O trabalho é a vocação original do homem; é uma bênção de Deus; e enganam-se lamentavelmente aqueles que o consideram um castigo. O Senhor, o melhor dos pais, colocou o primeiro homem no Paraíso – "ut operaretur", para trabalhar. (Sulco, 482)
Desde
o começo da sua criação que o homem teve de trabalhar. Não sou eu quem o
inventa. Basta abrir as primeiras páginas da Sagrada Bíblia para aí se ler que
Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua
descendência este mundo tão formoso, ut operaretur et custodiret illum, com o
fim de o trabalhar e de o conservar, e isto antes mesmo de o pecado entrar na
humanidade e, como consequência dessa ofensa, a morte, as penas e as misérias.
Temos,
pois, de nos convencer de que o trabalho é uma realidade magnífica, que se nos
impõe como lei inexorável a que todos estamos submetidos, de uma ou de outra
forma, apesar de alguns pretenderem eximir-se a ela. Aprendei-o bem: esta
obrigação não surgiu como uma sequela do pecado original, nem se reduz a uma
descoberta dos tempos modernos. Trata-se de um meio necessário que Deus nos
confia na terra, alongando os nossos dias e tornando-nos partícipes do seu
poder criador, para que ganhemos o nosso sustento e, simultaneamente,
recolhamos frutos para a vida eterna: o homem nasce para trabalhar, como as
aves para voar.
Talvez
me digais que já se passaram muitos séculos, que muito pouca gente pensa desta
maneira, que a maioria provavelmente se afana por motivos bem diversos: uns,
por dinheiro; outros, para manter a família; outros, na mira de conseguir uma
certa posição social, para desenvolver as suas capacidades, para satisfazer as
suas paixões desordenadas, para contribuir para o progresso social. E todos, em
geral, encaram as suas ocupações como uma necessidade de que não podem
evadir-se.
Perante
esta visão plana, egoísta, rasteira, tu e eu temos de recordar a nós mesmos e
de recordar aos outros que somos filhos de Deus, a quem o nosso Pai dirigiu um
convite idêntico ao daqueles personagens da parábola evangélica: filho, vai
trabalhar na minha vinha. Posso assegurar-vos que aprenderemos a terminar as
nossas tarefas com a maior perfeição humana e sobrenatural de que somos
capazes, se nos empenharmos em considerar assim diariamente as nossas
obrigações pessoais como ordem divina. (Amigos de Deus, n. 57).
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