29/06/2013

Leitura espiritual para 29 Jun



Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 17, 14-27, 18, 1-11

14 Tendo ido para junto do povo, aproximou-se um homem que se lançou de joelhos diante d'Ele, dizendo: 15 «Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas na água. 16 Apresentei-o a Teus discípulos, e não o puderam curar». 17 Jesus respondeu: «Ó geração incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá». 18 Jesus ameaçou o demónio, e este saiu do jovem, o qual, desde aquele momento, ficou curado. 19 Então os discípulos aproximaram-se de Jesus, em particular, e disseram-Lhe: «Porque não pudemos nós lançá-lo fora?». 20 Jesus disse-lhes: «Por causa da vossa falta de fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Passa daqui para acolá”, e ele passará, e nada vos será impossível. 21 Esta espécie de demónios não se lança fora senão mediante a oração». 22 Enquanto andavam pela Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, 23 eles Lhe darão a morte, e ressuscitará ao terceiro dia». Eles entristeceram-se em extremo. 24 Quando entraram em Cafarnaum, chegaram-se a Pedro os que recebiam a didracma, e disseram-lhe: «Vosso Mestre não paga a didracma?». 25 Ele respondeu-lhes: «Sim». Quando Pedro entrou em casa, Jesus adiantou-Se, dizendo: «Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o imposto? De seus filhos, ou dos estranhos?». 26 Ele respondeu: «Dos estranhos». Disse-lhe Jesus: «Logo os filhos estão isentos. 27 Todavia, para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro peixe que vier, toma-o e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estáter. Toma-o, e dá-lho por Mim e por ti»
18 1 Naquela mesma ocasião aproximaram-se de Jesus os discípulos, dizendo: «Quem é o maior no Reino dos Céus?». 2 Jesus, chamando uma criança, pô-la no meio deles 3 e disse: «Na verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. 4 Aquele, pois, que se fizer pequeno como esta criança, esse será o maior no Reino dos Céus. 5 E quem receber em Meu nome uma criança como esta, é a Mim que recebe. 6 Porém, quem escandalizar um destes pequeninos, que crêem em Mim, melhor lhe fora que lhe pendurassem ao pescoço a mó de um moinho e que o lançassem ao fundo do mar. «Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo!8 Por isso, se a tua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um pé ou mão a menos do que, tendo duas mãos e dois pés, ser lançado no fogo eterno. 9 E, se o teu olho te escandaliza, arranca-o e lança-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que, tendo dois, ser lançado no fogo da Geena. 10 Vede, não desprezeis um só destes pequeninos, pois vos declaro que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de Meu Pai que está nos céus. 11 Omitido pela Neo-Vulgata.


CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO XVII

Deus e a memória

Grande é o poder da memória! E ela tem algo de terrível, meu Deus, em sua complexidade infinita e profunda. E isto é o espírito, e isto sou eu mesmo.

Que sou, pois meu Deus?
Qual a minha natureza?

Vida vária e multiforme, de amplidão imensa. Eis-me em minha memória, em seus campos, antros, inumeráveis cavernas, tudo isso infinitamente cheio de toda espécie de coisas, também inumeráveis. Umas gravadas em imagens, como os corpos, outras, estão sob a forma de não sei que noções e sinais, como os afectos da alma, que a memória conserva quando a alma já não os sente, embora tudo o que está na memória esteja também no espírito. Percorro em todas as direcções este mundo interior, vou de um lado para outro, e nele me aprofundo o mais possível, sem lhe encontrar os limites, tão grande é a vida que reside no homem mortal!

Que hei de fazer, pois, meu Deus, minha verdadeira vida?
Ultrapassarei também esta faculdade que se chama memória?
Ultrapassá-la-ei para chegar a ti, doce luz?
Que dizes?

Subindo em espírito a ti, que estás acima de mim, ultrapassarei também esta minha força, que se chama memória, pois quero atingir-te onde és acessível, e unir-me a ti por onde possa fazê-lo.
Também os animais e as aves têm memória, porque de outro modo não voltariam a seus ninhos e tocas, nem fariam outras coisas habituais, e nem mesmo poderiam adquirir hábitos sem a memória.
Passarei, pois, além da memória para chegar àquele que me separou dos animais e me fez mais sábio que as aves do céu.
Passarei além da memória, mas onde te hei-de achar, ó Deus verdadeiramente bom, suavidade segura?
Onde te hei-de encontrar?
Se te encontro sem a minha memória, estou esquecido de ti, e se não me lembro de ti, como te poderei encontrar?

CAPÍTULO XVIII

A memória das coisas perdidas

Uma mulher perdeu uma dracma, e procurou-a com a sua lanterna.
Mas se não se lembrasse dela, não haveria de encontra-la, de facto, se dela não lembrasse, como poderia saber, ao achá-la, que era aquela?

Lembro-me de ter procurado e achado muitas coisas perdidas, sei disso porque, estando eu à procura, me diziam: “Por acaso é esta?” “Por acaso é aquela?” – e eu sempre respondia que não, até encontrar o que procurava. Se não tivesse fixado a lembrança do objecto, fosse o que fosse, ainda que me fosse mostrado, não o encontraria, pois não o poderia reconhecer. E sempre que perdemos e achamos alguma coisa acontece o mesmo.
Se alguma coisa desaparece de nossa vista, e não da memória – como sucede com um corpo visível – conservamos interiormente a sua imagem e o procuramos até que apareça a nossos olhos. Quando for encontrado, será reconhecido de acordo com essa imagem interior. Não podemos dizer que encontramos um objecto perdido se não o reconhecemos, nem o podemos reconhecer se dele não lembramos. Tinha pois desaparecido da nossa vista, mas era conservado pela memória.

CAPÍTULO XIX

A memória das lembranças

E quando a própria memória perde uma lembrança, como acontece quando nos esquecemos de algo e procuramos recordá-la, o que se passa?
Onde, afinal, a procuramos senão na própria memória?
E se esta, por acaso, nos oferece uma coisa por outra, a repelimos até que apareça o que buscamos. E assim que aparece dizemos: “É isto”. E assim não diríamos se não a reconhecêssemos, e não a reconheceríamos se dela não houvesse registo. É certo, portanto, que já a havíamos esquecido.
Ou será que ela não se apagara totalmente de nossa memória, por meio da parte que nos ficou impressa procuramos a outra?

A memória, nesse caso, teria ciência de não poder, como de ordinário, fornecer a lembrança em seu conjunto e, mutilada, reclamaria e parte em falta. É o que sucede quando vemos uma pessoa conhecida, ou nela pensamos sem poder recordar o seu nome. Se outro nome se nos apresenta ao espírito, não o associamos à tal pessoa, por isso o afastamos, até que se apresenta um que concorde com nossa representação habitual da pessoa.

Mas donde nos vem este nome, senão da memória?

Mesmo quando nos é sugerido por outrem, é pela memória que o reconhecemos, não o aceitamos como um conhecimento novo, mas recordando-o, confirmamos ser esse o nome que nos disseram. Se fosse totalmente apagado da alma, nem mesmo avisados o reconheceríamos.
Não podemos pois, afirmar que nos esquecemos completamente daquilo de que nos lembramos ter esquecido. De nenhum modo poderíamos resgatar uma lembrança perdida se o seu esquecimento fosse total.

CAPÍTULO XX

A memória da felicidade

E como hei-de buscar-te, Senhor?

Quando te procuro, meu Deus, estou à procura da felicidade. Procurar-te-ei para que minha alma viva, porque o meu corpo vive da minha alma, e a minha alma vive de ti.
Como então devo buscar a felicidade?
Porque não a possuirei até que possa dizer “basta”?
Como, pois, procurá-la?
Talvez pela lembrança, como se a tivesse esquecido, guardando contudo a lembrança do esquecimento?
Ou pelo desejo de conhecer algo desconhecido ou por nunca tê-lo vivido, ou por tê-lo esquecido a ponto de nem ter consciência do seu esquecimento?
Mas não será justamente a felicidade que todos querem, sem exceção?
E onde a conheceram para a desejarem tanto?
Onde a viram para assim a amarem?

O que é certo é que está em nós a sua imagem. Mas não sei como isto se dá. E há diversos modos de ser feliz: quer possuindo realmente a felicidade, quer possuindo apenas a sua esperança. Este último modo é inferior ao dos que são realmente felizes, embora estejam melhor que os não felizes nem na realidade, nem na esperança. Mesmo estes, todavia, não desejariam tanto a felicidade se esta lhes fosse completamente estranha, e é certo que a desejam.
Não sei como a conheceram, e portanto ignoro a noção que dela têm. O que me preocupa é saber se essa noção reside na memória, pois, se é lá que reside, é sinal de já fomos felizes alguma vez.
Por ora não busco saber se todos fomos felizes individualmente, ou se o fomos naquele que pecou primeiro, e no qual todos morremos, e de quem nascemos na infelicidade.
O que procuro saber é se a felicidade reside na memória, porque certamente não a amaríamos se não a conhecêssemos.
Mal ouvimos esta palavra, e todos confessamos que desejamos a mesma coisa, e não é o som da palavra que nos deleita.
Quando um grego a ouve pronunciar em latim, não se alegra, porque ignora o seu sentido. Mas nós alegramo-nos ao ouvi-la, como ele se a ouvisse em sua língua.
A felicidade, com efeito, não é grega nem latina, mas gregos e latinos, assim como todos que falam outras línguas, desejam alcançá-la.
Logo, a felicidade é conhecida de todos, e se fosse possível perguntar-lhes a uma voz:”
Quereis ser felizes?” – todos, sem hesitar, responderiam que sim. E isso não aconteceria se a memória não tivesse em si a realidade, expressa por essa palavra.

CAPÍTULO XXI

A memória do que nunca tivemos

Podemos comparar essa lembrança à que conserva de Cartago, quem a viu?
Não, a felicidade não se vê com os olhos, pois não é corporal. Seria pois comparável à lembrança dos números?
Também não, pois quem conhece os números não deseja adquiri-los. Pelo contrário, a ideia da felicidade inclina-nos a amá-la e a querer possuí-la, para sermos felizes.
Lembramo-nos dela, talvez, como lembramos da eloquência?
Também não, embora ao ouvir essa palavra, muitos que não são eloquentes a associam à realidade que ela exprime, e desejariam obtê-la, o que indica que já têm ideia de eloquência. Foi porém pelos sentidos do corpo que ouviram a eloquência alheia, deleitando-se com ela, e desejando também ser eloquentes. E certamente não lhes daria prazer se já não tivessem uma ideia da eloquência, e nem a desejariam se esta não os tivesse deleitado. Mas a felicidade não a percebemos nos outros por nenhum sentido corporal.

Essa lembrança, será porventura comparável à da alegria?
Talvez, pois quando estou triste lembro-me da alegria passada, e quando infeliz, lembro-me da felicidade. Ora, esta alegria, eu jamais a vi, ou ouvi, ou senti, ou saboreei, ou toquei, apenas a experimentei em minha alma quando me alegrei. E esta ideia fixou-se na minha memória para que eu pudesse recordá-la, às vezes com desgosto, outras com saudades, conforme as circunstâncias que a geraram.
De facto senti-me invadido de alegria causada por acções torpes, cuja lembrança agora aborreço e abomino, outras vezes alegrei-me por acções boas e honestas, das quais me lembro com saudade, mas já pertencem ao passado, e evoco com tristeza a minha antiga alegria.

Mas onde e quando, então, experimentei a felicidade para lembrar-me dela, para amá-la e desejá-la?
Não sou eu apenas, ou alguns que a desejam, mas todos, sem exceção queremos ser felizes. Sem uma noção precisa da felicidade, nossa vontade não teria essa firmeza.
Que significa isto?
Se perguntarmos a dois homens se querem alistar-se no exército, talvez um responda que sim o outro que não. Mas, perguntemos se desejam ser felizes, e ambos responderão que sim, sem nenhuma hesitação. E desejando um engajar-se, e o outro não, têm ambos a mesma finalidade: ser felizes. Um gosta disto, outro daquilo, mas ambos concordam em ser felizes, como seria unânime a resposta afirmativa a quem lhes perguntasse se querem estar alegres.

Essa alegria é o que eles chamam de felicidade.
E ainda que um siga por um caminho e outro por outro, a finalidade de todos é um só: a alegria.
Como a alegria é um sentimento do qual todos temos experiência, encontramo-la na nossa memória, e reconhecemo-la ao ouvir pronunciar a palavra felicidade.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)

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