13/07/2013

Tratado das paixões da alma 80


Questão 39: Ou da bondade e da malícia da dor ou tristeza

Em seguida devemos tratar da bondade e da malícia da dor ou tristeza.

E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art. 1 — Se toda tristeza é má.
Art. 2 — Se a tristeza implica a noção de bem honesto.
Art. 3 — Se a tristeza pode ser um bem útil.
Art. 4 — Se a tristeza é o sumo mal

Art. 1 — Se toda tristeza é má.

(III Sent., dist. XV, q. 2, a. 2, qa 1, ad 3, IV, dist. XLIX, q. 3, a. 4, qa. 2).

O primeiro discute-se assim. — Parece que toda tristeza é má. 
1. — Pois, diz Gregório Nisseno (Nemésio): Toda tristeza é por sua própria natureza má 1. Ora, o naturalmente mau o é sempre e em toda parte. Logo, toda tristeza é má.

2. Demais — Aquilo de que todos, mesmos os virtuosos, fogem é mau. Ora, todos, mesmo os virtuosos, fogem da tristeza, pois, como diz Aristóteles, embora o prudente não vise o deleitar-se, visa contudo não contristar-se 2. Logo, a tristeza é um mal.

3. Demais — Assim como o mal corpóreo é objecto e causa da dor corpórea, o mal espiritual é objecto e causa da tristeza espiritual. Ora, toda dor corpórea é mal do corpo. Logo, toda tristeza espiritual o é da alma.

Mas, em contrário. — Entristecer-se com o mal é contrário a comprazer-se no mesmo. Ora, comprazer-se no mal é mau, e por isso a Escritura, para a detestação de certos, deles diz (Pr 2, 14), que se alegram depois de terem feito o mal. Logo, a tristeza por causa do mal não é má.

De dois modos podemos dizer que uma coisa é boa ou má. — De um, absolutamente e em si mesma. — E assim, toda tristeza é um mal, pois o mesmo inquietar-se do apetite do homem com o mal presente implica a ideia do mal, porque impede o repouso desse apetite no bem. — De outro modo diz-se que uma coisa é boa ou má por suposição de outra, assim dizemos que a vergonha é um bem por suposição de algum acto torpe cometido, como diz Aristóteles 3. Por onde, suposto algo de contristador ou de doloroso, é próprio da bondade fazer-nos contristar ou condoer do mal presente. E só poderíamos não nos contristar ou não nos condoer ou porque não sentíssemos o mal ou porque não o julgássemos repugnante, e em um e outro caso há mal manifesto. E portanto, a bondade faz com que, suposta a presença do mal, se lhe siga a tristeza ou dor. E é o que diz Agostinho: E ainda é bom que o bem perdido cause dor, pois, se não permanecesse algum bem em a natureza, não constituiria pena nenhuma dor do bem perdido 4.

Mas, como as questões morais se referem ao singular, sobre o qual versam as operações, o bom por suposição deve ser julgado bom, assim como é considerado voluntário o que o é por suposição, conforme diz Aristóteles 5 e já nós o demonstramos6.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Gregório Nisseno (Nemésio) fala da tristeza relativamente ao mal contristante, não porém relativamente ao que o sente e o repele. Ora, neste último caso também todos fogem a tristeza na medida em que fogem o mal, mas não fogem o sentimento e a repulsão dele. E devemos dizer o mesmo da dor corpórea, pois, o sentimento e a repulsa do mal corpóreo atestam uma natureza boa.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS À SEGUNDA E À TERCEIRA OBJECÇÕES.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. De Nat. Hom.
2. VII Ethic. (lect. XI).
3. IV Ethic. (lect. XVII).
4. VIII Super Gen. ad litt. (cap. XIV).
5. III Ethic. (lect. II).

6. Q. 6, a. 6.

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