Questão 30: Da
concupiscência.
Art. 4 ― Se a
concupiscência e infinita.
O
quarto discute-se assim. ― Parece que a concupiscência não é infinita.
1.
― Pois, o objecto da concupiscência é o bem, que exerce a função de fim. Ora,
quem introduz o infinito exclui o fim, como diz Aristóteles 1. Logo,
a concupiscência não pode ser infinita.
2.
Demais. ― A concupiscência, procedendo do amor, busca o bem conveniente. Ora, o
infinito, sendo desproporcionado, não pode ser conveniente. Logo, a
concupiscência não pode ser infinita.
3.
Demais. ― Não podendo percorrer o infinito, não podemos portanto, chegar-lhe ao
último termo. Ora, a concupiscência, atingindo o objecto último, transforma-se
em deleitação. Logo, se a concupiscência fosse infinita nunca se transformaria
na deleitação.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo, que por ser a concupiscência infinita é que os
homens desejam coisas infinitas 2.

Pode
porém dar-se ainda outra razão, segundo o Filósofo 5, e é que há uma
concupiscência finita e outra, infinita. A do fim é sempre infinita, pois o fim
é desejado por si mesmo, como, p. ex., a saúde que, quanto melhor, tanto mais
desejada é, ao infinito, assim como se o branco, em si mesmo, desagrega, o que
mais branco é mais desagrega. ― Mas, a concupiscência dos meios não é infinita,
sendo eles desejados apenas na medida conveniente ao fim. Donde os que põem o
fim nas riquezas tem a concupiscência delas ao infinito, ao passo que aqueles
que as desejam para as necessidades da vida desejam-nas finitas e bastantes a
essas necessidades, como diz o Filósofo no mesmo passo. E o mesmo se deve dizer
sobre as concupiscências de quaisquer outras coisas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Tudo o que é objecto de concupiscência é
desejado como um certo fim, quer por ser realmente finito, enquanto desejado
uma vez, em acto, quer por ser finito, por cair no domínio da apreensão. E não
pode ser apreendido sob a noção de infinito, porque, como diz Aristóteles 6,
o infinito é aquilo além do qual podemos sempre tomar alguma coisa de novo,
quanto à quantidade.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A razão tem, de certo modo, virtude infinita, porque pode
considerar objectos infinitos em número, como bem se vê na adição dos números e
das linhas. Donde, o infinito é de certo modo proporcionado à razão. Pois, o
universal, que a razão apreende, é de certa maneira, infinito, porque contém
potencialmente infinitos singulares.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Para que nos deleitemos não é preciso consigamos tudo o que
desejamos, mas, que nos deleitemos com aquilo que desejamos e conseguimos.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Metaph., lect. IV.
2. I Polit., lect. VIII.
3. Q. 30, a. 3.
4. Q. 30, a. 3.
5. I Polit., lect. VIII.
6. III Phys., lect. XI.
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