A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 5, 17-47
17 Mas Jesus respondeu-lhes: «Meu Pai
não cessa de trabalhar, e Eu trabalho também». 18 Por isso, os
judeus procuravam com maior ardor matá-l'O, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era Seu Pai, fazendo-Se igual a Deus. Jesus
respondeu e disse-lhes: 19 «Em verdade, em verdade vos digo: O Filho
não pode por Si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer ao Pai;
porque tudo o que fizer o Pai o faz igualmente o Filho. 20 Porque o
Pai ama o Filho e mostra-Lhe tudo o que faz; e Lhe mostrará maiores obras do
que estas, até ao ponto de vós ficardes admirados. 21 Porque assim
como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida
àqueles que quer. 22 O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho o poder
de julgar 23 a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai.
Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou. 24 Em verdade,
em verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê n'Aquele que Me enviou
tem a vida eterna e não incorre na sentença de condenação, mas passou da morte
para a vida. 25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já
chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem
viverão. 26 Com efeito, assim como o Pai tem a vida em Si mesmo,
assim deu ao Filho ter vida em Si mesmo; 27 e deu-Lhe o poder de
julgar, porque é o Filho do Homem. 28 Não vos admireis disso, porque
virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a Sua voz, 29
e os que tiverem feito obras boas sairão para a ressurreição da vida, mas os
que tiverem feito obras más sairão ressuscitados para a condenação. 30
Não posso por Mim mesmo fazer coisa alguma. Julgo segundo o que ouço, e o Meu
juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a d'Aquele que Me enviou. 31
«Se dou testemunho de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro. 32
Outro é o que dá testemunho de Mim; e sei que é verdadeiro o testemunho que dá
de Mim. 33 Vós enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da
verdade. 34 Eu, porém, não recebo o testemunho dum homem, mas
digo-vos estas coisas a fim de que sejais salvos. 35 João era uma
lâmpada ardente e luminosa. E vós, por uns momentos, quisestes alegrar-vos com
a sua luz. 36 «Mas tenho um testemunho maior que o de João: as obras
que o Pai Me deu que cumprisse, estas mesmas obras que Eu faço dão testemunho
de Mim, de que o Pai Me enviou. 37 E o Pai que Me enviou, Esse mesmo
deu testemunho de Mim. Vós nunca ouvistes a Sua voz nem vistes a Sua face 38
e não tendes em vós, de modo permanente, a Sua palavra, porque não acreditais
n'Aquele que Ele enviou. 39 «Examinai as Escrituras, visto que
julgais ter nelas a vida eterna: elas são as que dão testemunho de Mim. 40
E não quereis vir a Mim, para terdes vida. 41 A glória, não a recebo
dos homens, 42 mas sei que não tendes em vós o amor de Deus. 43
Vim em nome de Meu Pai e vós não Me recebeis; se vier outro em seu próprio
nome, recebê-lo-eis. 44 Como podeis crer, vós que recebeis a glória
uns dos outros e não buscais a glória que só de Deus vem? 45 Não
julgueis que sou Eu que vos hei-de acusar diante do Pai; Moisés, em quem
confiais, é que vos acusará. 46 Se acreditásseis em Moisés,
certamente acreditaríeis também em Mim, porque ele escreveu de Mim. 47
Porém, se não dais crédito aos seus escritos, como haveis de dar crédito às
Minhas palavras?».
VIDA
CAPÍTULO
20.
23. E, de facto e em
verdade, é assim que se passa tudo isto, se os arroubamentos são verdadeiros,
pois fica a alma com os efeitos e o aproveitamento que fica dito. Se estes
assim não fossem, duvidaria eu muito virem os arroubamentos de Deus; antes
temeria não fossem os «enraivecimentos» de que fala S. Vicente. Isto entendo-o
eu, e tenho visto por experiência que a alma fica aqui senhora de tudo e com
liberdade, até em menos de uma hora, que nem ela se pode conhecer. Bem vê que
para isto nada fez, nem sabe como lhe foi dado tanto bem; mas entende
claramente o grandíssimo proveito que cada rapto destes traz consigo.
Não há quem o acredite se
não passou por isto; e assim não dão crédito à pobre alma por a terem visto tão
ruim e tão depressa a verem pretender fazer coisas tão arriscadas; pois, logo
dá em não se contentar com servir em pouco ao Senhor, senão no mais que ela
puder. Pensam que é tentação e disparate. Se compreendessem que isto não nasce
dela, senão do Senhor, a Quem já entregou as chaves da sua vontade, não se
espantariam.
24. Tenho para mim que uma
alma, que chega a este estado, já não fala nem faz coisa alguma por si mesma,
senão que, de tudo quanto ela há-de fazer, tem cuidado este Soberano Rei. Oh!
valha-me Deus, quão claramente se entende aqui a declaração do versículo do
Salmo 54 e se vê, que tinha razão o salmista - e a terão todos - em pedir asas
de pomba! Entende-se claramente que é voo o que o espírito dá para se levantar
acima de tudo o criado e de si mesmo, em primeiro lugar; mas é voo suave, é voo
deleitoso, voo sem ruído.
25. Que senhorio tem uma
alma a quem o Senhor chega até aqui, que a tudo atende sem ficar nisso
enredada! Que envergonhada está do tempo em que o ficava! Que espantada da sua
cegueira! Como lastima os que estão nela, em especial se é gente de oração e a
quem Deus já regala! Quereria dar vozes para dar a entender quão enganados
estão, e mesmo assim o fazem algumas vezes e chovem-lhe sobre a cabeça mil
perseguições. É tida por pouco humilde e por querer ensinar aqueles de quem
deveria aprender, especialmente se é mulher; então é que é o condenar, e não
sem razão, porque não sabem o ímpeto que a move, ao qual, às vezes, não pode
resistir nem pode deixar de desenganar aqueles a quem quer bem e deseja ver
soltos do cárcere desta vida: pois menos não é, nem menos lhe parece aquilo em
que ela tem estado.
26. Dói-se do tempo em que
olhou a pontos de honra e do engano que trazia em crer que era honra o que o
mundo chama honra. Vê que é grandíssima mentira e que todos andamos nela. Entende
que a verdadeira honra não é mentirosa, senão verdadeira, dando valor ao que,
de facto, o tem e tendo o que não é nada, por bagatela, pois é nada, e menos
que nada, tudo o que se acaba e não contenta a Deus.
27. Ri-se de si, do tempo
em que tinha em alguma conta dinheiro e o cobiçava, ainda que nisto creio que
nunca - e assim é verdade - confessei culpa; bastante culpa era já tê-lo em
algum apreço. Se com ele se pudesse comprar o bem que agora vejo em mim,
tê-lo-ia em muito; mas vejo que este bem se ganha com deixá-lo de todo em todo.
Que é isso que se compra com estes dinheiros que desejamos? É coisa de preço? É
coisa durável? Ou, para que o queremos.? Negro descanso se procura, que tão
caro custa! Muitas vezes se procura com eles o inferno e se compra fogo
perdurável e pena sem fim. Oh! se todos dessem em tê-los por terra sem
proveito, que consertado andaria o mundo! Sem tráfegos e com que amizade se
tratariam todos! Se faltasse ti interesse de honras e dinheiros, tenho para mim
que se remediaria tudo.
28. Vê a grande cegueira
dos prazeres e como com eles se compra trabalho e desassossego, até para esta
vida. Que grande inquietação! Que pouco contento! Quanto trabalho em vão!
Aqui não só vê as teias de
aranha da sua alma e as faltas grandes, mas até um pozinho que haja, por pouco
que seja, porque o sol está muito claro. E assim, por muito que trabalhe uma
alma em se aperfeiçoar, se deveras a colhe este Sol, toda ela se vê muito
turva. É como a água que está num copo que, enquanto lhe não dá o sol, está
muito clara, mas se vem a dar nela, vê-se que está cheia de impurezas. Esta
comparação é ao pé da letra. Antes de estar a alma neste êxtase, parece-lhe que
traz cuidado de não ofender a Deus e que, conforme às suas forças, faz quanto
pode. Mas uma vez chegada aqui, quando dá nela este Sol de Justiça que lhe faz
abrir os olhos, vê tantas arestas que os quereria voltar a fechar. Ainda não é
tão filha desta águia real que possa fitar este sol sem pestanejar. Mas, por
pouco que os tenha abertos, vê-se toda turva. Recorda-se do verso que diz:
«Quem será justo diante de Ti?»
29. Quando olha para este
Divino Sol fica deslumbrada com a claridade. Mas, como se vê a si mesma, o
barro lhe tapa os olhos, cegando esta pobre pombazita. Assim acontece-lhe,
muitas vezes, ficar cega de todo, absorta, espantada, desvanecida por tantas
grandezas que vê.
Aqui se ganha a verdadeira
humildade para não se lhe dar nada de dizer bem de si mesma nem que outros o
digam. É o Senhor do horto que reparte a fruta e não ela, e assim nada se lhe
apega às mãos. Todo o bem que possui vai endereçado a Deus; e se alguma coisa
diz de si, é para Sua glória. Sabe que ali não tem nada seu; ainda mesmo que
queira, não o pode ignorar, porque vê a olhos vistos que, por mais que lhe
pese, lhos fazem fechar às coisas do mundo e tê-los abertos para entender
verdades.
CAPÍTULO
21.
Prossegue e acaba este último grau de oração. Diz o que a alma sente por
continuar a viver no mundo; e como o Senhor a esclarece dos enganos deste mesmo
mundo. Tem boa doutrina.
1. Pois acabando o que ia
dizendo, digo que Deus não tem aqui necessidade do consentimento da alma; já
Lho deu e sabe que voluntariamente se entregou em Suas mãos e que não O pode
enganar, porque é sabedor de tudo. Não é como aqui, que toda a vida está cheia
de enganos e falsidades. Quando pensais que tendes conquistado um coração,
segundo se vos mostra, vindes a descobrir que tudo é mentira. Não há quem viva
em tanto desassossego, em especial se mete de permeio um pouco de interesse.
Bem-aventurada a alma que
o Senhor traz a entender verdades? Oh! que estado este para os reis! Como lhes
valeria muito mais procurá-lo, que grande senhorio! Que rectidão não haveria no
reino! Quantos males não se escusariam e teriam evitado! Aqui não só teme
perder vida nem honra por amor de Deus. Que grande bem este para quem está.
mais obrigado a olhar à honra do Senhor de que à de todos os inferiores, pois
hão-de ser os reis a quem se segue! Por um ponto de aumento na fé e por se ter
dado em algumas coisas luz aos hereges, perderia mil reinos e com razão. É
outro ganho: o de um reino que não se acaba. Com uma só gota que uma alma prove
da água que nele há, lhe causa asco tudo o que é de cá. Pois, quando estiver de
todo engolfada, que será?
2. Oh, Senhor! Se me
désseis ocasião para dizer isto em altas vozes! Não me acreditariam, como fazem
a muitos que o sabem dizer de outro modo do que eu; mas, ao menos, sentir-me-ia
satisfeita. Teria em pouco a vida para dar a entender uma só verdade destas,
julgo eu. Depois não sei o que faria, que não há que fiar de mim. Sendo eu,
porém, a que sou, dão-me tão grandes ímpetos de dizer isto aos que governam,
que me desfazem. E, por não poder mais, volto-me para Vós, Senhor meu, a
pedir-Vos remédio para tudo. E bem sabeis Vós que mui de boa vontade me
despojaria das mercês que me tendes feito, contanto que ficasse em estado de
Vos não ofender, e as daria aos reis; porque sei que seria impossível
consentirem eles coisas que agora se consentem, nem deixar de haver grandes
bens.
3. Oh! Deus meu! Dai-lhes
a entender aquilo a que estão obrigados, pois Vós os quisestes assinalar na
terra de modo que até tenho ouvido dizer que há sinais no céu quando levais
algum deles. Quando penso nisto, certo é, Rei meu, fazer-me devoção o Vós
quererdes que, até nisto, eles entendam que Vos devem imitarem vida, pois que,
de algum modo, à sua morte, há sinal no céu como quando Vós morrestes.
4. A muito me atrevo.
Rasgue isto V. Mercê, se lhe parecer este mal e creia que lho diria melhor em
presença, se pudesse ou pensasse que me haviam de acreditar, porque os
encomendo muito a Deus e quereria fosse com proveito. Tudo isto faz aventurar a
vida, que desejo muitas vezes perder; era aventurar-me a ganhar muito por pouco
preço. Porque não há já quem viva, vendo a olhos vistos o grande engano em que
andamos e a cegueira que trazemos.
5. Chegada uma alma aqui,
não são só desejos o que ela tem por Deus; Sua Majestade dá-lhe forças para os
pôr por obra. Nenhuma coisa se lhe põe diante, em que pense podê-Lo servir, a
que não se abalance, e não faz nada, porque - como digo - vê claramente que
tudo é nada, a não ser contentar a Deus. Trabalho é o não haver coisa que se
ofereça às que são de tão pouco préstimo, como eu. Sede Vós, meu Deus, servido
que venha tempo em que eu possa pagar algum cornado do muito que Vos devo.
Ordenai Vós, Senhor, como Vos aprouver, que esta Vossa serva Vos sirva em
alguma coisa. Mulheres eram outras e fizeram coisas heróicas por amor de Vós;
eu não sirvo senão para tagarelar e assim não quereis, Deus meu, meter-me em
obras. Tudo quanto hei-de servir vai-se em palavras e desejos e, ainda para
isto, não tenho liberdade, porque, se porventura a tivera, faltaria em tudo.
Fortalecei Vós a minha alma e disponde-a primeiro, Bem de todos os bens e Jesus
meu, e ordenai logo modo e meios com que faça alguma coisa por Vós, porque não
há já quem sofra receber tanto e nada pagar. Custe o que custar, Senhor, não
queirais que me apresente diante de Vós com as mãos tão vazias, pois, conforme
às obras, se há-de dar o prémio. Aqui está a minha vida, aqui está minha honra
e minha vontade; tudo Vos dei; Vossa sou, disponde de mim conforme Vos agradar.
Bem vejo, meu Senhor, o pouco que posso; mas chegada a Vós, do alto desta
atalaia donde se vêem as verdades, não Vos afastando Vós de mim, tudo poderei.
Se Vos afastais, por pouco que seja, irei para onde estava, que era o inferno.
6. Oh! o que é uma alma,
que se vê aqui, ter de voltar a tratar com todos, olhar e ver a farsa desta
vida tão mal concertada, gastar tempo a cuidar do corpo, dormindo e comendo!
Tudo a cansa. Não sabe como fugir. Vê-se encadeado e presa. Sente, então, mais
verdadeiramente o cativeiro que trazemos com os corpos e a miséria da vida.
Conhece a razão que tinha S. Paulo de suplicar a Deus que o livrasse dela, dá
vozes como ele, pede a Deus liberdade, como outras vezes tenho dito. Aqui,
porém, é com tão grande ímpeto, que muitas vezes parece que a alma quer sair do
corpo a buscar esta liberdade, já que não a tiram dele. Anda como que vendida
em terra estranha e o que mais a aflige é não encontrar muitos que se queixem
com ela e peçam isto mesmo, senão que o mais normal é desejar viver. Oh! se não
estivéssemos apegados a nada, nem tivéssemos posto o nosso contento em coisa
alguma da terra, como a pena que sentiríamos em viver sempre sem Ele,
temperaria o medo da morte com o desejo de gozar da vida verdadeira!
7. Considero algumas
vezes, que, se alguém como eu, apesar de ter tão tíbia caridade e tão incerto o
descanso verdadeiro por não o terem merecido minhas obras, sinto muitas vezes -
só por o Senhor me ter dado esta luz - tão grande pesar de me ver neste
desterro, qual não seria o sentimento dos santos? Que devem ter passado São
Paulo, a Madalena e outros seme- lhantes em quem tão crescido estava este fogo
de amor de Deus? Devia ser para eles um contínuo martírio.
Parece-me que me dá algum
alívio e descanso o trato de pessoas a quem posso falar destes desejos; digo,
desejos com obras, porque há algumas pessoas que se julgam estar desprendidas
de tudo e assim o apregoam e havia de ser, pois o seu estado e os muitos anos
que há, desde que algumas começaram caminho de perfeição, assim o pede.
Contudo, esta alma conhece bem, e de longe, os que o são só de palavras ou os
que já confirmaram estas palavras com obras. É que já compreendem o pouco
proveito que dão uns e o muito os outros. É coisa que, quem tem experiência, vê
muito claramente.
santa
teresa de jesus
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