4. As ofensas à verdade
«A
gravidade da mentira mede-se pela natureza da verdade que ela deforma,
atendendo às circunstâncias, às intenções de quem a comete e aos danos causados
àqueles que são suas vítimas» (Catecismo, 2484). Pode ser matéria de pecado
mortal: «torna-se mortal quando lesa gravemente as virtudes da justiça e da
caridade» (Ibidem). Falar com ligeireza ou loquacidade (cf. Mt 12,36), pode
conduzir facilmente à mentira (apreciações inexactas ou injustas, exageros, às
vezes calúnias).
«Falso
testemunho e perjúrio. Uma afirmação contrária à verdade feita publicamente
reveste-se de gravidade particular: perante um tribunal, é um falso testemunho;
quando mantida sob juramento, é um perjúrio» (Catecismo, 2476). Há obrigação de
reparar o dano.
«O
respeito pela reputação das pessoas proíbe toda e qualquer atitude ou palavra
susceptíveis de lhes causar um dano injusto» (Catecismo, 2477). O direito à
honra e à boa fama – tanto próprio como alheio – é um bem mais precioso do que
as riquezas e de grande importância para a vida pessoal, familiar e social.
Pecados
contra a boa fama do próximo são os seguintes:
-
O juízo temerário: acontece quando se admite como verdadeiro, sem prova
suficiente, um defeito moral do próximo (por exemplo, julgar que alguém tenha
actuado com má intenção, sem que assim tenha sido). «Não julgueis e não sereis
julgados, não condeneis e não sereis condenados» (Lc 6,37) (cf. Catecismo,
2477).
-
A difamação: é qualquer atentado injusto contra a fama do próximo. Pode ser de
dois tipos: a detracção ou maledicência (“dizer mal”), que consiste em revelar
pecados ou defeitos realmente existentes do próximo, sem uma razão
proporcionalmente grave (chama-se murmuração quando se realiza nas costas do
acusado); e a calúnia, que consiste em atribuir ao próximo pecados ou defeitos
falsos. A calúnia encerra uma dupla malícia: contra a veracidade e contra a
justiça (tanto mais grave, quanto maior seja a calúnia e quanto mais se
difunda).
Actualmente,
estas ofensas à verdade ou à boa fama são muito frequentes nos meios de
comunicação social. Por este motivo, é necessário exercitar um são espírito
crítico ao receber as notícias e comentários dos jornais, revistas, televisão,
etc. Uma atitude ingénua ou crédula leva à formação de juízos falsos 8.
Sempre
que se difame alguém (quer seja com a detracção ou com a calunia), existe a
obrigação de utilizar todos os meios possíveis para devolver ao próximo a boa
fama que injustamente o lesou.
É
preciso evitar a cooperação nestes pecados. Coopera na difamação, embora em
grau diferente, aquele que ouve com gosto o difamador e se delicia com o que
ele diz; o superior que não impede a murmuração sobre o súbdito; e qualquer um
que – embora desagradando-lhe o pecado de detracção –, por temor, negligência
ou vergonha, não corrige ou rejeita o difamador ou caluniador, e o que propaga
com ligeireza insinuações de outras pessoas contra a fama de um terceiro 9.
Atenta
também contra a verdade «toda a palavra ou atitude que, por lisonja, adulação
ou complacência, estimula e confirma outrem na malícia dos seus actos e na perversidade
da sua conduta. A adulação é uma falta grave, se se tornar cúmplice de vícios
ou de pecados graves. Nem o desejo de prestar um serviço nem a amizade
justificam a duplicidade de linguagem. A adulação é um pecado venial quando
apenas se deseja ser agradável, evitar um mal, valer a uma necessidade ou obter
vantagens legítimas» (Catecismo, 2480).
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
juan ramón areitio
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 2464-2499.
Leituras
recomendadas:
S.
Josemaria, Homilia «O Respeito Cristão pela pessoa e pela sua liberdade», em
Cristo que Passa, 67-72.
T. Trigo, «El
bien de la verdad», em A. Sarmiento, T. Trigo, E. Molina, Moral de la persona,
Eunsa, Pamplona 2006, Quinta Parte, pp. 302-391.
________________________
Notas:
8
«Os meios de comunicação social (em particular os mass-media) podem gerar uma
certa passividade nos utentes, fazendo deles consumidores pouco cautelosos de
mensagens e espectáculos. Os utentes devem impor a si próprios moderação e
disciplina em relação aos mass-media. Hão-de formar-se uma consciência
esclarecida e recta, para resistir mais facilmente às influências menos
honestas» (Catecismo, 2496).
9
Cf. S. Josemaria, Caminho, 49. A murmuração é particularmente um inimigo
nefasto da unidade no apostolado: «é crosta que suja e entorpece o apostolado.
- Vai contra a caridade, tira forças, rouba a paz, e faz perder a união com
Deus» Ibidem, 445. Cf. ibidem, 453).
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