Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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1 «O Reino
dos Céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a
contratar operários para a sua vinha.2 Tendo ajustado com os
operários um denário por dia, mandou-os para a sua vinha.3 Tendo
saído cerca da terceira hora, viu outros, que estavam na praça ociosos, 4
e disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for
justo”. 5 Eles foram. Saiu outra vez cerca da hora sexta e da nona,
e fez o mesmo.6 Cerca da undécima, saiu, e encontrou outros que
estavam sem fazer nada, e disse-lhes: “Porque estais aqui todo o dia sem
trabalhar?”. 7 Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou”. Ele
disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha”. 8 «No fim da tarde,
o senhor da vinha disse ao seu feitor: “Chama os operários e paga-lhes o
salário, começando pelos últimos até aos primeiros”. 9 Tendo chegado
os que tinham ido à hora undécima, recebeu cada qual um denário. 10
Chegando também os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; porém, também
eles receberam um denário cada um. 11 Mas, ao receberem, murmuravam
contra o pai de família, 12 dizendo: “Estes últimos trabalharam
somente uma hora, e os igualaste connosco, que suportamos o peso do dia e o
calor”. 13 Porém, ele, respondendo a um deles, disse: “Amigo, eu não
te faço injustiça. Não ajustaste comigo um denário? 14 Toma o que é
teu, e vai-te. Eu quero dar também a este último tanto como a ti. 15
Ou não me é lícito fazer dos meus bens o que quero? Porventura o teu olho é mau
porque eu sou bom?”. 16 Assim os últimos serão os primeiros, e os
primeiros serão os últimos».17 Ao subir Jesus para Jerusalém, tomou
à parte os doze discípulos, e disse-lhes pelo caminho: 18 «Eis que
subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos
sacerdotes e aos escribas, e O condenarão à morte, 19 e O entregarão
aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado, e ao terceiro dia
ressuscitará». 20 Então, aproximou-se d'Ele a mãe dos filhos de
Zebedeu com seus filhos, prostrando-se, para Lhe fazer um pedido. 21
Ele disse-lhe: «Que queres?». Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos
se sentem no Teu reino, um à Tua direita e outro à Tua esquerda». 22
Jesus disse: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu hei-de
beber?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». 23 Disse-lhes:
«Efectivamente haveis de beber o Meu cálice, mas, quanto a sentar-se à Minha
direita ou à Minha esquerda, não pertence a Mim concedê-lo; será para aqueles
para quem está reservado por Meu Pai». 24 Os outros dez, ouvindo
isto, indignaram-se contra os dois irmãos.25 Mas Jesus chamou-os e
disse-lhes: «Vós sabeis que os príncipes das nações as subjugam e que os
grandes as governam com autoridade. 26 Não seja assim entre vós, mas
todo aquele que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo, 27 e
quem quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo. 28 Assim
como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua
vida para resgate de todos».29 Ao saírem
de Jericó, seguiu-O muita gente. 30 Eis que dois cegos, que estavam
sentados à beira da estrada, ouviram dizer que Jesus passava e começaram a
gritar: «Senhor, Filho de David, tem piedade de nós!».3 1 O povo
repreendia-os para que se calassem. Eles, porém, cada vez gritavam mais:
«Senhor, Filho de David, tem piedade de nós!». 32 Jesus parou,
chamou-os e disse-lhes: «Que quereis que Eu vos faça?». 33 «Senhor,
responderam eles, queremos que se abram os nossos olhos!». 34 Jesus,
compadecido, tocou-lhes nos olhos, e no mesmo instante recuperaram a vista e O
seguiram.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO DÉCIMO
CAPÍTULO XXXVII
A tentação do orgulho
Todos os dias somos acometidos por estas tentações, Senhor, somos tentados
sem trégua. Os louvores dos homens são a fornalha onde todos os dias somos
postos à prova.
Também nisso mandas que sejamos continentes. Concede-nos o que mandas, e
manda o que quiseres.
A esse respeito, conheces os lamentos que o meu coração te dirige, e os
rios de lágrimas que brotam dos meus olhos. É-me difícil distinguir o quanto
estou purificado dessa peste, tenho muito medo das minhas faltas ocultas, que os
teus olhos conhecem, e os meus ignoram. Nos outros géneros de tentação, tenho
recursos para me examinar, mas quanto a este, quase nenhum.
Posso avaliar o quanto dominei a minha alma a respeito dos prazeres da
carne e das vãs curiosidades, quando me vejo privado de tais coisas por minha
vontade ou por necessidade.
Então indago-me se é pena maior ou menor o ver-me privado desses dons.
Quanto à riqueza, ambicionada apenas para satisfazer a uma, duas ou
todas as três paixões, no caso em que a alma não perceba se as despreza quando
as possui, depende só dela renunciar a elas para provar seu desapego.
Todavia, para nos privar dos louvores e provar o nosso poder sobre eles,
será talvez necessário levar uma vida má, infame, horrível, a ponto de ninguém nos
conhecer sem nos detestar? Pode-se dizer ou conceber maior insanidade?
Se o louvor deve habitualmente acompanhar uma vida boa e de boas obras,
não será por isso que deveremos abandonar a vida exemplar. Contudo, para
distinguir se a privação de um bem me é indiferente ou penosa, é preciso que me
prive desse bem.
Então, Senhor, que devo confessar-te quanto a tais tentações?
Que tenho em grande apreço o louvor?
Mas agrada-me mais a verdade. Pois, se tivesse que escolher entre duas situações:
ser louvado pela minha loucura ou pelos meus erros ou ser escarnecido por todos
pela minha firme certeza da verdade, bem sei o que escolheria. Contudo, não
gostaria que a aprovação alheia aumentasse em mim a alegria que sinto pelo
pouco bem que faço. Mas tenho de te confessar que não só o louvor a aumenta,
mas também que o vitupério a diminui.
Quando me sinto perturbado por essa miséria, uma desculpa surge em mim.
Só tu sabes, Senhor, se ela é válida, porque a mim me deixa perplexo.
De facto, não nos ordenaste apenas a continência, que nos ensina a
afastar certas coisas de nós, mas também a justiça, que direcciona o nosso
amor. Não quiseste que amássemos somente a ti, mas também o nosso próximo.
Ora, às vezes parece-me que é o aproveitamento e as esperanças de que o
próximo dá mostra que me encantam, quando me regozijo com um elogio inteligente,
e que, pelo contrário, é sua maldade que me entristece quando o ouço censurar o
que ignora ou o que é bom.
Às vezes também me entristeço com os elogios que me fazem, quando louvam
em mim qualidades que me desagradam, ou quando dão muita importância a
qualidades medíocres e secundárias.
Mas, repito-o, como saber se o desagrado não provém da minha repugnância
pelo louvor que destoa do meu juízo a respeito de mim mesmo – não que seu
interesse me preocupe – mas pelo maior agrado que sinto quando o bem que amo em
mim é amado pelos outros? De algum modo, não me considero louvado quando o
elogio contradiz a opinião que tenho de mim mesmo, quer o encómio seja para o
que me desagrada, quer exagerando o valor do que pouco me agrada.
Serei, pois, sobre isso tudo um enigma para mim mesmo?
Mas é em ti, ó Verdade, que percebo que devo alegrar-me com os louvores
que me dirigem, não no meu interesse, mas no interesse do próximo. Não sei se é
este o meu caso, pois neste assunto me conheces melhor do que eu mesmo.
Suplico-te, meu Deus, que me dês a conhecer a mim mesmo, para que eu possa
confessar a meus irmãos, dispostos a orar por mim, as chagas que achar em mim.
Faz que me examine com mais diligência.
Se for de facto o bem do próximo que me alegra quando me louvam, porque
sou menos sensível ao vitupério injustamente feito a outro, do que se fosse a
mim?
Porque o aguilhão da injúria me faz sofrer mais do que injúria igualmente
injusta feita a uma outra pessoa diante de mim?
Acaso também ignoro isto?
Deveria então concluir que me iludo, e que o meu coração e a minha
língua burlam diante de ti a verdade?
Afasta de mim, Senhor, esta loucura, para que minhas palavras não sejam
para mim óleo de pecador para ungir minha cabeça.
CAPÍTULO XXXVIII
A vanglória
Sou pobre e necessitado, e só melhoro quando, com gemidos íntimos e com
desagrado de mim mesmo, busco a tua misericórdia, até que a minha indigência
seja reparada e sanada com a paz que o olho soberbo ignora!
Todavia, as palavras da nossa boca, ou os nossos actos conhecidos dos homens,
encerram uma tentação muito perigosa, filha do amor dos louvores que, para nos
iludir com certa excelência, recolhe e mendiga os aplausos alheios.
A vanglória tenta-me até quando a critico em mim, e é por isso mesmo que
eu a desaprovo. Muitas vezes, por excesso de vaidade, há quem se glorie até
mesmo do desprezo da vanglória, mas de facto não é mais do desprezo da vanglória
que se orgulha, porque ninguém a despreza quando se gloria de a desprezar.
CAPÍTULO XXXIX
O amor-próprio
Há ainda entre nós, profundamente enraizada, outra tentação do mesmo género,
que torna vãos aqueles que se comprazem de si mesmos, ainda que não agradem aos
outros, ou até lhes desagradem, ou sequer procuram agradar-lhes. E quanto mais
enfatuados estejam consigo mesmos, mais te desagradam a ti, não só ao se gloriarem
dos males como se fossem bens, mas sobretudo quando se gloriam dos teus bens
como se fossem deles, ou quando, reconhecendo-os em si, eles os atribuem a
merecimentos seus, ou ainda quando, atribuindo-os à tua graça, eles não os
gozam amigavelmente com os demais, gerando ciúmes e inveja.
Em todos estes perigos e provas, tu vês o temor do meu coração, e sinto
que são mas as feridas que curas em mim do que as que inflijo a mim mesmo.
CAPÍTULO XL
À procura de Deus
Quando deixaste de me acompanhar, ó Verdade, para me ensinar o que eu
devia evitar ou procurar, sempre te consultei, a ti submetendo, dentro da minha
limitação, os meus medíocres pontos de vista? Percorri com os sentidos, como
pude, o mundo exterior. Observei a vida do meu corpo e os meus próprios
sentidos. Depois adentrei nas profundezas da memória em seus múltiplos
domínios, tão maravilhosamente repletos de inúmeras riquezas, observei tudo
isso, estupefato. Sem o teu auxílio nada poderia distinguir, mas reconheci que
nada disto eras tu.
Nem era eu o descobridor de todas essas coisas, me esforcei para
distingui-las e avaliá-las no seu devido valor, recebendo-a através dos
sentidos e interrogando-as. Senti outras coisas unidas a mim, e examinei-as,
assim como aos sentidos que mas traziam, revolvi as vastas reservas da memória,
analisando certas lembranças, guardando umas e trazendo outras à luz.
Porque tu és a luz permanente que eu consultava sobre a existência, o valor
e a qualidade de todas as coisas, e eu ouvia os teus ensinamentos e as tuas
ordens. Costumo fazê-lo muitas vezes, pois essa é a minha alegria, e sempre que
os meus trabalhos me permitem algum descanso, refugio-me nesse prazer.
Em nenhuma dessas coisas que percorro consultando-te, não encontro lugar
seguro para a minha alma senão em ti, só em ti se reúnem os meus pensamentos
esparsos, sem que nada aparte de ti. Às vezes, fazes-me conhecer uma
extraordinária plenitude de vida interior, de inefável doçura que, se chegasse
à contemplação, não seria certamente compatível com esta vida.
Mas torno a cair nesta baixeza, cujo peso me acabrunha, volto a ser
dominado pelos meus hábitos, que me têm cativo e, apesar das minhas lágrimas,
não me libertam.
Tão pesado é o fardo do hábito!
Não quero estar onde posso e não posso estar onde quero: miséria em
ambos os casos!
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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