31/05/2013

Tratado das paixões da alma 43




Questão 31: Do prazer em si mesmo.

Art. 3 ― Se a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.

(Infra, q. 35, a . 2, III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3, dist. XXVII, q. 1, a . 2 ad 3, IV, dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 4, I Cont. Gent., cap. XC, De Verit., q. 25, a . 4, ad 5).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.



1. ― Pois, as paixões da alma diferem pelos seus objectos. Ora, a alegria e o prazer tem o mesmo objecto, a saber, o bem adquirido. Logo, a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.

2. Demais. ― Um mesmo movimento não pode terminar em dois termos. Ora, é o mesmo movimento ― a concupiscência ― que termina na alegria e no prazer. Logo, o prazer e a alegria são absolutamente idênticos.

3. Demais. ― Se a alegria é diferente do prazer, pela mesma razão também hão-de sê-lo a ledice, a exultação, a jucundidade e assim serão todas essas paixões diferentes. Ora, isto é falso. Logo, a alegria não difere do prazer.

Mas, em contrário é que não atribuímos alegria aos animais, mas sim, prazer. Logo, não é o mesmo a alegria que o prazer.

A alegria, como diz Avicena no seu livro De Anima 1, é uma espécie de prazer. Ora, devemos considerar que, assim como certas concupiscências são naturais e certas não-naturais e consequentes à razão, com já dissemos 2, assim também uns prazeres são naturais e outros, não-naturais e acompanhados da razão, ou, como dizem Damasceno 3 e Gregório Nisseno (Nemésio) 4, alguns são corpóreos e alguns, animais, o que vem a dar no mesmo. Pois, nós deleitamo-nos com o que, sendo naturalmente desejado, é adquirido, e com o que desejamos segundo a razão. Ora, o nome de alegria não se aplica senão ao prazer consequente à razão. Donde, não atribuímos a alegria aos brutos, mas apenas o prazer. Por outro lado, tudo o que desejamos, segundo a natureza, também podemos desejar com a deleitação da razão, mas não inversamente. Portanto, tudo o que causa prazer pode também causar alegria, em se tratando de seres racionais, embora nem tudo possa causar a alegria, assim, às vezes o que nos causa um prazer corpóreo não nos causa alegria, segundo a razão. Donde se conclui que o prazer abraça domínio mais vasto que a alegria.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Sendo o objecto do apetite animal, o bem apreendido, as diversidades da apreensão prendem-se, de certo modo, às do objecto. E assim, os prazeres animais, chamados também alegrias, distinguem-se dos corpóreos, chamados exclusivamente prazeres, como também já se disse 5, a respeito da concupiscência.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Também entre as concupiscências há uma diferença semelhante à de que trata a objecção, assim, o prazer corresponde à concupiscência e a alegria, ao desejo, que parece pertencer sobretudo à concupiscência animal. E assim como as diferenças do movimentos, assim também as do repouso.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― As outras denominações pertinentes ao prazer são-lhe impostas em virtude dos seus efeitos. Assim, a de ledice (laetitia) é imposta pelo alargamento do coração, como se disséssemos que é uma dilatação (latitia), a de exultação provém dos sinais exteriores do prazer interior, que se manifesta exteriormente enquanto a alegria interior prorrompe para o exterior, a de jucundidade por fim provém de certos sinais ou efeitos especiais da alegria. E contudo, todas essas denominações pertencem à alegria, pois não as aplicamos senão às naturezas racionais.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Part. IV, cap. V.
2. Q. 30, a. 3.
3. lib. II Orthod. Fid., cap. XIII.
4. De Nat. Hom.
5. Q. 20, a. 3, ad 2.

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