A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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22
Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação. Era Inverno. 23 Jesus andava a
passear no templo, no pórtico de Salomão. 24 Rodearam-n'O os judeus e
disseram-Lhe: «Até quando nos manterás em suspenso? Se és o Messias, di-no-lo
claramente». 25 Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, e vós não Me credes. As
obras que faço em nome de Meu Pai, essas dão testemunho de Mim; 26 porém vós
não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. 27 As Minhas ovelhas ouvem a
Minha voz, e Eu conheço-as, e elas seguem-Me. 28 Eu dou-lhes a vida eterna;
elas jamais hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. 29 Meu Pai,
que Mas deu, é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá-las da mão de
Meu Pai. 30 Eu e o Pai somos um». 31 Os judeus, então, pegaram em pedras para O
apedrejarem. 32 Jesus disse-lhes: «Tenho-vos mostrado muitas obras boas que fiz
por virtude de Meu Pai; por qual destas obras Me apedrejais?». 33 Os judeus
responderam-Lhe: «Não é por causa de nenhuma obra boa que Te apedrejamos, mas
pela blasfémia, porque sendo homem, Te fazes Deus». 34 Jesus respondeu-lhes:
«Não está escrito na vossa Lei: “Eu disse: Vós sois deuses”? 35 Se ela chamou
deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode
ser anulada, 36 a Mim, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis:
Tu blasfemas!, por Eu ter dito: Sou Filho de Deus? 37 Se Eu não faço as obras
de Meu Pai, não Me acrediteis; 38 mas se as faço, mesmo que não queirais crer
em Mim, crede nas Minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está
em Mim, e Eu no Pai». 39 Então os judeus procuravam novamente prendê-l'O, mas
Ele escapou-Se das suas mãos. 40 Retirou-Se novamente para o outro lado do
Jordão, para o lugar em que João tinha começado a baptizar; e ficou lá. 41
Foram muitos ter com Ele e diziam: «João não fez nenhum milagre, 42 mas tudo o
que disse d'Este era verdade». E muitos acreditaram n'Ele.
VIDA
CAPÍTULO
31.
Trata de algumas tentações
exteriores e representações que lhe fazia o demónio e tormentos que lhe dava.
Diz também algumas coisas muito boas para aviso de pessoas que vão a caminho da
perfeição.
1. Já que tenho dito de
algumas tentações e perturbações interiores e secretas que o demónio me
causava, quero tratar agora de outras que me fazia, quase públicas, em que não
se podia ignorar que era ele.
2. Estava eu uma vez num
oratório e apareceu-me para o lado esquerdo, em figura abominável; em especial
reparei na boca, porque me falou e a tinha horrenda. Parece-me que lhe saía do
corpo uma grande chama, que era toda clara, sem sombra. Disse-me de modo
terrível que eu bem me tinha libertado de suas mãos, mas que ele me faria
voltar a elas. Tive grande temor e benzi-me como pude; desapareceu e voltou
logo. Por duas vezes me aconteceu isto. Eu não sabia que fazer de mim; tinha
ali água benta e lancei-a para aquele lado e nunca mais voltou.
3. Outra vez esteve cinco
horas atormentando-me com tão terríveis dores e desassossego interior e
exterior, que julgo que mais já não se podia sofrer. As que estavam comigo
estavam espantadas e não sabiam que fazer, nem eu de que me valer. Tenho por
costume, quando as dores e o mal corporal são muito intoleráveis, fazer actos
interiores conforme posso, suplicando ao Senhor que, se disso for servido, Sua
Majestade me dê paciência e permaneça eu assim até ao fim do mundo.
Desta vez, como vi tanto
rigor no padecer, remediava-me com estes actos e determinações para o poder
sofrer. Quis o Senhor que eu entendesse como era o demónio, porque vi ao pé de
mim um negrito muito abominável, raivando como desesperado porque perdia onde
pretendia ganhar. Eu, quando o vi, ri-me e não tive medo. Estavam ali algumas
irmãs comigo que não me podiam valer nem sabiam que remédio dar a tanto
tormento. É que eram grandes as pancadas que o demónio me fazia dar com o corpo
e cabeça e braços, sem eu poder opor resistência e o pior era o desassossego
interior, que, de nenhum modo, podia ter sossego. Não ousava pedir água benta
para não causar medo às irmãs e para que não entendessem o que era.
4. De muitas outras vezes
tenho experiência que não há coisa de que eles fujam mais para não voltar. Da
cruz também fogem, mas voltam. Deve ser grande a virtude da água benta e para
mim é particular e muito conhecida a consolação que sente a minha alma quando a
tomo. É certo que o mais habitual é sentir uma consolação, que eu não a saberia
dar a entender; é como um deleite interior que me conforta toda a alma. Isto
não é capricho, nem coisa que me tenha acontecido uma só vez, senão muitíssimas
e visto com muita advertência. Digamos que é como se alguém estivesse com muito
calor e sede e bebesse um jarro de água fria, que parece todo ele sentiu
refrigério. Considero eu que grande coisa é tudo o que está ordenado, pela Igreja
e consolo-me muito de ver que tenham tanta força aquelas palavras que assim a
comunicam à água, para que seja tão grande a diferença que faz da que não é
benta.
5. Pois, como não cessasse
o tormento, disse: se não se rissem, pediria água benta. Trouxeram-ma e
lançaram-na sobre mim e não surtiu efeito. Lancei-a para onde estava o demónio
e, no mesmo instante, ele se foi, e se me tirou todo o mal, como se com a mão
mo tirassem. Apenas fiquei cansada como se me tivessem dado muitas pancadas.
Fez-me grande proveito ver que, não sendo ainda dele uma alma e um corpo, lhes
faz tanto mal quando o Senhor lhe dá licença, que será, pois, quando ele os
possuir como coisa sua? Deu-me de novo vontade de me livrar de tão ruim
companhia.
6. Outra vez, ainda há
pouco, aconteceu-me o mesmo, mas não durou tanto, e eu estava só. Pedi água
benta às que entraram depois de já eles se terem ido e sentiram um cheiro muito
mau como de pedra de enxofre. Eram duas freiras e é bem de crer que, por caso
nenhum, diriam mentira. Eu não o senti; durou de maneira a poder-se aperceber
bem disto.
Outra vez estava no coro e
deu-me um grande ímpeto de recolhimento: saí dali para que não o percebessem.
Porém, todas as que estavam ali perto, ouviram dar pancadas grandes onde eu
estava; e ao pé de mim, eu ouvi falar como que combinando alguma coisa, embora
não entendesse o quê. Era fala grossa, mas estava tão em oração que não entendi
coisa alguma, nem tive nenhum medo. Era isto quase de cada vez que o Senhor me
fazia mercê de que, por minha persuasão, se aproveitasse alguma alma.
E é certo que me aconteceu
o que agora direi. E disto há muitas testemunhas, em especial quem agora me
confessa que o viu escrito numa carta e, sem dizer-lhe eu de: quem era a carta,
ele bem sabia de quem se tratava.
7. Veio, pois, ter comigo
uma pessoa que havia dois anos e meio estava num pecado mortal dos mais
abomináveis que tenho ouvido e em todo este tempo nem o confessava, nem se
emendava e dizia Missa. E embora confessasse outros, este, dizia, não havia de
confessar coisa tão feia. E tinha grande desejo de sair dele e não se podia
vencer a si mesmo. A mim fez-me grande lástima; e ver que se ofendia a Deus de
tal maneira deu-me muita pena. Prometi-lhe suplicar muito a Deus lhe pusesse
remédio e fazer com que outras pessoas Lho pedissem, pois eram melhores do que
eu. Escrevia-lhe por intermédio de certa pessoa a quem ele me disse que podia
dar as cartas. E é assim que à primeira se confessou. Pois quis Deus (pelas
muitas pessoas muito santas que Lho tinham suplicado, e às quais eu o tinha
encomendado) usar para com esta alma de misericórdia, e eu, embora miserável,
fazia o que podia, tomando-o muito a meu cuidado.
Escreveu-me que estava já
com tanta melhoria, que havia dias que não caía nele; mas era tão grande o
tormento que lhe dava a tentação que lhe parecia estar no inferno segundo o que
padecia. Que o encomendasse a Deus. Eu tornei a pedir a minhas irmãs, por cujas
orações devia o Senhor fazer-me esta mercê, que o tomaram muito a peito. Era
pessoa que ninguém podia atinar quem era. Eu supliquei a Sua Majestade que se
aplacassem aqueles tormentos e tentações e viessem contra mim aqueles demónios
a atormentarem-me, conquanto eu não ofendesse em nada ao Senhor. E assim passei
um mês de grandíssimos tormentos; então é que sucederam estas duas coisas que
disse.
8. Foi o Senhor servido
que eles o deixassem; assim mo escreveram, porque lhe disse o que eu sofri
nesse mês. Cobrou forças sua alma e ficou de todo livre, e não se fartava de
dar graças ao Senhor e a mim, como se eu tivesse feito alguma coisa, mas
aproveitava-lhe o crédito que já tinha que o Senhor me fazia mercês. Dizia que,
quando se via em muito apuro, lia as minhas cartas e se lhe tirava a, tentação
e estava muito espantado do que eu tinha padecido e como ele se tinha livrado.
E até eu me espantei e o sofreria outros muitos anos para ver aquela alma
livre. Seja louvado por tudo o Senhor, que muito pode a oração dos que O
servem, como eu creio que o fazem nesta casa estas irmãs. Como era eu, no
entanto, quem nisto se empenhava, deviam os demónios indignar-sé mais comigo e
o Senhor, por meus pecados, o permitia.
9. Neste tempo também
julguei, uma noite, que me estrangulavam. As que estavam ali deitaram muita
água benta, e vi uma grande multidão deles fugir como quem se vai despenhando.
São tantas as vezes que estes malditos me atormentam, e tão pouco o medo que eu
lhes tenho, por ver que nem se podem mexer, se o Senhor lhes não dá licença que
cansaria a V Mercê e me cansaria a mim se eu lhas dissesse.
10. O que fica dito
aproveite ao verdadeiro servo de Deus para fazer pouco caso destes espantalhos
que os demónios armam para fazer temer. Saibam que, de cada vez que deles pouco
se nos dá, ficam com menos força e a alma muito mais senhora. Disto sempre nos
fica algum proveito bem grande que, para não me alongar, não digo.
Só direi isto que me
aconteceu numa noite de Finados. Estando eu num oratório, e tendo rezado um
nocturno e dizendo umas orações - que estão no fim do nosso Breviário e são
muito devotas -, se me pôs um demónio sobre o livro para que eu não acabasse a
oração. Eu benzi-me e ele desapareceu. Tornando eu a começar, voltou; creio que
foram três vezes as que a comecei, e, enquanto lhe não deitei água benta, não
pude acabar. E, no mesmo instante, vi que saíram algumas almas do purgatório, às
quais devia faltar pouco, e pensei que era isto o que o demónio pretendia
estorvar.
Poucas vezes o tenho visto
tomando forma corporal e muitas sem forma nenhuma, como na visão em que, sem
forma, se vê claramente que está ali, como tenho dito.
11. Quero também dizer
isto, porque me espantou muito: estando um dia da Santíssima Trindade no coro
de certo mosteiro e em arroubamento, vi uma grande contenda de demónios contra
anjos. Não podia eu entender o que queria dizer aquela visão. Antes de quinze
dias percebeu-se bem, por certa desavença que houve entre gente de oração e
muitos que o não eram, e dela veio não pouco dano à casa onde isto se deu. Foi
contenda que durou muito e de grande desassossego.
Outras vezes vi uma grande
multidão deles, em redor de mim e parecia-me haver uma grande claridade que me
cercava toda e esta não lhes consentia chegar a mim. Entendi que me guardava
Deus para que se não aproximassem de mim de maneira a que me fizessem ofendê-
Lo. Pelo que tenho visto em mim algumas vezes, entendi que era verdadeira a
visão.
O caso é que tenho
entendido o seu pouco poder, se eu mesma não for contra Deus, que quase nenhum
temor lhes tenho. É porque são nenhumas as suas forças se não vêem almas
rendidas a eles e cobardes, que aqui mostram eles o seu poder.
Algumas vezes; nas
tentações de que já falei, parecia-me que todas as vaidades e fraquezas dos
tempos passados tornavam a despertarem mim, e tinha de me encomendar bem a
Deus. E logo era o tormento de me parecer, pois me vinham aqueles pensamentos,
que tudo em mim devia ser do demónio, até que me sossegava ó confessor. É que,
nem até ó primeiro movimente de mau pensamento, julgava eu, havia de ter quem
tantas a mercês recebia do Senhor.
12. Outras vezes me
atormentava muito, e ainda agora me atormenta, ver que se faz, muito caso de
mim, em especial pessoas principais, e que de mim diziam muito bem. Nisto tenho
padecido e padeço muito. Olho logo para a vida de Cristo e dos santos, e
parece-me que vou ao revés; pois eles não iam senão por caminho de desprezos e
injúrias. Isto faz-me andar temerosa e quase não ouso levantar a cabeça, nem
quereria aparecer; o que não faço quando tenho perseguições, porque anda a alma
tão senhora, embora o corpo o sinta, e eu por outra parte ande aflita, que não sei
como isto pode ser. Mas é assim, pois a alma parece então estar em seu reino e
que traz tudo debaixo dos pés.
Dava-me algumas vezes e
durava-me muitos dias. Parecia-me, por um lado, ser virtude e humildade, mas
agora vejo claramente que era tentação. Um frade dominicano, grande letrado, mo
declarou bem. Quando pensava que estas mercês que o Senhor me faz se viriam a
saber em público, era tão excessivo o tormento, que me inquietava muito a alma.
Chegou a termos que, considerando-o, parece-me que da melhor vontade me
determinava a ser enterrada viva do que a isto. Assim, quando me começaram
estes grandes recolhimentos ou arrombamentos sem lhes poder resistir, mesmo em
público, ficava depois tão corrida de vergonha que não quisera aparecer onde
alguém me visse.
13. Estando uma vez muito
aflita com isto, perguntou-me o Senhor: por que temia, pois nisto não podia
haver senão duas coisas: ou murmurarem de mim ou louvarem-n'O a Ele, dando a
entender que, aqueles que acreditavam, O louvariam, e os que não criam, condenar-me-iam
sem culpa. Ambas as coisas eram lucro para mim; que não me afligisse. Muito me
sossegou isto e consola ainda quando me lembro.
Chegou a termos a tentação
de, eu me querer ir deste lugar e dotar-me noutro mosteiro muito mais encerrado
que aquele em que ao tempo estava, e do qual tinha ouvido dizer muitos
extremos. Era também da minha Ordem e muito longe, que isso era o que a mim me
consolava, estar onde não me conhecessem, mas nunca o meu confessor me deixou.
santa
teresa de jesus
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