03/05/2013

O mal e a suspeita sobre Deus (I) 3


Talvez o sofrimento das crianças seja o problema mais perturbador para aceitar a existência de Deus. O aborto também? Em meu entender, sim. A vinda de Deus à terra fazendo-se homem começa praticamente com o horrível crime perpetrado por Herodes contra os inocentes de Belém e sua comarca. Algum autor se serviu deste episódio para falar de «a crudelíssima narração do sangue das vítimas inocentes que Deus se imola a se mesmo». O comportamento irracional de Herodes é atribuído a Deus. São João Crisóstomo conta que o crime tinha provocado sérias dúvidas sobre a justiça de Deus porque, ainda que Herodes fosse sanguinário, porque é que Deus permitiu uma injustiça tão brutal? Desde a fé, desde a crença numa vida melhor depois da terrena, também existe resposta ao interrogante: talvez fosse melhor para eles perecer que a possível vida que os esperava, ou o difícil de conseguir da que conta verdadeiramente: a eterna. Ou, em qualquer caso, um respeito divino da vontade humana, de que Deus obtém o melhor, ainda que se nos oculte. Mas, a nossos olhos, a tragédia fica de pé, ao menos para os que seguem o seu próprio juízo, para por sob suspeita um Deus, que declaram inexistente em vez de o pensar inabarcável.

Paulo cabellos llorente, [i] trad ama



[i] Doutor em Direito Canónico, e Ciências da Educação

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