Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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44 «O Reino dos Céus é semelhante a um
tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o e, cheio de
alegria pelo achado, vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo. 45
O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca pérolas
preciosas 46 e, tendo encontrado uma de grande preço, vai, vende
tudo o que tem e a compra. 47 «O Reino dos Céus é ainda semelhante a
uma rede lançada ao mar, que apanha toda a espécie de peixes. 48
Quando está cheia, os pescadores tiram-na para fora e, sentados na praia,
escolhem os bons para cestos e deitam fora os maus. 49 Será assim no
fim do mundo: virão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, 50
e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 51
Compreendestes tudo isto?». Eles responderam: «Sim». 52 Ele
disse-lhes: «Por isso todo o escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus é
semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». 53
Quando Jesus acabou de dizer estas parábolas partiu dali. 54 E, indo
para a Sua terra, ensinava nas sinagogas, de modo que se admiravam e diziam:
«Donde Lhe vem esta sabedoria e estes milagres? 55 Porventura não é
este o filho do carpinteiro? Não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago,
José, Simão e Judas? 56 Suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde,
pois, Lhe vêm todas estas coisas?». 57 E estavam perplexos a Seu
respeito. Mas Jesus disse-lhes: «Não há profeta sem prestígio a não ser na sua
terra e na sua casa». 58 E não fez ali muitos milagres, por causa da
incredulidade deles.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO NONO
CAPÍTULO II
Adeus ao magistério
Pareceu-me de bom alvitre, na tua presença, não abandonar de modo
ostensivo o ministério da minha língua, mas retirá-lo suavemente do mercado da
loquacidade, para que dali por diante os jovens, que não se preocupam com tua
lei ou paz, mas com as enganosas loucuras e contendas forenses, não comprassem
de minha boca armas para seu furor.
Felizmente faltavam pouquíssimos dias para as férias das vindimas (é
provável que as férias de outono dos estudantes coincidissem com as férias dos
tribunais, que se iniciavam em 22 de Agosto, e terminavam em 15 de Outubro).
Decidi suportá-los até lá. Então me retiraria como de costume, e, resgatado por
ti, não tornaria mais a vender os meu ofícios.
Esta minha determinação, era-te conhecida, os homens, só a conheciam os
de minha intimidade. E, mesmo assim, tínhamos combinado de nada deixar
transpirar. Contudo, quando subíamos do vale de lágrimas, cantando o cântico
gradual (série de salmos cantados pelos
peregrinos que sobem os degraus do templo de Jerusalém) nos tinhas dado
setas agudas e carvões destruidores contra a língua pérfida que contradiz, sob o
pretexto de aconselhar e, como quem se alimenta, consome o que ama.
Tinhas alvejado o nosso coração com as setas do teu amor, e levávamos as
tuas palavras cravadas nas nossas entranhas, os exemplos dos teus servos, que
das trevas trouxeram para a luz, e da morte para a vida, ardiam no fundo de
nosso espírito numa espécie de fogueira, que inflamava e consumia o nosso
torpor, para que não mais nos inclinássemos para as baixezas.
Estávamos inflamados de tal ardor, que o vento da contradição das
línguas dolosas não nos apagaria, antes fazia-nos arder mais e mais.
Contudo, por causa de teu nome, que santificaste em toda terra, a nossa
decisão e propósito teriam também quem os louvasse. Pareceria de certo modo
jactância não aguardar as férias tão próximas, abandonar antes dessa data uma
profissão pública, e exposta a todos, seria atrair sobre a minha conduta todas
as atenções, provocando comentários.
Diriam que eu me adiantara às férias iminentes por querer parecer grande
personagem.
E de que me valeria que pensassem ou discutissem sobre as minhas
intenções, blasfemando sobre o meu bem?
Além disso, nesse mesmo verão, devido ao excessivo trabalho didático, os
meus pulmões começaram a ressentir-se, respirava com dificuldade, e as dores no
peito e a minha voz, que não saía clara ou prolongada, revelavam uma lesão.
A princípio senti-me angustiado, vendo-me quase obrigado a abandonar o
fardo do magistério ou, para me curar e convalescer, teria certamente de o
interromper. Mas, quando nasceu em mim e se firmou a vontade plena de repousar
e de ver que és o Senhor, então, tu o sabes meu Deus, que cheguei a alegrar-me
de encontrar esta desculpa verdadeira para moderar o sentimento das famílias,
que por causa de seus filhos nunca me permitiram ser livre.
Cheio dessa consolação, esperava que escoasse aquele tempo – talvez uns
vinte dias.
Mas minguara a minha coragem, porque já me abandonara a cobiça de ganho,
que me ajudava a carregar este pesado encargo, e teria sucumbido se a paciência
não tomasse o lugar da ambição.
Talvez alguns de teus servos, meus irmãos, dirá que pequei nisso porque,
estando com o coração já cheio de desejos de te servir, consenti ficar mais uma
hora sentado na cátedra da mentira.
Não discutirei.
Mas tu, Senhor misericordiosíssimo, acaso não me perdoaste e resgataste também
este pecado, junto com todos os demais horrendos e mortais na água santa do baptismo?
CAPÍTULO III
Dois amigos
Angustiava-se Verecundo por este nosso bem, porque se via afastado da
nossa companhia pelos vínculos matrimoniais que o aprisionavam fortemente.
Não era ainda cristão, como a sua mulher, mas justamente nela encontrava
o maior obstáculo que o impedia de entrar pelo caminho que havíamos começado a
trilhar, não queria ser cristão, dizia ele, senão do modo que justamente lhe
era proibido.
Contudo, com a sua grande bondade, pôs à nossa disposição a sua
propriedade no campo pelo tempo que nos aprouvesse.
Tu, Senhor, haverás de recompensá-lo no dia da retribuição dos justos,
pois já concedeste a graça. Porque, estando nós ausentes e já em Roma, atacado
de uma enfermidade corporal, Verecundo saiu desta vida depois de se fazer
cristão e crente. Assim te compadeceste não apenas dele, mas também de nós,
para que quando pensássemos na grande generosidade que teve connosco este
amigo, não nos afligíssemos de dor intolerável por não poder contá-lo entre os
de tua grei.
Graças te sejam dadas, ó Deus nosso! Somos teus: as tuas exortações e
consolos o indicam.
Fiel cumpridor das tuas promessas, concedes a Verecundo a amenidade de teu
paraíso sempre florido, por nos ter oferecido sua propriedade de Cassicíaco, na
qual descansamos em ti das angústias do século, lhe perdoaste os pecados sobre
a terra, na tua montanha, a montanha da abundância.
Verecundo, como disse, angustiava-se, mas Nebrídio partilhava a nossa
alegria, porque, embora não sendo ainda cristão e houvesse caído no erro tão
pernicioso de julgar que a carne verdadeira do teu Filho fosse mera aparência,
já começava a desvencilhar-se e, sem ter ainda recebido os sacramentos da tua
Igreja, buscava ardentemente a verdade.
Não muito depois de nossa conversão e regeneração pelo teu baptismo,
fez-se por fim católico fiel. Servia-te na África junto aos seus, em castidade
e continência perfeitas, toda sua família, sob sua influência, se fizera
cristã. Libertaste-o então dos laços da carne, vivendo agora
no seio de Abraão, seja qual for o significado dessa expressão. Ali vive
meu Nebrídio, meu doce amigo que, de liberto, se tornou teu filho adotivo. Ali
vive – pois, que outro lugar conviria a uma alma assim? Ali vive, nesse lugar
sobre o qual indagava muitas coisas a mim, pobre homem ignorante. Já não
aproxima seu ouvido da boca, mas aproxima sua boca espiritual de tua fonte, e
bebe avidamente da tua sabedoria, numa felicidade sem fim.
Mas não creio que se embriague a ponto de se esquecer de mim, enquanto
tu, Senhor, que és sua bebida, te lembras de nós.
Essa era a nossa situação.
Consolávamos o Verecundo que, sem que a amizade fenecesse, andava
desgostoso com nossa conversão, nós o exortávamos a se manter fiel à sua condição
conjugal.
Quanto a Nebrídio, esperávamos que nos seguisse, pois, facilmente
poderia fazê-lo, e já estava a ponto de se decidir.
Enfim, aqueles dias passaram, e me pareceram tantos e tão longos, tal
era o meu desejo de liberdade e descanso, para cantar do fundo do meu ser:
A ti meu coração: Procurei teu rosto, teu rosto, Senhor, hei de buscar.
CAPÍTULO IV
A doçura dos salmos
Por fim, chegou o dia da libertação da profissão de retórico, da qual já
me libertara em pensamento.
Assim aconteceu. Livraste a minha língua da tarefa de que há havias
livrado meu coração. Eu te bendizia contente, e parti com todos os meus, para a
quinta de Verecundo.
O que lá realizei nas letras, já ao teu serviço, mas ainda com a respiração
ofegante, como durante uma pausa da luta, e ainda respirando da soberba da
erudição, é atestado pelos livros nos quais anotava os meus debates com meus
amigos ou comigo mesmo na tua presença.[1]
Do que tratei com Nebrídio, então ausente, claramente o indicam as minhas
cartas.
Mas quando encontrei tempo suficiente para dar testemunho de todos os
grandes benefícios que me concedeste nessa época da vida, uma vez que tenho
pressa de chegar a outros assuntos mais importantes? Volta-me – e me é doce
confessá-lo, Senhor – a lembrança dos estímulos internos com que me domaste, o
modo como me aplanaste a alma derrubando as colinas e montanhas de meus
pensamentos, como endireitaste meus caminhos tortuosos e suavizasse as minhas
asperezas, como também submeteste Alípio – o irmão de meu coração – ao nome de
teu Filho único, Jesus Cristo, Senhor e Salvador nosso, nome que ele mal
suportava nas minhas obras, porque preferia o cheiro dos soberbos cedros das
escolas, já abatidos pelo Senhor,
ao odor das salutares ervas da tua Igreja, antídoto contra o veneno das
serpentes.
Que invocações elevei a ti, meu Deus, lendo os Salmos de David, cânticos
de fé, hinos de piedade, que expulsavam de mim todo sentimento de orgulho?
Eu era ainda inexperiente do teu verdadeiro amor, e dividia as minhas
horas de lazer com Alípio, catecúmeno como eu.
Minha mãe estava connosco. Ao aspecto da mulher ela aliava fé varonil, a
calma da velhice, a ternura de mãe e a piedade de cristã.
Que exclamações elevei a ti naqueles salmos, e como me inflamava com eles
em teu amor! Incendiava-me em desejos de recitá-los, se fosse possível, ao
mundo inteiro, para rebater a soberba do género humano! Com efeito, em todo o
mundo se cantam. Não há ninguém que se subtraia a teu calor.
Com que veemente e dolorosa indagação me levantava contra os
maniqueístas!
E de novo me compadecia deles por ignorarem esses sacramentos, esses
remédios, investindo loucamente contra o antídoto que poderia curá-los!
Gostaria que estivessem perto de mim, sem que eu o soubesse, e que vissem meu
rosto e ouvissem minhas exclamações quando lia o Salmo 4 naquelas minhas
férias, e percebessem os efeitos salutares que me produzia este salmo:
Quando te invoquei, tu me escutaste, ó Deus de minha justiça! Dilataste
minha alma na tribulação.
Compadece-te, Senhor, de mim, e ouve minha prece.
Se me ouvissem – sem eu o saber, para que não pensassem que eram por
causa deles as palavras que eu entremeava às do salmo, porque realmente nem eu
diria tais coisas, nem as diria daquele modo, se soubesse da sua presença, e,
mesmo que as palavras fossem as mesmas, ele não as entenderiam como eu as dizia
a mim mesmo, diante de ti, na íntima efusão dos afectos da minha alma.
Estremeci de medo, ao mesmo tempo me abrasei de alegre esperança na tua misericórdia,
ó Pai!
E todos estes sentimentos saíam pelos meus olhos e pela voz quando, dirigindo-se
para nós, o teu Espírito de bondade nos dizia:
Filhos dos homens, até quando sereis duros de coração?
Por que amais a vaidade e buscais a mentira?
Também eu tinha amado a vaidade e buscado a mentira. Mas tu, Senhor, já
havias glorificado teu eleito, ressuscitando-o de entre os mortos e colocando-o
à tua direita, de onde haveria de nos enviar, segundo a promessa, o Paráclito,
o Espírito da Verdade. O Senhor estava glorificado, ressuscitando de entre os
mortos, e subindo aos céus. Antes o Espírito ainda não tinha sido dado, porque
Jesus ainda não tinha sido glorificado.
Clama o profeta:
Até quando sereis duros de coração? Por que amais a vaidade e buscais a
mentira? Sabeis que o Senhor já glorificou a seu santo. Clama: Até quando?
Clama: Sabei! – E eu sem o saber durante tanto tempo, amando a vaidade e
buscando a mentira!
Por isso tremi quando o ouvi, porque me lembrei de ter sido igual
àqueles a quem tais palavras eram dirigidas. Os fantasmas que eu havia tomado
pela verdade nada mais eram do que vaidade e mentira.
Ah! As queixas fortes e profundas que me inspiravam a dor da recordação!
Oxalá as tivessem ouvido os que ainda amam a vaidade e buscam a mentira! Talvez
também se perturbassem e vomitassem seu erro. E tu os terias ouvidos quando
clamassem por ti, porque morreu por nós de verdadeira morte corporal aquele que
intercede por nós diante de ti.
Eu lia: Irai-vos, e não queirais pecar. Como me perturbavam tais
palavras, meu Deus! Já havia aprendido a me irar contra mim mesmo pelos meus
crimes passados, para não pecar mais, e de uma cólera justa, porque não era uma
natureza estranha, da raça das trevas, a que em mim pecava, como dizem os que
não se indignam contra si, e acumulam contra si a ira para o dia da ira e da
revelação de teu justo juízo?
Os meus bens já não eram exteriores, e eu já não os buscava à luz deste
sol, com olhos carnais. Os que querem gozar externamente, facilmente se
dissipam e derramam pelas coisas visíveis e temporais, lambendo com pensamento
faminto apenas as aparências. Oh! Se eles se esgotassem com a privação, e
perguntassem: Quem nos mostrará o bem? E que ouvissem nossa resposta: Está
gravada dentro de nós a luz de teu rosto, Senhor! – Porque não somos nós a luz
que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por ti, para que sejamos
luz em ti, nós que outrora fomos trevas.
Oh! Se eles vissem essa luz interior e eterna que eu havia visto! E como
a havia saboreado, irritava-me por não poder mostrá-la. Se, pelo seus olhares
dirigidos para fora, visse seu coração afastado de ti, me dissessem: “Quem nos
mostrará o bem? Pois ali, onde me irritara
contra mim mesmo, ali, no recôndito de meu coração onde, arrependido, eu
havia sacrificado e imolado em mim o velho homem, onde, pondo em ti minha
esperança, começara a meditar a renovação de mim mesmo, ali fizeste com que eu
sentisse tua doçura, dando alegria a meu coração. E exclamava ao ler, fora de
mim, essas palavras cuja verdade ecoava em mim, e não queria desdobrar-me pelos
bens terrenos, devorando o tempo e sendo por ele devorado, porque possuía na
eterna simplicidade outro trigo, outro vinho e outro azeite.
E subia, no versículo seguinte, um profundo clamor de meu coração: Oh!
Em paz! Oh! Em seu próprio Ser! Mas, que disse? Dormirei e descansarei! Com
efeito, quem nos há-de resistir quando se cumprir a palavra que está escrita: A
morte foi devorada pela vitória?
Tu és esse mesmo Ser, e não mudas, e em ti está o repouso que faz
esquecer todos os sofrimentos. Porque ninguém pode ser comparado a ti e nem
vale pensar em adquirir outras coisas que não sejam o que tu és, mas tu,
Senhor, singularmente me firmaste na esperança.
Eu lia isto, e me inflamava. Não sabia que fazer com aqueles surdos, de
quem eu fora a peste, um cão raivoso e cego que ladrava contra a Bíblia,
dulcificada por seu mel celestial e iluminada pela tua luz. E consumia-me de
dor por causa dos inimigos das tuas Escrituras.
Quando poderei recordar tudo o que aconteceu naqueles dias de descanso?
Mas não esqueci, nem quero silenciar, a aspereza de um açoite que usaste em
mim, e a admirável presteza de tua misericórdia.
Atormentavas-me então com uma dor de dentes, que se agravara a tal ponto
de me impedir até de falar. Ocorreu-me ao pensamento pedir a todos os amigos,
que rogassem por mim, ó Deus da salvação! Escrevi o meu pedido numa tabuleta
encerada, e dei-lha para que o lessem.
Apenas dobramos os joelhos com suplicante afecto, logo a dor desapareceu.
E que dor! E como desapareceu! Enchi-me de espanto, eu o confesso, meu Deus e
Senhor. Nunca, desde minha infância, havia experimentado coisa semelhante.
No fundo de meu coração penetrou o sinal da tua vontade e, alegre na fé,
louvei teu nome.
Contudo, esta fé, não me deixava viver tranquilo quanto aos meus pecados
passados, que ainda não me haviam sido perdoados por teu baptismo.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
[1] (refere-se aos seguintes livros: Contra
Acadêmicos, De beata vita, De ordine e dos Solilóquios).
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