Em
seguida devemos tratar da bondade e da malícia dos actos humanos exteriores.
E
sobre esta questão seis artigos se discutem:
Art.
1 ― Se o bem e o mal está, primeiro, no acto exterior, que no acto da vontade.
Art.
2 ― Se toda bondade e malícia do acto exterior depende da vontade.
Art.
3 ― Se o acto interior da vontade e os actos exteriores tem a mesma bondade ou
malícia.
Art.
4 ― Se o acto exterior aumenta a bondade ou a malícia do acto interior.
Art.
5 ― Se as consequências de um acto lhe aumentam a bondade ou a malícia.
Art.
6 ― Se um mesmo acto pode ser bom e mau.
Art. 1 ― Se o bem e o mal
está, primeiro, no acto exterior, que no acto da vontade.
(De Malo, q. 2, a. 3).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que o bem e o mal estão primeiro no acto
exterior que no acto da vontade.
2.
Demais. ― O bem se atribui primeiramente ao fim, porque a bondade dos meios
deriva da do fim. Ora, o acto da vontade não pode ser fim, como já se disse 2,
ao passo que o pode o acto de qualquer outra potência. Logo, o bem está
primeiro no acto de outra potência que no da vontade.
3.
Demais. ― O acto da vontade comporta-se formalmente em relação ao acto
exterior, como já dissemos 3. Ora, como a forma advém à matéria, o
que é formal é posterior. Logo, o bem e o mal estão primeiro no acto exterior
que no acto da vontade.
Mas,
em contrário, diz Agostinho, que pela vontade pecamos e por ela vivemos
rectamente 4. Logo, o bem e o mal moral existem primeiro na vontade.
Certos actos exteriores podem ser considerados bons ou maus, em duplo
sentido. Genericamente e levadas em conta as circunstâncias em si mesmas,
assim, diremos que dar esmola, conforme às circunstâncias devidas, é um bem. Ou
de outro modo, em ordem ao fim, e assim, dar esmola por vanglória reputamos por
mal. Ora, sendo o fim o objecto próprio da vontade, é claro que a razão de
bondade ou malícia, do acto exterior, em ordem a ele, está primeiro, no acto da
vontade, donde deriva para o acto exterior. A bondade porém ou a malícia do acto
exterior, em si mesmo, por causa da matéria devida e das devidas
circunstâncias, não lhe deriva da vontade, mas antes da razão. Donde, se
considerarmos a bondade do acto exterior, relativamente à razão que o ordena e
o apreende, ela é anterior à bondade do acto da vontade. Considerada porém na
execução do acto, supõe a bondade da vontade, que lhe é o princípio.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O acto exterior é objecto da vontade,
enquanto a razão lho propõe como um bem que apreende e ordena, e então a sua
bondade é anterior à do acto da vontade. Mas considerado na sua realização, é
efeito da vontade e posterior a esta.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O fim é primeiro na intenção, mas último na execução.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A forma, enquanto recebida na matéria, é-lhe posterior, na via da
geração, embora seja por natureza anterior, mas enquanto existente na causa
agente, é a todas as luzes anteriores. Ora, sendo a vontade relativamente ao acto
exterior causa eficiente, a bondade do seu acto é a forma do acto exterior,
como existente na causa agente.
Nota: Revisão da tradução portuguesa
por ama.
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Notas:
1.
Q. 19, a. 1, 2.
2.
Q. 1, a. 1 ad 2.
3.
Q. 18, a. 6.
4.
Lib. I Retract., cap. IX.
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