Questão 18: Da bondade e
da malícia dos actos humanos em geral.
Art. 2 ― Se a acção humana haure no objecto a sua bondade ou malícia.
(Infra, q. 19, a . 1, II Sent.,
dist. 36,
a . 5).
O
segundo discute-se assim. ― Parece que a acção humana não haure no objecto a
bondade ou a malícia.
1. ― Pois, o objecto de uma acção é uma realidade. Ora, o mal, está não nas coisas, mas no uso que delas fazem os pecadores, como diz Agostinho 1. Logo, a acção humana não haure no objecto a sua bondade ou malícia.
2.
Demais. ― O objecto é como a matéria da acção. Ora, a bondade de uma coisa não
provém da matéria, mas antes, da forma, que a actualiza. Logo, não é no objecto
que os actos haurem a bondade ou a malícia.
3.
Demais. ― O objecto da potência activa está para a acção, como o efeito para a
causa. Ora, a bondade da causa não depende do efeito, mas antes, ao contrário.
Logo, não se tira do objecto a bondade nem a malícia do acto humano.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Os 9, 10): e se tornaram abomináveis como as
coisas que amaram. Ora, o homem, pela malícia dos seus actos, é que se torna
abominável perante Deus. Logo, essa malícia depende dos maus objectos que o
homem ama. E o mesmo se deve dizer da bondade.
Conforme já se disse 2, o bem e o mal das acções, como das demais
coisas, depende da plenitude ou da deficiência do ser. Ora, o que em primeiro
lugar concorre para tal plenitude é aquilo que especifica. E assim como a forma
é a que especifica um ser natural, assim o objecto é o que especifica o acto,
como o termo, o movimento. Donde, assim como a bondade primeira de um ser
natural depende da sua forma, que o especifica, assim a primeira bondade do acto
moral depende do objecto conveniente, e por isso alguns costumam falar do que é
bom, no seu género, como, p. ex., usar o que se possui. E assim como, nos seres
naturais, o primeiro mal consiste em o ser gerado não conseguir a sua forma
específica, p. ex., se a geração, em vez de produzir um homem, produz outro
ser, assim também o primeiro mal nos actos morais, é o procedente do objecto,
como tomar o bem de outrem. E este chama-se o mal no seu género, tomando género
no sentido de espécie, como quando dizemos género humano para significar toda a
espécie humana.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora as coisas exteriores sejam em si
mesmas boas, nem sempre contudo mantêm a proporção devida com tal acção ou tal
outra, e por isso, consideradas como objectos de tais acções, cessam de ser
boas.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O objecto não é a matéria da qual procede a acção, mas a matéria
sobre a qual ela recai, e exerce de certo modo a função de forma, enquanto
especifica.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nem sempre o objecto de uma acção humana é o de uma potência activa.
Pois, a potência apetitiva é de certo modo passiva, enquanto movida pelo objecto
desejado, e contudo é princípio de actos humanos. Além disso, os objectos das
potências activas não são eleitos senão quando já transformados, assim, o
alimento transformado é o efeito da potência nutritiva, ao passo que o ainda
não transformado é como a matéria sobre a qual age essa potência. Além disso,
sendo o objecto de certo modo efeito da potência activa, resulta que é o termo
da acção dela. E por consequência dá-lhe a forma e a espécie, pois o movimento especifica-se
pelo termo. E embora a bondade de uma acção não seja causada pela bondade do
seu efeito, contudo chamamos boa a acção capaz de produzir bom efeito, de modo
que na proporção entre a acção e o efeito consiste a própria razão da sua
bondade.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III De doct. Christ., cap. XII.
2.
Q. 18, a. 1.
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