A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Lc 17, 20-37
20 Tendo-Lhe os
fariseus perguntado quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: «O reino de
Deus não virá ostensivamente. 21 Não se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo
acolá. Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós». 22
Depois disse aos Seus discípulos: «Virá tempo em que desejareis ver um só dos
dias do Filho do Homem e não o vereis. 23 E vos dirão: Ei-lo aqui,
ou ei-lo acolá. Não vades, nem os sigais. 24 Porque, assim como o
clarão brilhante de um relâmpago ilumina o céu de uma extremidade à outra,
assim será o Filho do Homem no Seu dia. 25 Mas primeiro é necessário
que Ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração. 26 Como
sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do Homem. 27
Comiam e bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca;
e veio o dilúvio, que exterminou a todos. 28 Como sucedeu também no
tempo de Lot; comiam e bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; 29
mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que
exterminou a todos. 30 Assim será no dia em que se manifestar o
Filho do Homem. 31 Nesse dia quem estiver no terraço e tiver os seus
móveis em casa, não desça a tomá-los; da mesma sorte, quem estiver no campo,
não volte atrás. 32 Lembrai-vos da mulher de Lot. 33 Quem
procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; quem a perder, salvá-la-á. 34
Eu vos digo: Nessa noite, de duas pessoas que estiverem num leito, uma será
tomada e a outra deixada. 35 Duas mulheres estarão a moer juntas, uma
será tomada e a outra deixada!». 36 Omitido na Neo-Vulgata. 37
Os discípulos disseram-Lhe: «Onde será isso, Senhor?». Ele respondeu-lhes:
«Onde quer que estiver o corpo, juntar-se-ão aí também as águias».
CARTA APOSTÓLICA
O RÁPIDO DESENVOLVIMENTO
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AOS RESPONSÁVEIS PELAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
1.
O rápido desenvolvimento das tecnologias no campo da mídia é certamente um dos
sinais do progresso da sociedade de hoje. Olhando para estas novidades em
constante evolução, torna-se ainda mais actual o que se lê no Decreto do
Concílio Ecuménico Vaticano II Inter mirifica, promulgado pelo meu venerado
predecessor, o servo de Deus Paulo VI, a 4 de Dezembro de 1963: "Entre os
maravilhosos inventos da técnica que, principalmente nos nossos dias, o engenho
humano extraiu, com a ajuda de Deus, das coisas criadas, a Santa Igreja acolhe
e fomenta aqueles que dizem respeito, principalmente, ao espírito humano e
abriram novos caminhos para comunicar facilmente notícias, ideias e
ordens" 1.
I. Um caminho fecundo no
seguimento do Decreto Inter mirifica
2.
A mais de quarenta anos após a publicação daquele documento é muito oportuno
voltar a reflectir sobre os "desafios" que as comunicações sociais
constituem para a Igreja, a qual, como realçou o Papa Paulo VI, "se
sentiria culpável diante do seu Senhor se não usasse estes poderosos
meios" 2. Com efeito, a Igreja não está chamada unicamente a
usar os mass media para difundir o Evangelho mas, hoje como nunca, está chamada
também a integrar a mensagem salvífica na "nova cultura" que os
poderosos instrumentos da comunicação criam e amplificam. Ela sente que o uso
das técnicas e das tecnologias da comunicação contemporânea é parte integrante
da sua missão no terceiro milénio.
Movida
por esta consciência, a comunidade cristã deu passos significativos no uso dos
instrumentos da comunicação na informação religiosa, na evangelização e na
catequese, na formação dos operadores pastorais do sector e na educação para
uma responsabilidade madura dos usufruidores e destinatários dos vários
instrumentos da comunicação.
3.
São numerosos os desafios para a nova evangelização num mundo rico de
potencialidades comunicativas como o nosso. Tendo isto em consideração, na
Carta encíclica Redemptoris missio quis realçar que o primeiro areópago do
tempo moderno é o mundo da comunicação, capaz de unificar a humanidade
tornando-a como se costuma dizer "uma aldeia global". Os meios de
comunicação social alcançaram tal importância que se tornaram para muitos o principal
instrumento de guia e de inspiração para os comportamentos individuais,
familiares e sociais. Trata-se de um problema complexo, visto que esta cultura
nasce, ainda antes do que dos conteúdos, do próprio facto que existem novos
modos de comunicar com técnicas e linguagens inéditas.
A
nossa época é uma época de comunicação global, onde muitos momentos da
existência humana se desenrolam através de processos mediáticos, ou pelo menos,
se devem confrontar com eles. Limito-me a recordar a formação da personalidade
e da consciência, a interpretação e a estruturação dos vínculos afectivos, o
desenvolvimento das fases educativas e formativas, a elaboração e a difusão de
fenómenos culturais, o desenvolvimento da vida social, política e económica.
Numa
visão orgânica e correcta do desenvolvimento do ser humano, a mídia pode e deve
promover a justiça e a solidariedade, comunicando cuidadosa e verdadeiramente
os acontecimentos, analisando de maneira completa as situações e os problemas,
dando voz às diversas opiniões. Os critérios supremos da verdade e da justiça,
na prática maduro da liberdade e da responsabilidade, constituem o horizonte em
cujo âmbito se situa uma autêntica deontologia na fruição dos modernos e
poderosos meios de comunicação.
II. Discernimento
evangélico e compromisso missionário
4.
Também o mundo da mídia tem necessidade da redenção de Cristo. Para analisar
com os olhos da fé os processos e o valor das comunicações sociais pode servir
de ajuda evidente o aprofundamento da Sagrada Escritura, a qual se apresenta
como um "grande código" de comunicação de uma mensagem não efémera
nem ocasional, mas fundamental devido ao seu valor salvífico.
A
história da salvação narra e documenta a comunicação de Deus com o homem,
comunicação que utiliza todas as formas e modulações da comunicação. O ser
humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, para receber a revelação
divina e para estabelecer um diálogo de amor com Ele. Devido ao pecado, esta
capacidade de diálogo a nível quer pessoal quer social alterou-se, e os homens
fizeram e continuam a fazer a experiência amarga da incompreensão e do
afastamento. Mas Deus não os abandonou e enviou-lhes o seu Filho (cf. Mc 12,
1-11). No Verbo feito carne o acontecimento comunicativo assume o seu máximo
poder salvífico: assim, é oferecida ao homem, no Espírito Santo, a capacidade
de receber a salvação e de a anunciar e testemunhar aos irmãos.
5.
Por conseguinte, a comunicação entre Deus e a humanidade alcançou a sua
perfeição no Verbo feito homem. O acto de amor através do qual Deus se revela,
juntamente com a resposta de fé da humanidade, gera um diálogo fecundo.
Precisamente por isto, fazendo nosso, de certa forma, o pedido dos discípulos
"ensinai-nos a rezar" (Lc 11, 1), podemos pedir ao Senhor que nos
guie para compreendermos a comunicar com Deus e com os homens através dos
maravilhosos instrumentos da comunicação social. Reconduzidos ao horizonte desta
comunicação última e decisiva, os mass media revelam-se uma oportunidade
providencial para alcançar os homens em todas as latitudes, superando barreiras
de tempo, de espaço e de língua, formulando nas modalidades mais diversas os
conteúdos da fé e oferecendo, a todos os que as procuram, metas seguras que
permitam entrar em diálogo com o mistério de Deus plenamente revelado em Jesus
Cristo.
O
Verbo encarnado deixou-nos o exemplo para comunicar com o Pai e com os homens,
quer vivendo momentos de silêncio e de recolhimento, quer pregando em todos os
lugares e com as várias linguagens possíveis. Ele explica as Escrituras,
exprime-se em parábolas, dialoga na intimidade das casas, fala nas praças, ao
longo dos caminhos, nas margens do lago, nos cimos dos montes. O encontro pessoal
com Ele não deixa ninguém indiferente, mas estimula a imitá-lo: "O que vos
digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o
sobre os telhados" (Mt 10, 27).
Há
depois um momento culminante no qual a comunicação se faz comunhão plena: é o
encontro eucarístico. Reconhecendo Jesus ao "partir do pão" (cf. Lc
24, 30-31), os crentes sentem-se estimulados a anunciar a Sua morte e
ressurreição e a tornar-se testemunhas corajosas e alegres do seu Reino (cf. Lc
24, 35).
6.
Graças à redenção, a capacidade comunicativa dos crentes é sanada e renovada. O
encontro com Cristo constitui-os novas criaturas, permite que entrem a fazer
parte daquele povo que Ele conquistou com o seu sangue morrendo na Cruz, e
introdu-los na vida íntima da Trindade, que é comunicação contínua e circular
de amor perfeito e infinito entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A
comunicação permeia as dimensões essenciais da Igreja, chamada a anunciar a
todos a Boa Nova da salvação. Por isso, ela assume as oportunidades oferecidas
pelos instrumentos da comunicação social como percursos dados providencialmente
por Deus nos dias de hoje para aumentar a comunicação e tornar o anúncio mais
incisivo3 . Os mass media permitem manifestar o carácter universal do Povo de
Deus, favorecendo um intercâmbio mais intenso e imediato entre as Igrejas
locais, alimentando o conhecimento recíproco e a colaboração.
Damos
graças a Deus pela presença destes poderosos meios que, se forem usados pelos
crentes com o génio da fé e na docilidade à luz do Espírito Santo, podem
contribuir para facilitar a difusão do Evangelho e para tornar mais eficazes os
vínculos de comunhão entre as comunidades eclesiais.
III. Mudança de
mentalidade e renovação pastoral
7.
Nos meios da comunicação a Igreja encontra um apoio precioso para difundir o
Evangelho e os valores religiosos, para promover o diálogo e a cooperação
ecuménica e inter-religiosa, assim como para difundir aqueles princípios
sólidos que são indispensáveis para construir uma sociedade respeitadora da
dignidade da pessoa humana e atenta ao bem comum. Ela compromete-os de bom
grado a fornecer informações sobre si mesma e a dilatar as fronteiras da
evangelização, da catequese e da formação e considera o seu uso como uma
resposta ao mandamento do Senhor: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o
Evangelho a toda a criatura" (Mc 16, 15).
Trata-se
de uma missão certamente não fácil nesta nossa época, na qual se vai difundindo
a convicção de que o tempo das certezas tenha irremediavelmente passado: para
muitos o homem deveria aprender a viver num horizonte de total ausência de
sentido, perseguindo o que é provisório e passageiro 4 . Neste contexto, os
instrumentos de comunicação podem ser usados "para proclamar o Evangelho
ou para o reduzir ao silêncio nos corações dos homens" 5. Isto
representa um desafio sério para os crentes, sobretudo para os pais, as famílias
e para quantos são responsáveis pela formação da infância e da juventude. Devem
ser encorajados na comunidade eclesial, com prudência e sabedoria pastoral,
aqueles que têm particulares capacidades para trabalhar no mundo das
comunicações sociais, para que se tornem profissionais capazes de dialogar com
o vasto mundo dos mass media.
8.
Não compete unicamente aos "trabalhadores" no sector valorizar a
mídia, mas também a toda a Comunidade eclesial. Se, como já foi revelado, as
comunicações sociais dizem respeito a diversos âmbitos da expressão da fé, os
cristãos devem ter em consideração a cultura mediática na qual vivem: da
liturgia, máxima e fundamental expressão da comunicação com Deus e com os
irmãos, à catequese que não pode prescindir do facto que se destina a sujeitos
que são influenciados pela linguagem e pela cultura contemporâneas.
O
actual fenómeno das comunicações sociais impulsiona a Igreja a fazer uma
espécie de revisão pastoral e cultural, a fim de ser capaz de enfrentar de
maneira apropriada a passagem de época que estamos a viver. Desta exigência
devem fazer-se intérpretes em primeiro lugar os Pastores: de facto, é
importante empenhar-se para que se realize o anúncio do Evangelho de modo
decisivo, que estimule a sua escuta e favoreça o seu acolhimento 6.
Neste campo, têm uma particular responsabilidade as pessoas consagradas, que
estão orientadas pelo seu carisma institucional ao compromisso no âmbito das
comunicações sociais. Formadas espiritual e profissionalmente, elas "quando
surgirem oportunidades pastorais ... prestem de boa vontade o seu serviço ... a
fim de que, por um lado, se evitem os danos provocados pelo uso viciado de tais
meios e, por outro, seja promovida uma qualidade superior das transmissões, com
mensagens respeitadoras da lei moral e ricas de valores humanos e
cristãos" 7.
9.
Foi precisamente considerando a importância dos mass media que há quinze anos
julguei ser inoportuno deixá-los à iniciativa de pessoas individuais ou de
pequenos grupos, e sugeri que fossem inseridos com evidência na programação
pastoral 8. Sobretudo as novas tecnologias, criam ulteriores
oportunidades para uma comunicação entendida como serviço ao governo pastoral e
à organização das numerosas tarefas da comunidade cristã. Basta pensar, por
exemplo, no facto de como a internet não só forneça recursos para uma maior
informação, mas habitue as pessoas a uma comunicação interactiva 9 Muitos cristãos já usam de maneira criativa
este novo instrumento, explorando as suas potencialidades na evangelização, na
educação, na comunicação interna, na administração e no governo. Mas paralelamente
com Internet devem ser usados outros novos mass media e verificadas todas as
possíveis valorizações de instrumentos tradicionais. Quotidianos e jornais,
publicações de todos os tipos, televisão e rádio católicas permanecem muito
úteis num programa completo da comunicação eclesial.
Enquanto
os conteúdos devem ser adaptados às necessidades dos diferentes grupos, a sua
finalidade deveria ser a de tornar as pessoas conscientes da dimensão ética e
moral da informação 10. Do mesmo modo, é importante garantir
formação e atenção pastoral aos profissionais da comunicação. Com frequência
estes homens e mulheres encontram-se perante pressões particulares e dilemas
éticos que emergem do trabalho quotidiano; muitos deles "sentem o desejo
sincero de conhecer e praticar o que é justo no campo ético e moral", e
esperam da Igreja orientações e apoio 11.
IV. A mídia, encruzilhada
das grandes questões sociais
10.
A Igreja, que em virtude da mensagem de salvação que lhe foi confiada pelo seu
Senhor é também mestra em humanidade, sente o dever de oferecer o seu
contributo para uma melhor compreensão das perspectivas e das responsabilidades
relacionadas com os actuais progressos das comunicações sociais. Precisamente
porque influenciam a consciência dos indivíduos, formam a sua mentalidade e
determinam a sua visão das coisas, é necessário recordar de maneira vigorosa e
clara que os instrumentos da comunicação social constituem um património a ser
tutelado e promovido. É necessário que também as comunicações sociais entrem
num quadro de direitos e deveres organicamente estruturados, sob o ponto de
vista quer da formação e da responsabilidade ética, quer da referência às leis
e às competências institucionais.
O
desenvolvimento positivo da mídia ao serviço do bem comum é uma
responsabilidade de todos e de cada um 12. Devido aos fortes
vínculos que os mass media têm com a economia, com a política e com a cultura,
é necessário um sistema de gestão que seja capaz de salvaguardar a centralidade
e a dignidade da pessoa, a primazia da família, célula fundamental da
sociedade, e a correcta relação entre os diversos sujeitos.
11.
Impõem-se algumas escolhas que são reconduzíveis a três opções fundamentais:
formação, participação e diálogo.
Em
primeiro lugar, é necessário uma vasta obra formativa para fazer com que a
mídia seja conhecida e usada de maneira consciente e apropriada. As novas
linguagens por ela introduzidas modificam os processos de aprendizagem e a
qualidade das relações humanas, razão pela qual sem uma adequada formação se
corre o risco que ela, em vez de estar ao serviço das pessoas, as
instrumentalize e condicione com grande incisividade. Isto é válido, de modo
especial, para os jovens que manifestam uma tendência natural para as inovações
tecnológicas, e também por isto têm ainda mais necessidade de ser educados para
o uso responsável e crítico dos mass media.
Em
segundo lugar, gostaria de chamar a atenção para o acesso aos mass media e para
a participação co-responsável na sua gestão. Se as comunicações sociais são um
bem destinado a toda a humanidade, devem ser encontradas sempre formas
actualizadas para tornar possível uma ampla participação na sua gestão, mesmo
através de disposições legislativas oportunas. É necessário fazer crescer a
cultura da co-responsabilidade.
Por
fim, não se devem esquecer as grandes potencialidades que os mass media têm ao
favorecer o diálogo, tornando-se veículos de conhecimento recíproco, de
solidariedade e de paz. Eles constituem um recurso positivo e poderoso, se
forem postos ao serviço da compreensão entre os povos; se forem usados para
alimentar injustiças e conflitos, tornam-se ao contrário uma "arma"
destruidora. Já o meu venerado Predecessor, o Beato João XXIII, na Encíclica
Pacem in terris, advertiu de modo profético a humanidade para estes possíveis
riscos 13.
12.
Desperta grande interesse a reflexão sobre o papel "da opinião pública na
Igreja" e "da Igreja na opinião pública". Ao encontrar os
editores dos periódicos católicos, o meu venerado predecessor Pio XII disse que
faltaria algo na vida da Igreja se nela não estivesse incluída a opinião
pública. Este mesmo conceito foi recordado noutras ocasiões 14, e é
reconhecido no Código de Direito Canónico, sob determinadas condições, o
direito de expressão da própria opinião 15. Ora, se as verdades de
fé não estão abertas a interpretações arbitrárias e o respeito pelos direitos
dos outros gera limites intrínsecos à expressão das próprias avaliações, é
igualmente verdade que noutros campos existe entre os católicos um espaço para
o intercâmbio de opiniões, num diálogo respeitoso da justiça e da prudência.
Quer
a comunicação no âmbito da comunidade eclesial quer a da Igreja com o mundo
exigem transparência e uma nova forma de enfrentar as questões relacionadas com
o universo dos mass media. Esta comunicação deve tender para um diálogo
construtivo a fim de promover na comunidade cristã uma opinião pública
rectamente informada e capaz de discernimento. A Igreja tem a necessidade e o
direito de fazer conhecer as próprias actividades, como outras instituições e
grupos, mas ao mesmo tempo, quando for necessário, deve poder garantir uma
adequada discrição, sem que isso prejudique uma comunicação pontual e
suficiente sobre os factos eclesiais.
Este
é um dos âmbitos onde é exigida em maior medida a colaboração entre fiéis
leigos e Pastores, dado que, como realça oportunamente o Concílio, "desta
convivência familiar entre os leigos e os Pastores há que esperar muitas vantagens
para a Igreja; na verdade, assim se robustece nos leigos o sentido da
responsabilidade própria, se favorece o entusiasmo e mais facilmente se
conjugam as suas forças com a operosidade dos Pastores. Estes, por sua vez,
ajudados pela experiência dos leigos, ficam com possibilidade de julgar com
maior clareza e exactidão tanto das coisas espirituais como das temporais. E
assim a Igreja, recebendo forças de todos os seus membros, realiza com maior
eficácia a sua missão para a vida do mundo" 16.
V. Comunicar com a força
do Espírito Santo
13.
Para os crentes e para as pessoas de boa vontade o grande desafio deste nosso
tempo é manter uma comunicação verídica e livre, que contribua para consolidar
o progresso integral do mundo. É pedido a todos que saibam cultivar um atento
discernimento e uma constante vigilância, maturando uma capacidade sadia
perante a força persuasiva dos meios de comunicação.
Também
neste campo os crentes em Cristo sabem que podem contar com a ajuda do Espírito
Santo. Ajuda que se torna ainda mais necessária se considerarmos como podem ser
grandes as dificuldades intrínsecas da comunicação devido às ideologias, à sede
de lucro e de poder, às rivalidades e aos conflitos entre indivíduos e grupos,
assim como devido às fragilidades humanas e aos males sociais. As modernas
tecnologias aumentam de maneira impressionante a velocidade, a quantidade e o
alcance da comunicação, mas não favorecem de igual modo aquele intercâmbio
frágil entre uma mente e outra, entre um coração e outro, que deve caracterizar
qualquer forma de comunicação ao serviço da solidariedade e do amor.
Na
história da salvação Cristo apresentou-se-nos como "comunicador" do
Pai: "Nestes dias... falou-nos por meio do Filho" (Hb 1, 2). Palavra
eterna que se fez carne, Ele, ao comunicar-se, manifesta sempre respeito por
todos os que o escutam, ensina a compreensão da sua situação e das suas
necessidades, estimula à compaixão pelo seu sofrimento e à resoluta
determinação ao dizer-lhes aquilo que eles precisam de ouvir, sem imposições
nem constrições, engano nem manipulação. Jesus ensina que a comunicação é um
acto moral: "O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas; e o homem
mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Ora, Eu digo-vos: de toda a palavra
ociosa que os homens disserem, prestarão contas no dia do juízo. Porque pelas
tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado" (Mt
12, 35-37).
14.
O apóstolo Paulo tem uma mensagem clara para quantos estão comprometidos na
comunicação social políticos, comunicadores profissionais, espectadores:
"despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos
membros uns dos outros... Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas
apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma
graça para aqueles que a escutam" (Ef 4, 25.29).
Aos
trabalhadores da comunicação, e principalmente aos crentes comprometidos neste
importante âmbito da sociedade, repito o convite que desde o início do meu
ministério de Pastor da Igreja Universal quis fazer ao mundo inteiro: "Não
tenhais medo!".
Não
tenhais medo das novas tecnologias! Elas incluem-se "entre as coisas
maravilhosas" "inter mirifica" que Deus pôs à nossa disposição
para as descobrirmos, usarmos, fazer conhecer a verdade, também a verdade
acerca do nosso destino de filhos seus, e herdeiros do seu Reino eterno.
Não
tenhais medo da oposição do mundo! Jesus disse-nos: "Eu venci o
mundo!" (Jo 16, 33).
Não
tenhais medo também das vossas fraquezas e da vossa inaptidão! O Mestre divino
disse: "Eu estarei sempre convosco, todos os dias, até ao fim do
mundo" (Mt 28, 20).
Comunicai
a mensagem de esperança, de graça e de amor de Cristo, mantendo sempre viva,
neste mundo passageiro, a eterna perspectiva do Céu, perspectiva que nenhum meio
de comunicação jamais poderá alcançar directamente: "O que os olhos não
viram, os ouvidos não ouviram, o coração do homem não pressentiu, isso Deus
preparou para aqueles que o amam" (1 Cor 2, 9).
Confio
a Maria, que nos deu o Verbo da vida e guardou no seu coração as suas palavras
que não perecem, o caminho da Igreja no mundo de hoje. A Virgem Santa nos ajude
a comunicar com todos os meios a beleza e a alegria da vida em Cristo nosso
Salvador.
Concedo
a todos a minha Bênção!
Vaticano, 24 de
Janeiro de 2005, memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
IOANNES PAULUS II
© Copyright 2005 -
Libreria Editrice Vaticana
___________________________________________
Notas:
1
Decr. Inter mirifica, 1.
2
Exort. Apost. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975): AAS 68 (1976), 35.
3
Cf. João Paulo II, Exort. Apost. pós-sinodal Christifideles laici (30 de
Dezembro de 1988), 18, 24: AAS 81 (1989), 421-435; cf. Pont. Cons. para as
Comunicações Sociais, Inst. past. Aetatis novae (22 de Fevereiro de 1992), 10:
AAS (1992), 454-455.
4
Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 91: AAS
91 (1999), 76-77.
5
Pont. Cons. para as Comunicações Sociais, Instr. past. Aetatis novae (22 de
Fevereiro de 1992), 4: AAS 84 (1992), 450.
6
Cf. João Paulo II, Exort. Apost. pós-sinodal, Pastores gregis, 30;
L'Osservatore Romano, 17 de Outubro de 2003, pág. 6.
7
João Paulo II, Exort. Apost. pós-sinodal, Vita consecrata (25 de Março de
1996), 99: AAS 88 (1996), 476.
8
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 37:
AAS 83 (1991), 282-286.
9
Cf. Pont. Cons. para as Comunicações Sociais, A Igreja e a Internet (22 de
Fevereiro de 2002), 6, Cidade do Vaticano, 2002, pp. 13-15.
10
Cf. Conc. Ecum. Vaticano II, Decreto Inter mirifica, 15-16; Pont. Comissão para
as Comunicações Sociais, Instr. past. Communio et progressio (23 de Maio de
1971), 107: AAS 63 (1971), 631-632; Pont. Cons. para as Comunicações Sociais,
Instr. past. Aetatis novae (22 de Fevereiro de 1992), 18: AAS 84 (1992), 460.
11
Cf. Pont. Cons. para as Comunicações Sociais, Instr. past. Aetatis novae (22 de
Fevereiro de 1992), 19: AAS 84 (1992), 460.
12
Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2494.
13
Cf. João Paulo II, Mensagem para o 37ª Dia Mundial das Comunicações Sociais (24
de Janeiro de 2003): L'Osservatore Romano, 25 de Janeiro de 2003, p. 6.
14
Cf. Conc. Ecum. Vat. II Lumen gentium, 37; Pont. Comissão para as Comunicações
Sociais, Instr. past. Communio et progressio, 23 de Maio de 1971), 114-117: AAS
63 (1971), 634-635.
15
Cân. 212, §3: "Os féis, segundo a ciência, a competência e a proeminência
de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos
sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e
de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a
reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a
dignidade das pessoas"; cf. Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân.
15 §3.
16
Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 37.
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