Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 11, 20-30; 12, 1-8
20 Então
começou a censurar as cidades em que tinham sido realizados muitos dos Seus
milagres, por não terem feito penitência. 21 «Ai de ti, Corozain! Ai
de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidónia tivessem sido feitos os
milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que teriam feito penitência
vestidos de saco e em cinza. 22 Por isso vos digo que haverá menor
rigor para Tiro e Sidónia no dia do juízo, que para vós. 23 E tu,
Cafarnaum, elevar-te-ás porventura até ao céu? Não, hás-de ser abatida até ao
inferno. Se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que se fizeram em ti,
ainda hoje existiria. 24 Por isso vos digo que no dia do juízo haverá
menos rigor para a terra de Sodoma que para ti». 25 Então Jesus,
falando novamente, disse: «Eu Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos pequeninos.
26 Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 27
«Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho
senão o Pai; nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o
quiser revelar. 28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e
oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e
aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para
as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».
12 1 Naquele
tempo, num dia de sábado, passava Jesus por umas searas, e Seus discípulos,
tendo fome, começaram a colher espigas e a comê-las. 2 Vendo isto os
fariseus, disseram-Lhe: «Olha que os Teus discípulos fazem o que não é
permitido fazer ao sábado». 3 Jesus respondeu-lhes: «Não lestes o
que fez David e os seus companheiros, quando tiveram fome? 4 Como
entrou na casa de Deus, e comeu os pães sagrados, dos quais não era lícito
comer, nem a ele, nem aos que com ele iam, mas só aos sacerdotes? 5
Não lestes na Lei que aos sábados os sacerdotes no templo violam o sábado e
ficam sem culpa? 6 Ora Eu digo-vos que aqui está Alguém que é maior
que o templo. 7 Se vós soubésseis o que quer dizer: “Quero
misericórdia e não sacrifício”, jamais condenaríeis inocentes. 8 Porque
o Filho do Homem é senhor do próprio sábado».
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO SÉTIMO
CAPÍTULO XXI
A verdade das escrituras
Por isso lancei-me avidamente sobre as veneráveis escrituras inspiradas
pelo teu Espírito, sobretudo ao do apóstolo Paulo. E desvaneceram-se em mim
aquelas dificuldades nas quais julguei descobrir contradições entre ele e o seu
texto, em desacordo com os testemunhos da Lei e dos Profetas.
Compreendi a unidade daqueles castos escritos, e aprendi a alegrar-me com
tremor.
Comecei a lê-los e compreendi que tudo de verdadeiro que lera nos
tratados dos neoplatónicos se encontrava ali, mas com o aval da tua graça, para
que aquele que vê não se glorie como se não houvesse recebido não só o que vê,
mas também a faculdade de ver.
Com efeito, que tem ele que não tenha recebido?
E tu, que és imutável, não só o alertas para que te veja, mas também
para que seja curado, para te possuir.
Aquele que está muito longe de te ver, tome, contudo, o caminho para
chegar a ti, para te ver e te possuir.
Porque, embora o homem se deleite com a lei de Deus, segundo o homem
interior, que fará dessa outra lei que luta nos seus membros contra a lei de
seu espírito, e que o prende sob a lei do pecado, impressa em seus membros?
Porque tu és justo, Senhor, nós, porém, pecamos, cometemos iniquidades,
procedemos como ímpios, e a tua mão se fez pesada sobre nós, e é com justiça
que fomos entregues ao pecador antigo, ao príncipe da morte, porque ele
persuadiu a nossa vontade a conformar-se à sua, que não quis persistir com tua
verdade.
Que fará esse homem infeliz?
Quem o livrará deste corpo de morte, senão tua graça, por Jesus Cristo,
nosso Senhor, a quem tu geraste co-eterno e criaste no princípio de teus
caminhos, ele, em quem o príncipe deste mundo não achou nada que merecesse a
morte, e a quem, contudo, matou?
Com o que foi anulada a sentença que havia contra nós?
Nada disso dizem os livros platónicos. Nem têm naquelas páginas esse
sentimento de piedade, as lágrimas da confissão, esse teu sacrifício, a alma
abatida, esse coração contrito e humilhado, nem a salvação de teu povo, nem a
cidade prometida, nem o penhor do Espírito Santo, nem o cálice de nossa
redenção.
Nos livros platónicos ninguém canta:
“Minha alma não estará sujeita a Deus?
Porque dele procede a minha salvação, pois é meu Deus e meu amparo, do
qual não mais me apartarei.
Ninguém ali ouviu o convite: Vinde a mim os que sofreis.
Desdenham os teus ensinamentos, porque és manso e humilde de coração.
Porque escondeste estas coisas dos sábios e doutos, e as revelaste aos
pequeninos.
Uma coisa é ver de um monte agreste a pátria da paz, e não encontrar o
caminho que conduz a ela, e fatigar-se debalde por lugares inacessíveis, entre
ataques e emboscadas dos desertores fugitivos, com o seu chefe, o leão e o
dragão, e outra coisa é conhecer o caminho que conduz até lá, defendido pelos
cuidados do imperador celeste, e onde não roubam os desertores da milícia do
céu, pois eles o evitam como um suplício.
Esses pensamentos penetravam-me as entranhas de modo maravilhoso, quando
eu lia o menor de teus apóstolos. Considerava as tuas obras e enchia-me de
assombro.
LIVRO OITAVO
CAPÍTULO I
Hesitações
Faze, meu Deus, que eu recorde de ti em acção de graças, e proclame as tuas
misericórdias para comigo. Que osmeus ossos se penetrem do teu amor, e digam:
Senhor quem semelhante a ti?
Rompeste com grilhões, e te oferecerei um sacrifício de louvor. Contarei
como os rompeste, e todos os que te adoram exclamarão quando me ouvirem: “Bendito
seja o Senhor no céu e na terra! Grande e admirável é seu nome!
As tuas palavras, Senhor, tinham-se gravado profundamente no meu
coração, e via-me cercado apenas por ti de todos os lados. Tinha a certeza da
tua vida eterna, embora apenas a visse em enigma e como que em espelho. Já fora
dissolvida toda a dúvida quanto à tua substância incorruptível, ao saber que
toda a substância procedia dela. E o que desejava não era tanto estar mais
certo de ti, mas mais firme em ti.
Quanto à minha vida temporal, estava eu ainda vacilante, e era
necessário que o meu coração se purificasse do velho fermento. O caminho certo,
que é o próprio Salvador, me encantava, mas titubeava ainda em caminhar por
seus estreitos desfiladeiros.
Então me inspiraste a ideia – que me pareceu excelente – de me dirigir a
Simpliciano, que eu tinha como um de teus bons servidores, em quem brilhava a tua
graça.
Sobre ele ouvira também que desde sua juventude te consagrava
devotamente a sua vida, e como já encanecia, achei que em tão longa vida,
dedicada ao estudo dos teus caminhos, teria acumulado grande experiência e instrução,
e de facto assim era. Por isso queria confiar-lhe as minhas inquietações, para
que me apontasse o modo de vida mais idóneo de alguém, com minhas disposições
interiores, seguir teu caminho.
Vi a tua Igreja cheia de fiéis que, por um caminho ou por outro, progrediam.
Quanto a mim, aborrecia-me a vida que levava no mundo, e era para mim
fardo pesadíssimo, agora que os apetites mundanos, como a esperança de honras e
riquezas, já não me animavam para suportar tão pesada servidão. Essas paixões
haviam perdido para mim o encanto, diante da tua doçura e da beleza de tua
casa, que já amava. Mas sentia-me ainda fortemente amarrado à mulher.
Sem dúvida o Apóstolo não me proibia de casar, embora em seu ardente
desejo de ver todos os homens semelhantes a ele, exortasse a um estado mais
elevado.
Mas eu, ainda muito fraco, escolhia a condição mais fácil, por isso,
vivia hesitando em tudo o mais, e me desgastava com preocupações enervantes,
pois a vida conjugal, a que me julgava destinado e obrigado, ter-me-ia obrigado
a novas incumbências, que eu não queria suportar.
Ouvira da boca da própria Verdade que há eunucos que se mutilavam a si
próprios por amor ao reino dos céus, embora acrescentando que o compreenda quem
o puder compreender.
São vãos, por certo, todos os homens nos quais não reside a ciência de
Deus, e que nas coisas visíveis não puderam achar aquele que é. Mas eu já me
livrara dessa vaidade, já a havia ultrapassado, e pelo testemunho da tua
criação, te encontrara a ti, nosso Criador, e o teu Verbo, Deus em ti, e
contigo um só Deus, por quem criaste todas as coisas.
Há ainda outra espécie de ímpios, os que, conhecendo a Deus, não o
glorificam como Deus, nem lhe renderam graças.
Eu também tinha caído nesse pecado, mas a tua destra me amparou e
libertou, colocando-me em lugar onde me pudesse curar, e disseste ao homem: Eis
que a piedade é a sabedoria. E ainda: Não queiras parecer sábio, porque os que
se dizem sábios tornaram-se insensatos.
Já havia encontrado, finalmente, a pérola preciosa, que devia comprar
vendendo tudo o que possuía. Mas ainda hesitava.
CAPÍTULO II
Visita a Simpliciano. Conversão de Vitorino
Fui ter pois com Simpliciano, pai espiritual do então bispo Ambrósio,
que o amava verdadeiramente como pai.
Contei-lhe os labirintos do meu erro. E quando lhe disse que havia lido alguns
livros dos platónicos, traduzidos para o latim por Vitorino, outrora retórico
em Roma – e do qual ouvira dizer que morrera cristão – ele me felicitou por não
ter caído nas obras de outros filósofos, falazes e enganosas, segundo os
elementos deste mundo, mas apenas estes, que insinuam por mil modos a Deus e a
seu Verbo.
Depois, para me exortar à humildade de Cristo, escondida aos sábios e
revelada aos humildes, evocou a lembrança do próprio Vitorino, que conhecera
intimamente, quando estava em Roma. Não guardarei silêncio sobre o que me
contou dele, porque me dará azo de proclamar os grandes louvores de tua graça a
seu respeito.
Esse erudito ancião, profundo conhecedor de todas as ciências liberais,
leitor e crítico de tantos livros de filosofia, fora mestre de muitos nobres senadores.
O prestígio de seu magistério valera-lhe uma estátua no foro romano, que ele
aceitara (coisa que os cidadãos desse mundo têm em grande conta).
Até àquela idade avançada, havia adorado os ídolos, participando de
cultos sacrílegos, de que participava quase toda a nobreza romana da época que
inspirava ao povo a sua devoção por Osíris, por “toda sorte de monstros divinizados,
pelo lavrador Anúbis”, monstros que outrora “pegaram em armas contra Neptuno, Vênus
e Minerva”, e a quem, vencidos, a própria Roma dirigia súplicas, esse velho
Vitorino, que durante tantos anos havia defendido esses deuses com sua terrível
eloquência, não se envergonhou de se tornar servo do teu Cristo e criança de
tuas águas, dobrando o pescoço ao jugo da humildade, e dobrando sua fronte ante
o opróbrio da cruz.
Senhor, Senhor, que inclinaste os céus e o desceste, que tocaste os
montes e estes fumegaram, de que modo te insinuaste naquele coração?
Segundo me contou Simpliciano, Vitorino lia as Escrituras e investigava
e esquadrinhava com grande curiosidade toda a literatura cristã, e confiava a
Simpliciano, não em público, mas muito em segredo e familiarmente: “Sabes que
já sou cristão?” Ao que respondia aquele: “Não hei-de acreditar, nem te
contarei entre os cristãos enquanto não te vir na Igreja de Cristo”.
Mas ele ria e dizia: “Serão pois as paredes que fazem os cristãos?”
E isto, de que já era cristão, o dizia muitas vezes, contestando-lhe
Simpliciano outras tantas vezes com a mesma resposta, opondo-lhe
sempre Vitorino o gracejo das paredes.
Vitorino receava desgostar os seus amigos, os soberbos adoradores dos demónios,
julgando que estes, do alto de sua babilónica dignidade, como cedros do Líbano,
ainda não abatidos pelo Senhor, fariam cair sobre ele suas pesadas inimizades.
Mas depois que hauriu forças nas leituras e orações, temeu ser renegado
por Cristo diante de seus anjos, se tivesse medo de o confessar diante dos
homens. Sentiu-se réu de um grande crime por se envergonhar dos mistérios de
humildade do teu Verbo, não se envergonhando do culto sacrílego de demónios
soberbos, que ele próprio aceitara como soberbo imitador, envergonhou-se da
vaidade, e enrubesceu diante da verdade.
De repente, disse a Simpliciano, segundo este mesmo contava: “Vamos à
Igreja, quero tornar-me cristão”.
Simpliciano, não cabendo em si de alegria, foi com ele.
Recebidos os primeiros sacramentos da religião, não muito depois, deu o seu
nome para receber o baptismo que renegara, causando admiração em Roma e alegria
na Igreja. Viram-no os soberbos, e se iraram, rangiam os dentes e se consumiam
de raiva.
Mas o teu servo havia posto no Senhor Deus a sua esperança, e não tinha
mais olhos para as vaidades e as enganosas loucuras.
Enfim, chegou a hora da profissão de fé.
Em Roma, os que se preparam para receber a tua graça, pronunciam de um
lugar elevado, diante dos fieis, formulas consagradas aprendidas de cor.
Os presbíteros, dizia-me Simpliciano, propuseram a Vitorino que recitasse
a profissão de fé em segredo, como era costume fazer com os que poderiam perturbar-se
pela timidez. Mas ele preferiu confessar a sua salvação na presença da plebe
santa, uma vez que nenhuma salvação havia na retórica que ensinara
publicamente.
Quanto menos, pois, devia temer diante de tua mansa grei pronunciar tua
palavra, ele que não havia temido as turbas insanas nos seus discursos!
Assim, logo que subiu à tribuna para dar testemunho da sua fé, em
uníssono, conforme o iam conhecendo, todos repetiram o seu nome como num
aplauso – e quem ali não o conhecia? – e um grito reprimido, saiu da boca de
todos os que se alegravam: “Vitorino! Vitorino!”
Ao verem-no, puseram-se a gritar de júbilo, mas logo emudeceram pelo
desejo de ouvi-lo.
Vitorino pronunciou sua profissão de verdadeira fé com grande firmeza, e
todos queriam raptá-lo para dentro dos seus corações. E realmente o fizeram: seu
amor e alegria eram as mãos que o arrebatavam.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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