A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 3, 1-21
1 Havia entre os fariseus um homem
chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. 2 Este foi ter
com Jesus, de noite, e disse-Lhe: «Rabi, sabemos que foste enviado por Deus
como mestre, porque ninguém pode fazer estes milagres que Tu fazes, se Deus não
estiver com ele». 3 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te
digo que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo». 4
Nicodemos disse-Lhe: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode
tornar a entrar no seio de sua mãe e renascer?». 5 Jesus
respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e
do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. 6 Aquilo que nasceu
da carne, é carne, aquilo que nasceu do Espírito, é espírito. 7 Não
te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. 8 O
vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem
para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito». 9
Nicodemos disse-Lhe: «Como pode ser isto?». 10 Jesus respondeu-lhe:
«Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? 11 «Em verdade, em
verdade te digo que Nós dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos,
mas vós não recebeis o Nosso testemunho. 12 Se, quando vos falo das
coisas terrenas, não Me acreditais, como Me acreditareis, se vos falar das
celestes? 13 Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu, o
Filho do Homem, que está no céu. 14 E como Moisés levantou no
deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do Homem, 15
a fim de que todo o que crê n'Ele tenha a vida eterna. 16 «Porque
Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para que todo
aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus
não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja
salvo por Ele. 18 Quem n'Ele acredita, não é condenado, mas quem não
acredita, já está condenado, porque não acredita no nome do Filho Unigénito de
Deus. 19 A condenação é por isto: A luz veio ao mundo e os homens
amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20
Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a
fim de que não sejam reprovadas as suas obras; 21 mas aquele que
procede segundo a verdade, chega-se para a luz, a fim de que seja manifesto que
as suas obras são feitas segundo Deus».
VIDA
CAPÍTULO
15.
12. Parece ser isto coisa
muito baixa e assim é na verdade. Os mais adiantados em perfeição teriam até
por afronta e correr-se-iam a si mesmos se pensassem que deixam os bens deste
mundo porque se hão-de acabar, quando - embora estes durassem para sempre -
eles se alegrariam de os deixar por Deus e isto tanto mais, quanto mais
perfeitos fossem, e quanto mais durassem. Aqui, nestes, já está crescido o amor
e é ele o que opera. Mas, para os que começam, é-lhes importantíssimo ter estes
pensamentos e não os tenham por baixos. É grande o bem que se ganha e assim o
recomendo tanto. Isto ser-lhes-á necessário - até aos muitos encumeados em
oração em certas épocas em que Deus os quer provar e parecem abandonados por
Sua Majestade. Pois, como já tenho dito - e quisera eu que não o esquecessem -,
nesta vida em que vivemos a alma cresce, e cresce de verdade mas não como o
corpo, embora assim o digamos. É que, uma criança; depois de crescer e deitar
corpo e o ter grande - já de homem - não torna a decrescer e a ter corpo de
menino. Aqui, quer o Senhor que seja assim (ao que tenho visto por mim) pois
não o sei por outra via. Deve ser para nos humilhar para nosso maior bem e não
nos descuidemos enquanto estivermos neste desterro, pois quem mais alto
estiver, mais há-de temer e fiar-se menos de si.
Ocasiões há em que estes
mesmos, que já têm a sua vontade tão posta na de Deus, que se deixariam
atormentar e passariam mil mortes para não cair e cometer uma imperfeição, se
vêem tão combatidos de tentações e perseguições que - para não fazer pecados e
se livrarem de ofender a Deus - é preciso, e torna-se-lhes necessário aproveitar
as primeiras armas da oração, e voltar a pensar que tudo acaba, e que há Céu e
inferno, e outras coisas deste género.
13. Pois, voltando ao que
dizia, grande fundamento é, para se livrar dos ardis e gostos vindos do
demónio, uma alma começar com a determinação de seguir caminho de cruz desde o
princípio e de não desejar as ditas consolações. O mesmo Senhor nos ensinou
este caminho de perfeição ao dizer: «Toma a tua cruz e segue-Me». É Ele o nosso
modelo; não tem que temer quem, só para O contentar, segue Seus conselhos.
14. No aproveitamento que
virem em si entenderão estas almas que isso não lhes vem do demónio. É que;
embora tornem a cair, fica-lhes um sinal de que esteve ali o Senhor: o
levantarem-se depressa, além destes que agora direi: - quando é espírito de
Deus, não é necessário andar atrás de coisas à busca de humildade e confusão,
porque o mesmo Senhor as dá de modo bem diferente do que podemos obter por meio
das nossas consideraçõezinhas, que não são nada em comparação duma verdadeira
humildade, que traz consigo luz, que aqui ensina o Senhor e que produz uma
confusão que nos desfaz. É coisa muito perceptível este conhecimento que Deus
dá para que entendamos que nenhum bem possuímos por nós mesmos, e quanto
maiores as mercês, maior a compreensão. -Incute um grande desejo de ir avante
na oração e de não a deixar por nenhuma coisa de trabalho que possa advir. A
tudo se oferece. - Sente uma segurança com humildade e temor de que se há-de
salvar. - Deita logo para longe o temor servil da alma e dá-lhe o filial temor
muito mais acrescido. - Vê que lhe começa um amor a Deus muito sem interesse
próprio. - Deseja momentos de solidão para mais gozar daquele bem.
15. Enfim, para não me
cansar, é um princípio de todos os bens, um estarem já as flores em termos de
não lhes faltar senão um quase nada para desabrochar. Isto verá muito
claramente a alma e de nenhuma maneira poderá por então convencer-se de que não
esteve Deus com ela, até se ver de novo com quebras e imperfeições, que então
tudo teme. E é bem que tema, embora haja almas que lhes é de mais proveito
acreditarem, de certeza, que é Deus, de que todos os temores que lhes possam
infundir. Se a alma é de si amorosa e agradecida, mais a faz voltar para Deus a
memória da mercê que Ele lhe fez, do que todos os castigos do inferno que lhe
representam. Pelo menos a mim, apesar de tão ruim, isto me acontecia.
16. Porque os sinais do
bom espírito se irão dizendo; mas como a quem lhe custa muito trabalho tirá-los
a limpo, não os digo agora aqui. Creio que, com o favor de Deus, nisto atinarei
alguma coisa; porque, mesmo deixando à parte a experiência em que muito tenho
entendido, o sei de alguns letrados muito letrados e de pessoas muito santas a
quem é de razão que se dê crédito. Não andem, pois, as almas tão afadigadas
quando aqui chegarem pela bondade do Senhor, como, eu tenho andado.
CAPÍTULO
16.
Trata do terceiro grau de oração e vai declarando coisas muito elevadas, e o
que pode a alma que aqui chega, e os efeitos que fazem estas mercês tão grandes
do Senhor. É muito para elevar o espírito em louvores a Deus e para grande
consolação de quem aqui chegar.
1. Falemos agora da
terceira água com que se rega esta horta: é a água corrente de rio ou de fonte,
e rega-se com muito menos trabalho, embora algum dê o encaminhar a água. Quer
aqui o Senhor ajudar o hortelão, de maneira que quase é Ele o jardineiro e quem
faz tudo.
É um sono das potências em
que nem de todo se perdem nem entende como operam. O gosto, suavidade e deleite
são, sem comparação, maiores de que o passado. É a água da graça que chega à
garganta desta alma, de modo que já não pode ir para diante, nem sabe como, nem
como tornar atrás; quereria gozar de grandíssima glória. É como alguém que está
com a vela na mão,' por lhe faltar pouco para morrer da morte que deseja. Está
gozando naquela agonia com o maior deleite que se pode dizer. Não me parece
outra coisa senão um morrer quase de todo a todas as coisas do mundo e estar
gozando de Deus.
Eu não sei outros termos
para o dizer ou declarar, nem sabe então a alma o que fazer; porque nem sabe se
há-de falar, calar, rir ou chorar. É um glorioso desatino, uma celestial
loucura; onde se aprende a verdadeira sabedoria, e é deleitosíssima maneira de
a alma gozar.
2. E é assim que o Senhor
me deu em abundância e muitas vezes esta oração, creio que há cinco ou até seis
anos; mas eu nem a entendia nem a saberia dizer; e assim tinha para mim ser
melhor dizer muito pouco ou nada, em chegando aqui. Que de todo em todo não era
união de todas as potências e que era mais que a passada, bem o entendia eu e
muito claramente; mas confesso, não podia determinar nem perceber como era esta
diferença.
Creio que pela humildade
que V. Mercê tem tido em se querer ajudar de uma simplicidade tão grande como a
minha, em acabando hoje de comungar, deu-me o Senhor esta oração sem eu poder
ir adiante; e inspirou-me estas comparações e ensinou a maneira de o dizer e o
que há-de fazer aqui a alma. Certo é que me espantei e o entendi num momento.
Muitas vezes estive assim,
como desatinada e embriagada neste amor, e jamais tinha podido entender como
era. Bem via eu ser obra de Deus, mas não podia compreender como operava aqui;
porque, embora as potências estejam de facto e em verdade quase de todo unidas
a Ele, não estão contudo tão engolfadas que não operem. Gostei em extremo de
tê-lo agora entendido. Bendito seja o Senhor que assim me regalou!
3. Só têm habilidade as
potências para se ocuparem todas em Deus. Nem parece que alguma se ouse mexer,
nem que a possamos fazer mover, a não ser que, com muito trabalho, nos
quiséssemos distrair; e ainda assim não me parece que isso se pudesse então
conseguir. Dizem-se aqui muitas palavras em louvor de Deus, sem ordem nem
concerto, se o mesmo Senhor as não concerta. Pelo menos o entendimento não vale
aqui nada. Quisera a alma dar vozes em louvores e está que não cabe em si; um
desassossego saboroso. Já se abrem as flores, já começam a dar seu olor. Aqui
quereria a alma que todos a vissem e entendessem a sua glória para que á
ajudassem nos louvores a Deus e quisera comunicar e dar-lhes parte do seu gozo,
porque não pode com tanto gozar. Parece-me ser como a que diz o Evangelho que
queria chamar ou chamou as suas vizinhas. Isto, a meu parecer, devia sentir o
admirável espírito do real profeta David quando tangia a harpa é cantava os
louvores de Deus. Deste glorioso Rei sou eu muito devota e quereria que todos o
fossem, em especial os que somos pecadores.
4. Oh! Valha-me Deus! Como
fica uma alma quando está assim! Toda ela quereria ser línguas para louvar ao
Senhor! Diz mil desatinos santos, atinando sempre em contentar a Quem a tem
assim. Eu sei duma pessoa que, sem ser poeta, lhe acontecia fazer de repente
coplas muito sentidas, declarando bem a sua pena, não tiradas do seu
entendimento, senão que, para mais gozar a glória que tão saborosa pena lhe
dava, dela se queixava a seu Deus.
Todo o seu corpo e alma
quereria se despedaçassem para mostrar o gozo que sente com esta pena. E, que
tormentos se lhe poderiam pôr então diante dela que lhe não fosse saboroso
passá-los por seu Senhor? Vê claramente que não faziam quase nada de sua parte
os mártires em os passar, porque bem conhece a alma que a fortaleza lhe vem de
outra parte. Mas, que sentirá por ter razão, a fim de viver no mundo e voltar
aos cuidados e cortesias que nele há?
Não penso, porém, ter
encarecido coisa alguma que não fique baixa em relação a este modo de gozo que
o Senhor quer neste desterro dar a gozar à alma. Bendito sejais para sempre,
Senhor, e louvem-Vos todas as coisas eternamente. E pois que ao escrever isto
não estou fora desta santa loucura celestial - de que tão sem méritos meus e
por Vossa bondade e misericórdia me fazeis mercê - eu Vos suplico, meu Rei, que
tenhais agora por bem que todos aqueles com quem eu tratar estejam ou loucos de
Vosso amor ou permiti que eu não trate com ninguém. Ordenai, Senhor, ou que eu
não tenha já em conta coisa que seja do mundo, ou tirai-me dele. Não pode já,
Deus meu, esta Vossa serva sofrer tantos trabalhos como tem por se ver sem Vós
e, assim, se há-de viver, não quer descanso nesta vida, nem que Vós lho deis.
Quereria já esta alma ver-se livre do corpo: o comer, a mata; o dormir, a
atormenta; vê que se lhe passa o tempo da vida vivendo em regalos e que nada já
a pode regalar afora Vós. Parece que vive contra a natureza, pois já não
quereria viver em si, senão em Vós.
5. Oh! Verdadeiro Senhor e
glória minha, que ténue e pesadíssima cruz tendes preparada para os que chegam
a este estado! Ténue, porque é suave; pesada, porque vezes há que não há
sofrimento que a sofra. Jamais queria, no entanto, ver-se livre dela, se não
fosse para ver-se já conVosco. Quando se recorda que não Vos serviu em nada e
que, vivendo, Vos pode servir, quereria carregar-se com muito mais pesada cruz
e nunca, até ao fim do mundo, morrer. Tem em nada o seu descanso a troco de Vos
fazer um pequeno serviço; não sabe o que desejar, mas bem entende que não
deseja outra coisa senão a Vós.
6. Oh! filho meu! (que é
tão humilde que assim se quer nomear aquele a quem isto vai dirigido e mo
mandou escrever), sejam só para si algumas coisas em que V. Mercê vir que saio
dos limites. É que não há razão que baste para não me tirar dela quando o
Senhor me põe fora de mim, nem creio sou eu a que falo desde que comunguei esta
manhã. Parece-me sonhar o que vejo e não quereria ver senão enfermos do mal com
que eu agora estou. Suplico a V Mercê que sejamos todos loucos por amor
d'Aquele a Quem por nós assim chamaram. Diz V. Mercê que me quer bem, pois em
dispor-se para que Deus lhe faça esta mercê quero eu que mo mostre, porque vejo
muito poucos que os não veja com senso demasiado para o que lhes diz respeito.
Bem pode ser que o tenha eu mais que todos. Não mo consinta V. Mercê, meu
Padre, pois também o é, assim como é filho, pois é meu confessor e a quem
confiei a minha alma. Desengane-me com verdade, que se usam muito pouco estas
verdades.
7. Este contrato quisera
eu que fizéssemos os cinco que, ao presente, nos amamos em Cristo. Como outros
que nestes tempos se juntavam em. segredo para ir contra Sua Majestade e
ordenar maldades e heresias, procurássemos nós juntarmo-nos alguma vez para nos
desenganarmos uns aos outros e dizerem que nos poderíamos emendar e contentar
mais a Deus. Não há quem tão bem se conheça a si mesmo como nos conhecem os que
nos estão olhando, se é com amor e cuidado do nosso aproveitamento.
Digo "em
segredo", porque já não se usa esta linguagem. Até os pregadores vão
ordenando seus sermões de modo a não descontentar. Boa será a intenção e a obra
também; mas assim emendam-se poucos. Mas, como é que não são muitos os que, por
meio dos sermões, deixam vícios públicos? Sabe o que. me parece? Têm muito
senso os que pregam. Não estão sem ele, com o grande fogo de amor de Deus como
estavam os apóstolos, e assim aquece pouco esta chama. Não digo que seja tanta
como eles tinham, mas quisera que fosse mais do que vejo. Sabe V. Mercê o que
deve fazer muito ao caso? Em ter já aborrecimento à vida e em pouca estima a
honra. Nada se lhes dava - a troco de dizer uma verdade e de a sustentar para
glória de Deus - de perder tudo ou de ganhar tudo; porque, quem deveras tudo
tem arriscado por Deus, com igual ânimo suporta tanto uma como outra coisa. Não
digo que sou destas, mas quereria sê-lo.
8. Oh! grande liberdade,
termos por cativeiro o ter de viver e tratar conforme às leis do mundo! Como
esta se alcance do Senhor, não há escravo que não arrisque tudo para se
resgatar e voltar à sua terra. É, pois, este o verdadeiro caminho; não há que
parar nele, porque nunca acabaremos de ganhar tão grande tesouro, até que se
nos acabe á vida. O Senhor nos dê para isto o Seu favor.
Rasgue V Mercê isto que
tenho dito, se lhe parecer, e tome-o como uma carta para si e perdoe-me por ter
sido muito atrevida.
santa
teresa de jesus
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