10/04/2013

Tratado dos actos humanos 86


Questão 20: Da bondade e da malícia dos actos humanos exteriores.


Em seguida devemos tratar da bondade e da malícia dos actos humanos exteriores.

E sobre esta questão seis artigos se discutem:

Art. 1 ― Se o bem e o mal está, primeiro, no acto exterior, que no acto da vontade.
Art. 2 ― Se toda bondade e malícia do acto exterior depende da vontade.
Art. 3 ― Se o acto interior da vontade e os actos exteriores tem a mesma bondade ou malícia.
Art. 4 ― Se o acto exterior aumenta a bondade ou a malícia do acto interior.
Art. 5 ― Se as consequências de um acto lhe aumentam a bondade ou a malícia.
Art. 6 ― Se um mesmo acto pode ser bom e mau.

Art. 1 ― Se o bem e o mal está, primeiro, no acto exterior, que no acto da vontade.

(De Malo, q. 2, a. 3).

O primeiro discute-se assim. ― Parece que o bem e o mal estão primeiro no acto exterior que no acto da vontade.


1. ― Pois, a vontade tira a sua bondade do objecto, como já se disse 1. Ora, o acto exterior é o objecto do acto interior da vontade, assim, falamos em querer o furto ou, dar esmola. Logo, o bem e o mal estão primeiro no acto exterior que no acto da vontade.

2. Demais. ― O bem se atribui primeiramente ao fim, porque a bondade dos meios deriva da do fim. Ora, o acto da vontade não pode ser fim, como já se disse 2, ao passo que o pode o acto de qualquer outra potência. Logo, o bem está primeiro no acto de outra potência que no da vontade.

3. Demais. ― O acto da vontade comporta-se formalmente em relação ao acto exterior, como já dissemos 3. Ora, como a forma advém à matéria, o que é formal é posterior. Logo, o bem e o mal estão primeiro no acto exterior que no acto da vontade.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que pela vontade pecamos e por ela vivemos rectamente 4. Logo, o bem e o mal moral existem primeiro na vontade.

Certos actos exteriores podem ser considerados bons ou maus, em duplo sentido. Genericamente e levadas em conta as circunstâncias em si mesmas, assim, diremos que dar esmola, conforme às circunstâncias devidas, é um bem. Ou de outro modo, em ordem ao fim, e assim, dar esmola por vanglória reputamos por mal. Ora, sendo o fim o objecto próprio da vontade, é claro que a razão de bondade ou malícia, do acto exterior, em ordem a ele, está primeiro, no acto da vontade, donde deriva para o acto exterior. A bondade porém ou a malícia do acto exterior, em si mesmo, por causa da matéria devida e das devidas circunstâncias, não lhe deriva da vontade, mas antes da razão. Donde, se considerarmos a bondade do acto exterior, relativamente à razão que o ordena e o apreende, ela é anterior à bondade do acto da vontade. Considerada porém na execução do acto, supõe a bondade da vontade, que lhe é o princípio.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O acto exterior é objecto da vontade, enquanto a razão lho propõe como um bem que apreende e ordena, e então a sua bondade é anterior à do acto da vontade. Mas considerado na sua realização, é efeito da vontade e posterior a esta.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O fim é primeiro na intenção, mas último na execução.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A forma, enquanto recebida na matéria, é-lhe posterior, na via da geração, embora seja por natureza anterior, mas enquanto existente na causa agente, é a todas as luzes anteriores. Ora, sendo a vontade relativamente ao acto exterior causa eficiente, a bondade do seu acto é a forma do acto exterior, como existente na causa agente.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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Notas:
1. Q. 19, a. 1, 2.
2. Q. 1, a. 1 ad 2.
3. Q. 18, a. 6.
4. Lib. I Retract., cap. IX.

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