09/10/2013

Quantos Cristos rejeitados!

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Mais de 200 pessoas afogadas ao largo de Lampedusa!
Escrevo pessoas, e não emigrantes, para que percebamos bem que aqueles que pereceram são pessoas!
Pessoas como nós, pessoas que para nós, cristãos, são “à imagem e semelhança de Deus”!
São, têm que ser para nós, a face do Cristo Sofredor, que nelas tão bem representa a dor da rejeição, a dor que devia incomodar aqueles que não querem ser incomodados, (nos quais me incluo tantas vezes).
Claro que não queremos ser incomodados!
Pois se ao lado destas notícias sobre aqueles que morrem à procura da migalha de pão, se encontram as notícias daqueles que vivem na opulência, que têm ordenados multimilionários, a gerir isto ou aquilo, a “fazer” arte e músicas de gosto duvidoso, a dar chutos numa bola ou em tantos outros desportos, a receber reformas chorudas por escassos anos de trabalho, notícias que transmitem sempre a miragem de uma vida edílica, como podemos nós deixarmo-nos incomodar?
Claro que não queremos ser incomodados!
O assunto não é connosco! É com o Estado, com os Estados, porque esses é que devem tomar conta dos cidadãos, esses é que devem prover às suas necessidades. Nós nada temos a ver com isso. São emigrantes! É mais fácil assim! Dito assim nem parece que são pessoas!
Claro que não queremos ser incomodados!
Como não queremos ser incomodados com essa coisa do aborto! Até lhe chamamos “interrupção voluntária da gravidez”, porque é assim uma coisa mais “inócua”, uma coisa que não incomoda tanto.
Aliás, até parece dito assim, que não estamos a falar de vidas humanas, mas de umas “coisas” que, para nosso “descanso”, não vale a pena definir bem, não se vão incomodar as nossas consciências.
São mais outros tantos milhões de Cristos, rejeitados mesmo antes de poderem esboçar um sequer gesto de defesa!
Afinal, se me colocar presente nos momentos da Tua Paixão, Senhor, tenho que reconhecer que estou bastante mais no meio da multidão que grita “crucifica-O”, do que perto daqueles que se colocam prostrados junto à Tua Cruz.
Sinto-me tão pecador, tão pequeno, tão nada, perante a tragédia de um mundo que Te renega, que se afasta de Ti, e que por isso mesmo, cada vez mais leva os homens a olharem apenas para os “seus umbigos”, para as suas conveniências, para os seus prazeres, e assim se vão autodestruindo, porque onde não há amor, só pode reinar a dor.
Quando é que me acordas deste torpor, Senhor?
Quando é que nos acordas deste viver sem sentido, de costas voltadas uns para os outros, sobretudo, de costas voltadas para Ti?
Vem depressa, Senhor, não demores, que o tempo urge!
Encontra, Senhor, no Teu infinito amor, na Tua eterna misericórdia, a razão para nos dares a mão, e mais uma vez pede por nós ao Pai, nesse Teu grito de alma toda entregue por nós: «Perdoa-lhes, Pai, que eles não sabem o que fazem!»
Monte Real, 8 de Outubro de 2013
Joaquim Mexia Alves
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