A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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52 Disputavam, então, entre si os
judeus: «Como pode Este dar-nos a comer a Sua carne?». 53 Jesus
disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho
do Homem e não beberdes o Seu sangue não tereis a vida em vós. 54
Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o
ressuscitarei no último dia. 55 Porque a Minha carne é
verdadeiramente comida e o Meu sangue verdadeiramente bebida. 56
Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. 57
Assim como Me enviou o Pai que vive e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me comer a
Mim, esse mesmo também viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu do
céu. Não é como o pão que comeram os vossos pais, e morreram. Quem come deste
pão viverá eternamente». 59 Jesus disse estas coisas ensinando em
Cafarnaum, na sinagoga. 60 Muitos dos Seus discípulos ouvindo isto,
disseram: «Dura é esta linguagem! Quem a pode ouvir?». 61 Jesus,
conhecendo em Si mesmo que os Seus discípulos murmuravam por isto, disse-lhes:
«Isto escandaliza-vos? 62 Que será quando virdes subir o Filho do
Homem para onde estava antes? 63 É o Espírito que vivifica; a carne
para nada aproveita. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. 64
Mas há alguns de vós que não crêem». Com efeito Jesus sabia desde o princípio
quais eram os que não acreditavam, e quem havia de O entregar. 65
Depois acrescentou: «Por isso Eu vos disse que ninguém pode vir a Mim se não
lhe for concedido por Meu Pai». 66 Desde então muitos dos Seus
discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. 67 Por isso Jesus
disse aos doze: «Também vós quereis retirar-vos?». 68 Simão Pedro
respondeu-Lhe: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida
eterna. 69 E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus». 70
Jesus replicou: «Não fui Eu que vos escolhi a vós, os doze? E, contudo, um de
vós é um demónio». 71 Falava de Judas, filho de Simão Iscariotes,
porque era este que O havia de entregar, não obstante ser um dos doze.
VIDA
CAPÍTULO
24.
Prossegue o mesmo assunto
e diz como foi progredindo a sua alma, depois que começou a obedecer e o pouco
que lhe aproveitava resistir às mercês de Deus e como Sua Majestade lhas ia
fazendo maiores.
1. Ficou minha alma tão
branda desta confissão, que parecia não havia coisa a que não me dispusesse; e
assim comecei a mudar em muitas coisas, ainda que o confessor não apertasse
comigo, antes parecia fazer pouco caso de tudo. Com isto movia-me mais, porque
me levava por via de amar a Deus e como quem me deixava libertada e não me
constrangia, se à isto me não pusesse por amor.
Estive assim quase dois
meses, pondo todo o meu esforço em resistir aos regalos e mercês de Deus.
Quanto ao exterior, via-se a mudança, porque já o Senhor começava a dar-me
ânimo para passar por algumas coisas que pareciam exageros como diziam pessoas
que me conheciam e até as da mesma casa. E do que eu antes fazia, tinham razão,
que era em extremo; mas, naquilo a que era obrigada pelo hábito e profissão que
tinha, ficava muito aquém.
2. Lucrei, deste resistir
a gostos e regalos de Deus, o ensinar-me Sua Majestade; porque antes eu julgava
que, para Ele me dar regalos na oração, era preciso muito retiro e quase não
ousava bulir. Vi depois o pouco que isso fazia ao caso; porque, quanto mais procurava
distrair-me, mais me cobria o Senhor daquela suavidade e glória que parecia me
rodeava toda e que por nenhuma parte poderia fugir e assim era. Tinha eu tanto
cuidado, que me causava pesar. O Senhor tinha-o maior para me fazer mercês e em
assinalar a Sua acção muito mais do que costumava, nestes dois meses, para que
eu melhor entendesse que mais não estava em minha mão. Comecei a sentir de novo
amor à Sacratíssima Humanidade. Começou-se a assentar a oração como edifício
que já tinha alicerce e eu a afeiçoar-me a mais penitência, de que andava
descuidada por serem tão grandes minhas enfermidades. Disse-me aquele varão
santo que me confessou, que algumas coisas não me poderiam fazer mal.
Porventura me dava Deus tanto mal porque, como eu não fazia penitência,
queria-ma dar Sua Majestade. Mandava-me fazer algumas mortificações não muito
saborosas para mim. Tudo fazia, porque me parecia que mo mandava o Senhor, e
dava-lhe graça para que mo mandasse de maneira a que eu lhe obedecesse. Minha
alma ia já sentindo qualquer ofensa que fizesse a Deus, por pequena que fosse,
de maneira que, se tinha alguma coisa supérflua, não podia descansar até que a
eliminasse. Fazia muita oração para que Deus me tivesse de Sua mão; pois tratava
com Seus servos, não permitisse que voltasse atrás, o que me parecia fora
grande delito, e eles perderem crédito por mim.
3. Neste tempo veio a este
lugar o Padre Francisco, que era duque de Gandia e havia já alguns anos que,
deixando tudo, entrara na Companhia de Jesus. Procurou o meu confessor, e o
cavaleiro que tenho dito - e também me vinha ver - que eu lhe falasse e desse
conta da oração que tinha, pois sabia que ele ia muito adiante em ser muito
favorecido e regalado por Deus; como a quem tinha deixado muito por Ele, já
nesta vida lho pagava. Assim, depois de me ter ouvido, disse-me que era
espírito de Deus e lhe parecia já não era bem resistir-Lhe mais. Até então
havia sido bem feito, mas que começasse sempre a oração por um passo da Paixão
e, se depois o Senhor me levasse o espírito, Lhe não resistisse, mas o deixasse
levar a Sua Majestade, não o procurando eu. Como quem ia bem adiante, deu o
remédio e o conselho, pois fazia nisto muito a experiência. Disse que já era
erro o resistir mais. Eu fiquei muito consolada e o cavaleiro também;
alegrou-se muito com que dissesse que era espírito de Deus e sempre me ajudava
e dava conselhos no que podia, que era muito.
4. Neste tempo mudaram o
meu confessor deste para outro lugar, o que eu senti mui muito, porque pensei
havia de voltar a ser ruim e não me parecia possível achar outro como ele.
Ficou a minha alma como num deserto, muito desconsolada e temerosa. Não sabia
que fazer de mim. Uma parenta minha tratou de me levar para sua casa e logo
cuidei de procurar outro confessor nos da Companhia. Foi o Senhor servido que
eu começasse a tomar amizade com uma senhora viúva, de muita qualidade e
oração, que tratava muito com eles. Fez-me confessar a seu confessor e estive
em sua casa muitos dias; vivia ali perto. Eu consolava-me por tratar muito com
eles porque, só de entender a santidade de seu trato, era grande o proveito que
a minha alma sentia.
5. Este Padre começou a
pôr-me em maior perfeição. Dizia-me que, para de todo contentar a Deus, não
havia de deixar nada por fazer; também com muita prudência e brandura, porque
não estava ainda a minha alma nada forte, mas sim muito tenra, em especial em
deixar algumas amizades que tinha. Embora não ofendesse a Deus com elas, era
muita a afeição e parecia-me a mim que era ingratidão deixá-las e assim dizia-lhe
que, pois não ofendia a Deus, porque havia eu de ser desagradecida. Disse-me
que encomendasse o caso a Deus por alguns dias e rezasse o hino Veni Creator
para que me inspirasse naquilo que era o melhor. Tendo estado um dia muito em
oração e suplicado ao Senhor que me ajudasse a contentá-Lo em tudo, comecei o
hino; e estando-o a dizer, veio-me um arroubamento tão súbito que quase me
tirou de mim, coisa de que eu não pude duvidar, por que foi muito claro. Foi a
primeira vez que o Senhor me fez esta mercê de arrobamentos Compreendi estas
palavras: já não quero que tenhas conversações com homens, senão com anjos. A
mim me causou isto muito espanto, porque o movimento da alma foi grande e muito
em espírito me foram ditas estas palavras e assim atemorizei-me, embora, por
outra parte, me desse grande consolo, o qual me ficou depois de sossegar. A meu
parecer, isso foi causado pela novidade.
6. Isto tem-se cumprido
bem, pois nunca mais tenho podido assentarem amizade, nem ter consolação, nem
amor particular, senão a pessoas que percebo que o têm a Deus e O procuram
servir. Se não entendo isto, ou que é pessoa que trata de oração, é para mim
cruz penosa tratar com alguém. Nem isso está na minha mão, nem faz ao caso
serem parentes ou amigos. Isto é assim sem dúvida, segundo o meu parecer.
7. Desde aquele dia fiquei
tão animosa para deixar tudo por Deus, como se Ele, naquele momento - não me
parece ter sido mais - quisesse deixar outra a Sua serva. Assim, não foi
necessário que mo tornassem a mandar; porque o confessor, como me via tão
apegada a isto, não tinha ousado dizer determinadamente que o fizesse. Devia
estar aguardando que o Senhor operasse, como o fez. Nem pensei podê-lo
conseguir, porque já eu mesma o tinha tentado, mas era tanta a pena que me dava
que, como coisa em que me parecia não haver inconveniente, o deixava. Aqui já
me deu o Senhor liberdade e força para o pôr por obra. Assim o disse ao
confessor e deixei tudo, conforme me mandou. Fez não pouco proveito à pessoa
com quem eu tratava, verem mim esta determinação.
8. Seja Deus bendito para
sempre que, num momento, me deu a liberdade que eu, com todas as diligências
quantas tinha feito em muitos anos, não tinha podido alcançar por mim; ainda
que fazendo muitas vezes tão grande esforço, que me prejudicava à saúde. Como
foi feito por Quem é poderoso e Senhor verdadeiro de tudo, nenhuma pena me
causou.
CAPÍTULO
25.
Trata da maneira como se entendem estas falas que Deus faz à alma, sem se
ouvirem, e de alguns enganos que pode haver nisso e em que se conhecerá quando
é engano. É muito proveitoso para quem se encontrar neste grau de oração,
porque é muito bem explicado e de grande doutrina.
1. Parece-me que será bom
declarar como é este falar de Deus à alma e o que ela sente, para que V. Mercê
o entenda? Porque, desde esta vez que disse, em que o Senhor me fez esta mercê,
até agora, tem sido muito frequente, como se verá no que está por dizer.
São umas palavras muito
bem articuladas, mas que não se ouvem com os ouvidos corporais, e se entendem
muito mais claramente que se se ouvissem. Deixar de ó entender, por mais que se
resista, é impossível. Cá na terra, quando não queremos ouvir, podemos tapar os
ouvidos ou prestar atenção a outra coisa, de modo a que, embora se oiça, não se
perceba. Nestas práticas, porém, que Deus faz à alma, não há nenhum remédio,
porque, embora me pese, me fazem escutar e estar o entendimento tão atento para
compreender aquilo que Deus quer que entendamos, que não há querer ou deixar de
querer. Aquele que tudo pode, quer que entendamos que se há-de fazer o que Ele
quer, e mostra-Se verdadeiro Senhor nosso. Isto tenho eu experimentado muito,
porque andei quase dois anos resistindo, pelo grande medo que trazia, e ainda
agora tento fazê-lo algumas vezes, mas de pouco me aproveita:
2. Quisera eu declarar os
enganos que pode aqui haver, (ainda que, para quem tenha muita experiência,
julgo que serão poucos ou nenhum; mas esta experiência há-de ser muita) e a
diferença que há, de quando o espírito é bom ou mau, ou como também pode ser
apreensão do mesmo entendimento - o que poderia acontecer - ou falar o mesmo
espírito a si mesmo. Isto não sei se pode ser, mas ainda hoje me pareceu que
sim.
Quando é obra de Deus,
tenho bem provado que, em muitas coisas que. se me diziam dois ou três anos
antes, todas se têm cumprido, e até agora nenhuma tem saído mentira; e outras
coisas onde se vê claramente ser espírito de Deus, como depois se dirá.
3. Parece-me a mim que,
estando uma pessoa a encomendar uma coisa a Deus, com grande afecto e
preocupação, poderá afigurar-se-lhe que percebe alguma coisa, se isso se fará
ou não, e isto é muito possível. Embora quem tenha entendido desta outra
maneira, verá claramente o que é, porque é muita a diferença. Se é coisa
fabricada pelo entendimento, por muito subtil que seja, ele entende que é ele
quem ordena algo e quem fala. O que não é outra coisa senão alguém estar a
compor o que há-de dizer ou a escutar o que outro lhe diz, e verá o
entendimento, que então não escuta, pois que actua; e as palavras que ele assim
fabrica são como coisa surda, fantasiada, e não têm a claridade destas outras.
Aqui está na nossa mão tanto o distrair-nos como calar quando falamos; neste
não há meio.
E outro sinal, maior que
todos, é que estas falas do entendimento não operam. Esta outra que diz o
Senhor, são palavras e obras. Mesmo que as palavras não infundam devoção, mas
repreensão, logo à primeira dispõem uma alma e a habilitam, enternecem, dão
luz, regalam e aquietam. E se a alma estava com aridez ou alvoroço ou
desassossego de alma como com a mão lho tira; ainda melhor: dir-se-ia que o
Senhor quer que se entenda que é poderoso e que Suas palavras são obras.
4. Parece-me que esta
diferença é, nem mais nem menos como a que há quando falamos ou ouvimos. Porque
o que eu falo, como já disse, eu o vou ordenando com o entendimento; mas se me
falam, não faço mais que ouvir sem nenhum trabalho. No primeiro caso é como uma
coisa que nós não podemos bem deter minar se é ou não, é como alguém que está
meio adormecido; no outro é voz tão clara, que não se perde uma silaba do que se
ouve dizer. E acontece ser em momentos em que o entendimento e a alma estão tão
alvorotados e distraídos, que não acertariam a ajustar uma boa razão e, no que
lhe dizem encontram cozinhadas grandes sentenças que ela, mesmo estando muito
recolhida, não poderia alcançar e, à primeira palavra, como digo, de todo a
mudam. Especialmente no arroubamento, em que as potências estão suspensas, como
se entenderão coisas que antes não tinham ainda vindo à memória? Como virão
então, se quase não opera, e a imaginação está como embevecida?
5. Advirta-se que quando
se vêem visões ou quando se ouvem estas palavras, nunca é - a meu parecer -
enquanto a alma está unida no mesmo arroubamento; porque então, como já deixei
declarado, creio que na segunda água, de todo se perdem todas as potências e,
segundo me parece, ali nem se pode ver, nem entender, nem ouvir. Está toda ela
debaixo de outro poder, e neste tempo, que é muito breve, não me parece que o
Senhor lhe deixe liberdade para nada. Passado este breve tempo, em que a alma
fica ainda em arroubamento, é que se dá isto que digo; porque ficam as
potências de modo que, embora não estejam perdidas, quase nada operam; estão
como absortas e incapazes de concertar razões. E há tantas para se perceber a diferença
entre umas e outras que, se alguma vez se engana, não serão muitas.
santa
teresa de jesus
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