22/07/2013

Tratado das paixões da alma 89




Questão 40: Da esperança e do desespero.

Art. 6 — Se a juventude e a embriaguez são causas da esperança.

(Infra, q. 45, a . 3).



O sexto discute-se assim. — Parece que a juventude e a embriaguez não são causas da esperança. 
1. — Pois, a esperança implica uma certa certeza e segurança e por isso S. Paulo a compara a uma âncora 1. Ora, os jovens e os ébrios faltam de firmeza, pois, são de ânimo facilmente mudável. Logo, a juventude e a embriaguez não são causas da esperança.

2. Demais — O que aumenta o poder é por excelência causa da esperança, como já se disse 2. Ora, a juventude e a embriaguez implicam falta de firmeza. Logo, não são causas da esperança.

3. Demais — A experiência é causa da esperança, como já se disse 3. Ora, aos jovens falta a experiência. Logo, a juventude não é causa da esperança.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que estavam ébrios de esperança no sucesso 4, e que, os jovens têm esperanças no sucesso 5.

A juventude é causa da esperança por três razões, como diz o Filósofo 6, e que são relativas às três condições do bem — futuro, árduo e possível — objecto da esperança, como já dissemos 7. — Assim, os jovens têm muito do futuro e pouco do passado. Ora, como a memória é relativa ao passado e a esperança, ao futuro, têm pouca memória e vivem muito pela esperança. — Em segundo lugar, os jovens pela sua natureza ardorosa, têm muitos espíritos e, por isso, o coração se lhes alarga, o que os leva a buscar o árduo. Donde vem o serem animados e cheios de esperança. — E por fim, os que nunca sofreram oposição ou obstáculos aos seus esforços, facilmente reputam uma coisa por possível. E por isso os jovens, pela inexperiência dos obstáculos e das deficiências próprias, facilmente julgam lhes seja uma determinada coisa possível, e isto os torna cheios de esperança.

Ora, duas destas condições também existem nos ébrios, a saber, o ardor e a multiplicação dos espíritos, por causa do vinho, e a inconsideração dos perigos e das deficiências próprias. E pela mesma razão também todos os estultos e os que agem sem deliberação tentam tudo e vivem cheios de esperança.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora os jovens e os ébrios não tenham a firmeza, realmente, têm-na contudo, segundo a estimativa deles, pois julgam terem certamente de conseguir o que esperam.

E semelhantemente, devemos responder à segunda objecção, que os jovens e os ébrios têm, por certo, falta de firmeza, na realidade das coisas, mas, como não conhecem as suas deficiências, julgam terem firmeza.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Não só a experiência, mas também a inexperiência é, de certo modo, causa da esperança, como já dissemos 8.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Heb. 6, 19.
2. Q. 40, a. 5.
3. Q. 40, a. 5.
4. III Ethic. (lect. XVII).
5. II Rhetoric. (cap. XII).
6. II Rhetoric. (ibid).
7. Q. 40, a. 1.

8. Q. 40, a. 5, ad 3.

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