Questão 32: Da causa do prazer
Art. 7 ― Se a semelhança é causa do prazer.
O sétimo discute-se assim. ― Parece que a semelhança não é causa do prazer.
1. ― Pois, governar e presidir implica dissemelhança. Ora, ambos são deleitáveis, naturalmente, como diz Aristóteles 1. Logo, mais que a semelhança, a dissemelhança é causa do prazer.
2.
Demais. ― Nada é mais dissemelhante do prazer que a tristeza. Ora, os que
sofrem de alguma tristeza são os que mais procuram os prazeres, como diz
Aristóteles 2. Logo, a dissemelhança é, mais que a semelhança, causa
do prazer.
3.
Demais. ― Os que superabundam em certos prazeres não se deleitam, mas antes, se
enfastiam com eles, como o mostram os que se abarrotam de alimentos. Logo, a
semelhança não é causa do prazer.
Mas,
em contrário, a semelhança é causa do amor, como antes se disse 3.
Ora, o amor é causa do prazer. Logo, a semelhança é causa do prazer.
A semelhança é uma certa unidade, por isso, o semelhante, enquanto uno, é
deleitável e amável, como já dissemos 4. Donde, o semelhante que não
corrompe, mas aumenta o nosso bem próprio, é deleitável, absolutamente, assim,
o homem para o homem, o jovem para o jovem. O que porém corrompe o nosso bem
próprio torna-se-nos acidentalmente aborrecido e causa a tristeza, não por
certo como semelhante e uno, mas por corromper o que tem maior unidade.
Ora,
o semelhante pode corromper o nosso bem próprio de dois modos. De um modo,
corrompendo a medida desse bem, por excesso, pois o bem, sobretudo o corpóreo,
como a saúde, consiste numa certa comensuração, e por isso, os que superabundam
em alimento ou em qualquer prazer corpóreo, se enfastiam. De outro modo, por
contrariedade directa com o bem próprio, assim, os oleiros se detestam, não
como oleiros, mas por uns fazerem os outros perder a excelência ou lucro
próprios, que desejam como bem próprio.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Entre governador e governado, havendo uma
certa comunidade, há também uma determinada semelhança que porém implica uma
determinada excelência, porque governar e presidir respeitam à excelência do
bem próprio, assim, aos prudentes e aos melhores compete governar e presidir, e
isso desperta no homem, a representação da bondade própria. ― Ou porque,
governando ou presidindo, fazemos bem aos nossos semelhantes, e isso é
deleitável.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Aquilo com que se deleita o homem triste, embora não seja semelhante
à tristeza contudo é semelhante a ele, pois a tristeza contraria o bem próprio
de quem está triste, e por isso os tristes desejam o prazer, que contribui para
o seu próprio bem, enquanto remédio do contrário. E esta é a causa pela qual os
prazeres corpóreos, a que são contrárias certas tristezas, são mais desejados
do que os intelectuais, que a contrariedade da tristeza não tem, como a seguir
se dirá 5. E assim se explica também porque todos os animais desejam
naturalmente o prazer, pois o animal tem a sua actividade sempre ligada aos
sentidos e ao movimento. E também porque os moços são os que mais buscam o
prazer, por causa das muitas mudanças, que, por crescerem, sofrem. E por fim,
também os melancólicos desejam veementemente os prazeres, para expulsar a
tristeza, pois, o corpo deles é como que corroído pelo mau humor, conforme
Aristóteles 6.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Os bens corpóreos implicam uma certa medida. Donde, o super-excesso
de prazeres semelhantes corrompe o bem próprio. E assim, esse super-excesso
torna-se fastidioso e causa de tristeza, enquanto contraria o bem próprio do
homem.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. I Rhetor., cap. XI.
2. VII Ethic., lect. XIV.
3. Q. 27, a. 3.
4. Ibid.
5. Q. 35, a. 5.
6. VII Ethic., lect. XIV.
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