A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 6, 1-15
1 Depois disto, passou Jesus ao outro
lado do mar da Galileia, isto é, de Tiberíades. 2 Seguia-O uma
grande multidão porque via os milagres que fazia em favor dos doentes. 3
Jesus subiu a um monte e sentou-Se ali com os Seus discípulos. 4 Ora
a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. 5 Jesus, então, tendo
levantado os olhos e visto que vinha ter com Ele uma grande multidão, disse a
Filipe: «Onde compraremos pão para dar de comer a esta gente?». 6
Dizia isto para o experimentar, porque sabia o que havia de fazer. 7
Filipe respondeu-Lhe: «Duzentos denários de pão não bastam para que cada um
receba um pequeno bocado». 8 Um de Seus discípulos, André, irmão de
Simão Pedro, disse-Lhe: 9 «Está aqui um rapaz que tem cinco pães de
cevada e dois peixes, mas que é isso para tanta gente?». 10 Jesus,
porém, disse: «Mandai sentar essa gente». Havia naquele lugar muita relva.
Sentaram-se, pois; os homens em número de cerca de cinco mil. 11
Tomou, então, Jesus os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre os que
estavam sentados; e igualmente distribuiu os peixes, tanto quanto quiseram. 12
Estando saciados, disse aos Seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram
para que nada se perca». 13 Eles os recolheram, e encheram doze
cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que tinham comido.
14 Vendo então aqueles homens o milagre que Jesus fizera, diziam:
«Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo». 15 Jesus,
sabendo que O viriam arrebatar para O fazerem rei, retirou-Se de novo, Ele só,
para o monte.
VIDA
CAPÍTULO
21.
8. São, pois, estes os
efeitos que realizam os arroubamentos quando são do espírito de Deus. Verdade é
que há mais e menos. Digo menos, porque no princípio, embora cause estes
efeitos, não estão experimentados com obras e assim não se pode entender que os
têm. Também vai crescendo a alma em perfeição, procurando que não haja memória
de teia de aranha e isto requer algum tempo. E quanto mais crescem nela o amor
e a humildade, maior cheiro exalam de si estas flores de virtudes, para ela e
para os outros.
Verdade é que, num rapto
destes, o Senhor pode operar de maneira a que fique à alma pouco trabalho em
adquirir a perfeição. Ninguém poderá mesmo acreditar, se não o tiver
experimentado, o que o Senhor dá aqui; não há - a meu parecer - diligência
nossa que a isso tanto possa chegar. Não digo que, com o favor do Senhor,
trabalhando a alma durante muitos anos e servindo-se dos meios que descrevem os
que têm escrito sobre oração, seus princípios e meios, não cheguem à perfeição
e a muito desapego com grande custo. Mas não será, porém, em tão breve tempo
nem sem nenhum esforço da nossa parte, como obra aqui o Senhor, pois
determinadamente tira a alma da terra e lhe dá senhorio sobre quanto nela há, e
isto ainda que nesta alma não haja mais merecimentos que havia na minha, o que
sem encarecimento posso dizer, não era quase nenhum.
9. O motivo pelo qual o
faz Sua Majestade, é porque quer, e fá-lo como quer, e ainda que não haja na
alma disposição, dispõe-na para receber o bem que Sua Majestade lhe dá. Assim,
nem sempre concede suas mercês por as terem merecido, cultivando bem o horto,
embora esteja muito certo que, a quem faz isto bem e procura desapegar-se, não
deixe Sua Majestade de regalar. É, porém, de Sua vontade mostrar algumas vezes
Sua grandeza na terra que é mais ruim, como tenho dito, e dispõe-na para todo o
bem, de maneira que pareça, em certo modo, que já não é livre para voltar a
viver com ofensas a Deus, como costumava. Tem o pensamento tão habituado em
entender o que é verdadeira verdade, que tudo o mais lhe parece jogo de
meninos. Ri-se consigo mesma algumas vezes, quando vê pessoas sérias, de oração
e religião, fazer muito caso duns pontos de honra que esta alma tem já debaixo
dos pés. Dizem que é discrição e autoridade do seu estado para maior proveito.
Sabe ela, no entanto, muito bem que mais aproveitaria num só dia em que
pospusesse aquela autoridade por amor de Deus, que, com ela, em dez anos.
10. Assim vive esta alma
vida trabalhosa e sempre com cruz, mas vaiem grande aumento. Quando se dá a
conhecer aos que, com ela tratam, vêm que está lá muito no cume; e dentro em
pouco estará muito mais melhorada, porque Deus a vai favorecendo sempre mais. É
alma sua, é Ele que a tem já a Seu cargo e assim a ilumina, dir-se-ia que com a
Sua assistência a está sempre guardando para que não O ofenda, e favorecendo e
despertando para que O sirva.
Chegando a minha alma a
ponto de que Deus lhe fizesse esta tão grande mercê, cessaram os meus males e o
Senhor deu-me fortaleza para sair deles. Já tanto se me dava estar metida nas
ocasiões e com pessoas que me costumavam distrair, como não. Antes, até me ajudava
o que me costumava causar dano. Tudo me era depois meio para conhecer melhor a
Deus e amá-Lo e ver o que Lhe devia e ter pesar do que eu havido sido.
11. Bem entendia eu que
aquilo não vinha de mim nem o tinha ganho com minhas diligências, pois não
tinha ainda havido tempo para isso. Sua Majestade havia-me dado fortaleza para
isso, só por Sua bondade.
Até agora, desde que o
Senhor me começou a fazer esta mercê destes arroubamentos, sempre tem vindo
crescendo esta fortaleza e Ele, por Sua bondade, tem metido de Sua mão para eu
não voltar atrás. Nem mesmo me parece - e assim é - que faço alguma coisa de
minha parte, senão que entendo claramente que o Senhor é O que opera.
E, por isto, me parece que
almas a quem o Senhor faz estas mercês, indo com humildade e temor, sempre
compreendendo que o Senhor mesmo é Quem o faz, e nós quase nada, se podem meter
entre qualquer gente. Por mais divertida e viciosa que seja, nada fará ao caso,
nem a moverá em nada; antes, como tenho dito, a ajudará e ser-lhe-á motivo para
tirar muito maior proveito. São já almas fortes que o Senhor escolhe para fazer
bem a outras, ainda que esta fortaleza não lhes venha delas. Pouco a pouco, em
chegando até aqui uma. alma, o Senhor vai-lhe comunicando segredos muito
grandes.
12. Aqui é que são as
verdadeiras revelações, êxtases e as grandes mercês e visões; e tudo contribui
para humilhar e fortalecer a alma e faz com que tenha em menos conta as coisas
desta vida e conheça mais claramente as grandezas do prémio que o Senhor tem
preparado para os que O servem.
Praza a Sua Majestade que
a grandíssima liberalidade que tem tido com esta miserável pecadora sirva, de
algum modo, para que se esforcem e animem os que isto lerem, a deixar tudo, de
todo em todo, por Deus. Pois, se tão cabalmente paga Sua Majestade que ainda
nesta vida se vê claramente o prémio e o lucro que têm os que O servem, que
será na outra?
CAPÍTULO
22.
Trata de quão seguro caminho é para os contemplativos não levantarem o espírito
a coisas altas se o Senhor o não levanta, e como a Humanidade de Cristo deve
ser caminho para chegar à mais alta contemplação. Fala dum engano em que andou
algum tempo. É muito proveitoso este capítulo.
1. Uma coisa quero dizer,
segundo julgo, importante; se parecer bem a V. Mercê, servirá de aviso, pois
poderá ser que lhe seja útil. Nalguns livros que tratam de oração, diz-se: que
embora a alma não possa por si chegar a este estado, porque tudo quanto o
Senhor opera nela é obra sobrenatural, ela poderá contudo ajudar-se, levantando
o espírito de tudo o criado e elevando-o com humildade, depois de ter andado
muitos anos pela via purgativa e aproveitado na iluminativa. Não sei bem porque
dizem iluminativa; julgo ser a dos que vão aproveitando.
E avisam muito nestes
livros que apartem de si toda a imaginação corpórea e se acheguem a contemplar
na Divindade; porque, segundo dizem, embora seja a Humanidade de Cristo,
embaraça ou impede, nos que vão já tão adiante, a mais perfeita contemplação.
Trazem, a este propósito,
o que o Senhor disse aos Apóstolos quando da vinda do Espírito Santo, digo,
quando subiu aos Céus. Parece-me a mim que, se eles tivessem então a fé que
tiveram depois da vinda do Espírito Santo e cressem que o Senhor era Deus e
Homem, não lhes seria impedimento - para a mais alta contemplação - o pensar na
Sagrada Humanidade; pois isto não foi dito à Mãe de Deus, ainda que O amasse
mais que todos.
É que a estes lhes parece
- como esta obra é toda espírito - que qualquer coisa corpórea a pode estorvar
ou impedir. E assim, o que se há-de procurar, é considerar que Deus está em
todas as partes e ver-se engolfado n' Ele.
Isto parece-me bem,
algumas vezes; mas apartar-se, de todo, de Cristo e fazer entrar na mesma conta
a este divino Corpo com as nossas misérias e com tudo o criado, não o posso
sofrer! Praza a Sua Majestade que eu me saiba dar a compreender.
2. Eu não o contradigo,
porque são letrados e espirituais e sabem o que dizem e, por muitos caminhos e
vias, leva Deus as almas. Como tem levado a minha é o que eu quero agora dizer,
e no perigo em que me vi por me querer conformar com o que lia, que no mais não
me intrometo. Creio bem que, quem chegar a ter união e não passar adiante -
digo, a arroubamentos e visões e outras mercês que Deus faz às almas - terá o
dito como o melhor, como eu fazia. Mas se eu me tivesse atido a isso, creio que
nunca teria chegado ao ponto em que estou presentemente. Pois, a meu parecer,
isto é engano; bem pode ser que seja eu a enganada; mas direi o que me
aconteceu.
3. Como eu não tinha
mestre, lia por estes livros, por onde, pensava eu, iria pouco a pouco
entendendo alguma coisa. Depois entendi que, se o Senhor não me ensinasse, eu
poderia depreender pouco dos livros, porque não era nada o que entendia até que
Sua Majestade mo dava a entender, por experiência, nem sabia o que fazia. E começando,
pois, a ter um pouco de oração sobrenatural - digo de quietude - procurava
desviar toda coisa corpórea, conquanto não ousasse ir levantando a alma, porque
- como fui sempre tão ruim - via que era atrevimento. Parecia-me, no entanto,
sentir a presença de Deus, e assim é, e procurava ficar-me recolhida com Ele. É
oração saborosa, se Deus ali ajuda, e o deleite é muito. E como vi aquele lucro
e aquele gosto, já não havia quem me fizesse voltar à Humanidade, pois que, de
facto, me parecia em verdade, que me era impedimento.
Oh! Senhor da minha alma e
meu Bem, Jesus Crucificado! Não me recordo vez alguma desta opinião que tive,
que não me dê pena e me pareça que Vos fiz uma grande traição, ainda que por
ignorância.
4. Tinha eu sido muito
devota de Cristo toda a minha vida. Porque isto foi já para o fim (digo no fim,
antes que o Senhor me fizesse estas mercês de arroubamentos e visões), e era-o
em tanto extremo que durou muito pouco o permanecer nesta opinião e assim
sempre eu voltava ao meu costume de folgar com este Senhor, em especial quando
comungava. Quisera eu sempre trazer diante dos olhos Seu retrato e imagem, já
que não podia trazê-Lo tão esculpido em minha alma como quisera. Será possível,
Senhor meu, que coubesse em meu pensamento - sequer, uma hora - que Vós me havíeis
de impedir um maior bem? De onde me vieram a mim todos os bens senão de Vós?
Não quero pensar que nisto
tivesse tido culpa porque me magoa muito. Decerto que era ignorância e assim
Vós quisestes, por Vossa bondade, remediá-lo, dando-me quem me tirasse deste
erro e que depois eu Vos visse tantas vezes - como adiante direi - para que
mais claramente entendesse quão grande era o erro e o dissesse a muitas
pessoas, como tenho feito e agora o escrevo aqui.
5. Tenho para mim que a
causa de muitas almas não aproveitarem mais e de não chegarem a uma muito
grande liberdade de espírito, quando chegam a ter oração de união, é por isto
mesmo. Julgo haver duas razões em que posso fundar a minha opinião; e bem pode
ser não diga nada, mas o que disser, tenho-o visto por experiência, pois se
encontrava muito mal a minha alma até o Senhor lhe dar luz; porque todos os
seus gozos eram como que a sorvos e, saindo deles, não se achava com a Sua
companhia, como depois a teve para os trabalhos e tentações.
Uma, é que há um tanto de
pouca humildade, tão solapada e escondida, que não se sente. E, quem será o
soberbo ou miserável, como eu, que embora houvesse trabalhado toda a sua vida
com quantas penitências e orações e perseguições se possam imaginar, não se dê
por muito rico e muito bem pago, quando o Senhor lhe consentir estar ao pé da
Cruz com S. João? Não sei em que juízo cabia não se contentar com isto, a não
ser no meu, que de todas as maneiras se perdia no que havia de ganhar.
6. Se todas as vezes - por
condição da natureza ou enfermidades - não se pode pensar na Paixão por ser
penoso, quem nos impede de estar com Ele depois de ressuscitado, pois tão perto
O temos no Sacramento, onde já está glorificado? E não O vemos tão fatigado e
feito em pedaços, escorrendo sangue, cansado pelos caminhos, perseguido
daqueles a quem fazia tanto bem, não acreditado pelos Apóstolos. Sim, porque,
certamente, nem há quem sofra o estar a pensar sempre em tantos trabalhos como
os que passou. Ei-Lo pois aqui sem dor, cheio de glória, esforçando a uns,
animando a outros, antes que subisse aos Céus, companheiro nosso no Santíssimo
Sacramento, que parece não estava na Sua mão apartar-se de nós um só momento! E
que tenha estado na minha o apartar-me eu de Vós, Senhor meu, para melhor Vos
servir!... Que, enfim, quando Vos ofendia não Vos conhecia... Mas que,
conhecendo-Vos, pensasse ganhar mais por este caminho! Oh! que mau caminho
levava, Senhor! Bem me parece que ia sem caminho, se Vós não me voltásseis a
pôr nele; pois vendo-Vos junto de mim, logo vi todos os bens. Não metem vindo
trabalho que, olhando-Vos a Vós, tal estivestes diante dos juízes, não se torne
fácil de sofrer. Com tão bom amigo presente, com tão esforçado capitão, que foi
o primeiro no padecer, tudo se pode sofrer. É ajuda e dá força; nunca falta; é
Amigo ver dadeiro. E vejo eu claramente e vi depois que, para contentar a Deus
e para Ele nos fazer grandes mercês, quer que seja por mãos desta Humanidade
Sacratíssima, na qual Sua Majestade disse que Se deleita. Muitas, muitas vezes
o tenho visto por experiência e tem-mo dito o Senhor. Tenho visto claramente
que por esta porta temos de entrar, se queremos que a soberana Majestade nos
mostre grandes segredos.
santa
teresa de jesus
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