Talvez o sofrimento das crianças seja o problema mais
perturbador para aceitar a existência de Deus. O aborto também? Em meu entender,
sim. A vinda de Deus à terra fazendo-se homem começa praticamente com o
horrível crime perpetrado por Herodes contra os inocentes de Belém e sua
comarca. Algum autor se serviu deste episódio para falar de «a crudelíssima
narração do sangue das vítimas inocentes que Deus se imola a se mesmo». O
comportamento irracional de Herodes é atribuído a Deus. São João Crisóstomo
conta que o crime tinha provocado sérias dúvidas sobre a justiça de Deus
porque, ainda que Herodes fosse sanguinário, porque é que Deus permitiu uma
injustiça tão brutal? Desde a fé, desde a crença numa vida melhor depois da
terrena, também existe resposta ao interrogante: talvez fosse melhor para eles
perecer que a possível vida que os esperava, ou o difícil de conseguir da que
conta verdadeiramente: a eterna. Ou, em qualquer caso, um respeito divino da
vontade humana, de que Deus obtém o melhor, ainda que se nos oculte. Mas, a
nossos olhos, a tragédia fica de pé, ao menos para os que seguem o seu próprio
juízo, para por sob suspeita um Deus, que declaram inexistente em vez de o
pensar inabarcável.
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