Perseverar no amor
O
servo mau e preguiçoso 15 desdenhou da predileção de que tinha sido
objeto ao enterrar o talento; deixou passar o tempo sem descobrir as
possibilidades que encerrava aquela fortuna. Não quis complicar a vida e, deste
modo, nunca chegou a saber o que poderia ter feito, nem descobrir o motivo pelo
qual o Senhor tinha tido tanta confiança nele.
É
um perigo sempre presente, porque no caminho da chamada «é fácil um primeiro
entusiasmo, mas depois vem a constância também nos caminhos monótonos do
deserto que se hão-de atravessar ao longo da vida, a paciência de prosseguir
sempre igual, mesmo quando diminui o romantismo da primeira hora e só fica o
“sim” profundo e puro da fé» 16.
Certamente,
que se poderia enterrar o talento uma vez que se começou a negociar com ele.
Mas o Senhor indica-nos qual é o meio para que isso não aconteça: se guardais
os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor 17. «Se o fruto que
devemos produzir é amor, uma condição prévia é precisamente este “permanecer”,
que tem que ver profundamente com a fé que não se afasta do Senhor» 18.
Manter-se
no caminho que Deus mostrou implica, em si mesmo, uma demonstração de amor e de
fé. E o segredo da fidelidade radica precisamente no amor: Qual é o segredo da
perseverança? O Amor. – Enamora-te, e não “O” deixarás 19.
D.
Álvaro, sucessor de São Josemaria, comentando este ponto de Caminho, dizia que
também se podia afirmar: não “O” deixes, e enamorar-te-ás; sê leal e acabarás
louco de amor a Deus 20. O Senhor recompensa a fé perseverante,
levando a bom termo a Sua obra e atraindo cada um à Sua Pessoa 21.
Assim, a lealdade é uma fonte de equilíbrio pessoal, pois quem é leal consolida
um clima de paz à sua volta; comunica segurança e confiança, afasta o medo e as
incertezas.
A
parábola dos talentos mostra esta primazia do amor: o amo recompensa os servos
fazendo-os participantes da sua alegria, da sua própria pessoa; não dá
simplesmente algo que lhe pertence, mas dá-se a ele mesmo. A diligência que
mostraram os servos fiéis é também sinal da proximidade que tinham com Ele; e é
que a fidelidade cristã não é só a lealdade a uma doutrina, ou a um dogma: o
cristão é fiel à pessoa viva de Cristo, com quem tem uma relação de amizade.
Por
isso, a perseverança não pode entender-se como algo rígido, frio ou calculado;
não produz uma vontade inamovível nem insensível às alterações de ânimo ou de
circunstâncias; é, antes, o seu contrário: a fidelidade torna o homem flexível,
para enfrentar o sopro de qualquer vento, pois nasce do amor e o amor é
inventivo, como o é o Espírito.
Se
permanecer fiel ao meu Deus, o Amor vivificar-me-á continuamente. A minha
juventude renovar-se-á como a da águia 22. A santidade é a vida a
que estamos chamados. O caminho é claro e está traçado, esculpido, com traços
precisos. É este o caminho em que entrámos por mediação de Maria e que seguimos
com a sua proteção: ser Obra de Deus, esforçar-nos por responder fielmente –
com o coração! – às moções do Espírito Santo.
m. díez, j. morales, j. verdiá - 2012/02/27
(Cultivar
a Fé © 2013, Gabinete de Informação do Opus
Dei na Internet)
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Notas:
15
Mt 25, 26.
16
Bento XVI – J. Ratzinger, Jesus de Nazaré, pp. 309-310.
17
Jo 15, 10.
18
Bento – J. Ratzinger, Jesus de Nazaré, p. 310.
19
Caminho, n. 999.
20
D. Álvaro, Carta aos fiéis do Opus Dei, 19-III-1992 .
21
Cfr. Fil 1, 6.
22
Amigos de Deus, n. 31.
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