Questão 42: Do objecto do
temor
Art. 5 — Se os males insólitos e os repentinos sejam mais de se temerem.
O
quinto discute-se assim. — Parece que os males insólitos e repentinos não são
mais de se temerem.
1. — Pois, assim como a esperança é relativa ao bem, assim o temor o é ao mal. Ora, a experiência concorre para o aumento da esperança, no bem. Logo, também no mal concorre para o aumento do temor.
2.
Demais — O Filósofo diz, que os mais temidos não são os da ira arrebatada, mas
os brandos e os astutos 1. Ora, como se sabe, os primeiros são mais
levados por movimentos súbitos. Logo, as coisas súbitas são menos temíveis.
3.
Demais — O que é súbito mais dificilmente é objecto de reflexão. Ora, quanto
mais refletimos em certas coisas tanto mais as tememos, e, por isso, diz o
Filósofo, que alguns parecem fortes por causa da ignorância, mas, quando sabem
que as coisas não são como lhes parecem, fogem 2. Logo, o repentino
é menos temido.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: O temor, ao passo que vela pela sua segurança, tem
horror ao insólito e repentino, oposto às coisas que ama 3.
Como já dissemos 4, o objecto do temor, é o mal iminente, que não
pode ser facilmente repelido. E, isto pode dar-se por duas causas: pela
grandeza do mal ou pela debilidade de quem teme. Ora, o insólito e repentino
influi em ambos os casos. Primeiro, influi para o mal iminente parecer maior.
Pois, quanto mais refletimos nas coisas corpóreas, tanto boas como más, tanto
menores nos parecem. Donde, assim como a diuturnidade mitiga a dor do mal
presente, como se lê em Túlio, assim, a reflexão prévia diminui o temor do mal
futuro 5. Em segundo lugar, o insólito e repentino concorre para a
fraqueza de quem teme, pelo privar dos meios a que pode recorrer para repelir o
mal futuro, que de nada podem servir quando o mal ocorre de improviso.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — É bom o objecto da esperança, que podemos
alcançar. Donde, o que aumenta o nosso poder aumenta naturalmente a esperança,
e pela mesma razão diminui o temor, porque este é relativo ao mal a que não
podemos facilmente resistir. Ora, a experiência tornando o homem mais forte
para agir, assim como aumenta a esperança, diminui o temor.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os que de ira arrebatada não a ocultam, e por isso os males que
podem causar não são de tal modo repentinos, que não possam ser previstos. Ao
passo, que os brandos e astutos dissimulam a ira, por isso os males com que ameaçam,
não podendo ser previstos, atacam de improviso. Donde a dizer o Filósofo que
esses são os mais temidos.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Em si mesmos considerados, os bens ou os males corpóreos parecem
maiores, no princípio. E a razão é que um contrário parece maior quando
comparado com o outro. Assim, quem passa repentinamente da pobreza para as
riquezas, estima-as mais por comparação com a pobreza passada, e inversamente,
os ricos caídos repentinamente na pobreza maior horror têm desta. Por isto,
mais tememos o mal repentino, por nos parecerem maiores. Pode porém acontecer,
acidentalmente, que não se manifeste a grandeza do mal, assim p. ex., quando os
inimigos se ocultam insidiosamente. E então é verdade que o mal, atentamente
considerado, se torna mais terrível.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Rhetoric. (cap. V).
2. III Ethic. (lect. XVII).
3. II Confess. (cap. VI).
4. Q. 42, a. 3, q. 41, a. 2.
5. III De tuscul. Quaestion.
(cap. XXX).
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