Em
seguida devemos tratar dos remédios da dor ou tristeza.
E
sobre este assunto cinco artigos se discutem:
Art.
1 — Se o prazer mitiga a dor ou tristeza.
Art.
2 — Se o pranto mitiga a tristeza.
Art.
3 — Se o amigo que se compadece connosco mitiga a tristeza.
Art.
4 — Se a contemplação da verdade mitiga a dor.
Art.
5 — Se o sono e o banho mitigam a tristeza.
Art. 1 — Se o prazer
mitiga a dor ou tristeza.
(Supra,
q. 35, a . 4, ad 2, infra, a . 5, III, q. 46, a . 8, ad 2, II Cor., cap. VII,
lect. II).
O
primeiro discute-se assim. — Parece que o prazer não mitiga a dor ou tristeza.
2.
Demais — O que causa a tristeza não a mitiga. Ora, certos prazeres causam a
tristeza, pois, como diz Aristóteles, o mau se entristece porque se deleitou 3.
Logo, nem todo prazer mitiga a tristeza.
3.
Demais — Agostinho diz que saiu da pátria onde convivera com um amigo, que veio
a falecer, porque assim, os seus olhos não haviam de o procurar onde não
costumavam vê-lo 4. Donde podemos concluir que aquilo que os nossos
amigos mortos ou ausentes tinham de comum connosco se nos torna penoso, quando
sofremos com a morte ou ausência deles. Ora, eles tinham de comum connosco
sobretudo os prazeres. Logo, estes se nos tornam penosos quando nos entristecemos.
Logo, o prazer não mitiga a tristeza.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo, que o prazer expulsa a tristeza, tanto pelo
contrário como qualquer outra, sendo forte 5.
Como do sobredito resulta 6, o prazer é o repouso do apetite no
bem conveniente, e a tristeza é o repugnante ao apetite. Por onde, o prazer
está para a tristeza, nos movimentos apetitivos, como, relativamente ao corpo,
o descanso para a fadiga, proveniente de alguma transmutação não natural, pois
também a tristeza implica uma certa fadiga ou sofrimento da virtude apetitiva.
Assim pois como o repouso do corpo é remédio contra a fadiga proveniente de qualquer
causa não natural, assim o prazer é remédio para mitigar a tristeza, qualquer
que ela seja.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora nem todo prazer seja contrário à
tristeza especificamente, é-lhe contudo genericamente, como já dissemos 7.
E portanto, relativamente à disposição do sujeito, a tristeza pode ser mitigada
pelo prazer.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os deleites dos maus não provocam a tristeza presente, mas a
futura, quando se arrependerem dos males que lhes causaram prazer. E essa
tristeza é aliviada pelos prazeres contrários.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — De duas causas a inclinarem a movimentos contrários, uma se opõe
a outra, até finalmente vencer a mais forte e de acção mais diuturna. Ora,
quando nos entristecemos por causa daquilo com que costumávamos deleitar-nos juntamente
com o amigo, agora morto ou ausente, duas causas existem conducentes a termos
opostos. Pois o pensamento da morte ou da ausência do amigo inclina para a dor,
ao passo que o bem presente, para o prazer, e por isso um diminui o outro.
Contudo, como o sentido apreensor do que é presente move mais fortemente que a
memória do passado, e o amor-próprio dura mais que o de outrem, daí vem que ao
cabo o prazer expulsa a tristeza. E por isso, depois de algumas palavras,
Agostinho, no mesmo lugar, acrescenta, que a sua dor cedia aos primeiros géneros
de prazeres.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. II Ethic. (lect. II).
2. Q. 35, a. 4.
3. IX Ethic. (lect. IV).
4. IV Confess. (cap. VII).
5. VII Ethic. (lect.
XIV).
6.
Q. 23, a. 4.
7.
Q. 31, a. 4.
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