01/07/2013

Leitura espiritual para 01 Jul

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 19, 1- 15

1 Tendo Jesus acabado estes discursos, partiu da Galileia e foi para o território da Judeia, além Jordão. 2 Uma grande multidão O seguia, e curou os seus doentes. Matrimónio, divórcio e virgindade 3 Foram ter com Ele os fariseus para O tentar, e disseram-Lhe: «É lícito a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?». 4 Ele respondeu: «Não lestes que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher, e disse: 5 “Por isso, deixará o homem pai e mãe, e juntar-se-á com sua mulher, e os dois serão uma só carne”? 6 Portanto, não mais são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu». 7 «Porque mandou, então, Moisés», replicaram eles, «dar o homem à sua mulher libelo de repúdio, e separar-se?». 8 Respondeu-lhes: «Porque Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar vossas mulheres; mas no princípio não foi assim. 9 Eu, porém, digo-vos que todo aquele que repudiar sua mulher, a não ser por causa de união ilegítima, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com uma repudiada, comete adultério». 10 Disseram-Lhe os discípulos: «Se tal é a condição do homem a respeito de sua mulher, não convém casar». 11 Ele respondeu-lhes: «Nem todos compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem foi concedido. 12 Porque há eunucos que nasceram assim do ventre de sua mãe; há eunucos a quem os homens fizeram tais; e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender isto, compreenda». 13 Então, foram-Lhe apresentadas várias crianças para que Lhes impusesse as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos repreendiam-nas. 14 Jesus, porém, disse-lhes: «Deixai as crianças, e não as impeçais de vir a Mim, porque delas é o Reino dos Céus». 15 E, tendo-lhes imposto as mãos, partiu dali.



CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO XXX

Sonho e voluptuosidade

Ordenas que me abstenha da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da ambição do século. Proibiste as uniões luxuriosas, e embora tenhas permitido o casamento, ensinaste que há um estado bem melhor. E, pela tua graça, optei por esse estado, antes mesmo de me tornar dispensador do teu sacramento.
Mas na minha memória, de que falei longamente, vivem ainda as imagens dessas voluptuosidades que os meus costumes de outrora ali gravaram. Sem forças diante de mim quando estou acordado, durante o sono, elas não somente suscitam em mim o prazer, mas o consentimento do prazer e a ilusão da acção. Tais ilusões têm tal poder sobre a minha alma e sobre o meu corpo, apesar de tão falsas, que os seus fantasmas impelem o meu sono o que a realidade não me pode induzir quando em vigília. Acaso então, Senhor meu Deus, será que eu não sou eu nessas horas? E como acontece tão grande diferença dentro de mim mesmo, do momento em que passo da vigília para o sono e vice-versa! Onde pois está a razão, que durante a vigília resiste a tais sugestões, e que não se abala mesmo diante da realidade? Acaso se fecha juntamente com os olhos? Ou adormece com os sentidos do corpo?
E por que, muitas vezes, mesmo no sono, resistimos, lembrados de nosso propósito, e nele permanecemos castos, negando o consentimento a tais seduções? Todavia, a diferença é tanta que, no caso de não resistir durante o sono, ao acordar voltamos a encontrar a paz de consciência, e a própria diferença entre os dois estados indica que não fomos nós que fizemos aquilo, e lamentamos o que se fez em nós.
Senhor onipotente, não poderia a tua mão curar todas as enfermidades de minha alma, abolindo também, com maior abundância de graça, os movimentos lascivos de meu sono? Cada vez mais multiplica, Senhor, o número de tuas bondades para comigo, para que a minha alma, livre do visco da concupiscência, siga até chegar a ti. Para que não seja rebelde, nem mesmo durante o sono, para que, pelo estímulo de imagens bestiais, não só não cometa essas torpezas degradantes até a lascívia carnal, mas que nem mesmo consinta nisso.
Não é muito para ti, ó Todo-Poderoso, que podes fazer mais do que pedimos e compreendemos, fazer com que, quer minha idade presente, quer na minha vida futura, eu me deleite nessas tentações – mesmo que sejam tão pequenas, que o primeiro esforço as venceria, quando adormeço com pensamentos castos.
Agora digo exultando no meu Senhor em que estado me encontro neste género de pecado, com tremor pelos dons que já me concedeste, e gemendo pelas minhas imperfeições.

Espero que aperfeiçoes em mim as tuas misericórdias, até que atinja a plenitude da paz de que gozarão em ti o meu espírito e o meu corpo, quando a morte for absorvida pela vitória.

CAPÍTULO XXXI

A intemperança

O dia traz-me novo pecado, e oxalá fosse o único! Comendo e bebendo, restauramos as diuturnas perdas de nosso corpo, até ao dia em que destruirás o alimento e o estômago, matando a minha necessidade com uma maravilhosa saciedade, e revestindo este corpo corruptível de eterna incorruptibilidade.
Mas por ora esta necessidade é-me grata, e luto contra essa delícia, para que não me domine, é uma guerra quotidiana que sustento com jejum, reduzindo o meu corpo à escravidão. Mas as minhas dores são eliminadas pelo prazer, porque a fome e a sede são sofrimentos: queimam e matam como a febre se os alimentos não lhe põem remédio. Mas como esse remédio está sempre à nossa disposição, graças à liberdade dos teus dons que põe à disposição da nossa fraqueza a terra, a água e o céu, as nossas misérias recebem por nós o nome de delícias.
Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. Mas quando passo dessa penosa necessidade à paz da saciedade, nessa passagem a concupiscência arma para mim a sua cilada. Esta passagem é prazerosa, e não há outra para se chegar onde a necessidade nos obriga. A razão do beber e do comer é a conservação da saúde, mas um prazer insidioso acompanha como lacaio essas funções, e tenta sempre tomar a dianteira, de modo que faço pelo prazer o que digo fazer por minha saúde.
Ora, a medida do prazer não é a mesma da saúde, o que é bastante para a saúde não o é para o prazer, e muitas vezes é difícil discernir se é o cuidado com o corpo que pede reforço de alimento, ou se é a gula que nos engana e quer ser servida. Essa incerteza alegra nossa pobre alma, feliz por ter encontrado um álibi e uma desculpa na impossibilidade de determinar o que basta para o cuidado com a saúde, e sob o pretexto da sua conservação esconde a busca do prazer. Esforço-me para resistir a essas tentações diárias, e invoco a tua mão para me socorrer. A ti confesso a minha incerteza, porque sobre este ponto meu juízo ainda não é firme.
Ouço a voz do meu Deus que ordena: “Não se façam pesados vossos corações com a intemperança e embriaguez”. A embriaguez está longe de mim, que a tua misericórdia não a deixe aproximar-se. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar o teu servo. A tua misericórdia há de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser temperante senão pela tua graça.
Concedes-nos muitas coisas quando te invocamos, e todo o bem que recebemos, mesmo antes de o pedir, é a ti que sempre o devemos. E o próprio acto de reconhecermos que esses dons são teus, é ainda graça tua. Nunca estive embriagado, mas conheci muitos, dados a esse vicio, que se tornaram sóbrios pela tua graça. Assim, é graças a ti que alguns não são o que nunca foram, e também é graças a ti que outros não são mais o que foram, e é graças a ti, enfim, que estes e aqueles sabem a quem devem essa graça.
Ouvi ainda de ti outra palavra: “Não corras atrás das tuas concupiscências, e reprime os teus apetites” – A tua graça ainda me fez ouvir outra palavra, de que tanto gostei: “Se comemos, não teremos abundância, e se não comemos, não sofreremos privação”. – Ou seja: nem isto me fará rico, nem aquilo pobre. – E ouvi ainda esta outra: “Aprendi a contentar-me com o que tenho: sei viver na abundância e suportar a penúria. Tudo posso naquele que me fortalece”. – Eis como fala o bom soldado da milícia celeste: nada parecido ao pó que somos. Mas, Senhor, lembra-te que somos pó, e que de pó fizeste o homem, que este havia se perdido, e que foi reencontrado.
Por si mesmo, formado do mesmo pó que nós, nada podia aquele cujas palavras inspiradas tanto amei: “Tudo posso naquele que me fortalece” – Concede-me forças, para que eu possa. Dá-me o que mandas, e manda o que quiseres. Paulo confessa que tudo recebeu de ti, e, quando se gloria, é no Senhor que se gloria.
Ouvi também outro que te pedia esta graça: “Afasta de mim a intemperança”. – De onde se conclui claramente, ó Deus santo, que dás a força de cumprir o que mandas.
“Tu me ensinaste, Pai bondoso, que tudo é puro para os puros, mas que é mau para o homem comer com escândalo, que tudo o que fizeste é bom, e que nada deve ser rejeitado do que se recebe com acção de graças, que os alimentos não nos recomendam a Deus, que ninguém nos deve julgar pela comida ou pela bebida, que o que come não deve julgar o que não come”. –
Por essas lições, graças e louvores te dou, meu Deus, meu Mestre, que bateste à porta dos meus ouvidos e iluminaste o meu coração. Livra-me de toda tentação. Não receio a impureza dos alimentos, mas a impureza do prazer.
Sei que Noé teve permissão de comer toda espécie de carne que pudesse servir de alimento, e que Elias comeu carne para reparar as forças, sei que João Baptista, asceta admirável, não se manchou com os animais – os gafanhotos – de que se alimentava. Todavia eu sei que Esaú se deixou enganar pelo desejo de um prato de lentilhas, que David se repreendeu a si mesmo por ter desejado água, que o nosso Rei foi submetido à tentação, não de carne, mas de pão. Por isso o povo foi justamente repreendido no deserto, não por ter desejado comer carne, mas porque o desejo o fez murmurar contra o Senhor.
Exposto a estas limitações, luto diariamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois não é coisa que possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta ao meu paladar, ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de facto grande, e deve engrandecer o teu nome. Eu porém não sou desse número, porque sou pecador. Contudo, também, eu engrandeço teu nome, e Aquele que venceu o mundo intercede junto a ti pelos meus pecados. Conta-me entre os membros enfermos do seu corpo, porque os teus olhos viram as minhas imperfeições e porque todos serão inscritos no teu livro.

CAPÍTULO XXXII

Os prazeres do olfato

Quanto à sedução dos perfumes, não me preocupo demais. Quando ausentes, não os procuro, quando presentes, não os recuso, mas estou sempre disposto a abster-me deles. Pelo menos assim me parece, embora talvez me engane. Trevas deploráveis me envolvem, que me escondem as minhas faculdades reais, por isso, quando o meu espírito indaga à respeito das suas forças, bem sabe que não pode confiar em si mesmo, por seu íntimo permanecer muitas vezes insondável, até que a experiência lho manifeste. Ninguém pois se deve ter seguro nesta vida, que é tentação perpétua. Pois como podemos tornar-nos melhores, não aconteça tornarmo-nos piores. Nossa única esperança, a nossa única confiança, a nossa firme promessa é tua misericórdia.

CAPÍTULO XXXIII

Os prazeres do ouvido

Os prazeres do ouvido prendem-me e subjugam-me com mais força, mas tu me desligaste, me libertaste.
Agradam-me ainda, eu o confesso, os cânticos que as tuas palavras vivificam, quando executados por voz suave e artística, todavia eles não me prendem, e deles posso desenvencilhar-me quando quero. Para assentarem no meu íntimo, em companhia com os pensamentos que lhe dão vida, buscam no meu coração um lugar de dignidade, mas eu esforço-me ou ofereço-me para ceder-lhes só o lugar conveniente.
Às vezes parece-me tributar-lhe mais atenção do que devia: sinto que as tuas palavras santas, acompanhadas do canto, me inflamam de piedade mais devota e mais ardente do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que as emoções da alma encontram na voz e no canto, conforme as suas peculiaridades, o seu modo de expressão próprio, um misterioso estímulo de afinidade.
Mas o prazer dos sentidos, que não deveria seduzir o espírito, muitas vezes me engana. Os sentidos não se limitam a seguir, humildemente, a razão, o mesmo tendo sido admitidos graças a ela, buscam precedê-la e conduzi-la. É nisso que peco sem o sentir, embora, depois, o perceba.
Outras vezes, porém, querendo exageradamente evitar este engano, peco por excessiva severidade, chego ao ponto de querer afastar dos meus ouvidos, e da própria Igreja, a melodia dos suaves cânticos que habitualmente acompanham os salmos de David. Nessas ocasiões parece-me que o mais seguro seria adoptar o costume de Atanásio, bispo de Alexandria. Segundo me relataram, ele mandava-os recitar com tão fraca inflexão de voz, que era mais uma declamação do que um canto.
Contudo, quando lembro das lágrimas que derramei ao ouvir os cantos de tua Igreja, nos primórdios de minha conversão, e que ainda agora me comovem, não tanto com o canto, mas com as letras cantadas, voz clara e modulações apropriadas, reconheço novamente a grande utilidade desse costume.
Assim, oscilo entre o perigo do prazer e a constatação dos efeitos salutares do canto. Por isso, sem emitir juízo definitivo, inclino-me a aprovar o costume de cantar na igreja, para que, pelo prazer do ouvido, a alma ainda muito fraca, se eleve aos sentimentos de piedade. E quando me comovem mais os cantos do que as palavras cantadas, confesso o meu pecado e mereço penitência, e então preferiria não ouvir cantar.
Eis em que estado me encontro! Chorai comigo, e chorai por mim, vós que alimentais no coração a virtude, fonte de boas obras. Porque vós, a quem isso não afecta, sois insensíveis a tudo isso. E tu, Senhor meu Deus, escuta, olha e vê, tem piedade de mim, cura-me. Eis que me tornei um problema para mim mesmo, sob o teu olhar, e aí está precisamente meu mal.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)


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