Questão 31: Do prazer em si mesmo.
Art. 3 ― Se a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.
(Infra, q. 35, a . 2, III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3, dist. XXVII, q. 1, a . 2 ad 3, IV, dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 4, I Cont. Gent., cap. XC, De Verit., q. 25, a . 4, ad 5).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que a alegria é absolutamente o mesmo que o
prazer.
1. ― Pois, as paixões da alma diferem pelos seus objectos. Ora, a alegria e o prazer tem o mesmo objecto, a saber, o bem adquirido. Logo, a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.
2.
Demais. ― Um mesmo movimento não pode terminar em dois termos. Ora, é o mesmo
movimento ― a concupiscência ― que termina na alegria e no prazer. Logo, o
prazer e a alegria são absolutamente idênticos.
3.
Demais. ― Se a alegria é diferente do prazer, pela mesma razão também hão-de
sê-lo a ledice, a exultação, a jucundidade e assim serão todas essas paixões
diferentes. Ora, isto é falso. Logo, a alegria não difere do prazer.
Mas,
em contrário é que não atribuímos alegria aos animais, mas sim, prazer. Logo,
não é o mesmo a alegria que o prazer.
A alegria, como diz Avicena no seu livro De Anima 1, é uma espécie
de prazer. Ora, devemos considerar que, assim como certas concupiscências são
naturais e certas não-naturais e consequentes à razão, com já dissemos 2,
assim também uns prazeres são naturais e outros, não-naturais e acompanhados da
razão, ou, como dizem Damasceno 3 e Gregório Nisseno (Nemésio) 4,
alguns são corpóreos e alguns, animais, o que vem a dar no mesmo. Pois, nós deleitamo-nos
com o que, sendo naturalmente desejado, é adquirido, e com o que desejamos
segundo a razão. Ora, o nome de alegria não se aplica senão ao prazer consequente
à razão. Donde, não atribuímos a alegria aos brutos, mas apenas o prazer. Por
outro lado, tudo o que desejamos, segundo a natureza, também podemos desejar
com a deleitação da razão, mas não inversamente. Portanto, tudo o que causa
prazer pode também causar alegria, em se tratando de seres racionais, embora
nem tudo possa causar a alegria, assim, às vezes o que nos causa um prazer
corpóreo não nos causa alegria, segundo a razão. Donde se conclui que o prazer
abraça domínio mais vasto que a alegria.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Sendo o objecto do apetite animal, o bem
apreendido, as diversidades da apreensão prendem-se, de certo modo, às do objecto.
E assim, os prazeres animais, chamados também alegrias, distinguem-se dos
corpóreos, chamados exclusivamente prazeres, como também já se disse 5,
a respeito da concupiscência.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Também entre as concupiscências há uma diferença semelhante à de
que trata a objecção, assim, o prazer corresponde à concupiscência e a alegria,
ao desejo, que parece pertencer sobretudo à concupiscência animal. E assim como
as diferenças do movimentos, assim também as do repouso.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― As outras denominações pertinentes ao prazer são-lhe impostas em
virtude dos seus efeitos. Assim, a de ledice (laetitia) é imposta pelo
alargamento do coração, como se disséssemos que é uma dilatação (latitia), a de
exultação provém dos sinais exteriores do prazer interior, que se manifesta
exteriormente enquanto a alegria interior prorrompe para o exterior, a de
jucundidade por fim provém de certos sinais ou efeitos especiais da alegria. E
contudo, todas essas denominações pertencem à alegria, pois não as aplicamos
senão às naturezas racionais.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. Part. IV, cap. V.
2. Q. 30, a. 3.
3. lib. II Orthod. Fid., cap. XIII.
4.
De Nat. Hom.
5.
Q. 20, a. 3, ad 2.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.