Em seguida devemos tratar dos efeitos do prazer. E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art.
1 ― Se a dilatação é efeito do prazer.
Art.
2 ― Se o prazer nos provoca desejá-lo mais.
Art.
3 ― Se o prazer impede o uso da razão.
Art.
4 ― Se o prazer aperfeiçoa a operação.
Art. 1 ― Se a dilatação é
efeito do prazer.
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que a dilatação não é efeito do prazer.
1.
― Pois, a dilatação concerne antes, ao amor, segundo o dito do Apóstolo (II
Cord 6, 11): o nosso coração tem-se dilatado. E por isso, diz a
Escritura, falando do preceito da caridade (Sl 118, 96): o teu mandamento
é largo sem medida. Ora, o prazer é uma paixão diferente do amor. Logo, a
dilatação não é um efeito do prazer.
2.
Demais. ― O que se dilata torna-se mais capaz de receber. Ora, receber concerne
ao desejo, referente a um objecto ainda não possuído. Logo, a dilatação
concerne mais ao desejo que ao prazer.
3.
Demais. ― A contracção opõe-se à dilatação, mas é própria do prazer, pois
contraímos aquilo que queremos reter. Ora, o mesmo se dá com o afecto do
apetite em relação ao que deleita. Logo, a dilatação não concerne ao prazer.
Mas,
em contrário, para exprimir a alegria, diz a Escritura (Is 60, 5):
Então tu verás e estarás em afluência, e o teu coração se espantará e se
dilatará fora de si mesmo. E demais disso, deleitação, ou prazer, vem de
dilatação, e por isso também se chama ledice (Laetitia), como já se disse 1.
A latitude é uma dimensão da grandeza corpórea, e por isso se atribui aos afectos
da alma só metaforicamente. Ora, a dilatação é assim chamada por ser um quase
movimento para a latitude, e é própria da deleitação por causa de duas
condições que esta requer. ― Uma diz respeito à virtude apreensiva, que
apreende a união com um bem conveniente. E por esta apreensão, o homem percebe
ter alcançado uma certa perfeição, que é a grandeza espiritual. E então se diz
que a sua alma se engrandece ou dilata, pelo prazer. ― Outra condição é a
atinente à virtude apetitiva, que assente no objecto deleitável, nele descansa
e como se lhe entrega, para apreendê-la no seu interior. E assim, o afecto do
homem dilata-se pela deleitação, quase se entregando para conter dentro de si o
objecto que deleita.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Nada impede que uma mesma expressão
metafórica se atribua a objectos diversos, segundo semelhanças diversas. Assim,
a dilatação é própria do amor, em virtude de uma certa extensão, i. é, enquanto
o afecto do amante se estende a outros e o leva a cuidar não só do que é seu,
mas também do que aos outros pertence. À deleitação, por outro lado, é própria
a dilatação, enquanto um ser se alarga para se tornar como que mais capaz.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O desejo acarreta certamente uma dilatação, por causa da
imaginação da coisa desejada, mas muito mais, pela presença do objecto que já
deleita. Pois, o ânimo entrega-se mais ao objecto que já deleita do que ao que
é desejado e ainda não possuído, porque o prazer é o fim do desejo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Quem se deleita contrai, por certo, aquilo que deleita,
inerindo-se-lhe fortemente, mas ao mesmo tempo, dilata o coração para fruir
perfeitamente do objecto deleitável.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
Q. 31, a. 3.
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