas quanto ao princípio do acto que põe o móvel em movimento. Pois, tudo o que recebe de fora a paixão e o movimento, recebe a sua disposição do acto do agente. E por isso os actos multiplicados geram uma certa qualidade na potência passiva e movida denominada hábito, assim, os hábitos das virtudes morais são causados nas potências apetitivas, enquanto movidas pela razão, e os hábitos das ciências são causados no intelecto enquanto movido pelas proposições primeiras.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O agente como tal nada recebe, mas quando age movido por outro, recebe algo do motor, e assim é causado o hábito.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nada, em si mesmo, pode ser simultaneamente motor e movido, mas nada impede possa um ser mover-se por si mesmo, em pontos de vista diversos, como já se provou 5.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O acto que precede o hábito, enquanto proveniente de um princípio activo, origina-se de um princípio mais nobre que o acto gerado. Assim a razão, em si mesma, é princípio mais nobre que o hábito da virtude moral da potência apetitiva, gerado por actos costumeiros, e o intelecto dos princípios é princípio mais nobre que a ciência das conclusões.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 49, a. 1.
2. VII Phys. (lect. I).
3. II Ethic. (lect. 1).
4. II Ethic. (lect. I).
5. VIII Phys. (lect. VIII, X).


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