Questão 28: Dos efeitos do
amor.
Art. 3 ― Se o êxtase é um
efeito do amor.
(IIª-IIªº, q. 175, a . 2, III
Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1 ad 4, II Cor., cap. XII,
lect. I, De Div.Nom., cap. IV, lect X).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que o êxtase não é efeito do amor.
1. ― Pois, o êxtase implica uma certa alienação. Ora, esta nem sempre a produz o amor, pois os amantes são por vezes senhores de si. Logo, o amor não produz o êxtase.
2.
Demais. ― O amante deseja que o amado lhe esteja unido. Donde, antes o atrai
para si do que tende para ele, saindo fora de si.
3.
Demais. ― O amor une o amado ao amante, como dissemos 1. Se pois o
amante tende, saindo fora de si, para o amado a fim de buscá-lo, resulta que
sempre mais o ama que a si mesmo, o que é claramente falso. Logo, o êxtase não
é efeito do amor.
Mas,
em contrário, diz Dionísio, que o divino amor produz o êxtase, e que o próprio
Deus por amor sofreu o êxtase 2. Ora, sendo todo amor uma como
semelhança participada do amor divino, conforme na mesma obra se lê, resulta
que todo amor causa o êxtase.
Dizemos que alguém sofre o êxtase quando fica fora de si mesmo, e isso pode
dar-se em relação à potência apreensiva como à apetitiva. ― Em relação à
primeira dizemos que alguém fica fora de si mesmo quando se alheia ao
pensamento próprio, quer por elevado para um ser superior, com quando o é à
compreensão de certas verdades que sobrepujam a capacidade da razão e dos
sentidos, quer por ser rebaixado a um nível inferior, quando cai em fúria ou
amência, dizendo-se então que sofre êxtase. ― Relativamente à parte apetitiva
porém, dizemos que alguém sofre um êxtase quando o seu apetite busca algum objecto,
saindo de certo modo fora de si mesmo.
Ora,
o êxtase da primeira espécie o amor o produz dispositivamente, fazendo meditar
no ser amado, como dissemos, e a meditação intensa num objecto abstrai o
espírito, de outros. ― O êxtase da segunda espécie o amor produz directa e
absolutamente, quando é amor de amizade, não assim, mas de certo modo, quando é
amor de concupiscência. Pois, nesta última espécie de amor, o amante é de algum
modo levado para fora de si mesmo, porque, não contente com o gozo do bem
possuído, busca fruir algo de extrínseco, mas, querendo ter para si esse bem
extrínseco, não sai absolutamente de si, mas essa afeição pelo fim se encerra
no próprio eu. Pelo amor de amizade porém, o afecto alheia-se, absolutamente ao
sujeito, porque quer bem ao amigo e pratica o bem, por causa mesma do amigo,
quase dele tomando cuidado e providência.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A objecção colhe quanto à primeira espécie de
êxtase.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A objecção colhe em relação ao amor de concupiscência, que não
produz absolutamente o êxtase, como dissemos.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Quem ama sai fora de si mesmo na medida em que quer bem ao amigo
e por ele age. Ora, não quer as coisas do amigo mais que as suas. Donde não se
segue que ama a outrem mais que a si mesmo.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
Q. 28, a. 1.
2.
IV De div. nom., lect. X.
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