A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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1 Tendo-se juntado à
volta de Jesus milhares e milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns
aos outros, começou Ele a dizer aos Seus discípulos: «Guardai-vos do fermento
dos fariseus, que é a hipocrisia. 2 Nada há oculto que não venha a
descobrir-se e nada há escondido que não venha a saber-se. 3 Por
isso as coisas que dissestes nas trevas serão ouvidas às claras, e o que
falastes ao ouvido no quarto será apregoado sobre os telhados. 4 «A
vós, pois, Meus amigos, digo-vos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e
depois nada mais podem fazer. 5 Eu vou mostrar-vos a quem haveis de
temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim,
Eu vos digo, temei Este. 6 Não se vendem cinco passarinhos por dois
asses?; contudo nem um só deles está em esquecimento diante de Deus. 7
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; vós
valeis mais que muitos passarinhos. 8 Digo-vos: Todo aquele que Me
confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos
anjos de Deus. 9 Mas quem Me negar diante dos homens, será negado
diante dos anjos de Deus. 10 «Todo aquele que falar contra o Filho
do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo,
não lhe será perdoado. 11 Quando vos levarem às sinagogas e perante
os magistrados e autoridades, não estejais com cuidado de que modo
respondereis, ou que direis, 12 porque o Espírito Santo vos
ensinará, naquele mesmo momento, o que deveis dizer». 13
Então disse-Lhe alguém da multidão: «Mestre, diz a meu irmão que me dê a minha
parte da herança». 14 Jesus respondeu-lhe: «Meu amigo, quem Me
constituiu juiz ou árbitro entre vós?». 15 Depois disse-lhes:
«Guardai-vos cuidadosamente de toda a avareza, porque a vida de cada um, ainda
que esteja na abundância, não depende dos bens que possui». 16 Sobre
isto propôs-lhes esta parábola: «Os campos de um homem rico tinham dado
abundantes frutos. 17 Ele andava a discorrer consigo: Que farei,
pois não tenho onde recolher os meus frutos? 18 Depois disse: Farei
isto: Demolirei os meus celeiros, fá-los-ei maiores e neles recolherei o meu
trigo e os meus bens, 19 e direi à minha alma: Ó alma, tu tens
muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te. 20
Mas Deus disse-lhe: Néscio, esta noite virão demandar-te a tua alma; e as
coisas que juntaste, para quem serão? 21 Assim é o que entesoura
para si e não é rico perante Deus».
A Santidade
Introdução
1. (…) Meditámos naquilo que Cristo, que ama a
Igreja com amor de Esposo, espera dela. Ele é a Palavra de Deus, fala-lhe ao
coração, espera que a Igreja O escute e entre em diálogo de comunhão. Com ela,
seu Povo, celebrou a nova e definitiva Aliança; espera dela a fidelidade a essa
nova Aliança, renovada em cada Eucaristia. Todas as concretizações da escuta da
Palavra e da fidelidade à Aliança, se reúnem e resumem no grande desafio da
vida cristã: a santidade.
O Santo Padre Bento XVI recordou-nos, em texto
que já citámos, que a fé cristã não é, sobretudo, uma doutrina ou uma moral,
mas o encontro com uma Pessoa, Jesus Cristo e, por Ele, com a Santíssima
Trindade. E na Exortação Apostólica confirmou: “de facto a vida cristã
caracteriza-se essencialmente pelo encontro com Jesus Cristo que nos chama a
segui-l’O”.
[1] É, pois, no aprofundamento deste encontro pessoal com
Jesus Cristo ressuscitado e, por Ele, com o Pai, no Espírito Santo, que se
situa esta possibilidade, que é o maior desafio da nossa vida, o de sermos
santos. Não basta conhecer toda a doutrina ou cumprirmos todas as prescrições
morais para sermos santos. Ser santo é mergulhar em Deus e, por amor, procurar
conhecê-l’O e fazer a sua vontade: seja feita a tua vontade, na terra como no
céu.
Só Deus é Santo
2. Santo é o nome de Deus (cf. Sl. 33,21;
Am. 2,7). Yahwé, o nome de Deus revelado a Moisés, é substituído por
“Santo”; são sinónimos (cf. Sl. 71,22; Is. 5,24). Se é o nome de
Deus é muito mais do que um atributo de Deus. Significa e anuncia aquilo que
Deus é, o seu mistério, a plenitude da vida, o seu poder e a sua bondade. O seu
amor de misericórdia é anúncio importante da santidade de Deus. O Profeta
Oseias afirma: “Como poderia eu abandonar-te Efraim? (…) O meu coração salta no
meu peito, as minhas entranhas comovem-se dentro de mim. Não me deixarei levar
pelo ardor da minha ira, não vou destruir Efraim. Eu sou Deus e não um homem.
Eu sou o Santo no meio de ti” (Os. 11,8-9).
Tocar o seu amor de misericórdia é o mais
profundo contacto que o homem pode ter com a santidade de Deus. É o início da
revelação do seu mistério. O pecado, a dureza do coração, tornam o homem
insensível a este mistério da santidade divina, acabam por impedir o
conhecimento de Deus, porventura levam à sua negação. Se Deus quer ser
conhecido nesse seu mistério de santidade, a redenção do homem é necessária e
urgente. O homem precisa de um coração novo para ao menos pressentir a beleza
de Deus, o Santo.
Esta redenção que vai tornar o homem capaz de
participar na santidade de Deus é realizada por Jesus Cristo, Deus e Homem.
Como Filho de Deus, Ele é Santo; como Homem, é o primeiro descendente de Adão a
penetrar e a participar na santidade de Deus.
Ao ser concebido no seio de Maria, o Anjo anuncia-lhe
que o Menino que vai nascer será Santo e chamar-se-á Filho de Deus (cf.
Lc. 1,35). Na sua fidelidade de servo conquistou para os homens seus
irmãos a vida e, por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um Nome que está acima de
todos os nomes (cf. Fil. 2,9). O mesmo Apóstolo Paulo afirma que Ele
ressuscitou segundo o Espírito de Santidade (cf. Rom. 1,4). A
santidade do Homem Jesus é diferente da de qualquer “justo” do Antigo Testamento.
Ele é Santo porque é Deus. N’Ele, tocamos a mesma força espiritual, a mesma
profundidade misteriosa. Do seu coração humano brota em pleno o amor
misericordioso de Deus. Jesus revela [2]
aos seus a majestade da santidade divina. “Eu consagro-me por eles, a fim de
que também eles sejam santificados na verdade” (Jo. 17,19).
O Deus Santo e a santidade dos homens
3. Ao longo da História da Salvação, várias
vezes surge a questão: quer Deus comunicar a sua santidade aos homens que
criou? Desejam os homens ser santos como Deus é Santo?
Da parte de Deus vai-se tornando claro, antes de
mais, que é desejo de Deus que os homens, sobretudo o seu Povo escolhido,
reconheça a santidade de Deus. Isso corresponde à obrigação de O louvar, de
reconhecer a sua glória. Por outro lado, vai-se tomando consciência de que tudo
o que Deus toca fica santificado. Quando Deus se revelou a Moisés no fogo da
sarça-ardente e Moisés se aproximava para ver o fenómeno, ouviu a voz de Deus:
“Não te aproximes. Tira as sandálias dos pés, porque é santa a terra que pisas”
(Ex. 3,5).
O que Deus toca, fica santo. Por isso o Povo
chamará santo a todas as realidades que entram em contacto com Deus: o templo
onde Deus habita, sobretudo o “Santo dos Santos”, os objectos do culto, os
sacerdotes. Mas é sobretudo quando Deus toca o interior do homem com a sua
Palavra, que o homem se torna santo. É o caso dos Profetas: porque foram
tocados pela Palavra de Deus, participam da santidade de Deus e podem falar em
nome de Deus.
Mas, apesar desta notícia de que a santidade de
Deus pode tocar os homens, durante todo o Antigo Testamento permanece a ideia
da transcendência misteriosa da santidade de Deus. Há uma certa contradição
entre a convicção de que quem tocar o Deus Santo morrerá, e o convite que Deus
dirige ao seu Povo para que participe da santidade de Deus: “Sede santos porque
Eu, Yahwé, sou Santo” (Lev. 19,2; 20,26).
Este paradoxo só se resolve em Jesus Cristo,
Filho de Deus feito Homem, o Santo como Deus é Santo. A Virgem Maria depois de
conceber, por acção do Espírito Santo, louva o Senhor e toca, nela, uma verdade
tantas vezes rezada e proclamada pelos profetas: “O Todo-poderoso fez em mim
maravilhas: Santo é o seu Nome” (Lc. 1,49). Mais uma vez a convicção
de que só o que Deus toca se torna santo e que podem participar na santidade de
Deus aqueles que se deixam tocar por Deus.
E aqui encontramo-nos com a grande novidade
cristã: os que se unem a Cristo ressuscitado, pela fé e pelo baptismo, não são
apenas tocados por Cristo, todo o seu ser se une ao de Cristo, são um com
Cristo, são “o corpo de Cristo”. O dom do Espírito Santo, no Pentecostes,
representa a grande viragem, a grande “passagem”. Unidos a Cristo, os cristãos
tornam-se “templos do Espírito Santo” (cf. 1Co. 6,11). Os cristãos
participam do ser de Deus, em Cristo ressuscitado, pela fé e pelo baptismo, que
os unge com a “unção que vem do Santo” (cf. 1Co. 1,30; Efs. 5,26).
Continua a ser verdade que só Deus pode fazer os homens participar da sua
santidade e vencer neles os obstáculos do pecado, que os impedia de serem
santos como Deus é Santo.
Os caminhos da santidade
4. Vencido esse obstáculo radical, pela redenção
de Jesus Cristo, resta ao cristão o longo caminho da sua vida para viver em
santidade, porque só no Céu serão definitivamente santos como Deus é santo. É a
vida concebida como caminhada de fidelidade, na santidade. Vencido radicalmente
o pecado, em Jesus Cristo, sabemos que as suas raízes permanecem em nós, numa
luta entre a graça da Páscoa e a força do pecado. A santidade não pode ser só
obra de Deus em nós, aceite de forma passiva; tem de ser busca e opção da nossa
liberdade. Só podemos ser santos, porque Cristo é Santo, nos comunica o seu
Espírito Santo e nos santificou; mas temos de querer ser santos, lutar por isso
com as armas que Deus põe ao nosso dispor. A nossa caminhada de santidade é uma
batalha que ainda convive com o pecado, que nós podemos vencer, com a força de
Deus.
Desde sempre, a Igreja acreditou que ela, corpo
de Cristo, é santa, porque dela fazem parte Cristo e o Espírito Santo. Mas essa
santidade da Igreja não era sempre evidente, era afirmação de fé: “Creio que a
Igreja é santa”, faz parte de todas as antigas profissões de fé. Depende da
nossa fidelidade cristã que essa santidade radical da Igreja seja visível,
possa ser testemunhada perante o mundo.
5. Continua a ser verdade que só é santo quem
Deus toca, quem se deixa trabalhar pela acção de Deus. Antes de mais, pela sua
Palavra. Cristo, em todo o seu mistério, é Palavra viva de Deus. Temos de
descobrir continuamente a relação entre a escuta da Palavra de Deus e a
santidade. É pela sua Palavra que Deus toca o coração do homem. Por isso,
sempre que o cristão a acolhe, participa da santidade divina. Esta dimensão
aparece continuamente na liturgia: “Se ouvirmos a voz do Senhor, entraremos no
lugar do seu repouso”.
Como já vimos noutra Catequese, toda a palavra,
todos os meios que a Igreja tem de nos fazer ouvir a voz do Senhor, resumem
sempre Cristo Palavra. Deus fala-nos sempre pelo seu Filho Jesus Cristo, o
Verbo eterno. Daí a importância decisiva da intimidade com Jesus Cristo para
crescermos em santidade. A Exortação Apostólica Post-Sinodal acentua a relação
entre a Palavra de Deus e a santidade: “A santidade relacionada com a Palavra
de Deus inscreve-se, de certo modo, na tradição profética, na qual a Palavra de
Deus se serve da própria vida do profeta. Neste sentido, a santidade na Igreja
representa uma hermenêutica da Escritura da qual ninguém pode prescindir. O
Espírito Santo que inspirou os autores sagrados é o mesmo que anima os Santos a
darem a vida pelo Evangelho. Entrar na sua escola constitui um caminho seguro
para efectuar uma hermenêutica viva e eficaz da Palavra de Deus”.
6. A eficácia da Palavra de Deus, tantas vezes
anunciada pelos profetas, continua a acontecer na Igreja através da acção
sacramental. A presença da Palavra de Deus na Liturgia é decisiva. Ela
constitui o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa
vida. Aí, Deus fala hoje ao seu Povo que escuta e responde. [3]
Na Liturgia, “a Palavra de Deus permanece viva e eficaz pela força do Espírito
Santo, e manifesta aquele amor operante do Pai que não cessa jamais de agir em
favor de todos os homens. De facto, a Igreja sempre mostrou ter consciência de
que, na acção litúrgica, a Palavra de Deus é acompanhada pela acção íntima do
Espírito Santo que a torna operante no coração dos fiéis”. [4]
A acção sacramental é, hoje, o principal caminho pelo qual Deus continua a
santificar a sua Igreja. Devemos descobrir, em silêncio, a conexão entre o que
Deus nos diz e o que faz em nós.
A santidade e o amor
7. Ser tocado pelo Deus Santo é mergulhar no
amor que Ele é. Deus é amor; ser santo é ser amor. “Amai-vos uns aos outros
como Eu vos amei”, é o mandamento novo. É para que aconteça na nossa vida esta
explosão do amor, que o Espírito Santo, o Espírito do amor divino, nos foi e
continua a ser dado. A santidade é um caminho de cumplicidade com o Espírito
Santo. Aprendemos no Catecismo que toda a Lei, portanto toda a moral, se resume
ao mandamento do amor: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
nós mesmos”. “Ama e faz o que quiseres”, ensinava Santo Agostinho. A santidade
cristã é uma fidelidade aos mandamentos, ou seja, ao mandamento do amor. O
cristão não se salva porque cumpre uma lei, mas porque unido a Jesus Cristo,
mergulha no amor. Todo o bem moral é expressão do amor, a Deus e ao próximo.
Este ardor do amor incendeia-se em Jesus Cristo
e alimenta-se na Palavra de Deus. Neste caminho somos confirmados pelo
testemunho dos santos, que perceberam a Palavra de Deus no amor e beberam nela
o desejo de amar ainda mais. Como diz a Exortação Apostólica, “a interpretação
mais profunda da Escritura provém precisamente daqueles que se deixaram plasmar
pela Palavra de Deus, através da sua escuta, leitura e meditação assídua”. [5]
“Cada santo constitui uma espécie de raio de luz que brota da Palavra de Deus”.
Citemos apenas o exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus. Dizia ela: “Apenas
lanço o olhar sobre o Evangelho, imediatamente respiro os perfumes da vida de
Jesus e sei para onde correr”. [6]
É esta a voragem do amor que Deus suscita em nós
sempre que nos toca com a sua Palavra que é o “novo ardor” para uma nova evangelização.
Sé Patriarcal, 2 de
Abril de 2011
d.
josé policarpo, Cardeal-Patriarca
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