Olho
em volta para ter a certeza de que é mesmo a minha pessoa que Ele interpela.
Não me restam dúvidas, é mesmo comigo!
Pergunto-me
porquê, que tenho eu de ‘especial’ para querer que O siga?
Tenho
as minhas pequenas virtudes e enormes defeitos, a minha inteligência e a minha
ignorância, a minha vontade e a minha preguiça, o meu ânimo e a minha letargia.
Sou, assim, como que duas, ou mesmo várias, pessoas numa só, e, não obstante,
Ele repete aquele chamamento doce e imperioso ao mesmo tempo, simultaneamente
expectante e autoritário.
Fico-me
mais um pouco examinando o que se passa, o que tenho de fazer agora, as coisas
que tenho ‘entre as mãos’, aquilo a que meti ombros, os entusiasmos que me
excitam a imaginação, as prioridades que estabeleci – se é que o fiz, de facto
– e pergunto-me: Vou? Não vou? Agora? Mais logo?
Percebo
que não posso deter-me muito mais porque Ele, depois de me chamar, seguiu o Seu
caminho e afasta-se de mim. Não Se volta para trás a ver se O sigo, se atendi
ou não o apelo que me fez; de certo modo parece confiante que entendi e atendi
o que me disse.
Sem
grandes pressas, confesso, começo a andar na Sua peugada, deitando contas à
vida, arrumando mentalmente as coisas de enormíssima importância que vão ficar por
fazer, o conforto que vou desdenhar, talvez as críticas que irei ouvir.
Mas,
aos poucos, começo a dar-me conta de uma realidade: o peso insignificante de
todo esse amontoado de coisas e, até, o pouco interesse que têm. Apercebo-me,
com alguma surpresa, confesso, que a minha decisão de O seguir não causou
transtornos a ninguém, que a vida não parou, que tudo continua paulatinamente a
‘funcionar’ como se eu não fosse imprescindível, absolutamente necessário.
(Parece-me que, de facto, estava convencido do contrário)
Então,
estugo o passo para O alcançar. O meu objectivo, agora, já não é, - só -,
segui-Lo, seguir atrás dele, mas caminhar ao Seu lado porque percebo que tem
coisas, muitas coisas, para me dizer e, eu, quero ouvir tudo muito bem, sem
perder uma só palavra da Sua boca.
Nem
sequer me ocorre que estou a ‘meter-me’ numa aventura, a dar passos de gigante,
eu, que até aqui, quase não mexi do meu lugar, não obstante os anos que já
conto. Sim… estive parado muitas vezes na vera do caminho sem saber para onde
ir ou, talvez, na esperança de não de ir a lado nenhum, de poder ficar quieto
sem me preocupar com coisa nenhuma.
Não
sinto grande dificuldade em acompanhá-lo, a Sua passada é firme mas certa, sem
hesitações. Vejo, sinto, que conhece muito bem o caminho e, mais, sabe
perfeitamente para onde vai. Sinto-me possuído como que de uma estranha
segurança não obstante a incógnita do destino final. Ele, sinto-o, não Se
engana, não pode enganar ninguém.
O
interessante é que sendo um caminho a subir, cada vez para mais alto, não sinto
o esforço que normalmente se sente quando se sobe. Talvez se deva ao facto de a
carga que me pôs nos ombros ser leve, muito leve… mesmo para a imensidão que
representa.
Também
não me sinto preso não obstante o jugo com que me cingiu o pescoço, sinal que
me considera propriedade sua; porque é tão suave que não prende como um jugo
autêntico, antes parece um elo de uma cadeia de amor e, por conseguinte, muito
suave a e agradável.
Sinto-me
bem. Agi correctamente, tenho a certeza, em acolher o Seu chamamento, o Seu
convite: Tu! Vem e segue-me!
Não
sei porque me disse isto, porque me escolheu, há tantos como eu que esperam,
alguns até sem o saberem, por um chamamento igual, por isso sinto-me
privilegiado pela escolha.
Ainda
não Lhe disse muitas coisas, acho que não é preciso, Ele sabe o quero
dizer-lhe, mas, nas confidências de viajante, contei-lhe das minhas
expectativas, esperanças, ousadias, desejos por satisfazer. Sem querer, acho,
fui abrindo o coração e em frases breves e curtas, deixei sair o que há tanto
tempo estava como que travado dentro de mim.
Não
tenho vergonha ou receio que me ache tonto, com pouco critério, talvez
inconsequente. Quis sempre tantas coisas e ao mesmo tempo!
Ouve-me
sem me olhar, não pergunta nada, não faz um gesto de admiração ou surpresa.
Parece que tudo quanto Lhe possa dizer já o conhece, mas, estranhamente, parece
gostar que, não obstante, lho diga, lhe conte as minhas privacidades, patenteie
as ilusões e as quimeras do meu espírito sonhador.
E,
a caminhada, prossegue. Estamos agora tão alto que posso, olhando à minha
volta, ver o que deixei, considerar o que fiz e, com grande pena, aperceber-me
do que nunca cheguei a fazer. Como um filme, sem protagonista, nem guião, nem
enredo; um filme simples, de uma história breve, comum e um pouco anónima. Não
me parece ‘grande coisa’.
Não
trouxe nenhum equipamento especial para esta caminhada, vim tal qual estava,
tenho a certeza que não irei precisar de nada. Aliás Ele disse-me: nem cajado,
nem duas túnicas, nem alforge…
Acompanha-nos
uma multidão enorme, a perder de vista e que vai engrossando constantemente
como uma onda do mar, mas, embora eu tenha consciência dela, parece-me, ao
mesmo tempo, que só existo eu, que só eu Lhe interesso, que só a mim dedica a
Sua atenção.
Compreendo
que também cada um, cada uma, dessa enorme multidão, ouviu as mesmas palavras: Tu!
Vem e segue-me!
Uns,
nota-se bem, estão há muito na Sua companhia andando o Seu caminho, outros,
como eu, chegaram mais recentemente e ainda olham, de vez em quando, para trás.
Alguns, acabam por desistir, sentam-se à beira do caminho e vão-se deixando
ficar. Parecem tristes, abatidos, talvez recordem com apego o que terão deixado
e que, julgam, lhes faz falta.
O
que estranho é que sendo eu tão decidido, tão senhor das minhas acções, tão
categórico nas escolhas que faço, não me tenha ocorrido perguntar-lhe para onde
vamos, onde me leva. Poderia pensar, por momentos, que estou a agir como um
‘zombie’ sem vontade ou sem querer tê-la, ou, então, que não consegui resistir
à Sua voz, senti que não teria alternativa. Mas não! Sinto-me bem vivo e cheio
de força, algo estranho, assim como que um ímpeto que se foi transformando numa
certeza.
A
certa altura pensei dizer-Lhe: “não sei se sou capaz de Te acompanhar por muito
mais tempo”! Mas percebi, quase imediatamente, que Ele conhece esse meu temor,
esta minha fragilidade e que, não obstante, me quer tal como no primeiro
momento quando me disse: Tu! Vem e segue-me!
Estou
convicto que, sabendo Ele o que sou e como sou, me compeliu a segui-Lo é porque
me quer junto de Si, mais perto, como companheiro íntimo e incondicional e,
portanto, eu não poderia ter feito outra coisa que segui-lo.
Por
isso, do mais fundo do meu coração Lhe digo: Eu, Senhor, sigo-te mas, peço-te:
não me largues da Tua mão porque me perco no caminho e, depois, não saberia
para onde ir.
(ama, reflexão, 2013.06.22)
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