2. A purificação do coração
Estes
dinamismos internos são fundamentais na vida moral cristã, pois tanto as
virtudes infusas como os dons do Espírito Santo são modelados pelas disposições
da pessoa. Em certo sentido, possuem particular importância as virtudes morais,
que são mais propriamente disposições da vontade e dos outros apetites para
actuar bem. Tendo estes elementos presentes, é possível desterrar certa caricatura
que se apresenta da vida moral como se ela se reduzisse apenas à luta contra os
pecados, descobrindo-se antes o imenso panorama de esforço positivo por crescer
na virtude (por purificar o coração) que tem a existência humana e em
particular o cristão.
Estes
mandamentos referem-se mais especificamente aos pecados internos contra as
virtudes da castidade e da justiça, que estão bem reflectidos no texto da
Sagrada Escritura que fala de «três espécies de cupidez ou concupiscência: a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1 Jo
2,16)» (Catecismo, 2514). O nono mandamento trata do domínio da concupiscência
da carne; e o décimo da concupiscência do bem alheio. Ou seja, proíbem
deixar-se arrastar por essas concupiscências de modo consciente e voluntário.
Estas
tendências desordenadas ou concupiscências consistem na «revolta que a “carne”
instiga contra o “espírito”. Procede da desobediência do primeiro pecado»
(Catecismo, 2515). Depois do pecado original, ninguém está isento da
concupiscência, excepto Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem Santa Maria.
Embora
a concupiscência, em si mesma, não seja pecado, inclina para o pecado e
engendra-o, quando não se submete à razão iluminada pela fé com a ajuda da
graça. Esquecendo-se que existe a concupiscência, é fácil pensar que todas as
tendências que se experimentam “são naturais” e que não faz mal deixar-se levar
por elas. Muitos dão-se conta como isto é falso ao considerarem o que sucede
com a inclinação para a violência: reconhecem que ninguém se deve deixar
arrastar por este impulso, mas dominá-lo, porque não é natural. No entanto,
quando se trata da pureza, já não querem reconhecer o mesmo, dizem que não é
mau em se deixarem levar por este estímulo “natural”. O nono mandamento
ajuda-nos a compreender que não é assim, porque a concupiscência retorceu a
natureza e o que se experimenta como natural é, frequentemente, consequência do
pecado que é preciso vencer. O mesmo se poderia dizer do afã imoderado de
riquezas ou da cobiça a que se refere o décimo mandamento.
É
importante conhecer esta desordem causada em nós pelo pecado original e pelos
nossos pecados pessoais, visto que tal conhecimento:
-
impulsiona-nos a rezar: só Deus nos perdoa o pecado original, que deu origem à
concupiscência, e só com a ajuda divina conseguiremos vencer essa tendência
desordenada; a graça de Deus sara a nossa natureza das feridas do pecado, além
de a elevar à ordem sobrenatural;
-
ensina-nos a amar a Criação, porque saiu boa das mãos de Deus; são os nossos
pecados desordenados que provocam o mau uso dos bens criados.
pablo requena
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 2514-2557.
Leituras
recomendadas:
S.
Josemaria, homilia «Porque verão a Deus», em Amigos de Deus, 175-189; homilia
«Desprendimento», em Amigos de Deus, 110-126.
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